Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 4
Contraste




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/554741/chapter/4

“Ooi. Acorda!” Sayaka chutou o colchão que estava no chão do quarto dela.

Vestindo um pijama de cor vermelha, Kyouko estava dormindo nele. “Hmmm... Mami... deixa eu dormir mais um pouco...mmm” Ela nem abriu os olhos.

Sayaka, ao ouvir o nome da Mami, teve uma idéia.”Huhu~!Que pena~. Eu tinha acabado de preparar uma torta de maçã~. Ela está bem quentinha~.”

“Opa! Opa!” Kyouko se levantou em um salto. No entanto quem ela viu não era a Mami e sim uma garota de olhos e cabelos azuis com um sorriso sarcástico. Ela já estava vestida com o uniforme da escola.

“Ah...é. Estou no mundo da biruta.” Kyouko disse enquanto voltava a se deitar.

Sayaka segurou o braço de Kyouko antes que essa voltasse a encostar a cabeça no colchão. “Nananinanão! Hoje tem aula sabia?”

Kyouko revirou os olhos. “Ai. Eu não acredito! Tenho que ir pra escola. E no sábado! Não posso matar aula não?”

“Não dá. Senão ela desconfia.” Sayaka respondeu.

“Tch...” Kyouko começou a puxar o braço que Sayaka estava segurando. “Tá tá. Pode me soltar.”

Sayaka hesitou por um momento antes de soltá-la.

Kyouko caiu e rolou sobre o colchão até chegar ao chão. Então levantou-se e balançou a cabeça para jogar o rabo de cavalo para trás. “Saco.”

“Olha. Eu até deixei você dormir mais um pouco enquanto fui me trocar.” Sayaka falou enquanto observava Kyouko aparentemente procurando por algo.

“Hum. Valeu. Onde está meu kit de sobrevivência...” Kyouko foi em direção ao criado mudo. O quarto de Sayaka era típico de uma menina de classe média: cortinas e papel de parede cor de rosas, uma penteadeira, um armário, uma escrivaninha para o computador. O que chamava a atenção eram os bichos de pelúcia: criaturas aquáticas, como peixes e polvos, e um sapo usando uma coroa de príncipe, que aguardava pacientemente o beijo de uma princesa.

Kyouko se aproximou do criado mudo e viu os porta-retratos que estavam sobre ele. Continham fotos dela com Sayaka, mas eram fotos de uma ‘outra Kyouko’ no qual haviam poucas lembranças remanescentes.

“Achei!” Kyouko pegou uma caixa de palitos doces da marca Pocky de dentro da gaveta.

Se havia algo que Kyouko e a ‘outra Kyouko’ tinham em comum era o bom gosto! Os palitos feitos de biscoito doce, com uma de suas metades cobertas por uma camada de chocolate, eram a melhor coisa que tinham inventado na face da Ter...

“Merda!” Kyouko soltou a caixa, deixando-a cair no chão.

“Kyouko?” Sayaka ficou surpresa com a súbita reação de Kyouko.

Kyouko ignorou a pergunta, olhando fixamente para sua mão esquerda mais especificamente para base do seu dedo médio. Ali havia um anel com runas inscritas nele. “Merda! Merda! Merda CABELUDA!!”

Concentrando-se sua atenção naquele anel, Kyouko logo viu uma luz vermelha brilhante surgir logo acima dele. Em seguida uma jóia se materializou e suavemente pousou sobre a palma daquela mão.

A jóia tinha a forma e tamanho de um ovo. Sua base e adornos eram dourados e envolviam uma gema de cor vermelha resplandecente, mas com alguns traços de escuridão dentro dela que mais pareciam uma sujeira boiando em um meio líquido. Uma fraca luz avermelhada havia tomado conta do quarto.

“Sua gema da alma!” Sayaka exclamou, percebendo que havia esquecido algo importante.

Kyouko respirou aliviada, porém confusa. “Ela tá limpa, mas como é possível? Eu não purifiquei ela durante todo esse tempo...” Os olhos vermelhos que fitavam a jóia viraram em direção a Sayaka. “Cê sabe de algo?”

“Eu nem me toquei quanto a isso.” O olhar de Sayaka ficava alternando entre a Kyouko e a gema da alma na mão dela.

“Pô, mas cê não viu a sua não?” Incrédula, Kyouko perguntou.

Sayaka baixou a cabeça e apertou os lábios. “Bem... eu não tenho mais uma.”

