Perpétuas Mudanças escrita por Hunter Debora Jones


Capítulo 1
Prólogo




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Faz muito tempo, desde que tudo aquilo aconteceu em NY, mas ainda assim consigo me lembrar dos rostos das pessoas em pânico, a correria desenfreada pela sobrevivência que qualquer um vendo de fora constataria ser pura tolice, não éramos páreos para o que nos confrontava. Sorte a nossa que surgira os salvadores da pátria e do planeta, Os Vingadores.

De todo o jeito, aquilo havia me impressionado um pouco, confesso — somente um pouco. Estar no centro do ataque, de um deus maluco e revoltado, tendo um exército alienígena ao seu comando não é muito legal, a verdade é que é bem chato, um pesadelo.

E o pesadelo da batalha de NY acabou despertando alguns antigos fantasmas meus, que até aquele momento estavam esquecidos e supostamente superados, mas se tornaram constantes desde então mostrando que talvez eu devesse comer vários hambúrgueres para esquecê-los. Okay, os hambúrgueres jamais me fariam esquecê-los, mas eu adoro hambúrguer desde há muito tempo.

Voltando ao ataque de New York... A cidade ficara um caos, era o retrato de uma verdadeira guerra (e olha que eu já presenciei muitas). Prédios destruídos e cacos de vidros espalhados pelas calçadas, carros destroçados e tombados pelas ruas, o fogo e a fumaça em vários pontos alternavam-se, e carros de resgate e emergência, da badalada cidade evidenciavam a destruição que havia passado por ali, naquele momento a calma já havia se restabelecido, de certa forma.

Eu estava em uma lanchonete lanchando, aproveitando algumas horas de folga antes de partir para o Iraque, em missão naquele dia, o motivo você já pode presumir, suspeitas de que um grupo de terroristas estaria recebendo um novo armamento, e eu estaria lá para saber quem era o mercador e impedir que aquele negócio fosse feito, porque se tratando da C.I.A. suspeitas eram 99% de certeza, não brincávamos em serviço, embora, talvez eu me divertisse estourando os miolos de alguns “desmiolados”. Eu estava um pouco ansiosa, às vezes acontecia isso antes de uma viagem para alguma missão, porque apesar de prever o que poderia acontecer geralmente na prática as coisas não eram tão fáceis assim. Contudo, aquele dia estava muito estranho, odiava e ainda odeio me sentir assim. Tudo tornará ao habitual quando eu partir, foi o que eu pensei.

Mas nada disso aconteceu, todos os meus planos haviam sido temporariamente adiados, quando senti que alguma coisa não estava nada bem, e meu sexto sentido nunca falhou.

A TV do estabelecimento que até o momento era ignorada ganhou a atenção simultaneamente de várias pessoas, provavelmente teria sido algum artista teen de Hollywood que havia sido preso pra ganhar tanta atenção, foi o que pensei — as pessoas tem o costume de prender a atenção em coisas fúteis, então na ocasião nem dei muita atenção.

Somente fui me alarmar quando ouvi cochichos nervosos e passos inquietantes das pessoas, que se alternavam em frente ao vidro do estabelecimento até a TV, e certa palavra no meio de tudo aquilo eu pude compreender: ataque.

Levantei-me dando alguns passos para visualizar a notícia na TV. As pessoas já não cochichavam, elas discutiam em alto e bom som, sobre a melhor maneira de ficar “fora de tudo aquilo”, enquanto eu finalmente encarava, pasmem, a notícia na TV. Algumas criaturas alienígenas em espaçonaves que sobrevoavam a cidade de New York, comandados por aquele tal deus Loki, causavam o pavor na tentativa de começar um domínio sobre a terra. E estávamos bem no centro de tudo. Há alguns anos atrás aquela notícia seria recebida como uma pegadinha, mas há muito tempo coisas esquisitas vinham acontecendo e agora coisas normais que causavam desconfiança e estranhamento.

— Precisamos sair daqui. — eu falei alto para que me ouvissem, chegando próxima à porta de vidro e vendo a melhor rota para sair dali, podíamos ver a desordem lá fora e, se ficássemos ali não iria restar alguém para contar história.

— Você é demente? — uma senhora gritou, com pavor e recriminação em sua voz direcionada a mim. — Se saímos daqui estaremos todos mortos! Tirem essa louca de perto da porta que ela irá nos matar!

Sem ter a chance de poder falar, no momento seguinte alguns homens — nada gentis — me agarraram retirando-me de perto da porta, e dando ordens para que eu ficasse “quieta na minha”. Pessoas são um saco. Eu poderia derrubá-los sem problema algum — e como eu queria, mas, esse não era o certo a se fazer, eu precisava proteger aquelas pessoas, aquele era o meu trabalho.

Eles ainda discutiam ainda sobre o que fazer sem conseguir achar qualquer solução.

— Escute, eu...

— Calada, maluca! — um homem ralhou, em seguida voltou a discutir com os outros.

Estreitei os olhos, o fulminando de meu lugar sentada, controlando um princípio de fúria, suspirei.

