Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 8
Prelúdio




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“A comida tá na mesa faz tempo. Vem logo!”

“Já tô chegando.”

Kyouko apareceu na cozinha correndo.

Quando Sayaka viu o uniforme escolar de Kyouko, ela se aproximou revirando os olhos. “Faz mais de uma semana que eu recuperei você e ainda não consegue arrumar essa gola.” Então começou a ajustar a roupa da Kyouko.

“Argh... Não sei como cês conseguem estudar sufocadas desse jeito. Tem que deixar entrar um arzinho.” Kyouko ficou um pouco envergonhada com aquela atitude maternal da sua amiga.

“Você não reclamava disso antes.” Sayaka estava terminando de apertar o laço vermelho no uniforme.

“Porque aquela não era eu né.” Kyouko agora estava emburrada.

“Tá bom.” Sayaka começou a tirar as coisas da mesa.

“Ei! Ainda não comi.”

Sayaka não parou o que estava fazendo. “Se eu deixar você sentar para comer a gente vai chegar atrasada. Pega algo aí e come no caminho.”

Kyouko pegou um cacho de bananas da fruteira. “Então por que falou que a comida tava na mesa se ia fazer isso?”

Sayaka virou o rosto de leve, revelando um sorriso maroto. “Porque eu sabia que você ia parar com o corpo mole.”

Kyouko abocanhou um das bananas tão agressivamente que quase a engoliu com casca e tudo. “Mmmh...Cê tá testando..mmmhh..minha paciência...mmmhhh...garota.”

Sayaka parou de colocar a comida na geladeira. “Se você acordasse cedo, não estaria resmungando agora.”

“Eu acordo antes da sua mãe. Heh.” Kyouko já estava comendo outra banana.

“Como é?!” A face de Sayaka tremia de raiva. “Minha mãe volta do trabalho às cinco da matina. Queria o quê?”

“Ei! Relaxa. Só tô brincando.” Kyouko estava terminando o cacho.

“Podemos ir?” Sayaka disse enquanto pegava a mala dela.

“Tive uma idéia.” Kyouko jogou o que restou do cacho no lixo. “Por que a gente não vai para escola pulando de telhado em telhado, hein? Assim vamos ganhar tempo.”

Sayaka fixou o olhar em Kyouko e expressou da forma mais séria possível. “Isso não tem graça alguma.”

“Tch... Tô vendo que acordou de mau humor hoje.” Kyouko ficou tirando um fiapo preso entre os dentes com a língua.

/人 ‿‿ 人\

“Vou te contar... que sorte a minha.” Kyouko mordeu um bolinho assado em forma de peixe. “Achar uma banca de Taiyaki no caminho da escola.”

“Para mim foi azar. Agora a gente vai chegar em cima da hora.” Sayaka respondeu rispidamente.

Kyouko ignorou a atitude de Sayaka. “Os primeiros Taiyaki do dia são sempre os melhores. Ó como tá recheado!” Kyouko mostrou para Sayaka o bolinho e o apertou. Uma porção generosa de pasta doce de feijão vermelho saiu por onde ela havia mordido.

Sayaka apenas afastou o braço da Kyouko.

“Hum... Devia ter comprado um também pra ver se melhorava seu dia.” Kyouko ficou balançando a cabeça.

A preocupação da Sayaka era infundada, já que elas estavam quase chegando na escola. O prédio estava logo a frente, no final do calçadão por onde todos os alunos passavam. Enquanto terminava o bolinho, Kyouko ficou observando o vôo das pétulas rosas das cerejeiras. Aparentemente, as cerejeiras nesse mundo sempre estavam floridas. Um límpido córrego acompanhava o calçadão e som das águas era como um sonífero para ela.

Havia pequenas pontes que passavam sobre o córrego, que ligavam o calçadão ao jardim de cerejeiras. Em uma dessas pontes estava um casal de mãos dadas: um rapaz usando o uniforme, uma camisa e calça social bege clara com detalhes pretos, de cabelos e olhos cinza. A garota tinha cabelos e olhos verdes e nada mais chamava a atenção nela. A memória de Kyouko a alertou.

“Ei Sayaka. Aqueles dois ali não são da noss...” Kyouko percebeu que a sua ‘prima’ não estava ao seu lado. “Ué?”

Sayaka havia apertado o passo e estava algumas dezenas de metros a frente, inclusive já havia atravessado os portões.

