Tríplice escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 9
O general


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde!!! Bom feriado (o que restou dele) pra vocês, lindas!



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Capítulo 9 – O general

Anna

— Se você me disser o que está acontecendo, eu juro Agnes, eu juro que você nunca mais chorará — Anna disse, puxando o cadarço do corset da irmã, Agnes não respondeu, como esperado.

As duas acordaram sem a madrasta precisar berrar com elas, assim que se levantaram, lavaram-se e ajudaram uma à outra se vestir. Não aguentavam mais a inquietação, de um jeito ou de outro iriam atrás do pai e a irmã. Se algo havia acontecido, Anna precisava estar lá para apoiar Natalie. E Agnes precisava estar junta, não conseguiu pregar os olhos, nem parar de chorar. Anna estava prestes a ter um ataque de nervos, irritada com o choro da irmã, sem ter explicação alguma.

Pensou que deveria ser cuidada, afinal ela era a filha mais jovem. Mas agora só queria dar a mão para Agnes e correr para abraçar Natalie, sua intuição dizia que a irmã estava bem, mas seu coração sofria de aflição e ansiedade.

Filipe... Seu pensamento voltou-se para o noivo. Talvez ele soubesse de algo, mas também não conseguiria contata-lo a tempo. Era aquilo, ela iria para o castelo. Nem que fizesse todo o caminho a pé.

— Se você derrubar mais uma lágrima... Agnes, eu preciso de silêncio para pensar no que diremos para Mary.

A menção do nome fez Agnes sucumbir em um punhado de lágrimas, fazendo com que Anna revirasse os olhos e saísse de perto da irmã, arrastando o vestido rosa pelo quarto.

— Mary! — Chamou pela madrasta pelos corredores que davam acesso aos quartos, chocou-se ao vê-la vestida de negro. Lembrando-se que ela estava de luto. Os cabelos vermelhos vivos de Mary caiam pelos ombros, dando um contraste com o vestido negro.

— Colocaram pregos na sua cama? — Anna revirou os olhos —Já sei... Isso é por causa de Natalie e seu pai?

— Sim. O que você pensa que é? Preciso ir até minha irmã.

— Você precisa esperar seu pai chegar — Mary disse calmamente — Nem sabemos o que aconteceu.

— Por isso mesmo! — Anna gritou.

O que aconteceu no minuto seguinte foi um farfalhar de vozes, Anna e Mary procuraram por elas, fizeram silêncio absoluto, tentando entender os sussurros demasiados. Anna andou em direção as vozes, encontrando Joanne que limpava um dos dormitórios vazios da casa. De alguma forma, era um segredo. A empregada que há anos servia sua família se calou ao vê-la, em seguida ponderou seus olhos sob os ombros de Anna, encarando a patroa. Mary tinha suas mãos na cintura, com os olhos inquisidores.

— Esse é o motivo de não podermos sair daqui, minha querida filha — Havia cinismo no tom de Mary, que na frente dos empregados tratava a enteada por filha — Elas se sentem as donas da casa. Confabulando contra seus patrões! No mínimo fazia fofoca da pobre Natalie!

Anna bem que quis defender a velha senhora, que não sabia o que fazer, mas não queria discutir com Mary. Sua aflição pela situação de Natalie estava além de qualquer burburinho entre os empregados, aquilo era normal, sempre fora.

— Vamos... Deixá-las trabalharem em paz — Anna disse em uma voz baixa — Ag e eu estamos prontas. Você virá conosco?

Ignorando tudo que Mary havia dito, Anna novamente insistiu. A madrasta a encarou, arqueando a sobrancelha, desafiando a enteada. Anna retesou o corpo na defensiva.

— Seu pai chegará em breve, você esperará aqui. Não vejo a hora de todas vocês estarem casadas!

xXx

Anna desistiu de bordar a toalha e encarou a janela de sua casa. Ao longo ela podia ver a carruagem levantar poeira pela extensa estranha de terra. Levantou-se rapidamente, chamando atenção de Agnes e Mary. Anna correu para porta, abrindo-a com força desnecessária. Seu coração encheu-se de esperança. Deveria ser o pai e a irmã. Não aguentava mais esperar por notícias durante toda à tarde. Observar a irmã esconder os soluços e ter que dividir olhares preocupados com a madrasta estava ficando insustentável. Anna tinha esperança de que Natalie estivesse bem e a ajuda-se com Agnes.

— Não é a carruagem do seu pai — Mary apontou para as bandeiras na lateral da carruagem que continham o brasão inglês.

