Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 9
A resposta certa


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo grande para comemorar o ano novo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/554741/chapter/9

“Leite. Leite. Leite. Aonde está o leite?”

Nagisa estava procurando na máquina de venda de bebidas durante o recreio. Infelizmente não havia máquinas de venda para queijo. Leite era o mais próximo que iria conseguir.

“Aqui está!”

O problema e que as máquinas de venda da escola não tem uma etiqueta para cada produto. O pior que no reabastecimento, sempre trocam os produtos de lugares. Essa regra também valia para máquina que Nagisa estava utilizando, que ficava na esquina de um dos corredores.

Nagisa colocou a moeda para ativar a respectiva prateleira. Homura sempre garantia uns trocados para ela, desde que ela não perguntasse a origem. A prateleira automatizada deixou cair uma caixinha de leite, que foi deslizando até o ponto de coleta.

Então Nagisa retirou o canudinho que vinha colado junto a caixinha. Só que ao tentar perfurar a caixa com o canudo, ela constatou que o local para perfurar veio com defeito. Ayako devia estar esperando, portanto não podia perder muito tempo. Porém ela não podia forçar demais senão...

“Oi!”

Com o susto, Nagisa perfurou a caixinha com tanta força que espirrou leite na cara dela.

“Ah! Desculpa! Eu não devia ter chegado por trás.”

Só que não tinha sido a direção por onde veio voz que fez assustar Nagisa e sim porque ela sabia quem era a dona daquela voz.

Ao virar, seus temores se confirmaram, ela estava diante de garota meiga de olhos e cabelos rosa.

“Aqui.” Madoka tirou um lencinho do bolso do uniforme e começou a limpar o rosto de Nagisa. “Vou secar bem. É o mínimo que posso fazer.”

Quando estava prestes a terminar, Madoka arregalou os olhos e começou abrir a boca, como se estivesse prestes a falar alguma coisa.

Nagisa estava ainda confusa e temerosa com aquela situação.

Por que ela está aqui? Nem estudamos no mesmo andar. Será que ela se lembrou de mim agora?

“Seus olhos...” Madoka começou a sorrir de boca aberta. “Nossa! São incríveis! São... são tão diferentes.”

“Ah.” Nagisa desviou o olhar, encabulada. “Tem pessoas que já me disseram isso.” Então ela viu que Madoka carregava uma pasta com papéis na outra mão.

Notando para onde atenção de Nagisa havia voltado, Madoka falou enquanto passava uma última vez o lencinho. “Eu não vou tomar mais seu tempo do intervalo. Hihi. Só queria saber onde fica a diretoria.”

“Hum...” Agora Nagisa sabia do porquê da Madoka estar ali, a diretoria ficava naquele andar. Contudo ela não sabia exatamente onde ficava, pois desde o primeiro dia nesse novo mundo ela já estava matriculada e nunca houve a necessidade de ir até lá. “Bem... é...”

“Kaname-san.”

Nagisa, em um ato reflexo, apertou com força a caixinha de leite. Um jato saiu pelo canudo e molhou o chão.

“Ei!” Madoka deu um pulo para trás. “Cuidado menina. A caixinha está bem cheia.” Depois ela virou para a pessoa que estava chegando até elas. “Akemi-san?”

Homura ficou olhando para as duas, especialmente para Nagisa. Sua expressão era fria.

Para disfarçar os tremores, Nagisa segurou a caixinha o mais próximo que podia dela, encolheu os ombros e começou a beber. Ela estar próximo da Madoka, ainda mais conversando, era algo muito ruim.

“O que faz por aqui?” Madoka questionou para Homura sorrindo.

“Eu... estava indo para diretoria para resolver uns assuntos quanto a minha mensalidade. Algo rápido.” Homura respondeu sem tirar os olhos de Nagisa.

“Que coincidência! Wehihi. Eu também estava indo para lá.” Madoka guardou o lencinho. “Você reparou nos olhos dela?”

“O quê?” Homura perguntou.

Madoka olhou para Nagisa. “Olha como chamam a atenção! E esse cabelo também. Veja como é tão comprido quanto seu Akemi-san e parecem serem feitos de leite.”

Madoka voltou para Homura. “Ela não é lindinha?”

“Ah é. Claro.” Homura disse em tom monótono. “Linda de morrer.”

Nagisa se encolheu mais ainda.

“Então Akemi-san...” Madoka ficou mexendo na ponta de um dos seus rabos de cavalo. “...poderia me mostrar onde fica a diretoria? Eu até iria perguntar para essa menina.”

“Certamente.” Homura começou a andar.

Madoka, ao notar que Homura já estava partindo, deu uma última olhada em Nagisa. Então se aproximou e passou a mão naqueles cabelos compridos.

“Desculpa novamente por tê-la assustado. Você parece ser muito tímida.”

Madoka se aproximou mais um pouco, olhou para os lados e cochichou. “Sabe. Eu também me sinto estranha às vezes.”

“Kaname-san.” Homura notou que Madoka não a estava acompanhando.

“Mas nunca perca a esperança. O amanhã sempre pode ser melhor que hoje. Hihi.” Madoka deu uma piscadela e se afastou de Nagisa.

Antes das duas virarem o corredor, Homura virou a cabeça e viu Nagisa pelo canto do olho. Seu olhar era como adagas.

Só depois que elas sumiram de vista é que Nagisa notou que a caixinha estava murcha. De tão nervosa, ela havia bebido todo o conteúdo sem notar.

Respirou fundo algumas vezes. Aparentemente foi apenas azar... ou seria um teste? Nagisa procurou tirar essas idéias da cabeça decidindo em comprar uma nova caixinha de leite. Ela beberia no caminho de encontro com a Ayako.

“E então? Conseguiu?”

Enquanto a caixinha deslizava até o ponto de coleta, Nagisa ouviu a voz de Takuma. Ele estava no outro corredor, que atravessava aquela esquina.

Então ocorreu um barulho de um molho de chaves balançando. “Quase me pegaram lá dentro do almoxarifado, mas está aqui.” Agora era a voz de Sanjuro.

