Tríplice escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 5
Novas descobertas




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Capítulo 5

Anna

Anna observava como o olhar de Natalie estava vago, enquanto penteava seus cabelos. Fazia quase uma semana após o baile, e todas as noites era o mesmo ritual. Ela sentava em sua penteadeira, encarava o espelho, segurava o choro e parecia viajar para outra dimensão.

Dessa vez Anna não conseguiu ignorar a cena. Puxou um banco e encarou a irmã.

— Por que estais tão aflita? — Perguntou ela. Natalie não desviou os olhos do espelho, ou lhe respondeu — Por causa do casamento?

Mais uma vez ignorava. Anna se levantou e tirou a escova da mão da irmã. Encarando-a no espelho e penteando os fios loiros.

— Você nunca contou o que aconteceu entre você e o Rei, naquela dança esquisita... — Anna disse. Natalie fechou os olhos — Sabemos que Edward ficou muito zangado.

Sim, o duque praticamente levou Natalie arrastada para casa antes mesmo da festa acabar, interrompendo a dança de Anna com um cavaleiro muito simpático. Apesar de não ser como aquele soldado que vira na cidade, ainda assim era muito engraçado e gentil. Era um homem com quem ela teve o prazer de gastar algumas horas, e a quem o pai estivera comentando durante toda a semana. Um pretendente.

— Não comentei, não teve nada de especial — Natalie disse, querendo encerrar o assunto.

— Você dançou com o Rei! — Anna exclamou em voz baixa — Não me diga que não teve nada de especial nisso. Ele te olhava... Bom, ele te olhava de um modo especial, se quer saber.

— Você está vendo coisas onde não tem, Anna — Disse novamente. Inquieta Natalie se levantou. Anna deixou que a irmã se levantasse — Eu preciso dormir. Amanhã irei conhecerei a irmã do duque de Norfolk.

— Seu noivo — Anna a lembrou — Até eu o chamo de Edward.

— Não me perturbe com bobeiras, Anna... Boa noite — E se deitou.

Anna respirou fundo trocando um olhar preocupado com Agnes, que observava a discussão em silêncio. Ela apagou a lamparina e se deitou, deixando por ora o assunto de lado.

No ritual do café da manhã, Mary não estava. Sebastian havia dito que pela madrugada recebera a notícia do falecimento do pai de Mary e pela primeira hora da manhã ela partiu para a cidade a fim de consolar a família. Isso levou a pequena família a ter um café da manhã como antes. Com Agnes tocando para eles, Natalie conversando sobre assuntos da infância e Anna comendo com a mão, sem ter Mary para dizer que há talheres na mesa.

— Toque uma mais animada, Agnes! — Pediu Anna, a irmã obedeceu — O senhor não vai até a cidade?

— Nós vamos para o velório.

A música parou. As irmãs odiavam velório, desde o sepultamento da mãe, odiavam qualquer coisa que as lembrasse daquele dia. Agnes caminhou para a mesa, encarando o pai.

— O que vocês querem que eu faça? Mary ficaria desamparada se a família dela não estivesse lá.

— Eu não vou! — Exclamou Agnes, praticamente chorando.

— Todos nós vamos! Assunto encerrado! — O pai rosnou, deixando a mesa.

Anna levantou-se para abraçar Agnes, que ainda estava desesperada. Natalie fizera o mesmo movimento, só que parecia meio robótico. As três ficaram ali por alguns minutos a fio.

Por volta das dezesseis horas, uma visita inesperada pegou todos de surpresa. Anna pensou que fosse o duque de Norfolk, após Natalie cancelar o passeio pelo castelo por causa do acontecido a mãe de Mary, mas não era. Seu pai viera atender a porta, e anunciou que era o jovem Lord Filipe Stuart. O jovem que dançara com Anna no baile.

Não demorou muito para que houvesse três irmãs na sala, roendo as unhas de ansiedade quando o pai se trancou no escritório com o nobre.

— Se ele quiser se casar comigo, nós moraremos tão perto! — Anna exclamou para a irmã mais velha, que sorriu feliz.

— Isso leva ao fato de que... Você será a próxima, Agnes. Para Anna casar, você precisa fazer isso primeiro — Natalie lembrou, Agnes assentiu, fazendo cara de choro — Ei... Está tudo bem! Você vai encontrar um homem bom. Eu prometo Ag.

