A Lenda dos Sete escrita por Lótus Brum, Martins de Souza


Capítulo 16
Mistérios e Bandagens


Notas iniciais do capítulo

"— Com o vosso perdão, Lorde Galbrei — e ela abriu aquele belo sorriso. — Mas eu sou do tipo que acredita que quando uma a vela se apaga, acende-se outra." Lillian, a Cavaleira.



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— Mas e o Zen? — perguntou uma garotinha, de uns cinco anos, sentada logo a frente do velho.

— O que tem ele? — respondeu o velho.

— Quero saber o que houve com o Zen! Ele sobreviveu?! — ela parecia assustada pela saúde do rapaz.

— Você nunca ouviu essa história não, criança? — o velho ergueu uma sobrancelha, intrigado.

— Não! — ela balançou a cabeça, negando. Outro garoto falou — A Lilly é nova no vilarejo, chegou anteontem.

— Lilly? De Lillian? — ele sorriu quando a garota aquiesceu. Estralou os dedos, pediu mais uma cerveja ao taverneiro e se ajeitou no assento. — Muito bem, já que quer saber o que houve com o Zen, vou te falar dele. Mas através da visão de outra pessoa, Lillian.

Três segundos, Lillian contou três segundos após o golpe mortal daquele estranho vestido em negro, então veio o banho de sangue. Como um chafariz, o monstro espirrou sangue para todos os lados. Sangue negro, Lillian teve que pensar rápido para desviar daquele líquido devastador. Corroeu paredes e consumiu o chão, e quando ela saiu de seu esconderijo, só restava ali o tal herói desconhecido, caído no chão. Não!, sua mente foi tomada pelo medo, enquanto avançava numa corrida até o rapaz, ou garota, ou quem quer que fosse. Eu sei que sabem quem ele é, só estou tentando manter o clima. Jogou-se sobre ele, gritando.

— Ei, ei, ei você! Não vá morrer, não agora! — ela deu alguns tapas no rosto dele. Dele, era um homem, e pelos deuses, era o mesmo que habitava seus últimos sonhos.

Quem... É ele? Parou de gritar por um instante, olhando para seu rosto desmaiado. Então ouviu uma criança gritando.

— Zen! — Lillian ergueu a cabeça e viu um garoto, de uns onze, doze anos, correndo na direção dos dois.

Devia ser mais um dos milhares de mendigos que compões a classe mais baixa de Balran. No entanto, isso não mudava nada para a loira, se aquele garoto conhecesse o rapaz em seu colo.

— Zen, o que houve com o Zen?! — o garoto se jogou, escorregando de joelhos até o lado da dupla caída no chão. — Ele está respirando? Ele está vivo?!

— Se acalme, garoto — ela deu um tapa na cabeça dele. Acho que o Rey tem tendência para levar cascudos. — Ele está vivo e respirando, mas está ferido. Chame os guardas, preciso levá-lo para o hospital. — O garoto acenou a cabeça, assustado, enquanto desviava o olhar para Zen. — Vá! Ande! — ela gritou, e o garoto foi. Saiu correndo, em busca de qualquer soldado que não tivesse sido pego por aqueles demônios. Lillian voltou a olhar para o rapaz em seu colo.

— Zen... Então esse é o seu nome.

***

Balran, mesmo sendo uma cidade de ladrões, ainda era uma cidade de pessoas. E as pessoas são fortes. Se toda a colheita é estragada pela praga, elas se juntam e plantam de novo. Se um incêndio queima uma cidade, elas a reconstroem. Se o rei precisa de seu povo, elas vão a batalha em nome de seu senhor. É isso que elas fazem, se unem por um motivo maior, e não foi diferente naquela ocasião. No dia seguinte, os corpos já tinham sido recolhidos e enterrados, e enquanto as mulheres carpiam seus esposos, os outros moradores reerguiam a cidade à situação normal. Carregavam toras, cerravam, reconstruíam e cuidavam de seus feridos. Todos juntos, sem diferença de classes ou raças, isso podia ficar para outra hora. No momento, o importante era ajeitar tudo.

E conduzindo essa missão de reparo, estava Lillian. Está para nascer mulher tão eficiente quanto ela. Guerreira valente e habilidosa, versada nas mais diversas artes, conhecedora das mais variadas línguas, com habilidades políticas excepcionais. Gritava ordens como ninguém, e estava sempre pronta para isso. “Leve essas tábuas para lá!”, “Os feridos na Capela!” e “Ei, voltem ao trabalho!” eram ouvidos toda hora. E a resposta, claro, era apenas “Sim senhora!”, afinal, quem ousaria contradizer ela?