Com a mão direita, Kyouko deu um tapa na testa. “Ah é. Esqueci que cê foi levada.”

Sayaka apenas balançou a cabeça de forma afirmativa.

Kyouko se concentrou e fez a jóia desaparecer. Depois pegou a caixa de Pocky que estava no chão. “Uma dor de cabeça a menos. Parece que aquela biruta acertou em alguma coisa heh.”

Aquela afirmação fez Sayaka levantar a cabeça, ela não gostou nem um pouco de ouvir aquilo e estava decidida sobre mudar o assunto da conversa. “Você se lembra de como deve agir?” Ela mal conseguiu conter a raiva no tom da voz.

Kyouko abriu a caixa e pegou um dos palitos doces com a boca. “Mmmm...’Não devo chamar a atenção’, ‘Não devo falar com Madoka’, ‘Não devo falar com Mami’, ‘Não devo usar magia e nem telepatia’ e devo ser uma ordinária garotinha que vai para escola todo o dia.”

“Essa última parte eu não me lembro de ter falado, mas é bem por aí prima. Hehe.” Sayaka deu um sorrisinho sarcástico.

Kyouko levantou as sobrancelhas, ela nem percebeu que havia engolido o palito por inteiro. “É sério esse papo de que sou sua prima?!”

“Uma prima distante.” Sayaka respondeu. “Não se preocupe que na escola você já me chamava pelo nome.”

“Heh.. além de ferrar com a minha memória, essa garota ainda tá de zoação com a minha cara.” Kyouko fechou os olhos e ficou balançando a cabeça de forma negativa.

“Você ainda se lembra de alguma coisa que aquela diabinha colocou na sua cabeça?” Sayaka perguntou em um tom sério.

“’Diabinha’? Que apelido carinhoso. Heh...” Forçando os olhos, fazendo uma careta, Kyouko revirou suas memórias. “Hmmm... Minha família morava na cidade de Kazamino.”

“Aham. Mais alguma coisa?”

“Hmm. Minha cabeça ta uma bagunça, mas...” Kyouko abriu os olhos, mas não olhou em direção de Sayaka e sim para o chão. “...eu sou órfã né.”

Houve um breve silêncio antes de Sayaka responder. “Sim. É por isso que você está conosco. Minha mãe tem a sua guarda provisória.”

Kyouko não levantou a cabeça. “E como... eles morreram.”

Sayaka abriu a boca algumas vezes, mas nenhum som saia. Ela ainda estava procurando as palavras.

“Diz aee.”

“Foi um incêndio.” Sayaka começou. “Eles estavam dormindo. ‘Você’ disse que só escapou porque tinha fugido de casa para curtir naquela noite.”

Kyouko não esboçava nenhuma reação.

Sayaka então continuou. “’Você’ estava arrependida. Dizia que se não tivesse fugido, talvez pudesse...”

“Garota idiota.”

Sayaka ficou tão surpresa com a interrupção de Kyouko que acabou esquecendo-se de fechar a boca.

Levantando a cabeça, Kyouko estava com um largo sorriso. “Bem. Vamos que vamos né? Onde está meu uniforme?”

“A..Ah..ali” Em um ato reflexo, Sayaka a pontou para roupa que estava sobre a cadeira em frente a penteadeira.

Kyouko foi em direção a cadeira e primeira coisa fez foi colocar a caixa de Pocky dentro do bolso do uniforme. “É bom estar preparada pra tudo.” Depois começou a levantar a camisa do pijama, revelando as formas sinuosas de um ventre atlético.

“Ah..um..”

Kyouko parou o que estava fazendo e olhou para uma Sayaka que estava toda vermelha e com a mão na boca. Aquilo fez ela soltar a camisa, escondendo o seu corpo novamente. “Ah é. Esqueci...”

Sayaka desviou o olhar e falou timidamente. “O banheiro fica no corredor, primeira porta a direita.”

Enquanto ouvia a explicação, Kyouko pegou o uniforme e foi em direção a porta. Antes de sair, ela virou em direção a Sayaka. “Tô vendo que vai ser divertido dividir esse quarto contigo. Senpai.”

Sayaka teria rido com aquela situação, mas as preocupações estavam ocupando a sua mente.

Homura estava com Mami ontem, talvez com Nagisa também. Espero que as duas estejam bem.

/人 ‿‿ 人\

“Uuuh. Nagiisa~.”