Kyouko teve que correr para alcançá-la. “Ô! Por que a pressa?”

As duas começaram a subir o último lance de escada antes de entrar no prédio. “Eu... quero chegar logo na sala.”

A afirmação de Sayaka soou tão fraca que Kyouko não pôde deixar de suspeitar. “Tem alguma coisa haver com aquele casalzinho né? Eles são da nossa sala.”

Sayaka ficou em silêncio.

Kyouko semicerrou os olhos. “O garoto...“

Os lábios de Sayaka estremeceram.

“É aquele garoto né? Cê tem uma queda por ele ainda.” Kyouko sorriu triunfante.

“Eleéáguapassada.” Sayaka respondeu, atropelando as palavras.

“Aham... Tô acreditando.” Kyouko falou em tom irônico.

“Coloca isso na sua cabeça Kyouko.” Sayaka parou e, com um olhar esbugalhado, vociferou. “Não era para eu estar AQUI!”

Kyouko inclinou para trás, sentindo o baque daquelas palavras. Os estudantes que passavam por ali ficaram olhando para as duas.

Sayaka tampou o rosto com a mão.

“Peguei pesado né.” Kyouko ficou coçando a nuca, meio sem jeito. “Cê deve tá na fossa faz um tempo.”

“Tudo bem Kyouko.” Sayaka suspirou e baixou a cabeça. “É que só de pensar em entrar naquela sala e ver a minha amiga refém daquela bandida. E-e ela nem me reconhece.”

“Ei.” Kyouko segurou o queixo de Sayaka e levantou a cabeça dela. “Guerreiras seguem em frente com a cabeça erguida.”

As duas trocaram olhares.

“Senão elas dão topada em alguma parede por aí.”

Sayaka riu com aquela afirmação.

As duas voltaram a caminhar e se dirigiram até o andar onde ficava a sala de aula.

“Kyouko.” Sayaka começou. “Eu vou ao banheiro antes.”

“Ok...” Kyouko pegou o ombro de Sayaka e a fez virar para as duas ficarem frente a frente. “Que que tá pegando?”

“Kyouko?!” Sayaka ficou olhando para mão de Kyouko que a estava segurando.

A expressão de Kyouko agora era séria. “Cê tá toda hora indo no banheiro na escola. Bem mais que qualquer outro aluno da sala.”

“E daí?” Sayaka segurou o braço da Kyouko e afastou o ombro para se libertar.

Kyouko continuou. “Bexiga eu sei que não é. Até podia ser que cê tá matando aula, mas eu vi que a aquela bilolada da Homura tá pedindo pra sair logo depois.”

Sayaka apertou os lábios, sua respiração começou a ficar mais rápida. “Se... você ver eu com ela.”

“Eu vou lá dar um coça nela.”

“Não!” Sayaka foi incisiva. “Eu não quero que você intervenha.”

“Mas como?!” Kyouko cerrou os punhos. “E se ela ferrar com a tua cabeça?”

“Eu me recupero.” Sayaka forçou sorriso. “Você sabe que sou boa nisso.” Depois voltou com uma expressão séria. “Agora se você for descoberta, eu não sei se terei uma segunda chance de tê-la ao meu lado.”

Kyouko relaxou os punhos e desviou olhar. “Tch...”

Sayaka olhou para os estudantes no corredor, ela reconheceu alguns que eram da sala dela. No entanto não havia nenhum sinal de Homura ou Madoka. “É melhor você ir antes que alguém estranhe. Eu volto logo.”

Quando Sayaka fez menção com corpo que ia partir, Kyouko falou. “Sayaka...”

“Oi.”

“Não banque a idiota.” Kyouko deu um leve sorriso. “Cê é melhor que isso.”

“Eu sei.” Sayaka deu uma piscadela e mostrou a língua antes das duas se separarem.

/人 ‿‿ 人\

Fim de mais uma aula.

Nagisa estava sentada em seu lugar na sala, colocando o material na mochila, quando sentiu uma cutucada em seu ombro.

Uma garota estava de pé ao lado dela. Ela tinha olhos verdes claros que combinava com a piranha em forma de borboleta presa em seu cabelo castanho. O corte do cabelo era curto em comportado e parecia um capacete. Ao contrário de Nagisa, ela vestia uma roupa despojada. Sua camisa branca estava estampada com um desenho fofo de um girassol com uma lagarta, ambas com carinhas felizes. Usava uma calça jeans azul que ia até o joelho e tênis.

