Tríplice escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 6
Desmascarada




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Capítulo 6

Agnes

Quando percebeu que estava sozinha em casa, Agnes levantou-se da cama, tirando as manchas vermelhas de pintura que a irmã havia lhe aplicado. Iria aproveitar que ninguém estaria em casa, e correria para o celeiro. Contaria as novidades para Tobias. Ainda estava estagnada com todos os acontecimentos, contudo, preferiu não dividir suas aflições com ninguém.

Na cozinha, Joanne preparava um chá e ficou completamente surpresa ao vê-la de pé em sua frente, parecendo saudável e bem disposta.

— Você não estava doente? — Questionou. A velha senhora enfezou-se, sabendo que mais uma vez seria testemunha das mentiras de Agnes — Você não tem medo de seu pai aparecer e vê-la aqui, de pé e bem disposta?

— Direi que foi um milagre! — Agnes respondeu, prontamente e viu Joanne tomar o chá que estava preparando para ela.

— Você deveria ter juízo. Como suas irmãs. Onde pensa que essa história vai dar Agnes? Com você expulsa, sem ter onde viver? Na miséria como a família de Tobias?

Ela não respondeu. Nem poderia. Contava com a sorte, se até ali ela conseguira esconder o relacionamento com o empregado, mais tempo conseguiria, até encontrar outra saída. Já fazia um pouco mais de um ano que esse amor estava sobrevivendo. Agnes não conseguia mais conjecturar a possibilidade de viver longe dele.

— Você não deveria ficar tão preocupada assim. Estarei na cama antes mesmo deles retornarem. Agora prepare uma cesta com pão, torta, frutas e chá gelado!

Ela ajudou Joanne com a cesta de piquenique que preparava. Buscou em alguns dos armários velhos e empoeirados uma boa e grande toalha de mesa e quando tudo estava pronto, segurou as mãos de Joanne, dando um sorriso de agradecimento.

— Sua mãe não aprovaria este comportamento, menina...

Agnes entristeceu-se por alguns minutos, tentando lembrar-se da última lembrança com a mãe. Catherine, sua amada mãe, passara os últimos dias de sua vida acamada. E ela não poderia se aproximar, já que a doença da mãe era completamente infecciosa. Lembrou-se de Anna, a irmã mais nova, que na época tinha seus dez anos de idade e seus olhos assustados e tristes. Natalie consolou as duas e cuidou, cuida até hoje. Não seria só a mãe que não aprovaria o comportamento. Toda a sua família iria julgá-la.

Ela não respondeu a empregada, pegou a cesta e a toalha, deixou um sorriso triste e com um par de lágrimas e saiu pelos fundos da cozinha. Correndo, observando se alguém a via entrar pela lateral do celeiro. Já nele, observou o amado a colocar novos fenos para os cavalos. Água limpa e ração. Não pôde deixar de recordar-se do dia em que o conhecera, há quase dois anos atrás...

...

— Não Anna! Eu vou cavalgar! Me deixe! — Agnes gritou para a irmã, queria continuar nadando no lago. Mas ela estava tendo aulas de equitação e vivia grudada em sua égua.

Entrou no celeiro desesperada, procurando por sua sela de montaria e sorrindo para a égua, foi quando de repente um rapaz entrou, gritando alto com outra pessoa. Era uma menininha de aproximadamente cinco anos de idade.

— Você não deveria ter me seguido, Abigail. Vai atrapalhar meu trabalho!

Enquanto ele rosnava, Agnes o reparava. E não conseguia parar de encarar os cabelos dourados e curtos. A barba por fazer e as roupas velhas, puídas. Porém as botas de couro marrom pareciam ser novas em folha. Ela também reparou na garotinha, com seu vestido sujo e cabelos desgrenhados. Pensou se era filha do rapaz, e então ficou constrangida quando ele a pegou o encarando.

— Oh, Lady Ratcliff! Me perdoe! Você precisa de algo? Eu prometo que minha irmã não atrapalhará, por favor, não conte ao seu pai! — Ele implorou rapidamente. Agnes, ainda envergonhada, queria explicar que não contaria para o pai.

Ela nunca tinha o reparado ali. Seria um funcionário novo? Tudo bem que ela não conhecia todos os empregados que trabalhava para sua família, mas os do celeiro ela certamente decorava os nomes. Antes, Joseph, um simpático senhor cuidada dos cavalos e vacas. Quem seria ele?