Um chamado. Alguém a balançando. Era um novo dia para Nagisa. A primeira coisa que ela vê ao abrir os olhos é uma loira vestindo um pijama amarelo de tema floral, com um sorriso que parecia estar iluminando mais o ambiente ao invés da luz do dia. “Mmmm... Bom dia, Mami.”

“Bom dia. Huhu.” Mami procurou conter o riso com a mão.

Passando a mão no olho para tirar o sono, Nagisa estranhou a reação de Mami. “O que foi?”

“Ah! Nada demais. É que. Huhu. Acho que você dormiu de mau jeito.” Após recuperar a compostura, Mami foi saindo do quarto. “Enquanto você se arruma, eu vou preparar o café da manhã.”

Nagisa apenas balançou a cabeça, concordando, sem entender o que a Mami queria dizer com aquilo. Ela não estava sentindo nenhuma dor ou torcicolo. Apenas estava sentindo a cabeça pesada, como se a noite tivesse sido mal dormida.

Saindo da cama, Nagisa foi em direção ao banheiro. Ela estava precisando lavar o rosto para acordar de vez. Durante o trajeto, ela sentiu o cheiro de queijo parmesão no ar. Ela não entendia o porquê de ela ter certeza que era queijo parmesão, mas ela tinha.

Chegando ao banheiro, a primeira coisa que fez foi se ver no espelho. Ela abriu e fechou os olhos várias vezes para ter certeza que aquele era o reflexo dela. Agora ela tinha entendido o que a Mami disse: estava péssima! Seu longo cabelo prateado estava todo arcado e embaraçado. Havia muita remela e uma mancha de baba seca no canto da boca.

Nagisa tratou de lavar vigorosamente o rosto. Ao terminar, ela concluiu que já parecia mais humana. Riu. Contudo havia ainda muito trabalho a ser feito. Pegou a escova para cabelo no balcão da pia e escovou com força. Só parou quando seu braço começou a reclamar da fadiga. Mesmo assim ainda havia duas mechas de cabelos rebeldes que se recusavam a ficar no lugar.

“Uhum!” Uma idéia passou por Nagisa e ela voltou correndo para o quarto. Vasculhando uma das gavetas, guiada por suas lembranças, encontrou duas chucas amarelas. Com agilidade, prendeu cada uma das mechas rebeldes. Se ela não podia resolver um problema, ao menos podia deixá-lo bonito!

“Nagiisa~!” Mami chamou para o café.

“Jááá vaaaaii!” Nagisa pressionou suas bochechas com ambas as mãos e fez um biquinho. Agora só faltava a vestimenta. O armário do seu quarto não tinha tanta variedade quanto o da Mami, já que ela não estava morando há muito tempo ali. Ainda assim ela tinha dificuldade de escolher dentre os vestidos de bolinha, seu modelo favorito. No entanto, talvez devido alguma inspiração, ela logo decidiu o que iria vestir.

Mami já estava de uniforme e havia preparado a mesa, que era de formato triangular e feita de vidro. Era baixa também, sendo necessário que uma pessoa sentasse no chão para utilizá-la adequadamente. Mami tinha a disposição inúmeras almofadas para tornar isso mais confortável.

A sala tinha grandes janelas, onde podia ter uma visão panorâmica da parte moderna da cidade. Mami estava observando a cidade acordando aos poucos quando ouviu passos no assoalho de madeira.

Nagisa chegou na sala usando um vestido amarelo com bolinhas pretas.

“Huhaha.” Mami dessa vez não conseguiu se conter.

“Hã? Não está bom?” Nagisa passou mão em uma das chucas que prendia o cabelo.

“Haha. Não é isso.” Mami balançou a cabeça. “É que esse vestido...não sei porquê veio isso na minha cabeça. Desculpe...haha”

Nagisa ficou olhando para o vestido. Estava ficando vermelha de vergonha.

“É que ele faz você parecer um pedaço de queijo. É uma besteira minha. Desculpe, desculpe.” Mami gesticulou com a mão um ‘deixa disso’.

Nagisa surtou. “Gaah! Gaaaaaaah! E se alguém da escola achasse o mesmo? Por que eu tenho esse vestidooôô?”

Mami colocou ambas as mãos no rosto. “Perdoe-me. Esse vestido é bonito. É eu que estou estranha hoje. Eu não estou medindo as palavras direito.”

“Nunca mais vou usar esse vestido.” Nagisa, emburrada, começou a virar com a intenção de voltar para o quarto.

“Espere!” Mami estendeu o braço em direção a Nagisa. “Primeiro vamos comer juntas. Depois você vê outro vestido. Ok?”