Nagisa sorriu. “Ayako-chan~!”

Mas Ayako não estava olhando para Nagisa e sim para outro ponto na sala. Estava com uma expressão séria. “Nagisa. O Kuroki ficou olhando para você a aula toda.”

“Hum?” Nagisa seguiu o olhar de Ayako até um menino sentado de cabelos azuis espetados e olhos negros. Ele se levantou da carteira e foi em direção a elas.

Ayako fez uma cara de suspeita e falou baixinho. “Ele deve aprontar alguma. Se prepara.”

Nagisa se lembrava do que Ayako havia comentado sobre Takuma Kuroki. Ele era um garoto muito atrevido e de grande ego. Isso só piorou quando ele foi agraciado com uma puberdade precoce: era o aluno mais alto da sala, considerando que a maioria dos meninos tinha uma estatura menor que as das meninas naquela idade. No entanto o que ele havia ganhado em altura ainda não havia ganhado em corpo e procurava compensar vestindo jaquetas grossas.

Takuma acenou. “Oi meninas.”

“O que você quer Kuroki.” Ayako cruzou os braços.

“Hum? Nada demais Kinomoto.” Takuma puxou um sorrisinho enquanto colocava as mãos nos bolsos da jaqueta. “Só queria saber se você e a Momoe estão sabendo da última.”

“Última?” Nagisa ficou curiosa.

“Então você não sabe...”

Takuma ficou com olhar fixo arregalado em Nagisa.

“...do fantasma do banheiro.”

Nagisa ficou sem palavras.

Foi Ayako que continuou. “Ah tá. Eu ouvi falar. É que nem a da Hanako do banheiro. Toda a escola tem. Besteira.”

“Ah... mas não é que nem a da Hanako.” Takuma balançou a cabeça. “Apesar que também é em um banheiro feminino, a história é diferente. Eu vou contar.”

Takuma deu uma pigarreada.

“Começa assim: se você entrar no banheiro vazio, pode encontrar uma garotinha...”

Nagisa começou a ficar tensa.

“Pode parar aí!” Ayako gesticulou com a mão. “Como o banheiro está vazio se tem uma garotinha?”

Takuma revirou os olhos. “A garotinha é o fantasma, aí não conta.”

“Hum... prossiga.” Ayako fez uma cara de tédio.

“A princípio você não vê o rosto dela, só os seus longos cabelos.” Takuma começa a se concentrar mais em Nagisa, pois ela nitidamente demonstrava atenção. “Mas logo ela revela sua face esbranquiçada, com olhos inumanos terríveis.”

Um frio percorreu a espinha de Nagisa.

“Se você ver isso, então é hora de correr. Se ficar...” Takuma tira as mãos do bolso e posiciona elas como se fosse dar um bote em Nagisa. “...ela a escancara a boca cheia de dentes afiadíssimos e abocanha você. IIIÁÁÁÁÁHHH.” Ele abre a boca e escancara os dente o máximo que pôde enquanto avança.

Ayako segura o braço de Takuma. “Para com isso. Você está assustando a minha Nagisa com essa história furada.”

Takuma se desvencilha e fica muito irritado, passando a mão aonde Ayako havia pegado, como se aquilo tivesse sido um sacrilégio.

“A da Hanako é de longe beeeeeeeem melhor.” Ayako disse.

“Ah é?” Takuma voltou a botar as mãos no bolso. “Só que essa história é que estão contando em todas as salas.” Depois olhou para Nagisa. “Por isso que eu quero perguntar uma coisa para a Momoe.”

“P-para mim?” Nagisa estava suando frio com tudo aquilo.

“É.” Takuma começou a sorrir maliciosamente. “Por acaso você não é o fantasma?”

Aquilo foi como um soco no estômago de Nagisa. Suas pernas ficaram bambas, se não estivesse sentada teria caído ali mesmo.

Takuma continuou. “É que tem versões onde dizem que o cabelo do fantasma, além de comprido, é todo branco. Hehehe.”

“Pfstchhhahahahaha! Nagisa-chan um fantasma?” Ayako ficou puxando a bochecha de Nagisa. “Náá. Ela feita de carne e osso.”

“Ai.” Nagisa afastou a mão da amiga e depois ficou passando aonde havia ficado um vermelhidão.