As três mulheres ficaram na porta da casa, esperando que o veículo preto estivesse perto suficiente, quando Anna pôde finalmente ver um dos cocheiros, seu coração praticamente saltava de ansiedade. Ele continuou batendo forte quando viu o homem que saiu da carruagem real. Filipe fez uma pequena reverencia para as três mulheres, que fizeram um movimento breve com a cabeça. Anna não aguentou esperar e se atirou para os braços do noivo, ignorando o rosnado de advertência da madrasta.

— Natalie? Diga-me que você me trouxe notícias! — Exclamou nervosa. Filipe sorriu tentando acalmá-la, mas foi em vão.

— Anna! — Ouviu Mary chama-la, mas não respondeu.

—Venha, querida. Está tudo bem, eu prometo — Filipe garantiu, tentando recompor a noiva, que aquela altura estava segurando fortemente em sua blusa, apertando a roupa do Lord em suas mãos, com os olhos em lágrimas devido ao seu desespero.

Logo estava de pé, ao lado do noivo, que entrelaçou seus dedos ao dela, e a puxou gentilmente para casa. Assim que estava perto suficiente, Anna sentiu Mary tocar seu braço nu e apertá-lo com força, a repreendendo pelo gesto impensado.

— Senhora Ratcliff — Filipe iniciou, pigarreou algumas vezes e recebeu um olhar frio de Mary — Venho aqui cumprindo ordens do nosso Rei, e também a pedido do Sr. Ratcliff.

— Diga, pelo amor de Deus, Natalie? — Anna quase o interrompeu, Filipe olhou para ela, ainda sustentando seu olhar calmo.

— Anna, está tudo bem. Vá se preparar, eu devo leva-las imediatamente à corte.

Anna não ficou para ouvir o resto da história, puxou Agnes para o quarto e deixou que Mary recebesse bem o convidado. As duas não falavam nada, enquanto mudavam seus vestidos, procuravam por luvas e casaco. Anna perguntou-se se deveria levar algo para Natalie vestir, mas interrompeu seus pensamentos. Se esse fosse o caso, Filipe diria. Ele não esconderia nada dela, certo? Se a irmã tivesse com problemas, seria fácil para ele, na condição de seu noivo, lhe retratar todo o caso.

Agnes e Anna voltaram para a sala, encontrando Filipe sozinho sentando em uma das cadeiras ali disponível. Ele logo se levantou ao notar a chegada das mulheres. A noivareparou os olhares nada discretos do futuro marido, isso levantou algumas questões, principalmente quando ele encarou Agnes, que trajava um vestido negro, acentuando bem sua silhueta fina. Anna franziu o cenho para Filipe, que desviou os olhos. Apesar disso, ela não sentiu ciúme. Seu olhar também percorreu o mesmo ponto que o noivo olhava segundos antes, nunca tinha passado mais que alguns segundos admirando a beleza da sua irmã do meio. Para ela Natalie era a mais bela e ponto final. Talvez por ser a mais velha, sua pessoa de confiança. Até mesmo o único referencial materno. Mas ali estava Agnes, Anna conseguiu perceber toda a beleza genuína da irmã.

— Talvez você devesse nos tirar do escuro — Anna iniciou, olhando em direção à escada, pronta para a chegada de Mary a qualquer momento.

— Tudo o que eu sei é o que eu já disse, sua irmã está bem.

— Você sabe mais! — Anna insistiu, viu Agnes a encarar — Vamos lá, o que Natalie poderia estar fazendo no palácio? Aconteceu algo com Edward?

— O casamento foi adiantado? — Agnes finalmente dissera algo, Anna ficou aliviada ao perceber que a irmã ainda tinha voz.

Filipe deu alguns passos em direção às irmãs, revezando seus olhares entre as duas belas mulheres a sua frente.

— Tudo o que eu posso dizer é que sua irmã está muito bem. Bom, ela não terá um destino cruel de se casar com alguém como o Duque Norfolk.

— O quê? — A voz no interior da casa alertou-os. Filipe olhou sobre o ombro de Anna e encarou a madrasta da noiva, Anna rapidamente fez o caminho dos olhos do noivo — Natalie não irá mais casar? O que diabos essa garota fez ao duque?

Anna reparou que Filipe tinha a feição irritada, e ela sabia o porquê. O fizera falar mais do que foi destinado a dizer. Então abaixou sua cabeça, fugindo do olhar repreensivo do homem, que apenas disse que elas deveriam seguir em viagem.

