Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 5
Convite informal




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Domingo. Paris. Nove horas da noite.

Com os seus 324 metros de altura, a torre Eiffel recebe centenas de visitantes todos os dias. No entanto hoje havia um visitante muito especial.

Equilibrando-se na ponta da torre, Homura Akemi aguardava. O vento ensurdecedor fazia esvoaçar com violência seus cabelos, vestido e asas escuras. Contudo aquilo não era capaz de tirá-la de seu posto.

Aos poucos começaram a surgir. Primeiro aparecia no ar, como um holograma, estranhas imagens que mais pareciam com o chuvisco de uma televisão fora do ar. Aquilo era conhecido pelas garotas mágicas como miasma. Do miasma se materializavam homens usando túnicas brancas que cobriam o corpo todo. Nas faces deles só era possível distinguir a boca, o resto estava coberto pelo miasma. Eles vinham em vários tamanhos, alguns eram tão altos quanto uma pessoa, outros eram maior que prédios.

Demônios.

Homura conhecia muito bem o que ela estava testemunhando. Essas criaturas são um dos legados que o desejo de Madoka havia deixado. Eles substituíram as bruxas como representantes da maldição dos humanos. Parasitas de emoções, eles assombram e consomem todo valor que os humanos têm pela vida.

Como sendo capazes de enxergá-los e feri-los, eram tarefa das garotas mágicas caçarem eles todas as noites. Comparado com uma bruxa, um demônio era muito mais fraco. Porém eles eram muito perigosos, pois atacavam em bando. Os demônios utilizavam como armas lasers que saiam da ponta dos dedos da mão. Uma garota descuidada era queimada e despedaça em inúmeros pedaços por rajadas que vinham de todas as direções. Trabalhar em equipe era essencial e agradecer por ter sobrevivido a mais uma noite uma norma.

Mas isso é passado.

Homura estendeu sua mão esquerda e, após um brilho violeta, ela estava segurando um arco de cor negra. Com a mão direita, ela puxou o arco e uma flecha de energia apareceu pronto para ser disparada. Faíscas elétricas de cor violeta saiam da flecha e iluminavam o rosto de Homura.

Ao apontar o arco, não foi em direção aos demônios que estavam abaixo e sim para o céu. Quando soltou a flecha, ela voou tão alto que já não podia distinguir seu brilho com as das estrelas. Até que uma explosão de luz ocorreu e linhas roxas atravessaram o céu em todas as direções, compondo um desenho abstrato de uma teia de aranha.

Dessas linhas começaram a cair flechas de energia. Elas perseguiam e destruíam todos os demônios, onde quer que eles estivessem, sem causar dano algum à cidade. Eles não tiveram nenhuma chance de reação.

Preciso. Letal. Perfeito.

O desenho aos poucos foi desaparecendo no céu, assim como o arco na mão de Homura. Ela saltou da torre e voou em direção ao solo. Infelizmente a parte mais longa do trabalho iria começar agora.

Homura voava em hiper velocidade pelas ruas de Paris, mas não deixava vácuo, pois naquele momento ela era imaterial. Era capaz de atravessar pessoas e objetos sem transtorno algum e sem que alguém notasse. O objetivo era coletar os cubos da aflição que os demônios destruídos deixavam para trás. Senão fossem coletados, novos demônios nasceriam daqueles cubos.

Por onde Homura passava, os cubos próximos vibravam e se desintegravam. Uma fumaça escura saia dos cubos destruídos que espiralava em direção ao topo da mão esquerda dela e então era absorvida.

Era um trabalho enfadonho, mas necessário para proteger aquele mundo que Madoka tanto estimava. Esse fim de semana havia sido muito exaustivo para Homura, pois teve que compensar o tempo perdido com a Mami.

“Hum?”

Desafiando todas as leis da inércia, Homura parou subitamente. Ela acabara de sentir uma aflição crescente nas proximidades. Novos demônios surgiram ou...

Homura se aproximou da janela de um apartamento. Ela podia ouvir o som abafado de um choro. Ela viu através da janela um quarto escuro com uma garota na cama.

Aquela era a origem da aflição. Podia ser coração partido. Perda de um ente querido ou mesmo talvez um bicho de estimação. Não importava qual era causa e sim quem estava sofrendo.