Ayako complementou. “Além disso o cabelo dela é prateado, não branco.”

“Prateado??” Takuma disse com incredulidade. “O cabelo dela é branco que nem de uma velha. Vocês meninas ficam inventando cor onde não tem. Tsc tsc.”

A face de Ayako ficou desfigurada de raiva. “Vai comprar um óculos vai ô pistache.”

“Pistache? Pistaaache??” Takuma ficou assustado. Ayako enlouqueceu?

Ayako deu um sorriso com desdém. “Você fica importunando os outros, achando que é o maioral, mas não passa de um bola de sorvete de pistache.”

“Ayako-chan.” Nagisa falou baixinho, ainda não havia se recuperado do baque emocional.

“D-de onde você tirou isso? Está louca?” Takuma continuava confuso.

“Náá. Foi Nagisa-chan que me contou e eu concordo plenamente.” Ayako fechou os olhos e balançou a cabeça para reforçar a afirmação.

“Ayako-chan!!” Nagisa repreendeu sua amiga.

Ayako deu uma piscadela para Nagisa. “Você não tem que ter vergonha disso. É super fofo.”

Takuma ficou impaciente. “Do que ela está falando, Momoe?”

“Ah...é...um...” Nagisa queria sumir dali naquele exato instante.

Ayako resolveu ajudar. “Nagisa-chan associa cada pessoa a uma comida. Por exemplo.” Ela apontou para si própria com um sorriso e um olhar que brilhava de orgulho. “Ela disse que eu sou um cupcake de chocolate com hortelã!”

Takuma ficou reparando na aparência de Ayako. “Hum... mas você até pode parecer com um cupcake. Já eu não tenho nada haver com pista...” Ele então parou e ficou piscando olho repetidas vezes, como se estivesse acordando.

“Por que estou discutindo isso?” Takuma chacoalhou a cabeça. “Esse é mais um papo idiota que as meninas inventam. Argh.” Então ele parou completamente, mesmerizado. “Ei, mas peraí. Então era isso!”

Agora era Ayako e Nagisa que estavam confusas com a reação de Takuma.

Takuma riu. “Era isso que aquela marica tava falando. Ei Sanjuro! Ogai!”

Sanjuro e Ogai eram dois que viviam na sombra de Takuma. Sanjuro tinha o cabelo preto comprido e olhos azuis, tinha a estatura média dos meninos da sala, mas diziam que tinha agilidade de um gato. Ogai já era mais gordinho e baixinho, com olhos e cabelos castanhos bem penteados. Ogai seria um alvo fácil de chacotas senão fosse o fato de sua família ter posses: ele fazia parte da gangue graças aos lanches bancado com o dinheiro dele.

Os dois estavam conversando quando foram chamados por Takuma. “Traz lá a mariquinha.”

Ogai questionou. “Agora? O professor deve entrar logo.”

“Pode trazer.” Takuma foi mais ríspido.

Ogai e Sanjuro olharam entre si e deram de ombros. Depois foram até uma carteira onde havia um menino com a cabeça encostada, parecia estar dormindo. Eles empurraram a cabeça, fazendo-o levantar de súbito.

O menino tinha um cabelo loiro muito embaraçado, seus olhos eram vermelhos vivos. Apesar do cabelo desarrumado, sua roupa era bem comportada: uma camisa gola polo laranja com um brasão estampado de cor branca, calça sarja marrom e tênis branco.

Vendo que se tratava dos capangas do Takuma, o menino suspirou decepcionado. Ogai e Sanjuro pegaram pelos braços e levantaram-no da cadeira. Agora de pé, podia perceber que ele era mais baixo que Ogai e era muito magrinho. Alguém poderia dizer que ele teria menos de dez anos.

“O que você quer com o Hidaka-kun?” Ayako não estava gostando nada daquilo.

Takuma respondeu. “Só quero saber de uma coisa. Hehehe.”

Aki Hidaka caminhou em direção a Takuma com relutância, com Ogai e Sanjuro logo atrás.

Então Takuma fez um aceno com a cabeça e colocou um dos pés a frente.

Nesse exato momento, Ogai e Sanjuro deram um empurrão em Aki, que acabou tropeçando no pé de Takuma. Completamente desequilibrado, ele desabou sobre a carteira de Nagisa.

“Ei. Tudo bem com você?” Nagisa procura socorrê-lo.