Ela ignorou todo o sacolejar da carruagem, trocou olhares preocupados com Agnes e ouviu Mary reclamar sobre como nenhuma delas conseguia fazer nada certo. Pelo visto, havia mais rancor na madrasta do que elas podiam supor. Pobre Natalie... Pensou Anna. Tinha seu casamento cancelado. O que seria da pobre irmã? O que seria das três? Logo os rumores sobre como ela foi deixada se espalharia, então... Se ninguém quisesse desposá-la? Como ela viria a se casar com Filipe? O que seria de Agnes? E Mary tornaria a vida delas o verdadeiro inferno na terra.

Anna distraiu-se ao ouvir o cavalo relinchar, encarou Filipe, que colocou uma parte da cabeça para fora questionado o motivo da velocidade ter sido diminuída. Logo um cheiro de fumaça e o calor do fogo poderiam ser sentido pelas mulheres na carruagem. Filipe desceu.

— O que está havendo? — Anna perguntou ao noivo, que lhe lançou um olhar sério.

— Não desça — Disse, sua voz saiu quase em forma de rosnado. Como um animal enjaulado.

Anna encarou pela pequena janela da carruagem, viu ao longo uma pequena casa pegando fogo. Já estavam longe de sua propriedade, há poucos quilômetros de Londres. Ela encarou Filipe falando com três homens, aguçou bem sua audição e pode ouvi-los.

— Quem é o autor desta obra? — Filipe perguntou em voz baixa para um homem de idade avançada, rechonchudo e barbado.

— Protestantes — Fora tudo que o velho dissera.

Anna sabia pouco dos ataques, ouvia conversas entrecortadas dos pais com alguns amigos. No final do ano passado, o pai dissera sobre possibilidade de irem morar na cidade. Próximo à corte, em uma casa segura, devida as dezenas de ataques próximos às redondezas de seu rancho. Anna supôs que aquele ataque à pequena casinha fazia parte dos medos do pai.

— Ataque feito por protestantes — Anna sussurrou para Agnes e Mary, que falavam entre si sobre o que poderia estar acontecendo.

— Durante o sepultamento de minha mãe, eu ouvi rumores de que a Inglaterra estava sofrendo fortemente com ataques de protestantes cristãos.

— Hereges! — Agnes ralhou assustada.

— Apenas uma divergência de culturas, Agnes — Anna disse encarando a irmã que parecia escandalizada.

— Como você pode dizer isso? Eles deturpam a imagem de Cristo e da Santa Igreja Católica! Essas pessoas queimam casas para declamar uma fé!

— As pessoas não deveriam ser livres para decidir o que lhe és melhor? — O silêncio imperou entre as duas. Anna sabia que a irmã estava ponderando o que dizia, enquanto Mary a encarava.

— A liberdade requer escolhas difíceis de serem feitas — Mary iniciou, olhando para o teto da carruagem — Principalmente quando se trata de assuntos religiosos ou políticos. Até românticos, não é mesmo Agnes?

Não houve respostas, até porque Filipe voltou a abrir a carruagem e tomar seu lugar nela. Encarou as mulheres ansiosas por uma explicação pela interrupção da viagem, Anna principalmente, estava incitada a defender seu ponto de vista. E faria isso na frente do noivo se preciso, mas também sabia que era uma mulher. E que a sua voz não era ouvida, e às vezes, nem pensar ela poderia.

— Apenas um acidente com fogo e feno. Logo estaremos no castelo.

Filipe ocultou a informação, nenhuma das mulheres voltou a discussão anterior, mantendo a viagem no mais perfeito silêncio.

Quando a calmaria finalmente havia atingido as ruas de Londres, logo estavam na estrada para o castelo, atravessando a última floresta, Anna viu os grandes portões serem liberados para sua carruagem. Ela estava a cada vez mais ansiosa para ver sua irmã, finalmente saber o que tinha acontecido.

Quando desceu da carruagem, encarou o castelo. Pela segunda vez. A luz do dia ele parecia muito maior. Imaginou que moraria por ali, próximo a corte, nas redondezas. E provavelmente estaria em muitas festas reais. Aquilo de certa forma havia lhe dado uma maior expectativa sobre o casamento.

Perdeu seus pensamentos quando observou Filipe lhe oferecer o braço, agora ele parecia mais tranquilo. Ela enfiou sua pequena mão no vão do braço do noivo e andou confiante para a entrada. Ali, perdeu-se novamente. Anna tentou engolir a saliva, desviar os olhos, disfarçar o tremor nas mãos. Mas não conseguiu, sua tentativa havia sido falha e em vão. Próximo a ela, na segunda entrada para o salão real, estava os olhos que ela achou que havia esquecido. E quando ouviu a risada, que combinava perfeitamente com os olhos negros, sentiu seu coração sacolejar mais uma vez. O homem não estava em sua armadura prateada. Ainda vestia um uniforme da guarda real. Mas ele tinha mais medalhas em sua roupa que poderia contar.