— Senhora Capitã! — disse um soldado, que surgiu logo atrás de Lillian. A loira virou-se para ele.

— Fale — ela nem deu-se ao trabalho de virar para o soldado.

— É o Senhor Galbrei, Capitã — a loira virou, olhando o soldado. — Acaba de chegar, quer vê-la.

— Galbrei, aqui? Estranho — ruminou durante uns segundos, dando de ombros —, vamos com isso então.

O soldado anuiu, dando espaço para a mulher. Lillian foi com os passos mais lentos possíveis até o encontro do tal Galbrei. Acho que tal não é suficiente para alguém como ele, vamos então chamá-lo Lorde. Lorde Galbrei, esse sim é um bom nome, algo que ele aprovaria. E afinal, era esse seu título. Lorde Galrei, o Lorde de toda aquela porção do Reino dos Homens. Podem compará-lo a um duque, se for melhor para vocês. Para Lillian tanto faz, ela não suportava aquele homem, e seu título não mudava em nada seu desgosto à presença dele. Mas vamos parar de perder tempo, Lillian chegou até Galbrei, após uma longa e lenta caminhada.

— Lorde Galbrei — ela forçou um sorriso —, chegou num momento conturbado.

— Percebo que sim, Senhora Capitã — falou o homem, voltando-se para ela. Ele estava de costas. — Foi assim em várias cidades. — Ela ergueu a sobrancelha direita, intrigada. — Sim, Balran não foi a única atacada. Lorde Aroud enviou notícias, Neeiren e Bravia foram atacadas. E Aileen foi dizimada.

— Aileen? — levantou a voz, parecendo assustada. Arrependeu-se disso.

— Conhecia alguém de Aileen? — curvou levemente a cabeça.

— Não senhor, ninguém — ela negou com a cabeça, olhando para o chão em seguida.

Um silêncio surgiu entre os dois. Ficou ali durante insuportáveis segundos. E nesse meio tempo, Lillian sabia que Galbrei a encarava com aqueles dois olhos de serpente. Mas tinha que manter a pose, não podia deixar que um homem como aquele encontrasse qualquer fraqueza nela. Galbrei, ainda vai chegar o dia que vou separar sua cabeça do corpo. Pensou, mas nada disse, nem nada demonstrou. O Lorde de bigode fino e cara também fina voltou a falar.

— Fez um belo trabalho salvando a cidade. Soube que apareceu um monstro gigantesco, com três andares de altura — deu um pequeno sorriso. Até o sorriso dele era insuportável. — Deve ter sido uma batalha dura.

— Não senhor — o lorde ergueu uma sobrancelha, parecendo espantado. — Digo, não fui eu que venci o demônio, senhor. Foi outra pessoa.

— Outra pessoa? — ele aproximou-se vagaroso de Lillian, até ficar rente à ela. Galbrei era um palmo mais alto que a loira. — Quem?

Lillian pensou por um segundo, e nesse minúsculo tempo, considerou muitas coisas. Devia dizer o nome dele? Devia dizer como ele era? Afinal, ela devia até mesmo dizer que ele ainda estava em Balran? Não, ela não diria nada disso. Galbrei teria que se satisfazer com um balanço negativo da cabeça de Lillian, e sua resposta.

— Não sei quem era senhor. Apareceu tão rápido quanto sumiu — não tinha ponta alguma de mentira em sua voz —, quem sabe os deuses tenham enviado um salvador para nossa cidade.

— Um salvador para Balran? — debochou, dando uma risada. O Lorde voltou a caminhar para longe da loira. — Só se fosse para destruí-la — o comentário a fez morder o lábio inferior. Estava de costas afinal, e ele não podia ter um olho nas costas. Ou podia?

— Senhor? — o Lorde olhou para ela por cima do ombro.

— Balran está perdida, corrompida por inteiro, sem futuro, sem nada. Só resta soprar que a vela da esperança dessa cidade se apaga para sempre — disse. Então parou, voltando-se para a Cavaleira. — Não entendo nem o que você está fazendo aqui. Seria muito mais útil em Carendal ou Haurun. Se quiser, posso enviar uma carta para Lorde Gaúl, e você poderá atuar em uma dessas cidades. Não deve demorar nem uma... — foi interrompido pela loira, que levantou uma mão.