Aki, com os abraços apoiados na carteira, se levantou um pouco e trocou olhares com Nagisa. Então sua face ficou tão vermelha quanto seu olho. “Ah! Mil desculpas!”

“Eu vi tudo, seu safado!” Ayako ficou apontando para Takuma.

Takuma respondeu com malícia. “Você não viu nada... ainda.” Então pegou Aki pela nuca e não deixou ele se levantar mais.

“Para! Tá machucando ele.” Ayako avançou em direção Takuma.

Porém foi bloqueada por Sanjuro. “Opa! Chega em mim primeiro, gata.”

Ogai ficou só rindo.

A sala toda agora prestava atenção naquela cena.

Takuma se abaixou e falou no ouvido de Aki. “Se lembra daquela vez que peguei você perguntando para si próprio sobre qual comida você seria? Agora eu sei que é mais uma prova que você é uma menininha mesmo.”

“Por favor Kuroki! Solta ele.” Nagisa falou.

Takuma olhou para Nagisa e respondeu. “Vou quando você disser qual comida ele é. Fala Momoe.”

Nagisa hesitou.

“FALA!” Takuma apertou ainda mais a nuca de Aki.

“Hnggaahh!”

A expressão de Aki era capaz de fazer Nagisa quase sentir a dor e humilhação que ele estava passando. Aquela crueldade precisava acabar! Agora!

“Roquefort.”

“O que disse?” Takuma ainda estava irritado.

“Roquefort. Solta ele!” Nagisa implorava.

Então ele relaxou um pouco. “Mas que comida é essa?”

“Seu tango. Não sabe?” Ayako começou. “É um queijo suíço finíssimo. Aposto que nunca vai apreciar um na vida.”

“Francês...”

Todos olharam para Aki.

“Ah...É um queijo francês..ah.”

Ogai então complementou. “Isso mesmo. É um queijo bem fedido.”

“Queijo fedido? Queijo fedido?? Haha...haha..HAHAHA!” Takuma gargalhou e então puxou Aki.

Aki ficou cara a cara com Takuma, estava tão perto que teve que virar o rosto.

“Está vendo o que dá ser marica?” Takuma ficou sorrindo. “Agora as meninas estão te chamando de queijo fedido.”

“É... estou sentindo o fudum daqui. Eca!” Sanjuro começou a abanar com a mão.

“Vai tomar banho queijo fedido! Hahaha.” Ogai tapou o nariz.

“E-ei! Eu não chamei ele disso.” Nagisa protestou.

Infelizmente os meninos não prestaram atenção, pois o professor havia acabado de chegar.

Takuma soltou e ficou passando a mão vigorosamente no cabelo de Aki. “Haha. Volta pro seu lugar queijo fedido. Depois a gente brinca mais.”

Aki, cabisbaixo, e os outros meninos procuraram as suas carteiras.

Nagisa enfiou a cara na carteira. “Ai. Eu não devia ter falado.”

Ayako foi confortar a sua amiga. “A culpa é minha. Eu nunca imaginei que alguém mais sabia sobre esse negócio da comida. Muito menos o Hidaka-kun.”

Nagisa olhou pelo canto do olho para Aki.

Ele já havia sentando e estava com as mãos sobre a cabeça, que estava encostada na carteira.

“Olha amiga.” Ayako disse antes de voltar para o seu lugar. “Cedo ou tarde, o abestalhado do Kuroki e sua trupe ia achar algo novo para ficar zoando com ele. Já era assim no ano passado.”

A aula estava prestes a começar, mas Nagisa não tinha nenhuma vontade de participar.

Por quê? Por que essa crueldade gratuita e sem sentido existe?

/人 ‿‿ 人\

K O!!!

Essas letras piscavam no telão, anunciando um vencedor.

Kyouko quase deixou cair o pirulito que estava em sua boca. “Bwahahaha! Esse foi o picolé mais fácil da minha vida.”

Sayaka jogou as mãos para o alto. “Mas também! Você só vai com esse lutador apelão com lança, não consigo nem chegar perto.”

Kyouko puxou o pirulito para um dos cantos da boca. “Mmmhh... Então vai com um que tenha mais ataques de longa distância.”

Sayaka estava bem irritada. “Aí é ser mais covarde ainda!”

“Bem...” Kyouko sorriu. “Então vou adorar ficar apostando com você. Aliás, vou querer o picolé agora. Meu pirulito tá no fim.”