—Lord Filipe! — Anna tentou não encará-lo, mas falhou miseravelmente. Filipe a soltou para apertar a mão do seu soldado misterioso.

— Essa é Lady Anna Ratcliff. Minha noiva — O homem sorriu, agora analisando Anna, ela soube que ele havia feito o reconhecimento. Reverenciou-a com aquele sorriso que a fez arfar — Anna, este é o general William Seymour.

— É um prazer conhece-lo, general — Ela simplesmente não conseguiu conter a frase. Nem se quer segurar sua bolsa e o pequeno lenço em sua mão. Foi quase instantâneo, Anna, Filipe e William abaixaram-se para pegar, cabeças chocaram-se umas a outras, então uma leve risada ecoou, a de Anna, claro. Achando graça do embaralho entre os três.

— Eu sinto muito! — Ela se adiantou. Quando os três voltaram-se a se colocar de pé, era William que tinha o lenço de Anna em suas mãos, e Filipe segurava sua bolsa.

— Precisa ser mais cuidadosa, querida — Filipe disse rindo e lhe entregando sua bolsa.

— Eu serei, prometo — Sorriu para o noivo — Obrigada, Sir William.

— Devemos ir de encontro ao Rei, até logo, William!

Não houve outras despedidas. Anna pegou-se olhando para trás, assim como fez na primeira vez que vira o homem em sua frente. Para sua surpresa, William também a encarava. E para sua sorte, Filipe não havia se quer notado isso. Ela respirou fundo, sentindo-se momentaneamente salva.

Quando adentrou a grande sala e viu Natalie no interior dela, sentada ao lado da Rainha, quase não reconheceu a irmã. Natalie estava diferente. Os cabelos presos de outra forma. Usava pintura no rosto. Adornada de joias. E até o tecido de seu vestido era diferente. Tudo aquilo gritava nobreza. Anna poderia até dizer que a irmã crescera ali e era um deles. Se não fossem pelos olhos amedrontados. Anna resfolegou. Pobre Natalie! Pensou ela.

Viu Agnes e Mary chegar depois delas, acompanhada de outro guarda. Ela nem se quer havia notado a ausência da irmã e da madrasta. Nesse momento só se importava com a irmã. Viu-se soltar dos braços de Filipe e andar agora em passos corridos em direção a Rainha da Inglaterra, seu pai, sua irmã e o próprio Rei. Os homens presentes se colocaram de pé. Anna reverenciou rapidamente, e percebeu uma risada graciosa do Rei, dispensando o cumprimento. E o olhar perdido do pai, o mesmo que reconheceu em Natalie, que também numa tentativa frustrada de se levantar, fez um muxoxo com a boca, quando a Rainha simplesmente a impediu.

— Sua irmã deve estar cansada, querida. Talvez ela queira lavar o rosto, comer algo...? O que me diz, Lady Anna?

A rainha sabia seu nome! Foi o primeiro pensamento. O segundo fora um pouco mais hostil. Como ela diria não, docemente, para sua rainha?

— Mãe... — O rei iniciou — Deixe-as. Ela provavelmente tem muito a conversar. Duvido muito que Lady Anna queira fazer qualquer outra coisa no momento.

— Se... Não houvesse problemas... — Anna disse calmamente. Havia medo em seu tom. O rei sorriu fazendo que não com a cabeça. Natalie, que estava sentado ao lado dele, avaliou sua feição.

Anna ficou em um completo silêncio quando viu o Rei beijar a mão de sua irmã, lhe confidenciando algo ao ouvido, que fez com que Natalie enrubescesse. E logo seguida, dispensando-a para falar com suas irmãs em seus aposentos.

— Se me derem licença... — Anna ouviu Natalie dizer assim que conseguiu ficar de pé, reverenciado sua rainha e rei, trocando um olhar com o pai. Andou até Anna e rapidamente as duas estavam de mãos dadas. Mas atrás estava Agnes com a madrasta, que logo foi capturada por Anna, que seguiram por grandes escadas.


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Notas finais do capítulo

Tô postando com super pressa, meninas... Não tive tempo de revisar, ignorem os erros, vou corrigi-los no final de semana!!



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