Homura podia sentir a magia da garota mágica que estava chorando na cama. Mais uma que havia selado seu destino ao fazer o contrato com o Kyubey. Mais uma que lutaria contra os demônios até a morte ou até ser levada pela Lei dos Ciclos.

Mas isso é passado.

Homura pouso sua mão esquerda sobre o vidro da janela e se concentrou. Novamente uma fumaça preta começou a surgir, mas agora partia de um anel que aquela garota estava usando. Pouco a pouco, a fumaça atravessava o vidro e era absorvida por Homura. Pouco a pouco, a garota que estava na cama se acalmou e dormiu.

“Descanse garota. Essa luta é apenas minha agora.”

E Homura partiu. Ela precisava terminar o serviço logo, pois faltava menos de uma hora para o sol nascer em Mitakihara.

/人 ‿‿ 人\

Segunda-feira. Mitakihara.

A primeira aula do dia era educação física. Um bom jeito de começar a semana letiva. No entanto isso não bastava para diminuir as preocupações de Nagisa.

A prática era sobre beisebol. Ela se encontrava em uma fila, junto aos seus colegas, esperando a vez de rebater. Na série onde ela se encontrava, ainda havia a mistura de meninos e meninas nessas aulas. No ano vindouro isso já mudaria, assim como o uniforme que passaria a ser de uso obrigatório. Tudo isso graças a puberdade.

Entre som de uma tacada ou outra, Nagisa remoia as lembranças dos acontecimentos recentes. Especialmente a decisão de Mami. As duas não haviam mais tocado nesse assunto no fim de semana. Nagisa não impediria, mas desejava que Mami desistisse da idéia de ter uma conversa com Homura.

Mesmo perdida em seus pensamentos, Nagisa percebeu um objeto de cor bege rodopiando e vindo na direção dela. Em um ato de mero reflexo, ela se abaixou.

“Aiee!” O bastão acabava de atingir a colega que estava logo atrás dela.

Nagisa olhou para trás e viu sua colega agachada, com as mãos na cabeça. Procurando confortá-la, Nagisa colocou a mão sobre as da colega. Nisso ela sentiu que sua mão havia ficado molhada.

Nagisa arregalou os olhos ao ver que a sua palma estava pintada com um liquido viscoso e vermelho.

“Uuuuaaahh! Eu vou morrer! Vou morrer!” A sua colega se desesperou ao ver todo aquele sangue em suas mãos e pingando na roupa.

“Para trás! Todos vocês!” O professor veio correndo para socorrer a menina.

Obedecendo, Nagisa se afastou um pouco e passou a observar os colegas. Alguns estavam espantados, pálidos, outros achavam graça na reação da colega e cochichavam entre si.

O professor examinou o machucado da menina. Ela chorava e tremia. “Hum... Um grande corte no supercílio. Talvez precise de ponto, mas você vai ficar bem. Eu vou levá-la para enfermaria.” O professor disse da forma mais calma que pôde.

Após ajudar a menina a se levantar, o professor dirigiu a palavra aos alunos. “Isso foi um acidente! Acontece. Agora quero que vocês guardem todo o material. A aula terminou.”

Houve alguns protestos dos alunos, mas a maioria não tinha interesse pela aula e viram ali a oportunidade de ter um tempo livre.

“Momoe...” O professor olhou para a mão ensangüentada de Nagisa. “Lave isso.”

Nagisa apenas balançou a cabeça afirmativamente e saiu correndo.

Um banheiro no prédio da escola seria a melhor opção. Como era horário de aula, eles estavam vazios e evitaria assim perguntas sobre aquele sangue.

Entrou no primeiro banheiro que encontrou. De frente para a pia e o espelho, Nagisa olhou novamente para sua mão. O sangue já estava mais seco e escuro. Contudo o doce aroma continuava fresco.

Aquilo trazia memórias da sua mãe, da sua maldição. Ser bruxa não significa se tornar má, mas de ceder o controle a uma mistura de dor e desejo. Os paradigmas se alteram, os sentidos são subvertidos.

Apenas talvez a piedade, compreensão e paciência, simbolizadas pela meiga expressão de Madoka, possam trazer uma bruxa de volta a sanidade. Porém o abismo está sempre lá...

Quando Nagisa lambeu aquele sangue, o intenso sabor de goiabada invadira a sua boca. Essa era uma das coberturas que sua mãe utilizava no cheesecake. Nagisa sentiu êxtase ao imaginar as duas sentadas na mesa, compartilhando ele.