“As chaves do térreo. É isso aí. Pelo o que me contaram, o banheiro feminino do fantasma fica nesse andar.” Takuma falou.

Em resposta aquilo, a voz de Ogai foi ouvida. “Você acha mesmo que o queijo fedido vai conosco até lá depois da aula?”

“Claro que vai.” Takuma disse. “Se eu prometo que vamos parar de zoar, eu acho que ele topava em lamber até meus pés. Hahaha.”

Depois das risadas dos três, Ogai perguntou. “Mas e se ele não der para trás? Se ele entrar no banheiro e encarar...”

“Tu é burro hein?” Sanjuro interrompeu. “Por que acha que eu trouxe as chaves?”

Takuma complementou. “A gente vai ensinar para aquele queijo fedido que ele é uma menininha de uma vez por todas. Vamos trancar ele lá dentro”

“A noite toda?!” Ogai falou em tom de surpresa.

Takuma respondeu. “É claro. Aí ele vai ter tempo de sobra para enfiar na cabecinha dele sobre qual banheiro deve entrar de agora em diante.”

“M-mas quando o encontrarem, ele vai nos dedurar!” Ogai exclamou.

“É só a gente negar. Sem provas, os adultos não fazem nada. É assim que funciona.” Takuma disse com calma.

“Depois de trancar ele, nós vamos ao almoxarifado colocar as chaves de volta. Vai ser moleza.” Sanjuro completou.

“Tu tá parecendo aquela marica agora. Quer se juntar a ele?” Takuma ameaçou.

“N-não. Hehe. Eu só não sabia que era um plano bem pensado.” Ogai respondeu.

“É claro que é.” Takuma falou. “Vamos voltar para sala. Quero ver se o queijo fedido desistiu ou não.”

Nagisa fugiu dali o mais rápido dali para evitar ser vista pelos três, ao ponto de deixar para trás a caixinha de leite.

/人 ‿‿ 人\

“Pronto para virar homem?”

Quatro meninos estavam diante da porta do banheiro feminino, no térreo. Eles se esconderam em um dos banheiros nos andares superiores para evitar serem pegos pelos monitores e esperaram o anoitecer.

Naquele corredor, iluminado pelo luar, Aki perguntou. “Eu pergunto o mesmo, Kuroki.”

“Como é?” Takuma vociferou.

“Você é um homem de palavra?” Aki fitou Takuma com uma expressão séria.

“Profundo. Viu isso em algum filme?” Takuma sorriu e espalhou o cabelo de Aki. “É claro que vou parar de chamá-lo de queijo fedido ô queijo fedido.”

Ogai e Sanjuro, que também estavam ali, riram com aquela afirmação.

“Esse não foi o combinado.” Aki irritou-se. “Você prometeu que ia parar com tudo.”

“Sim. Sim.” Takuma balançou a cabeça. “Eu prometi. Como poderia chamá-lo de marica depois que você provar a sua coragem? Hum?”

“É.” Sanjuro começou. “Nós vamos chamá-lo de homem morto depois que o fantasma pegar você.”

Takuma, Ogai e Sanjuro riram.

Aki deu de ombros. “Eu não acredito nessa história de fantasma.”

“Então vai ser fácil.” Takuma apontou para a porta. “Entra lá.”

Com determinação, Aki girou a maçaneta da porta e entrou no banheiro.

“EI! QUEIJO FEDIDO!” Takuma gritou.

Hidaka virou para a porta. “Oi. Não precisa gritar.”

Takuma então disse. “Não liga a luz, senão você pode espantar o fantasma.”

“Ok.”

Aki Hidaka já havia assistido a muitos filmes de terror. O suficiente para saber que tudo não passava de truques e imaginação de seus criadores. Para quer ter medo disso quando tem um Takuma sentado ao seu lado? E mesmo se fossem reais, os monstros matam apenas algumas pessoas nos filmes. Algumas exceções envolvem dezenas ou no máximo umas centenas de mortos. Como comparar isso com os milhares que morrem na mão de seres humanos?

“Queijo fedido. Quero ouvir você abrindo a porta de cada boxe. Nada de enrolação hein.” Takuma falou através da porta.

“Entendi.” Aki respondeu. Nesse momento ele se deu conta que era a primeira vez que havia entrado em um banheiro feminino. Seus olhos já estavam acostumados com a escuridão e viu que não havia muita diferença em relação ao masculino salvo que o balcão da pia e o espelho foram estendidos, sobrepondo o espaço onde estaria os mictórios.

Como ele já esperava, os boxes com as privadas ficavam exatamente no lado oposto as pias. Todas as portas estavam entreabertas.

Vamos terminar logo com isso.

Aki foi até a primeira porta e deu um empurrão sem hesitar. Ela abriu completamente, batendo com força na parede do boxe, revelando uma privada como única ocupante.

“Ouviu?” Aki falou alto.

“Sim. Continua.” Takuma respondeu.

E assim foi: Aki foi abrindo cada porta. Aos poucos começara a sorrir. Ele sabia que Takuma jamais cumpriria a promessa. Contudo ele não veio para provar para eles e sim para si mesmo. Uma chacota não tem valor se você acredita plenamente que é uma mentira. Ele não era uma marica. Era um homem sem medo.

Faltavam apenas dois boxes.

“Está vivo ainda?”

Ouvindo Takuma, Aki olhou para o alto, para a fileira de janelas basculantes. Estavam fechadas, mas isso não impedia a luz da lua adentrar no recinto. “Estou.”

Mais do que nunca.

Foi então que um chio alertou os sentidos de Aki. O som vinha debaixo do balcão da pia. Um rato? Ele forçou a vista na busca de qualquer movimento naquela direção.

Seu recém adquirido orgulho seria testado.

Primeiro, uma mão tampou sua boca, depois foi a vez de um braço que passou na altura da barriga e que o envolveu completamente. Seus braços ficaram presos.

“Hmmmpf?!”

Aki tentou lutar, mas em vão. Apesar de sentir que quem o havia segurado não era muito maior que ele, tinha grande força. Ele se viu sendo puxado para dentro de um dos boxes.