— Não, está tudo bem — Ela disse basicamente para a criança, que se escondia atrás do irmão — Está tudo bem. Você pode ficar...

A menina amostrou seu sorriso banguela e Agnes sorriu também.

— Qual é o seu nome? — Perguntou a menininha não contendo a curiosidade.

— Abigail! Não incomode-a, a senhorita precisa de alguma ajuda? — Agnes riu para ele, reparando mais uma vez o rosto do jovem rapaz, constando que ele era um homem bonito.

— Ela não incomoda. Meu nome é Agnes... — Ela disse para a menininha, que sorriu ao saber — Você pode selar meu cavalo? — Perguntou para o rapaz, que assentiu que sim — Quanto a você... Não está com calor? — Questionou para a menina, que assentiu — Eu imagino... Eu posso fazer uma trança como a minha em você, o acha? Melhoraria o calor.

A menina sorriu entusiasmada, e Agnes não tirou os olhos do rapaz loiro, que parecia encantado com o gesto. Ela gostou de agradá-lo. Então a menina se aproximou, e ela fizera uma trança que aprendeu com Natalie. Depois usou o próprio elástico da sua trança para prender a da garotinha, que ficou imensamente feliz.

— Você ficou linda! Como uma princesa! — Declarou Agnes.

— Você é linda... Como uma princesa — O rapaz disse depois que a irmã disparou para a saída, gritando por sua mãe — Desculpe-me a ousadia, Lady Ratcliff. Eu sou Tobias, seu escravo.

Agnes sorriu com as doces lembranças. Como ele era sedutor! E mal reparou que Tobias a encarava com um sorriso nos lábios. Ela deixou a cesta no chão e correu para os braços do amado, beijando-lhe profundamente.

— Eu achei que você tinha ido com sua família! — Ele exclamou, ela negou rapidamente.

— E perder a chance de passar uma tarde com você?

Agnes forrou a toalha no chão do celeiro, mas a fundo. Ela e Tobias sentaram para comer.

— Você pode levar um pedaço de torta para Abby — Disse, lembrando-se da menina, que agora já estava maior e aprendeu a fazer suas próprias tortas — Eu sinto falta dela.

— Ela também sente a sua — Tobias disse — Como estão às coisas na sua casa? Soube que ontem...

— Anna está noiva. É verdade — O pai espalhara a notícia por toda a plantação, cheio de orgulho, dizendo que em breve suas três filhas estariam muito bem casadas.

— Então... Só falta você — Constatou ele, Agnes assentiu, dizendo que sim, afastando o pedaço de torta que comia e inclinando-se para deitar no peitoral de Tobias.

Ele cheirou e acariciou os cabelos loiros, Agnes gostava do jeito que ele tocava nela. E não queria nenhum outro homem a tocando.

— Eu vou conversar com meu pai. Eu preciso — Ela disse, fazendo com que os batimentos cardíacos de Tobias aumentassem, Agnes levantou um pouco o corpo, para encarar o amado — Ele precisa entender que eu só vou ser feliz ao seu lado. É pecado amar?

— Não brinca assim, Agnes... — Tobias lhe disse, abraçando-a novamente, fazendo com que ela se deitasse em seu peito — Eu te amo. Eu sei que você me ama. Mas o que eu poderia lhe dar? Conversei com minha mãe...

— Não continue, Tobias Lautner! — Exclamou ela — Se você vai me mandar ir embora, não deveria continuar falando!

— Estou pensando no que é melhor para você! Vamos cair na real, quando começamos com isso, sabíamos que nunca daria certo, Ag. Você é uma nobre! Eu sou só um plebeu, meu amor. Eu quero que você seja feliz...

— Você não entende!

Agnes irritou-se e saiu de perto dele, colocando-se de pé. Tobias também se levantou.

— Se você... Me deixar, eu vou morrer. Eu não quero viver sem você! — Ele se aproximou dela, tirando os cabelos loiros de seu rosto. Agnes acariciou a face dele. Que parecia cansada, na verdade exausta. Havia muitas olheiras, como as de Natalie. Então ela pensou que Tobias deveria estar tendo noites terríveis, provavelmente pensando no que o destino cruel estava determinando para eles.