Nagisa queria tirar aquele vestido o quanto antes, mas o estômago já estava reclamando. Nagisa não falou e nem fez gesto algum, apenas caminhou e sentou em uma das almofadas próximas da mesa.

As duas começaram a comer em silêncio. Mami, incapaz de suportar aquele ambiente, o quebrou. “Nagisa. Sabe o que aconteceu com os biscoitos que estavam no pote?”

“Não.” Nagisa respondeu enquanto mordia um pedaço de torrada com geléia de uva. Ela ainda estava remoendo sobre o vestido.

“Eu jurava que nós tínhamos um pote cheio. Só que quando entrei na cozinha...” Mami deu sorriso. “Aproveitar que hoje é sábado. Vamos ao mercado de tarde e comprar biscoitos e também ingredientes para um bolo. Hum? Que tal?”

“Oba.” Nagisa abriu um sorriso. Ela reconhecia o quanto Mami estava se esforçando para agradá-la. Foi nessa hora que ela se lembrou de algo.

“É parmesão?” Nagisa apontou para um prato com cubinhos de queijo.

“Oh? Não não. É provolone.” Mami pegou o prato e ofereceu para Nagisa. “Quer?”

“Ah. Claro.” Nagisa pegou um dos cubinhos.

Antes de pôr na boca, Nagisa cheirou aquele cubinho para ter certeza. Realmente não era o mesmo aroma. Fechou os olhos. Degustando, logo reconheceu o forte sabor provolone piccante. Sua mãe gostava mais da variante dolce, combinava melhor com as sobremesas. Claro que para preparar um cheesecake, sua sobremesa favorita, ela usava ricota por ser mais leve. Sua mãe queria tanto um cheesecake quando estava internada no hospital...

“BEBE!”

Nagisa abriu os olhos, assustada com o grito da Mami. Ela viu que Mami tinha se levantado. Ela estava pálida e com os olhos arregalados.

Tremendo, Mami apontava para Nagisa. “B-bebe. S-seu rosto...ah..seus o-olhos. AH.”

Nagisa não sabia, mas ela tinha sofrido uma transformação. A pele de seu rosto tinha adquirido a cor branca pura, salvo suas bochechas que tinham um círculo de cor amarela cada. A boca era maior, seus lábios eram roxos. Os olhos eram um verdadeiro arco-íris: uma das escleras era vermelha, a outra azul, e a íris era metade amarela, metade azul claro.

“Ah. O que...” Nagisa tapou a própria boca com a mão. Aquela voz não era de uma menina, mas gutural como dos monstros dos filmes de terror.

Se aquela voz não assustou Mami mais ainda, bastou descobrir que não só os lábios como toda boca por dentro era roxa, incluindo a língua. E lá dentro residia uma arcada de grandes dentes afiados, como os de um tubarão.

“Kyyaaaahh! Bebe.” Mami escondeu o rosto. Aquilo era um pesadelo, não havia outra possibilidade. Ela tinha que acordar.

Porém não acordou.

O susto havia passado e a curiosidade voltara a superar o medo. Mami observou Nagisa pelo canto do olho.

“Ah...Hãããã?! HÃÃÃ!” Nagisa havia puxado sua enorme língua roxa para fora da boca com uma das mãos. Estava em choque. Seus olhos literalmente rodopiavam!

Bebe?

Mami se deu conta. Por que esse nome? Por que estava chamando Nagisa assim?

/人 ‿‿ 人\

“Ela descobriu!” Mami estava de quatro no chão, sentindo-se completamente derrotada.

“Mamiii. Está tudo bem. Estamos bem.” Nagisa, com sua aparência tendo voltado ao normal, procurou confortar.

“Não. Acabou. Estamos perdidas.”

As duas haviam acabado de recuperar as memórias. A última coisa que Mami se lembrava era de estar na enfermaria com Homura.

Mami balançava cabeça, lágrimas caiam no chão. “Ela veio aqui não veio?”

Nagisa se ajoelhou e abraçou da melhor forma que pode. “Sim. E ela mexeu com as nossas memórias, mas...” Ela sentia o soluçar de Mami. “...nós já recuperamos. Passou.”

Mami se desvencilhou do abraço. “Não entende?” E ficou sentada no chão. “Ela vai voltar, agora que ela sabe.”

“Mami...” Nagisa não tinha palavras. Ela sabia que era verdade o que Mami estava dizendo. Homura Akemi, de agora em diante, iria persegui-las com freqüência.