Vozes. Abrir de porta. Alguém estava interrompendo aquele momento mágico. Querendo tomar satisfação, Nagisa olhou para os invasores. Eram duas meninas, um ano ou dois mais jovens que ela, que estavam distraídas conversando.

No entanto, ao olharem para Nagisa, as meninas arregalaram os olhos e gritaram de pavor. “KKKYYYYAAAHHHH!”

“GGRRRAAAAUUUURRRR!!!” Nagisa gritou, surpresa com a reação das duas.

As duas saíram correndo do banheiro. “AAHHH! MONSTRO! Eles existem!”

Monstro? Não...

Nagisa ficou perplexa com aquilo e se virou ao espelho temendo o que viria a seguir.

O reflexo não mentia para Nagisa. A sua face branca, os círculos amarelos, a grande boca roxa e os olhos multicoloridos. A imagem da bruxa Charlotte estava lá, a sua imagem.

Não. Não! Eu fraquejei...

Desesperada, Nagisa abriu a torneira para se lavar. Contudo ao jogar a água no seu rosto ele foi atingido por um par de panos marrom molhado.

NÃO. NÃO!

Aquilo não era um pano, aquilo era a sua mão. Nagisa sentiu seu corpo encolher e com esforço ela se jogou sobre o balcão da pia.

Não posso me transformar. Tenho que sair daqui. Madoka! Me salve!

Nagisa fechou os olhos e buscou imaginar o momento em que foi levada. O momento que Madoka apareceu sobre ela em um flash de luz cor de rosa. A esperança que ilumina uma terra de aflições.

Uma luz clareou a sua mente, imagens surgiram e foram ficando mais nítidas. Eram lembranças dela com a Mami e... Homura? Sim, uma garota tímida que usava tranças e óculos, que parecia fraca, porém tinha um coração de leão e uma devoção sem limites.

Nagisa voltara abrir os olhos e viu que suas mãos haviam voltado ao normal. Seu reflexo no espelho dizia que ela era menina comum de onze anos com um olhar alaranjado. A única coisa incomum é que ela estava sobre o balcão...

“WHOAA!” Nagisa caiu de bunda no chão.

Mesmo que a queda tinha sido doída, ela estava aliviada. Foi até a saída do banheiro e deu uma espiada no corredor. Aquelas meninas iriam chamar alguém com certeza e ela precisava estar longe dali nessa hora. Felizmente o corredor ainda estava vazio e Nagisa pôde escapar.

/人 ‿‿ 人\

Sinal para o almoço.

Como era costume, a primeira a sair seria Kyouko Sakura. Ela corria justamente para isso. ‘Seria’ pois hoje tinha sido diferente, quem saiu primeiro fora Sayaka Miki.

Devo considerar?

Com a mão apoiando o queixo. Homura Akemi ficou observando através do vidro as duas correndo pelo corredor. Isso era proibido na escola, mas Kyouko era uma delinqüente famosa que já havia passado tantas vezes na detenção ao ponto de ser normal aquela atitude.

Ignorou. As duas deviam estar competindo, como sempre. Se não era corrida, era queda de braço ou um videogame. Nada disso importava, desde que não ficassem em seu caminho.

Homura já tinha guardado o material. Ela só estava esperando outra garota sair. Uma que sentava no meio da sala, de cabelo cor de rosa e com dois rabos de cavalos, um em cada lado da cabeça, presos por laços vermelhos.

Mantendo uma distância segura, Homura sempre seguia Madoka Kaname na saída para o almoço. Normalmente Madoka ia até a cantina da escola, onde almoçava um lanche preparado em casa. Felizmente, hoje não tinha sido diferente.

Madoka parou.

Será que ela me notou? Homura encostou-se a uma parede e ficou observando outras pessoas passando no corredor, procurando disfarçar. Depois voltou a olhar para Madoka.

Madoka havia parado na frente de um mural e estava lendo algo silenciosamente. Esses murais contêm inúmeros cartazes de eventos, festivais e anúncios dos clubes da escola.

Homura notou que Madoka mexia os lábios. Talvez estivesse soletrando algo. Nesse caso ela poderia saber o que tinha captado o interesse de Madoka, pois ela tinha alguma prática com leitura labial.