— Seu pai nunca permitiria — Insistiu ele. Agnes o abraçou.

— Eu o faço permitir. Anna e Natalie já deram orgulho suficiente. Ele pode... Aceitar uma filha... Pobre.

Tobias riu, e esfregou o seu nariz com o de Agnes, fazendo cocegas. Ela riu também com o gesto e acariciou o cabelo dele, roubando um beijo. Nesse momento, eles ouviram barulho de feno e alguns cavalos relinchando. Soltaram-se rapidamente, Agnes procurou de onde vinha o barulho e automaticamente empalideceu. Tobias tentou protege-la com seu corpo, mas ela não se mexia. Estava tremula, enquanto o olhar inquisidor da mulher a sua frente à devorada por inteiro.

— É assim que você está doente? Se enroscando com um empregado no celeiro? Desde quando, Agnes?

Mary tinha um tom incrivelmente calmo, e também o cenho franzido. Parecia sentir muito nojo, Agnes não conseguiu responder. A madrasta andou dois passos na sua direção.

— Sabe? Poderia ser o seu pai, aqui. Sabia?

— Mary...

— Não venha tentar arrumar desculpas, Agnes! — A madrasta gritou — Como você pode? O que vocês já não fizeram?! Eu vou retornar a cidade e contar imediatamente ao seu pai!

Mary exclamou, correndo para fora do celeiro, Agnes iniciou um choro, correndo atrás da madrasta. Tobias tentou ir atrás da amada, mas ela o impediu. Rapidamente as duas estavam em casa, Agnes tentou agarrar os braços de Mary, que gritou para que ela parasse.

— Não me segure, eu tenho nojo de você! — Mary gritou — A mais quietinha! Só podia estar agindo como uma meretriz para ser tão calada em casa! Sua dissimulada!

— Por favor, Mary! Por favor, não grite, por favor! — Implorou Agnes, Mary a encarou, bufando e tirando seus cabelos ruivos da face.

— Você não é digna nem de dizer meu nome! Eu espero que seu pai lhe jogue para fora dessa casa, sem ter nem o que vestir!

— Por favor, Mary! Eu imploro! — Agnes jogou-se no chão, ficando de joelhos e segurando a barra do vestido da madrasta — Você já amou? Já amou alguém tanto que chegasse a doer?

— Não seja tola! — Mary gritou, puxando o vestido e dando um passo para trás — Não seja tola como se fosse inocente! Ele não te ama! Só queria sua virtude!

— Mas eu ainda a tenho! — Gritou Agnes, ainda de joelhos, tentando controlar o choro — Por favor... Ele é um bom homem. Eu me apaixonei... Eu o amo. Por favor... Ele precisa do emprego para sustentar a família... Por favor.

Enquanto implorava, Mary ria dela. Deixou que ela falasse, se jogasse no chão e chorasse, Agnes estava se sentindo humilhada, mas faria qualquer coisa pelo silêncio da madrasta. Qualquer coisa. Mary se aproximou dela, segurando seu queixo com firmeza, a encarando.

— Você está querendo me dizer que ainda é uma virgem? E quer que eu acredite?

— Mas eu sou! Eu juro! — Gritou Agnes, Mary a analisou.

— Eu deveria ir agora mesmo contar tudo para o seu pai... — Dissimulou, Agnes sussurrou que não. Implorando novamente — Mas... Eu não quero que você fique vindo à minha casa, mendigando comida! O idiota do seu pai provavelmente daria! Até acolheria você aqui com seu marido que não tem onde cair morto!

Agnes não respondeu, apenas encarou Mary, com uma esperança infinita.

— Eu faço qualquer coisa... Apenas guarde este segredo.

— Eu guardo — Mary disse, olhando-a de soslaio — Contando que você acabe com este romance. E fique logo noiva! Por mim todas vocês se casariam no mesmo dia!

— Já está acabado... — Agnes declarou, se colocando de pé — Eu aceitarei a corte do primeiro homem que aparecer. Eu me casaria agora se pudesse. Eu prometo.

— Certo... — Disse Mary — Se eu vê-la naquele celeiro novamente, conto tudo ao seu pai. Entendeu? — Agnes assentiu — Lembre-se: você tem uma dívida comigo. E eu vou cobrar.


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