Mami abraçou os próprios joelhos, seu olhar estava perdido. “Eu segui seu conselho. Você disse que era só esperar. Que Madoka ia recuperar seus poderes e acabar com isso.”

Sentindo-se culpada, Nagisa baixou a cabeça. “Eu sei que ainda não aconteceu, mas é verdade.”

Houve um breve silêncio.

“Eu não fiz nada.” Um novo par de lágrimas escorria pela face de Mami. “Absolutamente nada. E mesmo assim ela me machucou.” Ela se levantou e foi até a mesa pegar um guardanapo para enxugar as lágrimas e fungar o nariz. “Mas se ela o monstro que é agora, é por causa de mim.”

“Mami?” Nagisa ficou perplexa com a afirmação.

“A culpa é minha.” Mami estava convicta.

“Não!”

“Sim. Eu devia ter sido uma verdadeira amiga.” Mami deu um sorriso de nostalgia. “Sabe Bebe. Quando conheci Akemi-san, fui a única que acreditei no que ela dizia. Madoka. Bruxas. Kyouko e Miki-san sempre acharam que ela era estranha e mal se lembravam sobre o que ela dizia.”

Mami olhou para guardanapo úmido que estava em sua mão e o esmagou. Seu sorriso se foi. “Só que depois percebi. Eu acreditei nela porque queria que ela fosse nossa amiga. Acreditei por conveniência.”

Nagisa fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente. “Você não tinha como saber que Madoka existia. Não é justo se culpar assim!”

Mami ponderou por um momento. “Talvez. Porém agora eu sei. Eu devo me redimir.” Então ela olhou para Nagisa. “Eu vou conversar com a Akemi-san.”

Nagisa arregalou os olhos. Ela agarrou o uniforme de Mami e começou a puxá-lo repetidas vezes. “Não! Mami! Ela não vai escutar você!”

“Não adianta mais se esconder. Eu tenho que mostrar a ela que não somos inimigas. Assim quem sabe ela nos deixa em paz.” Mami sorriu e passou a mão na cabeça de Nagisa. “E se eu falhar... ela só deve mexer com as minhas memórias de novo.”

“Ela pode fazer algo pior. Ela pode...” A voz de Nagisa havia ficado chorosa. Ela afundou o rosto no corpo de Mami.

Mami sentiu que sua roupa estava ficando úmida.

“Eu não quero perder você também.” Nagisa revelou sua face com lágrimas.

Mami soltou o guardanapo. Durante aquela afirmação, Nagisa ficara por um instante com o rosto branco e os olhos multicoloridos.

“Nagisa...” Mami deixou que Nagisa novamente escondesse seu rosto nela. “Você não vai me perder. Eu sei que Akemi-san tem certa consideração por mim.”

Mami se lembrava daquela luta com Homura quando esta ameaçou Bebe. Houve um momento que garota de longos cabelos escuros viu que poderia matá-la, mas mesmo assim não o fez.

Nagisa soltou Mami. “Você não vai mudar de idéia...”

“Eu vou tomar precauções. Vai ser algo planejado. Eu não sou boba.” As afirmações de Mami não eram só para assegurar Nagisa como ela mesma também.

Nagisa fez sim com a cabeça, ainda muito triste.

Mami olhou para o relógio que estava pendurado na parede. “Vamos chegar atrasada para escola. Temos que ir ou Akemi-san pode desconfiar.”

Nagisa continuou em silêncio.

“Podemos conversar mais sobre isso na volta hum?”

Nagisa dessa vez respondeu. “Não. Você tem razão. Não vai dar de continuar como era antes.”

Mami segurou ambas as mãos de Nagisa. “Bebe. Eu vou lutar para que nós sejamos felizes. Eu prometo.”

/人 ‿‿ 人\

O canal de Mitakihara é um lugar popular onde muitas famílias passam seus momentos juntos. Naquela tarde de sábado ensolarado, isso não seria diferente.

Próximo ao canal o solo era composto de areia. Alguns até poderiam arriscar em dizer que aquilo era uma ‘praia’.

Uma garota de cabelos cor de rosa, que ainda estava com o uniforme da escola, desenhava na areia com um graveto enquanto um menino de uns três anos estava sentado ao lado observando.

Madoka Kaname havia terminado a sua obra de arte: um zé palito que usava óculos. “Ei Takkun. Quem é essa pessoa?”

O menino pegou um punhado de areia e jogou para cima com alegria. “Papa! Papa!”