A primeira idéia que passou na cabeça de Aki é que era armação do Takuma para dar-lhe um susto, apesar de que Sanjuro e Ogai estavam lá fora. Talvez Takuma tivesse arranjado outra pessoa?

Porém essa idéia esmoreceu, pois Aki estava amordaçado. Se fosse para assustar, eles iriam querer que ele gritasse.

“Hmmmpf????”

Poderia ser o fantasma? Aki ficou mais confuso do que assustado com essa idéia. A história dizia que ele iria ver uma garotinha antes de sofrer um ataque e não simplesmente ser seqüestrado para dentro de um boxe.

Aki tentou ver quem o estava segurando pelo canto do olho. Sem sucesso. Ele podia sentir pela mão que tampava a sua boca, que quem quer que fosse estava usando luva que cobria apenas a palma da mão. As costas estavam passando calor, eles estavam colados um no outro. Fantasmas não emitem calor, não?

Foi então que, com a mão que segurava a boca, a pessoa levantou a cabeça de Aki para um dos lados, expondo o seu pescoço.

“HMMMPF!!!”

A respiração de Aki ficou ofegante. Engoliu seco. O medo começava a aflorar. Aquilo fez lembrar na hora de alguns filmes que ele assistira.

Face branca. Confere. Olhar inumano. Um pouco vago, mas confere. Dentes afiados. Vago também, poderia se referir apenas aos caninos. A história do fantasma não fala sobre qual hora do dia, mas não importava muito, pois naqueles banheiros não batia muito sol mesmo.

Tudo ficou ainda mais claro quando ele sentiu uma respiração sobre o pescoço dele. O coração acelerou. Seus olhos arregalaram.

Novamente procurando obter a imagem de seu algoz, Aki olhou para baixo e dessa foi capaz e de ver o topo da cabeça. Tinha orelhas pontudas, como a de um morcego.

Era um vampiro! Era um vampiro!! Ele iria receber o beijo mortal. Aqueles dentes iriam perfurar seu pescoço e sugar todo o seu sangue.

A visão começou a embaçar.

Então ele sentiu algo quente, macio e úmido passando sobre a pele do pescoço. Aquilo fez Aki arrepiar-se.

“HHMMMPPPPFFF!!!!!”

Não estava doendo, mas Aki começou a sentir uma estranheza. Seus pés e mãos começaram a formigar. Então ele não era mais capaz de sentir ou movê-los. O que estava acontecendo?

Aquele formigamento começou a subir pelas pernas e braços. Quando sentiu o braço que envolvia sua barriga apertando com mais força, ele percebeu que não estava mais sustentando o próprio corpo.

“Hmmmpppff! Hmmmmpffffff!!”

Ele iria morrer.

Seus olhos já não escondiam sua aflição e jorravam. Aki sempre achou que as vítimas nos filmes morriam mais por causa da idiotice delas. E agora ele sabia que fora tão idiota quanto.

O formigamento subiu pelo tronco e chegou ao pescoço. Aki olhou para o teto do banheiro. Girava. Girava. Cada vez mais distante. Era como se ele estivesse caindo. Caindo dentro de um buraco sem fundo.

Já não enxergava mais nada. Não sentia o maxilar, mas sua consciência berrava de agonia. Pensou em sua família. Pensou em como seria seu funeral. Isso se encontrasse um corpo.

“Shhhh...”

Naquele mar de escuridão onde ele flutuava, Aki pôde escutar alguém. Sua última sensação foi o deslizar de dedos na maçã de seu rosto, recolhendo suas lágrimas.

“Shhhh...”

/人 ‿‿ 人\

Sanjuro estava impaciente. “Vai trancar ou não?”

Takuma ficava com ouvido encostado na porta. “Calma aí.”

“Eu pensei que a gente ia trancar logo quando ele entrasse.” Sanjuro cruzou os braços.

Takuma virou para Sanjuro. “E perder a chance de ouvir um gritinho da marica?”

Sanjuro fechou os olhos. “Cara. Ele disse que não acredita em fantasma. Não vai rolar. Além do mais, está tarde.”

“É.” Ogai disse. “Eu falei para os meus pais que estava no cinema, mas se eu demorar muito eles vão reclamar.”

Takuma olhou para Ogai com rancor. “Eu devia ter colocado você lá dentro também, bebezão.”

Ogai se encolheu.

“Tá bom.” Takuma disse depois de suspirar. “Eu vou fazer o seguinte: vou chamar ele e então tranco a porta. Aí vamos ficar curtindo o choro dele. Hahaha.”

“Boa.” Sanjuro balançou a cabeça concordando.

“Ok.” Takuma olhou para porta e falou alto. “Fala aí queijo fedido!”

Silêncio.

“Surdo.” Takuma falou para si mesmo e depois gritou. “Ô QUEIJO FEDIDO!”

Sem resposta.

“Mas que bostinha, ele não responde.” Takuma comentou.

“S-será que o fantasma pegou ele?” Ogai ficou apreensivo.

Sanjuro olhou para o Ogai. “Takuma estava certo. Ele devia ter botado você lá dentro.” Depois para Takuma. “Tranca aí e deixa ele se foder. Vamos cair fora.”

Mas Takuma só ficava olhando para a porta. “A janela.”

“A janela?” Sanjuro ficou confuso.

“Ele pode ter fugido, não? Ele é pequeno, franzino, deve passar fácil.”

“É muito alto. Não rola.” Sanjuro balançou a cabeça.

“Ele pode ter subido em algo. No balcão da pia por exemplo.” Takuma replicou.

Sanjuro ficou pensativo. “Hum... No banheiro feminino o balcão vai até a parede com as janelas.” Então deu de ombros. “Mas e daí se ele escapou?”

Takuma rangeu os dentes. “’E daí’? ‘E DAÍ’?! Ele está me fazendo de otário! Eu vou acabar com ele.” Ele colocou a mão na maçaneta.

“Takuma?!” Ogai arregalou os olhos.

“Se a gente descobrir que ele fugiu agora, deve dar de alcançá-lo ainda para dar uma lição.” Takuma então falou em tom de ameaça. “E tu vai entrar comigo Ogai se não quiser que eu zoe você o resto da vida, seu lixo medroso.”

“E você Sanjuro?”

