Acordei com uma sensação estranha, porém boa. Havia sonhado com alguém, mas não me lembrava de detalhes. Odeio quando isso acontece, o sonho está claro na sua mente, e então, do nada, ele se dissipa. Enquanto tentava me lembrar, percebo que estava com uma cara bem estranha, porque minha mãe me olha e diz:
– Vai ficar observando o nada ou vai se arrumar?
Apenas dei uma risada e me levantei da cama. A caminho da escola, meus irmãos estão brincando de "quem ficar calado ganha". Fui eu que inventei essa brincadeira e adoro quando eles brincam disso, porque odeio quando eles ficam tagarelando no carro. Estou com os meus amados fones no ouvido e Hamish está tentando se comunicar comigo com sinais esquisitos:
– Quê? - digo, tentando entender o que ele quer.
– Não estou entendendo nada. - suspiro quando ele começa a mexer as mãos e fazer caretas.
– Merida, está falando com quem? - pergunta Fergus, meu pai, para mim.
– Com Hamish.
– O que ele quer? - pergunta Fergus.
– Eu não sei. - digo, rindo.
– Só quero saber as horas! - diz Hamish, como se isso fosse óbvio. Logo começa uma algazarra dentro do carro, Hubert diz que ganhou, Hamish diz que estava de "cruz-cão" e Harris diz que era mentira e eu aumento o volume da música e sorrio, balançando a cabeça.
Ao chegar na escola, vejo todos com o mesmo uniforme feio. O meu era realmente muito ridículo, mas depois das "alterações" que eu fiz, ele ficou só muito ridículo. As saias que recebi eram na altura do joelho, eu parecia uma vovozinha vestida nelas. Passei a tesoura nelas, cortando "dois dedos" e coloquei riatas para usar cintos com as saias, deixando-as mais "vestíveis". Passei em frente a um espelho e me vi. Aquele casaquinho preto me deixava estranha. O uso do casaquinho era obrigatório, mas idaí? Tirei-o, torci as mangas para ficarem finas e passei-as por debaixo das riatas, como se fossem um cinto. "Um pequeno ato de rebeldia" pensei, sorrindo. "Pra lembrar a eles que a Merida não pode ser controlada".
Encontro Elsa e andamos juntas, até que avisto Jack Frost e a coordenadora Lucy. Ela está brigando com ele, por causa do uniforme. Opa! De repente, Jack começa a tirar a roupa! As meninas param para olhar e, sinceramente, não as culpo. Não estou apaixonada por Jack como Elsa está, mas... Nossa! Ele é muito gato, cara. Quando Elsa tira os olhos do tanquinho de Jack, andamos em direção as salas de aula.

Na hora de sair para o intervalo, Vanessa gritou:
– Vou dar uma festa pra comemorar o fim das provas e o começo do campeonato!
"E quem liga?" pensei. "Essa menina faz tudo pra chamar atenção!" então eu tive uma ideia. Festa, provas... Eu poderia chamar as meninas para estudar para as provas. Saio da sala e encontro Elly e Astrid. Vamos para o refeitório, sentamos numa mesa vazia e limpa e começo a falar:
– O que vocês vão fazer no fim de semana?
– Acho que vou ficar em casa - diz Elly.
– Oi! - Elsa fala, enquanto senta-se à mesa. Assim que a vejo, lembro-me do Jack e de seu striptease. Não consigo me segurar:
– Já se recuperou do Strip ou ainda está sem ar? - digo, arqueando as sobrancelhas e rindo.
– Você também estava olhando! - disse Elsa, tentando fazer cara de raiva, mas acabou rindo comigo. Astrid e Elly não estavam entendendo nada, então mudei de assunto.
– Bom, o que vocês acham de ir para a minha casa pra estudar?
– Estudar? Sei... - diz Astrid.
– A gente também pode assistir uns filmes, comer porcaria, sei lá. Tipo festa do pijama.
– Eu acho que posso ir. - diz Elsa.
– Eu também. - diz Astrid.
– Eu também, só tenho que falar com os meus pais. - fala Elly.
– Merida! - alguém me chama e olho para trás.
– Oh... olá, Lucy. - disse, ajeitando a postura.
– Coordenadora Lucy. - disse ela, me corrigindo. - o uso do suéter é obrigatório.
– Mas eu estou usando ele... - disse e vi as meninas tentando segurar o riso.
– Mas não está usando da maneira correta... - disse ela, na certa querendo me estrangular por estar zombando dela.
– É que eu estou com calor... - disse e dei um sorriso. Ela fez uma cara de raiva, deu meia-volta e foi embora. - Aprendam com a mamãe aqui. - disse e as meninas riram. Naquele momento, surge Vanessa com uns papeis:
– Pra vocês!
No papel, havia o endereço de Vanessa. Nós todas estávamos sem reação. Como assim, Vanessa me convidando pra alguma coisa?
– Hãn, obrigado. - disse Astrid, quebrando o silêncio.
– Tem o dia e o meu endereço aí, é pra vocês irem, viu?
Elsa e eu continuamos caladas.
– Okay... - respondeu Astrid, enquanto Vanessa ia embora. Trocamos olhares.
– Ela ficou louca? - falei, apontando para Vanessa com o polegar.
– Gente, que menina falsa... - disse Elly, balançando a cabeça - Vocês vão?
– Sei lá. Acho que ela está planejando algo ruim... - falei.
– Ah gente, quem sabe ela está apenas tentando ser legal. E se ela quiser "fazer as pazes"? - disse Elsa. Pobrezinha, tão bobinha. Óbvio que ela não conhece Vanessa. Ano passado, aquela cobra ia sabotar uma apresentação de Sophie. Estava assistindo o treino de patinação, quando a vi entrar no vestiário.
Segui Vanessa e observei ela mexer nos patins de Sophie, quando gritei para todos virem pra o vestiário. Foi assim que a nossa "briga" começou, e o que mais me dá raiva é que, de algum jeito, ela se safou daquele episódio.
Podem apostar que a última coisa que aquela menina quer é ser legal comigo. E o sentimento é mútuo.
Chegando em casa, vou falar com os meus pais sobre a festa. Eles quase não deixaram, porque não estariam em casa. Falei que uma menina de 16 anos podia ficar em casa sozinha por dois dias.
– Por favor, mãe! Por favor, por favor, por favor, por favorzinho! São apenas dois dias. - disse, fazendo biquinho e com as mãos juntas. Meus pais acabaram deixando.
Subi para o meu quarto, e deixei minha mochila no chão. Olhei em volta:
– Isso aqui tá uma bagunça... - disse, falando comigo mesma. Eu teria começado a arrumar, se não estivesse com preguiça...