Ainda na época em que ela voltava no tempo, na época em que ela tentava impedir Madoka de fazer o contrato, Homura começou a agir sozinha. Com um binóculo, ela seguia e observava Mami, Sayaka e Madoka. Com a prática, ela começou a ‘ouvir’ as conversas com os olhos.

Checando se ela havia enferrujado, tentou a decifrar as palavras que Madoka pronunciava.

“..ella Magi..”

Um frio percorreu a espinha de Homura.

“..Holy Quin..”

Homura sorrateiramente se colocou atrás de Madoka. O que estava no mural a fez engolir seco. Era um cartaz feito a mão e bem colorido, com letras garrafais dizendo:

CLUBE PUELLA MAGI! HOLY QUINTET!

Sem esperar mais um segundo. Homura foi até o mural e arrancou o cartaz.

“Ah! Homura?!” Madoka tomou um susto.

Homura segurou Madoka pelos ombros e olhou fixamente nos olhos dela. No meio daquele rosa não parecia ter surgido nenhum traço de cor dourada.

“Hã? H-homura?”

Homura soltou Madoka, mas ainda estava tensa. “Kaname-san, por favor...” Sua face tremia, segurando uma expressão de dor. “... me chame de Akemi-san.”

“Ah..um..sorry..ah...desculpa!” Madoka coçou a cabeça e deu um sorriso sem graça. “Ainda tenho uns costumes do ocidente, foi um lapso.”

Homura respirou fundo. “Tudo bem Kaname-san, você tem todo o tempo para se adaptar a esse novo mundo.”

Madoka deu um sorriso mais legítimo. “Vou me esforçar!” Contudo depois ela ficou encabulada, estava um pouco corada. “Um..Ho-Akemi-san..por que você estava me segurando?”

Homura pendeu a cabeça para esquerda, fazendo balançar seu brinco. “Eu vi você parada no corredor. Eu a chamei pelo nome, mas você não respondia. Parecia que estava em transe. Eu quis checar se estava bem.”

“Ah! Foi isso?” A face de Madoka iluminou-se. “Ai ai! Eu sou uma cabeça de vento ás vezes. Wehihi. Ei. O que é isso?” Madoka apontou para a folha que Homura segurava.

“Isso?” Homura tratou de amassar mais aquele cartaz. “É um anúncio falso que colocaram em um mural.”

“É? Quem faria uma coisa dessas?” Madoka ficou curiosa.

“Não importa. O que importa mesmo é que você deve tomar cuidado Kaname-san. Você pode ouvir histórias mirabolantes e fantásticas por aí. Não acredite.” Homura falou em um tom sério, quase ameaçador.

“Nossa Akemi-san!” Madoka ficou olhando para o próprio pé. “Até parece meus pais falando.”

“Eles têm razão.” Homura voltou a andar pelo corredor. “Tchau Kaname-san.”

“Espere!” Madoka estendeu o braço.

Homura parou e virou apenas a cabeça.

“Olha.” Madoka tirou um grande pote de dentro da sua mala. “Meu pai preparou isso pensando que eu tenho o tamanho dele. Hihi. Eu não acho que vou conseguir comer sozinha. Não quer almoçar comigo?”

Homura de um sorriso... “Agradeço o convite,...” que logo sumiu. “Mas eu tenho um compromisso agora.” E voltou a andar

“Um compromisso?” Madoka entristeceu. “Você é uma pessoa responsável, não é? Uma pessoa muito importante. Sabe. Eu queria ser assim um dia.”

Homura continuou andando. “Kaname-san. Você é importante como é.”

Enquanto Homura dobrava a esquina do corredor, Madoka buscava decifrar aquelas últimas palavras.

/人 ‿‿ 人\

O quarto andar da escola era onde ficava a sala dos clubes. Diferente das salas de aula, as paredes eram de alvenaria. A idéia era para não revelar antecipadamente, para quem passasse pelo corredor, os projetos que os clubes estavam fazendo para os festivais.

Sala 405. Homura leu mentalmente as letras miúdas que estavam naquele cartaz que ela arrancara. Ela checou os outros murais e não encontrara nenhum semelhante. Aquele era o único.

Sayaka era principal suspeita, ainda mais com o comportamento incomum na saída da sala. Contudo aquelas palavras escritas indicavam outra pessoa.

Aqui.

Homura estava de fronte a porta da sala 405. Podia não haver ninguém na sala. Podia ser apenas uma perda de tempo. Porém seus sentidos indicavam o contrário.