Sanjuro suspirou. “Tanto faz, a gente já perdeu um tempão mesmo.”

“Então vamos.” Takuma abriu a porta e os três entraram.

O banheiro não dava sinais de haver alguém lá dentro. No entanto a janela estava fechada.

“Parece que ele não fugiu. QUEIJO FEDIDO!” Takuma chamou Aki mais uma vez. Sem resposta.

Takuma se dirigiu aos seus dois comparsas. “Ele deve estar escondido em algum canto. Fecha a porta e fiquem de olho. Eu vou procurar.”

“Ok.” Sanjuro respondeu. “Ogai?”

Ogai estava tremendo e com os olhos bem abertos.

“Tch...” Sanjuro balançou a cabeça.

Takuma começou a andar pelo banheiro, olhando para cada boxe. “Não adianta se esconder! Aparece aí, ô marica.”

“HihihiHAHAHAHAHAHAHARAWWWR.”

Uma gargalhada sinistra e monstruosa ecoou pelo banheiro.

Ogai agarrou o braço de Sanjuro. “Ahhh! É o fantasma.”

“Larga!” Sanjuro empurrou Ogai. Contudo ele também havia ficado assustado. “Takuma?”

Takuma fechou os olhos e pôs a rir. “Hahahaha!”

“Takuma?!” Sanjuro ficou surpreso com aquela reação.

“Queijo fedido!” Takuma. “Então esse era seu plano? Nos assustar com uma imitação desses filmes de terror que você assiste? É?”

Takuma então ajeitou sua jaqueta e começou a estralar os dedos. “A gente ia pegar leve até, mas agora se prepara, pois eu vou te mostrar o verdadeiro horror.”

Uma voz gutural clamou.

“Ora! Então mostre para mim.”

Nessa hora, alguém surgiu de um dos últimos boxes. A silhueta, realçada pelo luar, tinha orelhas pontudas e cabelos compridos e aparentava estar arrastando um corpo pelo chão.

“O que é isso?!” Sanjuro começou a sentir um frio na barriga.

“L-liga a luz! Agora!” Takuma sentiu o suor escorrer pela nuca.

Sanjuro obedeceu prontamente.

A luz revelara uma menina de cabelo branco que usava uma touca marrom com orelhas pontudas, xale laranja e uma curiosa saia com suspensórios. Porém não era aquilo que chamou mais a atenção e sim a face pintada de branco com estranhos olhos coloridos. Nagisa segurava Aki, que estava completamente imóvel no chão, pela gola da camisa.

“O fantasma pegou ele! AAAHHHH!” Ogai começou a abrir um berreiro.

Nagisa abriu o sorriso, revelando sua fileira de dentes afiados. “Awwrr... Agora posso ver que são três meninos mal criados... hmmmm!!!” Ela abriu mais boca, deixando sua grande língua roxa passar sobre seus lábios.

“Tô fora!!” Sanjuro foi abrir a porta para fugir, mas quando tentou puxar ela resistiu como se tivesse alguém segurando pelo lado de fora. “Q-quuÊ!! Quem está aí? Deixa abrir.”

Não esperando por uma resposta, Sanjuro fez o máximo de força que pôde para puxar. “HHHHGGGNNNN! OGAI! TAKUMA! AJUDA!”

Mas Ogai não parava de chorar.

E Takuma estava paralizado, seu corpo tremia por inteiro. Ele se esforçava para conter seu grito, temendo que isso fizesse o ‘fantasma’ atacar. “...AH...AHHH...AH..”

“O que foi?” Nagisa falou. “Eu não comi você ainda. Por que não me mostra o verrdadeiro HORRAWRR?”

“É...um...” Takuma juntou toda confiança que lhe restava. “D-desculpe por invadir, seu fantasma. A-a gente só foi atrás do nosso amigo, só isso. Eu avisei para ele não entrar. É, hehe... mas ele é todo seu. Ok?”

“Droga Takuma! Vem ajudar!” Sanjuro puxou o braço de Ogai que estava aos prantos, com o catarro pingando sobre a roupa. “Ogai! Puxa a porta com toda a sua força. Entendeu?”

Ogai só conseguiu acenar com a cabeça para confirmar.

“Eu... não vou morrer aqui.” Sanjuro tirou do bolso da calça a chave da sua casa e se abaixou. “Eu vou tentar a dobradiça. Fica puxando.”

Usando a ponta da chave como se fosse uma de fenda, Sanjuro tentava levantar o pino da dobradiça, mas sua mão tremia demais. “Merda!”

Foi então que ouviu o som de arrasto pela fresta da porta e logo surgiu vários rabos sem pêlos, como de ratos, que pareciam mais com tentáculos querendo alcançá-lo.

“AAAAHHHH!” Sanjuro caiu de bunda no chão com o susto.

Nagisa pensou sobre o que Takuma havia falado. “Humm... Você tem razão.”

“É?” Aquilo não bastou para aliviar Takuma.

Nagisa se agachou e afastou a gola da camisa de Aki, revelando uma marca semelhante a uma tatuagem.

Takuma não estava perto o suficiente para discernir detalhes, mas era possível dizer que desenho esbranquiçado era um círculo com uma espécie de pessoa dentro.

“Está vendo?” Os olhos multicoloridos de Nagisa continuavam focados em Takuma. “Isso significa que é meu, somente MEURRR!!”

O rugido trepidou o vidro das janelas e do espelho.

“Vou te mostrar o que acontece com quem mexe com a minha propriedade.” Nagisa escancarou seu sorriso ameaçador.

“P-por favor...” Takuma juntou as mãos.

Para estranheza de Takuma, Nagisa fechou sua grande boca. Depois ele viu que ela começou a contrair sua barriga nua. As bochechas dela se estufaram como se estivesse prestes a vomitar. De sua boca então foi saindo uma serpente de brinquedo inflável, que foi estufando e estufando...

Takuma arregalou os olhos: a serpente já mal cabia no banheiro de tão grande e comprida que havia ficado. Foi então que ela avançou de repente, parando na frente dele, fazendo com que ele caísse no chão.