— Com o vosso perdão, Lorde Galbrei — e ela abriu aquele belo sorriso. — Mas eu sou do tipo que acredita que quando uma a vela se apaga, acende-se outra. — O Lorde olhou-a com certo desprezo disfarçado, mas dispensou o sentimento. Ia falar outra vez, mas ela cortou-o novamente. — E peço perdão novamente, mas devo-me ir agora. Há muito trabalho para fazer em Balran, e creio que esteja cansado da viagem.

— Certamente — o Lorde respondeu.

— Então, tenha um bom descanso Lorde Galbrei — ela fez uma mesura. — E com isso, me despeço. Que o Pássaro seja eterno — olhou o Lorde, aguardando. Demorou alguns segundos para ele dar a resposta.

— E eterno ele será — respondeu.

E com a resposta, a loira não perdeu tempo para ir embora. Virou-se, e apressada saiu do cômodo coberto em sedas e ouro. Quando a porta bateu atrás dela, soltou o ar. Ela tinha permanecido todo aquele tempo sem respirar. Incrível não? Seus treinos no Frio Que Nunca Cessa concederam a ela essa habilidade. Os homens de lá respiram pouquíssimas vezes por dia, para não congelarem por dentro. A loira demorou um ano para aprender essa técnica, ainda que não fosse tão bem sucedida quanto os Nevados. Quem liga? Continue logo com a história! disse um garoto. Certo, certo! o velho respondeu. Foi botar os pés fora do Salão de Honra, que ela soltou o ar. E sua mente estava focada numa só coisa. Como será que ele está? É claro que ela estava falando de Zen. Receber um golpe de uma besta daquela magnitude e não morrer era incrível. Derrotá-la em seguida, era mais incrível ainda. E fazer isso partindo-a ao meio, era quase impossível de acreditar. Mas a Cavaleira tinha visto aquilo com seus próprios olhos, e eles não a enganavam.

— Senhora Capitã? — era um guarda que a falava.

— Sim? — como sempre, ela nem dignou-se a olhar para ele.

— Uma servente da Casa de Sariel veio até nós — ele disse —, há problemas com um rapaz lá. Disse que você sabia quem era, que você o tinha levado até lá. — O guarda a olhou.

— Ah — olhou-o de canto um segundo, buscando alguma desculpa. Pensou rápido, ela — sim, é um parente meu. Diga-a que já vou indo — o soldado assentiu, e preparava-se para partir. — Você é o Lael, não é?

— Sim senhora.

— Não fale disso com ninguém, Lael — ele olhou para a loira intrigado. — São problemas de família. Não quero isso na boca do povo, muito menos na boca de Lorde Galbrei — ela deu um sorriso. — Você sabe como é aquele lá.

— Sua palavra é absoluta, Senhora Capitã — e foi dispensado com um movimento de mão da loira.

Sozinha ela suspirou, enquanto prosseguia caminhando, os braços cruzados atrás das costas. Que problemas são esses agora?

***

Em frente à Casa de Sariel, tudo estava na mais perfeita calma. Lillian até estranhou ter sido chamada por problemas. Será que os ferimentos são muito graves? ela pensou, e entrou na construção.

Calmaria e silêncio. Tão silencioso quanto vocês deviam estar. Calem a boca! Uma curandeira ou outra caminhava de um lado para o outro, carregando uma bacia com panos molhados de água ou tingidos de sangue. Uma velhinha, um pouco mais velha que eu, estava atrás de um balcão, olhando em alguns pergaminhos. Foi com ela que Lillian foi falar.

— Você é a... — foi interrompida pela velha, que levantou o dedo esquelético, sem tirar os olhos do pergaminho.

Lillian franziu o cenho, frustrada. Cruzou os braços e ficou esperando a velha terminar aquilo que era tão importante para não atender a Capitã da Guarda de Balran. A velha devia estar se divertindo em fazer ela esperar, porque ficou uns cinco minutos olhando para aqueles pergaminhos, até levantar os olhos e encarar Lillian.

— Pois não? — ela perguntou no tom mais despreocupado do mundo.

— Me chamaram aqui — enfatizou a palavra chamaram —, falando que havia problemas com um dos internados. Zen é o nome dele.

— Segundo andar, penúltimo quarto da direita, do corredor da direita — e quando Lillian ia fazer outra pergunta, a velha ergueu o dedo. Estava focada nos pergaminhos de novo.

Fazer o que, não é? Lillian dirigiu-se para a única escadaria que havia ali e subiu até o segundo andar, sem contar o térreo. Foi pisar no corredor, que deparou-se com aquele garoto mendigo do outro dia, correndo, levando um amontoado de cortinas. Cortinas? O que ele vai fazer com essas cortinas? O garoto entrou no último quarto da direita, no corredor da direita. Quando chegou em frente a porta aberta, viu para que servia as cortinas.