— Vamos ligar para a polícia, eles podem ajudar. — um jovem disse, recebendo a afirmativa de todos enquanto discava um número em seu celular. Bem, não era uma ideia ruim no meio de pessoas tão apavoradas.

— Isso não vai dar certo, vocês acham que eles virão aqui? No meio do ataque? — um senhor indagou pessimista, nisso as pessoas ficaram apreensivas, e caladas em estado de choque.

— Esse é o trabalho deles, é o que eles devem fazer. — retrucou o rapaz vendo a tensão se aumentar e as pessoas discutirem entre si novamente. — Pessoal, calma! Não custa nada tentar... Alô? Eu já estou na linha.

— Chamem logo a polícia, pelo o amor de Deus! — gritou a velha, digo, a senhora, que antes havia me recriminado, ignorando tudo o que o rapaz havia acabado de dizer. — Tem um deles se aproximando, socorro! — só pude ver o branco de seus fios de cabelo enquanto ela corria para sei lá aonde.

Pude ouvir gritos e um baque e fragmentos de vidros sendo estilhaçados. Coisa de rotina. Mas em um ataque alienígena era totalmente diferente, em um milésimo de segundos, passou próximo a minha face, algo como um raio, atônita demais fui perceber que o alienígena estava dentro do estabelecimento, com algo em suas mãos, uma arma que eu jamais havia visto. E o pior, ela havia derrubado alguém.

Eu havia petrificado, e só percebera isto tarde demais.

—Cuidado! — alguém se jogou em cima de mim me derrubando no chão, ao mesmo tempo em que um raio passava zunindo novamente perto de mim, e aquilo foi o suficiente para que eu me despertasse daquela espécie de consternação e agisse. Como se o universo estivesse zombando de mim, eu percebi que havia sido salva pelo garoto magricela do telefone, e sem tempo para me culpar saquei a minha arma, que estava emaranhada na cintura, destravei-a e disparei sem pensar duas vezes contra o alienígena, eu não queria cometer o erro de vacilar novamente. Foram necessárias umas cinco balas para que a criatura caísse morta no chão, obviamente que isso não impediria que as solas dos meus sapatos checassem, a sua pulsação bem de perto. Porém, um gemido chamou a minha atenção, e fui tomada pela surpresa novamente, a pessoa que havia sido atingida pela arma alienígena estava viva, em péssimas condições, mas viva. Ajoelhei-me próxima a ela.

— Ei, tudo bem, não se mexa e se acalme. — notei o olhar das pessoas sobre mim, mas mantive minha atenção concentrada na garota de aproximadamente vinte anos. Outras pessoas também se aproximaram para ajudar, mas o seu abdômen estava bastante ensanguentado, constatei que ela não tinha sido atingida pela arma, mas sim por uma viga de madeira que estava “fincada” próxima ao seu quadril esquerdo, provavelmente o disparo da arma tinha atingido algum móvel que se quebrou em pedaços e atingira a pobre garota. Ela ainda estava viva, mas não duraria muito tempo se não fosse atendida logo.

— Pessoal, espaço! Tem algum médico aqui, pelo amor de Deus?! — gritei depois de travar a minha arma e coloca-la na cintura, em seguida rasguei uma manga de minha blusa rapidamente e colocando em volta do ferimento, com cuidado para evitar que mais sangue saísse.

Olhei para trás vendo se nenhum alienígena estava próximo, e por milagre do destino não. Mas nossa morte só estava sendo adiada, dado as circunstâncias.

— Nós precisamos sair da... — a senhora de antes aparecera num passe de mágica, falando, mas a cortei imediatamente.

— Escute aqui, se a senhora quiser sair daqui, saia. Vá para o diabo que a parta! — disse o que me vinha à cabeça, aquele dia estava sendo extremamente louco e aquela velha, digo, senhora, tinha me dado já nos nervos. E naquele momento eu já pensava, que sair dali não era uma boa ideia, estava percebendo-me fervendo de raiva dado as minhas recentes falhas e dúvidas de como agir naquela situação. — Agora por obséquio, será que tem a droga algum médico aqui?!

— Eu sou enfermeiro. — um senhor se manifestou timidamente.

— Então tome a frente da situação, agora! — ordenei, não era hora de sentir vergonha quando vidas corriam risco. Dito e feito, minhas palavras o fizeram agir.

— Não parece ter atingido nenhum órgão interno, mas ela precisa ir para um hospital rápido. Ela está perdendo muito sangue. Não tente falar, é melhor, você ficará bem. — ele instruiu à garota ferida, fazia promessas que eu mesma duvidava.

— Alguém ligue para a emergência, e eu não quero ouvir um “ai” sobre as circunstâncias nada favoráveis. — eu pronunciei, e as pessoas estavam sendo bastante prestativas.