A serpente tinha um corpo feito de tecido negro com bolinhas vermelhas. Já sua cabeça tinha um rosto semelhante a sua dona, mas com um nariz parecido com um chapéu de festa de aniversário e duas grandes plumas, no lugar das orelhas, a direita sendo vermelha e a esquerda azul.

Quando os olhos da serpente se moveram e fitaram na direção dele, Takuma se deu conta que aquilo não era inanimado. Um líquido quente começou a molhar sua calça, mas ele nem percebeu. A única coisa que ele queria era ficar o mais longe possível daquela gigantesca face sorridente.

A serpente então começou a abrir a boca. Se sua dona tinha uma boca grande o suficiente para abocanhar a mão inteira de uma pessoa, a serpente conseguia devorar um corpo inteiro. A fileira de dentes acompanhada de um língua roxa e um bafo doce cheirando a bala era o prenúncio de um fim brutal.

Takuma só foi capaz de imitá-la, abrindo sua boca em pavor.

“HGNNHHHHÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!”

/人 ‿‿ 人\

Aki começou a sentir frio, então abriu os olhos para saber onde estava. Ele podia ver o teto com as luminárias acesas, mas parecia estar muito distante.

Então se deu conta que estava caído no piso gelado, no meio de um banheiro e assim sua memória começou a trabalhar. Logo se lembrou que estava nas mãos de um vampiro, aquilo trouxe um frio na barriga e uma estranha sensação de algo sobre ela.

Aki pôde ver que havia uma boneca de pano em cima dele. Tinha uns 30 centímetros de altura, talvez menos. Metade dessa estatura provinha da cabeça em forma de um bombom embalado. As abas do ‘bombom’ tinham cor rose, assim como o topo da cabeça e uma mecha de pano sobre a face, representando o cabelo. Por falar na face: era branca e não era de tecido, a textura se assemelhava mais a borracha. Tinha círculos amarelos pintados em ambas das maçãs do rosto e lábios roxos. Seus olhos de resina chamavam muita a atenção, pois eram multicoloridos.

As vestimentas da boneca não eram tão incomuns. Uma touca preta com bolinhas vermelhas envolvia a cabeça. Usava um casaco marrom com mangas extremamente compridas para membros tão curtos, ao menos era que se podia concluir ao observar as pernas feitas de tecido também de cor rose. Para completar, aparentava vestir uma capa vermelha.

Enquanto enxergava a boneca, Aki sentiu seu coração parar. Aquela face... Aquela face batia com a descrição do fantasma! Não! Do vampiro!

A boneca pendeu a cabeça para um dos lados e sorriu, fazendo um estranho som. “bbbrrriiiiOiii!”

“AAAAHHHH!!!” Aki se debateu, fazendo a boneca cair no chão. Então se arrastou até dar as costas contra a parede. “Não me mata, seu vampiro! Não me mataaa!!”

A boneca, de forma desajeitada, foi ficando de pé. “bbbrrriiiiEuiinãoiivouiimatarii.iiVampiroii?”

“V-você disse algo?” Aki estava encolhido na parede.

A boneca levou suas mangas até a boca, com vergonha. “bbbrrriiiiEuiinãoiivouiimatarii.”

“’Eu não vou matar’...” Aki balbuciou, decifrando o que a boneca havia dito. “Então eu vou virar vampiro?” Disse enquanto passava a mão no pescoço.

A boneca entendeu o que Aki se referia, mas não era uma mordida e sim um beijo de bruxa que havia sido colocado nele e que já fora removido. Ela balançou a cabeça. “bbbrrriiiiNãoii.iiMinhaiimestraiiéiiumiifantasmaii.”

“Mestra? Fantasma?” A curiosidade de Aki havia superado o susto.

A boneca voltou a sorrir e, excitada, jogou suas mangas para o alto. “BBBRRRIIIII!iiSimii!iiSouiiaiiassistenteiidelaii.iiElaiiéiiiboazinhaii.”

“Boazinha? Entendi...”

Aki já viu histórias envolvendo fantasmas do bem, normalmente encontrados na sessão de desenhos animados. Aquela boneca, apesar da aparência inquietante, parecia ser inofensiva.

“Ah sim!” Aki deu um tapa na testa.

“bbbrrriiiiOiiqueiifoiii?”

“Meus colegas.” Disse enquanto olhava para porta. “Eles estão lá fora.”

“bbbrrriiiiElesiiseiiforamii.”

“Hã?” Aki voltou-se para a boneca.

Ela deu um sorriso aonde as pontas chegaram na altura dos olhos de tão largo. “bbbrrriiiiSeiiforamii.iiTrancaramiiaiiportaiieiipartiramii.”

“Trancaram a porta?!” Aki já começou a imaginar em passar a noite com aquela boneca e sua mestra, onde quer que ela estivesse se escondendo.

“bbbrrriiiiCalmaii!iiMinhaiimestraiijáiidestrancouii.” A boneca cruzou as mangas. “bbbrrriiiiElaiiqueriiqueiivocêiiváiiemboraii.”

Aki começou a ficar de pé, ajeitando a calça. “E não vai acontecer nada comigo?”

“bbbrrriiiiEuiinãoiidisseiiqueiielaiiéiiboazinhaii?” Então a boneca estendeu as mangas em direção a Aki. “bbbrrriiiiElaiiatéiipediuiiparaiieuiiacompanhá-loii.”

“Acompanhar?!” Aki compreendeu que a boneca pedia colo.

“bbbrrriiiiAtéiisuaiicasaii.iiÉiiperigosoiiandariisozinhoiideiinoiteii.”

Com receio, Aki pegou a boneca e juntou ao seu peito. Ao fazer ele viu que havia um desenho na capa que ela vestia: um rosto alegre semelhante ao da boneca, exceto o nariz que tinha forma de um chapéu de aniversário. O corpo era aquecido, como se ela fosse um animal vivo.

“A-assim está bom? Não estou apertando muito?” Aki perguntou.

A boneca ajeitou-se e relaxou no colo dele. “bbbrrriiii....”

“Haha. Isso faz cócegas.” Aki foi em direção a porta. “Ei. Eu... não acho que você possa me proteger.”