“Tá bom.” As duas deixaram a máquina onde estavam jogando.

O fliperama estava cheio de gente, o salão escuro eram bombardeado por luzes e sons provenientes das inúmeras máquinas.

“Eu não achei que a gente ia sair pra se divertir depois que eu recuperei a memória.” Kyouko comentou enquanto evitava em esbarrar nas pessoas.

Sayaka liderava, procurando o caminho para as lanchonetes. “Isso era parte da nossa rotina, se parar ela pode desconfiar.”

“Ah tá. Por falar nisso eu cansei de brincar de agente secreta. Quando vamos agir hein?” Kyouko saboreava os últimos resquícios de seu pirulito.

Sayaka estava tendo dificuldades, quando elas chegaram no fliperama não havia tanta gente. “Eu ainda não pensei em um plano ainda. Sabe... Nesse meio tempo eu tive que ensinar a você em como se comportar na escola.”

Kyouko ignorou a acidez de Sayaka. “Hmm... Você disse que se a gente recuperar a memória da rosinha, ela resolve a parada.”

Sayaka sorriu quando viu uma placa indicando o caminho. “Isso. Só que esse é o problema.”

Kyouko pegou o ombro da Sayaka para fazê-la parar. “Sim. Não dá pra chegar nela e falar, mas, tipo, e se a gente gritar no meio da sala bem alto ‘AAACOOORDAAA MAAADOOOOKAAA!! HOMURA É O DIAAAIIIE...!!’”

Sayaka deu um pisão no pé da Kyouko.

“EI! Por que fez isso?” Kyouko reclamou.

“O que tu acha?” Sayaka disse enquanto olhava envolta.

“Ninguém aqui dá bola pra isso...” Kyouko então deu um sorrisinho. “Ah... já sei... cê acha que ela tá aqui né.”

Sayaka ficou olhando para Kyouko.

Kyouko continuou. “Se fosse assim, a gente não podia se falar nem na sua casa. Deixa dessa paranóia vai.”

Sayaka ficou balançando a cabeça de forma afirmativa. “É... pode ser. Só que essa idéia do grito não ia dar certo.”

“Não?”

Sayaka agora estava com uma expressão melancólica. “Não. Recuperar a memória dela deve ser tão difícil quanto a sua e...”

“e...?” Kyouko levantou as sobrancelhas.

“...e a diabinha sempre aparece.” Sayaka rangeu os dentes. “Não importa aonde ou quando, ela vem e acaba com tudo. COM TUDO!”

“Calma aí garota!” Kyouko ficou apreensiva. “Quer dizer que se eu, tipo, ir de surpresa falar com a Madoka no meio da rua, à noitinha, aquela doida vai aparecer do nada?”

“Madoka não anda pela cidade à noite.” Sayaka disse em um tom monótono.

Kyouko irritou-se. “Cê entendeu né?”

Sayaka deu singelo sorriso. “Sim.” Mas depois voltou com uma expressão triste. “Infelizmente é isso mesmo o que você disse.”

“Humm...” Kyouko ficou ruminando, fazendo o palito do pirulito subir e descer em sua boca.

“No que está pensando?” Sayaka ficou curiosa.

“Nada não. Tava pensando em mudar de assunto. Por exemplo...” Kyouko tirou o palito da boca, não havia sobrado mais nada. “Qual o sabor do picolé que cê vai comprar pra mim?”

Kyouko deu um peteleco no palito, que fez várias piruetas no ar até cair e grudar no cabelo de uma menina que estava passando. Ela continuou caminhando sem notar seu novo adereço.

No entanto as duas haviam testemunhado aquilo. Sayaka colocou a mão na boca. Kyouko deu largo sorriso enquanto passava a mão no cabelo.

“Hnnh...Hnnnh..Hahahahaha...” Sayaka não conseguiu conter o riso. “...hahahahaAIII!!”

Kyouko deu um pisão no pé da Sayaka. “Cê achou que eu ia esquecer né?”

“Não achei isso.” Sayaka semicerrou os olhos. “Eu achei que você não ousaria. Agora prepare-se!”

“Vixi!” Kyouko se posicionou, pronta para a guerra.

“Para o meu SUPER PISÃO HERÓICO!” Sayaka deu uma voadora. “IIIÁÁÁÁÁÁ!!!”