Zen, sentado na cama, usando apenas um sobretudo da casa de cura, amarrava uma cortina na outra, fazendo uma enorme corda. O garoto já entrou falando.

— Aqui está, comandante! As cortinas que pediu! — e soltou o amontoado sobre a cama.

— Ótimo, não comandante! Ótimo! — ele começou a aumentar sua corda com o novo estoque de cortinas. — Agora vá vigiar a porta, aquela bruxa velha pode aparecer a qualquer momento.

— Sim senhor! — o garoto virou-se para a porta e deparou-se com Lillian, que olhava tudo aquilo com uma cara pasma. — Senhor! Fomos descobertos, senhor! O inimigo nos descobriu! — falava tudo aquilo com uma cara assustada.

Zen olhou para trás e fez uma cara, se não igual, muito similar à de um cadáver. Deu um pulo da cama, carregando uma ponta de cortina, correndo para a janela.

— Amarre a outra ponta em algo preso ao chão Rey! — gritou, pulando pela janela. O garoto foi o mais rápido que pode, e prendeu a outra ponta da corda de cortinas em um... Em nada, não teve tempo suficiente. A corda escapou da mão da criança.

— Droga! — a loira gritou, saltando na direção da corda que escapava das mãos de Rey. Agarrou a ponta, e foi arrastada até a janela, onde pôs os dois pés de encontro a parede para não ser levada.

A corda não devia ter nem um andar de comprimento. Se ele cair dessa altura, ele pode morrer! ela pensou, e o Deus Brincalhão deve ter escutado esse pensamento, porque um dos nós da corda se soltou. Bum! O barulho foi alto e claro, a loira olhou para baixo e viu o rapaz caído no chão.

— Seu imbecil! — ela gritou, correndo da janela para o corredor, e do corredor para o primeiro andar. A velha ainda estava focada nos pergaminhos, mas quem liga? Lillian quase arrombou a porta quando passou por ela.

O rapaz estava caído ali, de olhos fechados. Será que caiu de cabeça?!, estava assustada. Desceu o pequeno lance de escadas que havia e ajoelhou-se ao lado dele, dando tapinhas em seu rosto.

— Ei, não vá morrer seu tapado, não desse jeito — ele abriu levemente os olhos.

— Oh, minha querida, sinto que minha hora está chegando, tudo está escurecendo, a luz no fim do túnel está surgindo! — disse ele, erguendo a mão para o céu. — Por favor! — voltou-se para ela, de repente. — Poderia me conceder um último pedido?

— O-o que você quer?! — ela parecia assustada.

— Mais perto — indicou para que ela aproximasse o ouvido, e assim ela fez.

O rapaz começou a sussurrar algo. No começo, ela ouviu com atenção, então ela corou, e em seguida seu cenho franziu. Não havia pena alguma em seus olhos, e eu diria até que um transeunte poderia ver uma aura de morte ao redor dela. Um, dois, três golpes ela atingiu nele até ficar satisfeita.

— Está morrendo porcaria nenhuma, seu pervertido! — ela gritou, levantando-o pela gola. — Ei seu retardado, você tem ideia de quem eu sou? Tem ideia que posso te prender até o final da sua vida? Será que eu devo fazer isso? Será que devo tirar um pilantra como você das ruas e jogar na cadeia? — sacudiu Zen, lançando-o um olhar frio que só ela sabe fazer.

— E-e-espere madame, não é bem assim — gaguejou, tentando se livrar das mãos dela. — E-e-eu juro que tinha a melhor das intenções! — tomou mais um soco.

— Como alguém pode ter a melhor das intenções com um pedido desses, seu animal! — ela gritou, e deu outro soco, e mais um.

— Vamos parar com a execução pública — a velha do balcão surgiu ao lado de Lillian e Zen. — Leve-o lá para dentro, quero falar com você — e antes que a loira respondesse, ela entrou.

— Venha! — ela levantou, levando Zen pela gola até dentro da Casa de Cura.

Duas curandeiras com uns quarenta anos trataram de agarrar Zen, uma em cada orelha, e levá-lo a força pela escadaria até o segundo andar. Lillian lançou um olhar de desprezo para o rapaz, enquanto acompanhava a velha de volta até o balcão. Lá, Lillian aguardou enquanto a senhora enrolava os pergaminhos e os devolvia à uma estante ao lado. Quando terminou, Lillian foi confrontada com um olhar sério.