A boneca respondeu. “bbbrrriiiiNuncaiisubestimeiipelaiiaparênciaii.”

Aquela afirmação colocou uma dúvida que assombraria Aki durante sua jornada para casa. Ela era inofensiva?

/人 ‿‿ 人\

Aki já voltava da escola sozinho, mas nunca tão tarde da noite. Ele usava o metrô, pois o condomínio residencial onde ele morava era próximo a estação.

Felizmente a viagem não teve contratempos, salvo algumas pessoas que estranharam o fato de um menino carregando uma boneca. Ela estava completamente estática, com uma expressão sorridente semelhante ao desenho na capa. Aki ficou imaginando a reação das pessoas se a boneca começasse a se mover ou falar.

Quando chegou ao condomínio, Aki decidiu entrar em uma rua lateral mais escura. Parou na calçada e viu se havia alguém.

“Chegamos. Eu moro logo ali.” Aki apontou para o prédio.

A boneca ergueu a cabeça e trocou olhares com Aki. “bbbrrriiiiOkii.iiMeiicolocaiinoiichãoii.”

Aki obedeceu ao pedido. “Como você pretende voltar... é..um.. eu nem perguntei o seu nome e da sua mestra.”

A boneca sacudiu um pouco suas abas. “bbbrrriiiiEuiinãoiitenhoiipermissãoiiparaiidizeriioiinomeiidaiiminhaiimestra,iimasiipodeiimeiichamariideiiBebeii.”

“Bebe? Uhum.” Aki se curvou para a boneca. “Meu nome é Aki Hidaka e muito obrigado a você e a sua mestra.”

“bbbrrriiiiNãoiifoiiinadaiieiinãoiiseiipreocupeiicomigo,iieuiisouiiíncrivelii!” A boneca ficou rodopiando suas mangas.

“Haha. Éééé...”

“bbbrrriiii?”

Aki se levantou e deu um sorriso sem graça. “Eu nunca mais vou ver você, não é?”

A boneca baixou a cabeça e depois balançou negativamente.

“Imaginei. Haha. Claro. Como poderia ser diferente?” Aki ficou passando a mão nos seus cabelos loiros e se virou. “Adeus Bebe.”

“Hidaka-kun!”

“Hã?” Aki voltou novamente para a boneca. “Você falou o meu nome certinho.”

“bbbrrriiiiEuiiacertoiideiveziiemiiquandoiiheheii.” Ela disse enquanto juntava as mangas. “bbbrrriiii...iiTemiiumaiimeninaiinaiisuaiisalaiiqueiiteiichamouiideiiumiiqueijoii.”

“Como você sabe disso?” Aki ficou curioso.

“bbbrrriiiiMinhaiimestraiificaiivagandoiipelaiiescolaii.iiElaiiviuiitudoii.”

“Entendo...” Uma fantasma perambulando pela escola era uma idéia perturbadora para Aki, mesmo se fosse boazinha.

Então a boneca continuou. “bbbrrriiiiAiimeninaiigostaiimuitoiideiiqueijoiieiinuncaiiquisiiofendê-loii.”

“Eu não me senti ofendido.” Aki começou a corar. “Não sabia que ela gostava de queijo... bem, vou tentar falar com ela amanhã. Se ela se sente culpada, eu tenho que resolver esse mal...”

Ele parou ao notar que boneca ficara triste.

“O que foi?”

“bbbrrriiiiNadaii.” Ela se virou. “iiTenhoiiqueiiirii.”

“Ok...wow!”

A boneca saiu voando, deixando um rastro negro com bolinhas coloridas no ar.

“Adeus Bebe e OBRIGADO! EU PROMETO QUE VOU FALAR COM A NAGISA!” Aki falou isso bem alto e depois balbuciou. “Se eu sobreviver ao puxão de orelha que vou tomar lá em casa. Xiii...”

Nagisa sabia que a promessa de Aki não se cumpriria, mas não por culpa dele.

Ela iria morrer.

Voando pelo céu de Mitakihara na forma de uma boneca, que na verdade era sua forma original de bruxa, Nagisa não tinha rumo e nem esperança.

Ela acreditava que os meninos fossem ao banheiro logo depois da aula. Assim ela só chegaria um pouco atrasada ao topo da escola, onde Homura deveria estar esperando. Infelizmente eles aguardaram o anoitecer.

A lua e as estrelas eram únicas companheiras e testemunhas de sua angústia. Homura devia estar caçando ela agora e cedo ou tarde a encontraria. Se ela tivesse um mapa mental da cidade, talvez ela pudesse visitar a Mami uma última vez...

De repente Nagisa sentiu um fortíssimo golpe em suas costas, como uma presa atacada por uma ave de rapina. Perdendo completamente o controle de vôo, ela caiu sobre um topo de um prédio.

“bbbrrriiiinnng!”

Capotando inúmeras vezes, Nagisa acabaria caindo do prédio se seu corpo não tivesse sido pisado.

“bbbrrriiiiaarrgg!”

Parada e caída no chão, pôde contemplar a predadora que estava sobre ela.

Homura Akemi estava com seu traje diabólico e com as asas abertas. Sua expressão tinha um ar de satisfação. “Quebrou o nosso acordo... fantasma.”

Ainda que fosse uma boneca, Nagisa precisava respirar e estava difícil. “bbbrrriii...bbbrrriiiiVocêiisabiaii?”

“Eu vi tudo. Fantasma do banheiro? Fufu.” Homura sorriu. “Você teve muita sorte. Senão tivesse mandado seus lacaios abrirem a porta e deixado aqueles meninos escaparem, eu teria a destruído naquele instante.”

“Contudo...” Ela invocou seu arco em sua mão esquerda. “Você não é um fantasma, mas eu posso resolver esse detalhe. Fufufufu...” Com a mão direita puxou o arco, criando uma flecha de energia violeta e apontou contra Nagisa.

Nagisa apenas fechou os olhos. Ela até poderia deixar sua forma de serpente sair de dentro dela, mas não teria chance alguma.

Mas nunca perca a esperança. O amanhã sempre pode ser melhor que hoje.

Não haveria amanhã.

Porém Nagisa ainda se agarrou a esperança de rever sua mãe.