/人 ‿‿ 人\

Já estava na hora.

Homura abriu a porta para um cômodo escuro. A luz que vinha de fora revelava uma cama de casal com uma menina deitada.

“Charlotte.”

A luz agora iluminava uma face branca com olhos multicoloridos.

“Eu estou saindo. Devo chegar tarde amanhã. Então esteja pronta para escola quando eu voltar. Eu abasteci a cozinha, tem até queijo.”

“Queijo!” Nagisa comemorou, mas sem muito entusiasmo.

Depois o silêncio. Não havia mais nada a ser dito. Não era necessário. Homura fez a menção de fechar a porta.

“Homura-chan.” Nagisa falou em tom baixo.

Homura parou. “Sim.”

“Você... Poderia sentar ao meu lado um pouco?” Nagisa tirou um de seus braços debaixo da coberta e deixou sobre a cama. “Eu não estou conseguindo dormir.”

Homura ficou olhando por um momento para maçaneta. Depois deu um longo suspiro. “Ok, mas só por alguns minutos.”

“É o suficiente.” Nagisa respondeu.

Então Homura foi até a cama. Para sentar ela teve que fazer as asas sumirem e ajeitar a cauda do vestido. “Teve um dia ruim, bruxa?”

“Não é isso.” Nagisa fechou os olhos. “É que eu tenho muitos sonhos ruins. Na verdade nos dias que estive aqui eu sempre demoro em pegar no sono por medo disso.”

“Sonhos ruins?” Homura ficou observando a face pintada de branco da Nagisa. “Entendo.”

“Isso...hum... posso pedir mais um favor?”

“E o que seria Charlotte?” Homura estava contando mentalmente cada segundo.

“Pode segurar a minha mão?” Nagisa ficou mexendo os dedos da mão que estava deitada ao lado dela fora da coberta.

Homura colocou sua mão sobre a da Nagisa, podia sentir através da luva que era quente. “Tomoe-san fazia isso com você?”

“Uhum...” Nagisa começou a relaxar.

“Sente saudade dela não? Você está feliz aqui comigo?” Homura sentiu que a mão de Nagisa havia agarrado a colcha.

“Eu sinto, mas...” Os lábios roxos de Nagisa contraíram. “Se você disser que ela está bem eu sentirei aliviada.”

“Ela está bem. Eu chequei.” Homura então sorriu. “Ela não tem nenhuma lembrança de você.”

Homura aguardou por alguma reação de Nagisa, mas nada ocorreu. A mão dela havia parado de segurar a colcha, parecia já estar dormindo.

“Tomoe-san é uma pessoa muito sociável. Como não sabe que é uma garota mágica, ela agora tem mais tempo e eventualmente fará novas amizades.”

“Obrigada... Muito obrigada mesmo...”

Aquelas palavras saíram tão suaves que nem pareciam ser a da bruxa.

“...e você?” Nagisa continuou.

“Eu?” Homura ficou confusa.

“...está...feliz...?” Nagisa proferiu em um suspiro.

Homura olhou para si própria, buscando uma resposta.

Madoka está bem, está feliz, está segura. Madoka está com a família dela. Está indo para escola e seguindo uma vida normal. Nenhuma anomalia em sua rotina.

A seqüência de pensamentos foi interrompida por um som estrondoso.

Homura, em um susto, virou para Nagisa e viu a mesma com a grande boca aberta, roncando. A cada ronco, bolhas saíam voando de dentro da boca e aos poucos iam se espalhando pelo cômodo.

Então Homura deu um cutuque em uma das bolhas. Elas começaram se rebater uma nas outras. Nessa hora ela também se deu conta que estava acariciando a mão de Nagisa. Isso acabou trazendo lembranças de uma outra mão, de uma outra pessoa. “Fufu.”

Então um pyotr que estava esgueirando pelo cômodo chamou a atenção dela. Outros estavam adentrando pela porta aberta. As bonecas também estavam lá, espiando.

Ela se levantou da cama e, em movimentos rápidos e decisivos, foi pegando cada pyotr pelo rabo. Carregando uma penca deles, foi em direção a porta. “Xô! Xô! Deixem-na dormir.”

Pronta para fechar porta, Homura olhou uma última vez para o quarto. Ali estava uma menina, roncando, no meio de uma nuvem de bolhas.

...está...feliz...?

E então a escuridão tomou conta daquela cena.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: A resposta certa



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