— E se...

Agnes foi interrompida pelo pai, que ao abrir as portas, fizera com que as três se colocassem de pé.

Filipe estava radiante atrás do pai, que também tinha o mesmo sorriso.

— Apesar de... Ser um pouco antiquado, lord Filipe está aqui por sua causa, Anna.

— Por minha causa? — Ela se fez de boba, contendo o sorriso.

— Sim... — O pai concordou — Ele queria saber o que eu acho, se futuramente, após suas irmãs se casarem, ele quiser casar com você.

— Ah... — Anna balbuciou.

— Faço gosto! — Disse o pai, rindo contente — Bem-vindo a esta família! Por mim, já estão noivos...

Tão rápido? Anna pensou. Nem Natalie levara tão pouco tempo assim para se estar noiva. Mas pelo sorriso de Filipe, ele não queria esperar muito.

— Se esse for o gosto da senhorita... Casar comigo... — Ele divagou, encarando Anna, que sorriu tímida.

— Oh... Sim, é do meu gosto — Ela disse, corando absurdamente.

Houve mais brindes. Nesse momento Mary chegava e ficou completamente aborrecida com a festa que faziam pelo noivado de Mary, ela praticamente gritou com o marido, fazendo-o beber seu vinho com rapidez e segui-la pela casa. Anna, Natalie, Agnes e Filipe observavam a cena em silêncio.

— A mãe dela faleceu — Anna sussurrou para o noivo.

— Hoje? — Ele quis saber.

— Sim...

— Sinto muito por ela... — Declarou e parecia sincero — Você acha que seu pai ficaria aborrecido se caminhássemos um pouco?

Anna encarou Natalie. Na ausência dos pais, a irmã mais velha respondia por ela. Natalie sorriu, não gostava de ser posta naquela situação. Na responsabilidade por alguém. Mas confiava em Anna, sabia que ela não faria nada que pudesse desonra-la.

— Não vá para longe — Disse Natalie — E não fique longe da minha visão.

Anna entendeu o recado. Apesar da confiança que a irmã obtinha nela, não gostaria que o lord Filipe pensasse que ela era um alvo fácil. Ou que sua família não fosse estruturada. Por mais que ás vezes fosse, ele não poderia pensar nisso. Ninguém poderia.

Filipe ofereceu o braço a Anna, que o aceitou. Eles deixaram a casa e caminharam pela trilha que dava para o lago, em frente à casa. Há poucos metros de distancia. Ali havia uma pequena canoa, Anna se lembrava de todas as brincadeiras que fizera ali com sua irmã. E todas as vezes que se refrescara do calor ali, quando ainda era criança. Depois de grande, o interesse pelas brincadeiras infantis havia se perdido. Agora coisas como cantar, bordar, tocar e estudar eram mais importantes. Uma dama precisa da casa, do entretenimento e de si mesma se quisesse ter um bom relacionamento.

Anna deixou seus devaneios de lado e encarou o jovem rapaz. Ele não deveria ter mais de vinte e cinco anos. E logo seria seu marido. Não estava apaixonada, se certa forma muito atraída fisicamente. Mas se ele ainda fosse o rapaz encantador com quem dançou no baile, sentia que podiam se dar bem.

— Acho que sua madrasta não fará gosto do nosso noivado depois de hoje — Ele riu, pegando uma pedra no chão e atirando no lago. Ela quicou três vezes antes de mergulhar.

— Acho que ela não... Importa muito. Já que quando casarmos, não moraremos aqui. — Filipe concordou — Fale-me sobre sua família.

— Nós não moraremos com minha família — Ele disse rapidamente — Meu pai tem um cargo na corte do Rei. Minha mãe é a costureira oficial da Rainha. Meus dois irmãos mais velhos estão casados e moram na França. Nós vamos morar no palácio, assim que Henry der o título que me prometeu.

— Ele lhe prometeu um título? — Anna perguntou ansiosa, Filipe assentiu.

— Um duque. Como o noivo da sua irmã — Ele disse, franzindo o cenho ao falar “noivo”.

— Você e Edward são amigos? — Filipe riu com a pergunta de Anna — Pelo visto não...

— Edward não é amigo de ninguém, minha querida — Ele encarou a noiva — Henry gostou muito de sua irmã.

— Fala isso baseado naquela dança? — Anna quis saber, agora rindo. Intrigada.