Madoka protegeu os olhos. “Ai! Wehihi. Não joga areia assim.” Depois voltou a desenhar na areia. “Sim é o nosso pai. Vou desenhar a família toda.”

O menino se levantou e bateu na calça para tirar a areia. “Vou ajudar.”

Madoka estava distraída com o desenho. “Uhum. Só precisa de um graveto.”

Ele não precisava de só um graveto qualquer. Não podia ser muito fino e nem muito grosso. Tinha que ser um que nem a sua irmã estava usando. Ele ficou olhando envolta, mas não parecia haver nenhum.

Durante sua busca, algo chamou a atenção do menino. Havia uma menina sentada no barranco gramado, que fazia divisa entre a linha de areia e o calçadão. Ela estava com um vestido escuro e observava os dois com um sorriso.

Atraído por aquela curiosa figura, o menino correu em direção a ela.

Ao notar o menino vindo em sua direção, a menina parou de sorrir. Ela se levantou com certo ar de surpresa.

Ele parou perto dela e agora podia vê-la com mais detalhes. Os olhos dela eram da cor violeta e tinha longos cabelos pretos. O vestido era um tomara que caia preto colante e com um ousado decote. As costas estavam completamente expostas até abaixo da linha da cintura. O vestido terminava em uma cauda feita de penas de ave escuras, a parte interna da cauda tinha tons roxos. As luvas que ela usava também eram pretas e eram compridas, cobriam quase todo o braço. Calçava sapatilhas e vestia uma meia calça com tema de losangos que chegava até as coxas, mas não as cobriam completamente.

O menino não se importou com a aparência dela, que teria chamado a atenção de qualquer um que passasse por ali. “Oi!”

Como se fosse resposta aquele cumprimento, um par de asas surgiu nas costas daquela menina. Não eram asas como os de uma ave: era mais uma armação de cor branca com longas penas escuras penduradas lado a lado. Parecia ser uma fantasia.

“OOOohhhh!!” Os olhos do menino arregalaram. “Anjo!”

Incrédula, a menina levou a ponta de um de seus dedos ao seu próprio queixo e voltou a dar um sorriso. “Anjo? Fufu. Você está enganado Tatsuya Kaname. Eu sou exatamente o oposto.”

A menina esticou o outro braço e pegou um tomate em pleno ar que estava voando ao seu encontro.

“OOOohhhh!!” Tatsuya bateu palmas com aquele feito.

“Não deixe de comer os tomates em suas refeições, Tatsuya. Eles fazem bem a saúde.” A menina se abaixou e ofereceu o tomate.

Era um tomate muito grande. Tatsuya tentou colocá-lo na boca para morder, mas não conseguiu.

“Fufu. Agora volte para sua irmã. Não quero vê-la preocupada.” O sorriso abriu-se ainda mais. Os olhos da menina brilhavam.

“Tá.” Tatsuya não sabia se olhava para ela ou para aquele tomatão.

A menina não disse mais nada. Levantou, virou-se e deu um salto. Ao contrário das aparências, aquelas asas realmente permitiam ela voar.

“OOOohhhh!!” Tatsuya ficou maravilhado ao testemunhar aquilo.

“Tat.Su.Ya. Kaname!”

Ele olhou para trás e viu sua irmã chegando.

“Não posso tirar os olhos de você nem por um segundo?” Madoka colocou as mãos na cintura. Ela tentava impor o tom mais repreendedor possível, mas sem muito sucesso.

“Óó.” Tatsuya mostrou o tomate.

“Uh? Que tomatããoo!” Madoka ficou de boca aberta.”Onde você conseguiu isso, Takkun?”

“Anjo!” Tatsuya apontava pra o céu, na direção onde aquela menina tinha ido.

Madoka olhou para a direção que Tatsuya apontava.

“Anjo! Anjo!” Tatsuya pulava excitado.

Madoka balançou a cabeça, sorrindo. “Wehihi. Um anjo dando um tomate. Quanta imaginação.”

Tatsuya não deu bola para o descrédito de Madoka. Seu interesse agora era aquele tomate enorme.

“Vamos mostrar esse tomate para o papai. Ele vai ficar com inveja quando você mostrar que tem um maior que os lá de casa.”

“Hehehtschh.” Tatsuya riu com as línguas entre os dentes.

Madoka pegou o irmão no colo com dificuldade, ele estava ficando muito pesado, e então partiram em busca do pai naquela tarde feliz para as famílias de Mitakihara.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Convite informal