— A quanto tempo conhece aquele rapaz? — a velha perguntou, cruzando os braços atrás das costas.

— Conheci-o ontem — respondeu —, e já me arrependo disso. — Complementou, olhando na direção da escadaria com raiva.

— Ele te disse que o nome dele era Zen? — a velha sentou-se numa banqueta atrás do balcão, continuando a fitar a loira.

— Não, eu ouvi o nome do garoto que está com ele — ela botou as duas mãos no balcão. — Afinal, para que é esse interrogatório?

— Eu que faço as perguntas, criança — respondeu ríspida. — Lá fora você pode ser a Senhora Capitã, mas na Casa de Sariel, sou eu a grande comandante.

Lillian franziu o cenho, mordendo o lábio inferior. O que ela quer afinal?, pensou, e resolveu sentar na banqueta que estava do seu lado do balcão, olhando a outra adiante. Aguardou, e a velha permaneceu em silêncio, parecendo analisar a loira.

— Então? Acabaram as perguntas? — ela cruzou os braços.

— Não — fez outra pausa. — Você já viu aquele rapaz nu?

A pergunta fez Lillian levantar da cadeira, indignada e assustada ao mesmo tempo. Que tipo de pergunta é essa?!, pensou, e também perguntou.

— Que tipo de pergunta é essa?!

A velha sorriu, um milagre, Lillian pesou.

— Me desculpe, não pude evitar, vocês parecem íntimos, pelo jeito como correu para ver se ele estava bem — a loira enrubesceu.

— M-mas é claro que eu fiz isso! Ele caiu de uma altura enorme! Qualquer um teria se machucado, ainda mais ele, que já está todo ferido! — protestou.

— Ferido? Aquele rapaz parece um monstro — Lillian olhou intrigada. — Quebrou sete costelas, fraturou um osso do braço esquerdo e torceu o pé. E ainda assim está se movendo como se estivesse totalmente curado. Não conseguimos controlá-lo, essa foi a quinta tentativa de fuga dele hoje.

— E o que eu tenho haver com isso? Ponha pessoas para vigiá-lo, ora! — a loira cruzou os braços.

— Acha que não tenho outras pessoas para manter sobre vigília constante? Não tenho mais pessoas para ficar de olho nele — ela juntou as mãos, encostando ponta de dedo com ponta de dedo.

— Novamente, o que tenho eu com isso? — ela falou, entediada.

— Ou você bota um de seus soldados para vigiar ele, ou você vigia ele — respondeu a velha, arrancando uma cara de insatisfação da loira.

— Como assim? É sua obrigação cuidar dele! — ela bateu a mão no balcão.

— E estou cuidando. Mas sem ninguém para vigiá-lo, ou ele foge, ou ele se mata tentando — deu de ombros —, não vou abandonar meus outros pacientes por causa dele. Nem que o próprio Rei ordenasse eu faria isso.

— E quer que eu fique de babá dele?! — ela fez a famosa posição “bule de chá”, era mania dela.

— Eu te dei as opções, agora é você quem decide o que fazer — a velha baixou as mãos sobre o balcão, sorrindo para a loira.

Ela por sua vez, cerrou os dentes enquanto o sangue subia a cabeça. Afinal, o que ela podia fazer não é? Queria manter descrição sobre a presença daquele Zen ali em Balran, e não podia imaginar o que aconteceria se chegasse aos ouvidos de Lorde Galbrei que o tal herói que salvou a cidade ainda estava ali. No mínimo, ia interrogá-lo e mantê-lo preso até que o rapaz falasse tudo sobre sua vida. Alguém tão forte poderia ser um perigo para o reino, era bem assim que ele justificaria seus atos. Então, Lillian teve que respirar profundamente e se acalmar, antes de dar uma resposta.

— Eu irei vigiá-lo, e ele não vai fugir — disse aquilo como se fosse apenas uma realidade imutável.

— Ótimo — a velha sorriu, fechando os olhos. — Agora vá ver se ele está bem — e quando a loira ia falar, a velha levantou um dedo, puxando um pergaminho de sua manga. Lillian deu de ombros.

Caminhou vagarosa até o segundo andar, indo em seguida até o quarto de Zen. Chegando lá, bateu a mão na cara. Zen estava construindo um projeto daquilo que devia servir de escada, usando galhos de madeira que o menino Rey arremessava para dentro da janela. Um acertou direto em sua cabeça, parecendo nocauteá-lo na hora.

A loira suspirou. No que eu fui me meter...


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