Então sentiu seu corpo sendo esmagado ainda mais.

“bbbrrriiIIAAAARRRGGGHHHH!!” Nagisa arregalou os olhos e gritou de dor, jogando sua língua para fora.

“Você realmente anseia pela morte.” Homura ainda estava com arco apontado contra Nagisa. “Só que acha que vai morrer sem sofrimento algum? Eu não terminei com você ainda.”

Homura pisoteou repetidas vezes.

“bbbrriiiingn...bbbrrriiiinnggnniiiiaarg.”

“Já que não vai reagir...” Homura suspirou. “Me diz uma coisa: por que o garoto? O conhece?”

Homura havia aliviado o pisar dela, permitindo Nagisa puxar um pouco de ar. “bbbrrriiii...bbbrrriiiiEleiiéiidaiiii...iiminhaiisalaii.”

“E...?” Homura pisoteou mais uma vez.

“bbbrrriiiingrrr...” Ela não agüentava mais. “bbbrrrIIIIELEIIESTAVAIISOFRENDOII!!” Lágrimas roxas começaram a escorrer de seus olhos. “bbbrrriiiEstavamiimaltratandoiieleiiporiinadaii...”

Homura continuava firme em sua posição.

“bbbrrriiiiEuiinãoiiqueriaiimaisiiaquiloii.iiNãoiiqueriaiificariiolhandoiisemiifazeriinadaii.iiNãoiideIINOVOII!” Nagisa começou a soluçar. “bbbrrriiiiNãoiiagoraiiqueiipossoii.iiEuiiqueriaiisalvariialguémii,iimesmoiiseiifosseiiapenasiiumaiivezii...”

“Acabou?” Homura falou de forma monótona.

Nagisa parou de chorar. “bbbrrriiiiVocêiipodeiimeiipisotearii,iimeiirasgariitodaii. iiEuiifiziieiiprontoii.” Então virou a cara e fechou novamente os olhos, determinada em segurar o choro diante de qual dor fosse receber.

E a primeira sensação que veio foi uma mão pegando pelo topo da sua cabeça. “Vamos para casa.”

Nagisa abriu os olhos. “bbbrrriiii?”

Homura a estava segurando com o braço estendido, o arco começara a evaporar da sua outra mão. “Você tem a absoluta certeza que eu a mataria. Ótimo.”

Então Homura sorriu. “E ainda assim quebrou as regras e foi atrás do que queria. Mesmo desfazendo os acontecimentos de hoje, eu ainda seria testemunha do seu ato. Nunca há volta.”

Os olhos de Homura brilharam. “O desejo é o agente da mudança e você deu valor a esse poder. Fez jus a sua resposta, bruxa.”

Nagisa se lembrou da conversa na beirada daquele desfiladeiro. “bbbrrriiiiVocêiiconfiaiiemiimimiiagoraii?”

“Claro que não.” Homura fechou a cara. “Vamos para casa agora. Quero arrumar sua pequena bagunça ainda hoje.”

Carregando consigo a boneca, ela alçou vôo rumo a noite estrelada.

/人 ‿‿ 人\

Fim de mais uma aula.

Nagisa estava sentada em seu lugar na sala, pensando nos acontecimentos da última noite, quando sentiu uma cutucada no ombro.

Nagisa sorriu. “Ayako-chan~!”

Mas Ayako não estava olhando para Nagisa e sim para outro ponto na sala. Estava com uma expressão séria. “Nagisa. O Kuroki ficou olhando para mim a aula toda.”

“Hum?” Aquilo soou de forma muito familiar para Nagisa.

Ayako fez uma cara de suspeita e falou baixinho. “Eu acho que ele vai aprontar alguma. Se prepara que ele está chegando.”

Takuma acenou. “Oi meninas.”

“O que você quer Kuroki.” Ayako cruzou os braços.

“Hum? Nada demais Kinomoto.” Takuma puxou um sorrisinho enquanto colocava as mãos nos bolsos da jaqueta. “Só queria saber se você e a Momoe estão sabendo da última.”

“Última?” Nagisa ficou perplexa. Homura não tinha acabado com a história do fantasma do banheiro? Ninguém parecia se lembrar de nada.

“Então você não sabe...”

Takuma ficou com olhar fixo arregalado em Nagisa.

“...do escândalo no topo da escola.”

“Escândalo?!” Nagisa ficou surpresa.

“Aham.” Takuma fechou os olhos e balançou a cabeça. “É por isso que o acesso até lá agora é restrito.”

“Conta essa sua história frouxa, vai conta.” Ayako desafiou Takuma.

“É o que todo mundo anda comentando.” Takuma deu de ombros. “Pegaram um casal dando uns amassos lá.”

Ayako ergueu as sobrancelhas. “E daí? Isso ocorre direto lá nas cerejeiras...”

“É?” Nagisa ficou olhando para Ayako.

Ela devolveu aquela reação com um sorrisinho. “Você é muito inocente Nagisa-chan~.”

“Será mesmo?” Takuma deu uma piscadela para Nagisa. “Ou será que ela esconde o jogo muito bem. Hum?”

Ayako irritou-se. “É só isso que tinha para falar?”

“Ah não...” Takuma gesticulou. “Eu não terminei. Você disse ‘E daí?’. E daí que o casal era uma menina da nossa sala com um rapaz da nona série.”

As duas ficaram de boca aberta. “Sério?!”

“O melhor de tudo é que eu sei quem é a menina.” Takuma ficou olhando para Ayako.

Ayako semicerrou os olhos. “E vai dizer?”

“Me disseram que...” Takuma sorriu maliciosamente. “... a menina tinha uma borboleta sobre a cabeça.”

Ayako foi ficando vermelha. “Eu sabia que era mais uma das suas! Se você espalhar essa mentira por aí eu acabo com a sua raça, seu...seu...”

Takuma não conteve a gargalhada. “Hahahahaha...”

“PISTACHE!”

“...hahahahã?”

“Ayako-chan!” Nagisa chamou a atenção.

Ayako falou com desdém. “Você fica importunando os outros, achando que é o maioral, mas não passa de uma bola de sorvete de pistache.”