Sinto uma fonte de magia. Parece fraca, distante.

Garotas mágicas são capazes de camuflar sua magia. Isso era importante quando se caçava bruxas ou demônios, pois eles são capazes de sentir também. No entanto isso requer experiência.

Isso era tudo que Homura precisava para saber quem estava a esperando. Abriu a porta e se deparou com uma sala com poucos objetos. Havia alguns sacos e vasos acumulados em um canto da sala.

No outro lado da sala estava uma garota sentada ao lado de uma pequena mesa encostada na parede. A janela próxima estava aberta e uma brisa que vinha de fora balançava os grandes cachos loiros dela.

“Tomoe-san.” Homura disse com pouco entusiasmo.

“Akemi-san.” Mami respondeu.

Homura entrou na sala e trancou a porta. “Estou realmente surpresa que tenha recuperado as memórias tão rápido.”

“É mesmo? Huhu.” Mami deu um sorriso. “Eu também fiquei surpresa. Por isso que fiz esse cartaz. Eu achei que esse seria um método bem discreto para chamar sua atenção...”

Homura semicerrou os olhos. “Jura? Pois se esse era o intento, ele fora infeliz.”

“Oh!” Mami colocou a mão na frente da boca. “Desculpa se tenha lhe causado algum transtorno. Eu só queria que você não descobrisse sozinha.”

Homura começou a atravessar a sala lentamente, olhando para os lados com suspeita. “Quer me dizer que está se entregando? Devo agradecer então, isso poupa o meu trabalho.”

“É sobre isso que eu gostaria de falar.” Mami respondeu.

Homura parou no meio do caminho.

“Eu estou fazendo isso para mostrar que não sou sua inimiga, Akemi-san.” Mami falou em um tom sereno. “Você não precisa mexer com as minhas memórias.”

Por um momento, só se podia ouvir o som da brisa entrando pela janela.

Homura levantou as sobrancelhas. “Não confunda gratidão com confiança, Mami Tomoe.”

“Não há nada...”

“Não.” Homura interrompeu Mami e voltou a se aproximar

Mami estava decepcionada com aquela resposta. “Então antes de fazer... o que tem de fazer... eu queria conversar contigo.”

Homura já estava ao lado da mesa, ela levantou ainda mais as sobrancelhas. “Você ainda quer me dar conselhos?”

“Por favor!” Mami começou a implorar. “Se não é por amizade, ao menos em nome do companheirismo.”

Homura fez uma careta de confusão.

“Pelos dias que lutamos juntas contra os demônios. Por favor! Sente-se.” Mami fez um gesto apontando para cadeira no outro lado da mesa.

Homura olhou para cadeira, fechou os olhos e suspirou. “Ok.”

Ao ver que Homura havia puxado a cadeira e se sentado, Mami se sentiu mais aliviada. Ela pôs as mãos sobre a mesa. “Obrigada Akemi-san. Eu...”

Como um bote de uma serpente, Homura segurou os pulsos de Mami com firmeza.

“A-akemi-san?”

Homura sorriu. “Por que a surpresa? Em nome do companheirismo eu atendi ao seu pedido. Fufu.” Olhando para mãos de Mami, ela continuou. “Se lembra? Foi assim que eu segurei Madoka e me tornei no que sou hoje. Criando esse mundo para...”

A face de Homura ganhou traços sérios e seu olhar cresceu quando viu o anel de Mami. Ela havia sido tomada por um momento de epifania.

A fonte da magia não parece distante por estar fraca. É porque ela realmente não está aqui!

“Oh!” A expressão de surpresa de Mami mudou para um singelo sorriso. “Você descobriu dessa vez. Vejo que aprende rápido.”

Os braços da Mami se transformaram em laços, que serpentearam e enrolaram os braços de Homura.

“Eu não queria fazer isso, mas você não me deixou outra escolha.” Foram as últimas palavras da Mami antes do corpo dela se desmanchar em um amontoado de laços coloridos.

“Droga!” Homura procurou escapar, mas estava com os braços preso. Ela acabou caindo no chão antes dos inúmeros laços a enfaixarem completamente, ficando apenas com a cabeça de fora.

No chão, Homura observou um laço, outrora invisível, surgir. Ele estava conectado a ela e ia em direção a janela aberta. Então sentiu ser puxada e, sem reagir, ser levada para fora.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Um adeus