O noivo pareceu pensar longe, também rindo. Ele se aproximou de Anna, tocando seu rosto e passando o dedo por seus lábios.

— Se foi só pela dança... Então sua irmã dança muito bem — Ele respondeu, fazendo Anna inclinar para mais perto.

— Natalie disse que não houve nada além de uma dança. Está querendo dizer que ela mentiu? — Blefou, o noivo riu.

— O Rei disse o mesmo. Talvez ambos estejam mentindo. O que você acha, minha querida?

— Eu acho que minha irmã vai se casar com o duque de Norfolk. Espero que o Rei não fique falando coisas ao respeito dela, pode fazer o duque deixa-la, pensar mal sobre ela.

Os dois fizeram silêncio, Filipe ponderou, porém deu de ombros.

— Não acho que o duque deixaria sua irmã — Disse — Só se o rei ordenasse...

Eles não puderam continuar o assunto, Anna viu o pai acenar para ela. Filipe lhe ofereceu o braço novamente e os dois andaram em silêncio, ele não entrou novamente, ali se despediu dela com um beijo na testa, prometendo voltar em breve. E então ela entrou, fitando a mulher na sala, que chorava demasiadamente.

— Você vai romper com ele! — Gritou Mary — Ou seu casamento será azarado! Não se aceita um noivado com a família em luto.

Anna olhou para o pai com desespero, este tentava dizer para a esposa que estava tudo feito. Que não poderia voltar atrás. Como voltaria? Como diria para o lord que a filha não o queria mais? Isso poderia arruinar Anna para sempre. E, além disso, não era o que Anna desejava. Ela não permitiria que o pai rompesse o noivado.

xXx

Cordialmente, todas vestiam preto. Menos Agnes, ela se recusou a ir para o velório, e por isso estava de cama. Natalie havia incentivado ela a forjar uma doença para que o pai permitisse que ela ficasse em casa. Funcionou muito bem, nem Mary, que agora recuperada da crise de histeria, havia se oposto contra a enteada.

Anna e Natalie deram as mãos, havia sido uma noite terrível para as duas. Anna contara para a irmã o breve dialogo com o noivo, que deixara Natalie em claro mais uma noite. Anna observou a irmã fritar como uma omelete na cama, até desistir de uma vez de dormir e ficar acordada. As duas agora andavam pela sala de estar da família de Mary, onde o corpo da sua mãe estava sendo velado. E logo, levaria ele dali, para ser sepultado. As duas meninas haviam ganhado o direito de ficarem com os noivos, ao invés de sair dali e acompanhar o enterro.

Os nobres estavam sendo obrigados a conviver juntos e Anna sabia que aquilo estava sendo complicado para eles. Principalmente para seu noivo. Agora ela tinha seu rosto no ombro do homem que em menos de 24hs havia se tornado especial em sua vida. Especial pelo simples fato de que irá desposa-la. Ela não conseguia entender porque compartilhava de certa intimidade com este homem, e ao olhar a irmã sentada no sofá duro ao lado do primeiro ministro do Rei, nem se quer conseguia encarar o homem sem estar nitidamente apavorada.

— Esse casamento está fadado a não dar certo — Declarou Anna, Filipe a encarou.

— Visivelmente incompatíveis — O noivo concordou.

— Se ao menos eu soubesse o que ela quer...

— Como assim? — Anna mordeu os lábios, pensando no que dizer — Me conte o que esconde.

Ela riu. O rapaz não a deixaria escapar com aquela informação.

— Você precisa prometer que não fala nada. Promete?

— Mas é claro... Você deve confiar em mim. Eu serei seu marido — Anna o encara e então sorri. Ela gosta do que ouve.

— Desde a dança com o Rei, ela anda confusa. Parece que vive flutuando. Não dorme mais. E sempre que eu indago o assunto, ela se esquiva. Você pode imaginar o por quê?

— Nosso Rei é muito charmoso — Constatou Filipe, Anna assentiu — Mas o duque também é.

— Natalie nunca quis se casar com ele.

— Sério? Eu pensei que... Ela quisesse — Concluiu Filipe, Anna negou.

— Não. Se ela pudesse fugiria para longe.

Anna encarou mais uma vez a irmã, que estava encolhida no canto do sofá, enquanto o duque forçava com que os dois ficassem de mãos dadas. Natalie encarou Anna como quem pedia socorro.


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