“D-de onde você tirou isso? Está louca?” Takuma continuava confuso.

“AYAKO-CHAAAANN! Não fala!” Nagisa segurou o braço de Ayako.

“Aie! Nagisa?” Ayako ficou surpresa com força exercida por aquela menina.

“Então é invenção sua Momoe. Quer me humilhar, é?” Takuma fitou com raiva para Nagisa.

“NÃO...um...” Aquilo não podia ser revelado.

“É um costume que ela tem. Ela associa pessoas a uma comida.” Ayako falou.

“Não!” Nagisa desesperou-se.

Mas Ayako não parou. “Isso ela faz com todas as pessoas. Por favor, deixa ela em paz.” Depois olhou para Nagisa. “Desculpa.”

“Eca!” Takuma fez cara de nojo. “Só meninas mesmo para fazerem drama por algo tão bobo.” Então ele parou completamente, mesmerizado. “Ei, mas peraí. Então era isso!”

Nagisa ficou olhando para própria carteira, rangendo os dentes.

“Era isso que aquela marica tava falando. Ei Sanjuro! Ogai!”

Estava tudo se repetindo!

“Traz lá a mariquinha.”

“Agora? O professor deve entrar logo.”

“Pode trazer.”

Mas ela podia mudar não? Ela podia mentir e dizer que ele era outra comida. Mas...

Cedo ou tarde, o abestalhado do Kuroki e sua trupe ia achar algo novo para ficar zoando com ele.

Não importa, o resultado final seria sempre o mesmo.

Ogai e Sanjuro foram até a carteira de Aki. Ele estava alerta e se levantou com a chegada dos dois. Depois olhou para um Takuma malicioso, uma Ayako desconfiada e uma Nagisa apreensiva. Suspirou e se pôs a caminhar em direção a eles com os capangas de Takuma logo atrás.

“O que você quer com o Hidaka-kun?” Ayako não estava gostando nada daquilo.

Takuma respondeu. “Só quero saber de uma coisa. Hehehe.”

Então Takuma fez um aceno com a cabeça e colocou um dos pés a frente.

Nesse exato momento, Ogai e Sanjuro deram um empurrão em Aki, que deu um pisão na canela de Takuma.

“AAAHHHHhhhgggg!”

“Oh!” Aki ficou passando mão no seu cabelo embaraçado. “Você devia ter mais cuidado sobre onde deixa a sua perna, Kuroki.”

Takuma, furioso, segurou Aki pela gola da camisa. “Quer morrer seu bostinha?” Depois ele o pegou pela nuca e o empurrou com força, fazendo o tronco de Aki dar de contra a carteira de Nagisa.

“Para! Tá machucando ele.” Ayako avançou em direção Takuma.

Porém foi bloqueada por Sanjuro. “Opa! Chega em mim primeiro, gata.”

Ogai ficou só rindo.

A sala toda agora prestava atenção naquela cena.

Takuma se abaixou e falou no ouvido de Aki. “Se lembra daquela vez que peguei você perguntando para si próprio sobre qual comida você seria? Agora eu sei que é mais uma prova que você é uma menininha mesmo.”

Nagisa estava novamente diante daquela cena. Será que tudo foi em vão? Como o desejo pode ser o agente da mudança se o resultado não muda?

Takuma olhou para Nagisa. “Diz qual comida ele é. Fala Momoe.”

Aki não fez som algum, aliás, Nagisa via uma expressão serena no rosto dele.

“FALA!” Takuma apertou ainda mais a nuca de Aki.

Seus olhos vermelhos vivos fixados nela. Sua boca estremecia com a dor, porém procurava dar um sorriso. Ele então fez um aceno com a cabeça para ela.

Nagisa respondeu a altura, com um sorriso e um aceno com a cabeça.

“Roquefort.”

/人 ‿‿ 人\

“Está sorrindo?”

A vigília de Homura durante a aula foi interrompida por uma menina da carteira ao lado. Tinha cabelos um pouco compridos, terminando logo abaixo da linha do ombro. A cor tanto do cabelo quanto dos olhos eram verdes.

Homura respondeu em tom de surpresa. “Hitomi Shizuki, nossa representante de classe, conversando durante a aula.”

Agindo como uma dama refinada, Hitomi colocou a ponta dos dedos sobre seus lábios. Falou baixinho. “É verdade, mas eu não pude deixar de notar sua expressão. Você sempre está séria e fala pouco.”

“Pois não vejo necessidade.” Homura olhou brevemente para Madoka. “Contudo, já que nós duas estamos em um dia incomum, irei aproveitar. Como anda seu relacionamento?”

Hitomi olhava para frente e continuou com a mão na boca para disfarçar. “Kyousuke? É uma pessoa muito especial. Ele tem um talento...”

Homura interrompeu com um tom mais sério. “Eu não tenho interesse no garoto e não foi isso que perguntei.”

“Ah...” Hitomi considerou aquela atitude rude de Homura um excesso. “Nosso relacionamento está firme. Nós nos amamos muito.”

Homura deu um leve toque na gema de seu brinco, fazendo-a balançar. “É verdade?”

Hitomi virou-se para Homura. Aquela pergunta não havia soado com um tom de dúvida genuína.

“Shizuki-san?”

“Ah! Professor!” Hitomi deu um salto da cadeira. A sala ficou olhando para ela.

O professor de matemática estava surpreso. “Quem diria que eu veria Shizuki-san distraída durante a aula. Então não vou perder a oportunidade de pedir que demonstre a solução dessa equação para nós. Sim?”

“C-claro professor. Peço desculpas pela minha atitude.”

Enquanto Hitomi ia para frente da sala, Homura trocou olhares com um garoto, de cabelos e olhos cinzas.

Kyousuke Kamijou sabia que Homura havia sido o motivo da distração da Hitomi, mas não tinha idéia do que elas tinham conversado.

Nessa disputa de olhares, Kyousuke foi o primeiro a ceder. Se Hitomi tivesse algum problema com Homura, ela contaria para ele.

Homura então dirigiu seu olhar para uma garota, que sentava nas primeiras carteiras, com um cabelo azulado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Lágrimas da justiça