— Preciso de ajuda aqui. — o enfermeiro falou. O jovem magricela logo se disponibilizou, minha atenção era entre a rua, a garota, e a televisão que mostrava o caos que imperava lá fora, mas algo diferente acontecia: o Homem de Ferro e outros... Heróis? Não sabia bem o que pensar ainda, mas eles lutavam contra os alienígenas, e pareciam estar tendo sucesso.

— Vocês. — apontei para um grupo de pessoas que vestiam a camisa da lanchonete. — Há algum armazém, porão nos fundos, ou seja, lá o que for?

— Há um porão, senhora. — um deles respondeu.

— Ótimo. — disse seca, odiava que me chamassem de senhora, normalmente eu não transparecia isso, mas aquele ataque alienígena estava me afetando mais do que eu imaginava. — Vão todos para lá e não saiam por que sair daqui agora não é uma boa opção.

— A emergência? — perguntei depois que todos se foram e ficou somente o enfermeiro, a garota ferida, o jovem magricela que tinha me salvado, uma mulher que falava ao telefone, provavelmente com a emergência, e eu.

— Eles estão vindo. — a mulher respondeu não tão confiante. — Eu acho...

Apesar das circunstâncias, em todos os meus anos na C.I.A. o que eu sempre me lembrava nas piores situações, era de manter a perseverança, mesmo que não houvesse nada a favor, mesmo que não houvesse uma verdadeira fé. Eu jamais aceitava fracassar, isso costumava dar certo, e naquele caso parecia também estar funcionando, pois em momentos seguintes um som de sirene, não tão longe, foi ouvido.

Eu me lembro de esboçar um sorriso de alívio e de pensar que parecia mais um sorriso psicótico, minha face estava toda tensa e isso com certeza não me faria ter um belo sorriso. Mas não liguei para isso, caminhei até a porta da lanchonete, que já nem havia mais, já que o alienígena tinha a destruído, e me lembrei do alienígena, que eu havia matado, assim que dirigi meu olhar para baixo. Uma falha, não devia ter feito aquilo, não porque talvez aquilo inflasse o meu ego ou me aterroriza-se, não por isso, mas porque foi uma distração que me fez perceber outro alienígena, vivo, a poucos metros de mim segundos antes que ele apontasse sua arma em minha direção, tarde demais. Os segundos passaram em câmera lenta, minha arma na cintura sendo puxada e destravada ao mesmo tempo, em que ele direcionava aquela arma para mim, eu já estaria morta antes mesmo de piscar. Eu sabia disso, minha falha acarretaria em minha morte.

A última faísca de esperança que eu mantinha outrora, naquele momento eu sentia-a extinta.

E o alienígena foi arremessado ao chão fortemente atingido por um escudo que no momento eu nem fazia ideia de que era do Capitão América. Diante dos meus olhos eu só via um herói, muito forte, que pegava novamente o seu escudo, facilmente se certificando de que o alienígena estivesse fora de combate. Seu traje era com as cores da bandeira americana, mas comicamente ele me lembrava da bandeira de Porto Rico. Percebi que minhas observações haviam ido longe demais, quando eu ainda segurava a arma, naquele momento abaixada próxima a minha cintura, e o herói havia posto de encontro ao solo todos os alienígenas ali. E também, que a ambulância de emergência havia chegado e alguns socorristas já saíam de dentro dela.

O que aconteceu depois dali você já sabe, New York havia sido salva pelos Vingadores, a garota fora atendida rapidamente e conseguira se salvar, as pessoas que estavam aquele dia, naquela lanchonete não perderam suas vidas, e puderam depois até agradecer ao guerreiro e nobre Capitão América e aos Vingadores em rede nacional. Que haviam nos livrado de um exército alienígena de Chitauris, comandados por um deus nórdico cruel. Eles haviam nos livrado de um ataque nuclear, do caos e da desesperança.

Não que esse fosse um fator que espantasse os meus fantasmas, pois acredite que para mim era totalmente o inverso disso. Eu havia sido pega totalmente de surpresa, sabendo do que eu era capaz, eu tinha sido extremamente inútil e pior, acabara sendo salva, primeiro, por um jovem magricela, e depois pelo Capitão América, que parecia mais o “Capitão Porto Rico”. Desde quando o universo tirava sarro da minha cara assim?

Certamente, aquilo havia mudado o meu pensamento sobre ser útil e salvar vidas, e eu estava totalmente no caminho errado, exatamente àquela hora, em que meneei a minha cabeça em agradecimento a certo Capitão, que imitou o mesmo movimento, e desaparecera em meio à baderna para salvar a cidade. Exatamente naquele momento eu percebi que até ali, eu estava indo para o caminho errado, fazendo as escolhas erradas — ou não fazendo as escolhas. Eu precisava evoluir.

É, aquele desastre havia me atentado para certos detalhes, acordado a mim e meus terríveis antigos fantasmas. Uma verdadeira droga.

Por sorte ou azar, o destino já havia me preparado outro caminho e embora eu adorasse seguir o destino muitas vezes, daquela vez eu não estava tão certa, mas o que eu poderia perder afinal?


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Notas finais do capítulo

E aí? ._.