Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 3
Memórias em ruínas




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“Kyoooukoooo! Vamos! O sol está se pondo!”

Uma garota com longos cabelos vermelhos que, mesmo usando um rabo de cavalo amarrado com um laço preto, chegavam à cintura. Ela estava vestindo o tradicional uniforme da escola de Mitakihara e estava na frente de uma banca de frutas e verduras. Ela estava recebendo do vendedor uma sacola de papel contendo as maçãs que ela acabara de comprar quando ouviu seu nome.

Ela virou na direção de onde veio a voz e seus olhos vermelhos encontraram uma garota de cabelos azuis que, ao contrário dela, eram tão curtos que nem chegavam aos ombros. Essa garota vestia o mesmo uniforme que ela e sua face, contendo olhos de uma cor azul como o céu, apresentava impaciência.

“Perae Sayaka. Só deixa eu terminar de negociar com o bacana aqui.” Kyouko, se referindo ao vendedor, deu um sorrisinho de lado. Era bom bajular um pouco o homem, pois as maçãs estavam muito caras!

Sayaka se aproximou de Kyouko e a puxou pelo braço. “Para de enrolação e vem logo!”

“Tch...” Kyouko conseguiu soltar o braço, abriu a bolsa que ela levava para escola e pegou o dinheiro. “Ô bacanão. Tá aqui a grana.” Kyouko joga as moedas sobre o balcão, algumas saem rolando e caem pelo chão, para desespero do vendedor.

“Kyouko!” Sayaka não ficou nem um pouco feliz com atitude de Kyouko.

“Não queria que eu viesse logo? Hein?” Kyouko disse enquanto procurava na sacola a primeira maçã que ela iria comer.

“Não dava para pensar em comida só na volta? Agora a gente vai ter que correr se quiser chegar lá.” Sayaka disse enquanto já apertava o passo para iniciar uma corrida.

“Dava se esse ‘lá’ não fosse lááááá na parte antiga da cidade.” Kyouko respondeu rispidamente enquanto acompanhava o passo de Sayaka com dificuldade, agora que carregava um peso extra. “Eu tenho que repor as energias agora.”

Kyouko Sakura está morando de favor na casa da Sayaka Miki faz alguns meses e as duas saem junto da escola. Algumas vezes elas pegam um ‘desvio’ no caminho de casa. Geralmente o fliperama ou o shopping, algumas vezes vão comer alguma besteira também. No entanto hoje não havia um ‘desvio’ planejado, mas na saída da escola Sayaka a convidou para conhecer um lugar muito especial. Agora que Kyouko sabe que esse lugar fica na parte antiga da cidade, ela não tem tanta certeza assim que é ‘especial’.

“Eae Sayaka? Falta muito?” Kyouko já estava na quarta maçã.

“Não. Eu acho que você já vai ver.” Sayaka ainda estava na dianteira.

“Cê acha? Não sabe onde fica?” O sangue de Kyouko começava a ferver.

“Bem... é que pode não estar mais lá.” O final da resposta de Sayaka foi quase inaudível para Kyouko.

“Ah! Então é um daqueles parques de diversões que fica mudando de cidade?” Kyouko começou a acalmar, imaginando que uma sessão de carrinho choque com Sayaka pudesse compensar aquela jornada.

“Não não. Eu vou te mostrar quando a gente chegar lá.” Sayaka olha para trás para ter uma idéia de como estava humor de Kyouko.

“’Chegar lá’. Tá bom nééé.” Kyouko apresentava uma face de poucos amigos.

Kyouko já não tinha esperanças de que tal lugar fosse algo divertido. A parte antiga de Mitakihara é famosa por suas construções de pedra e alvenaria, diferente do vidro e metal da parte moderna. A única coisa que poderia ser interessante nesse lugar seria uns restaurantes finos, mas elas não tinham dinheiro e nem vestimenta para entrar em um deles.

Sayaka subitamente parou de correr, a face dela apresentava surpresa e alegria. “Achei!”

“Finalmente!” Kyouko parou ao lado de Sayaka. Ela estava procurando na sacola a sexta maçã que ela iria comer, enquanto ela olhava em volta procurando o tal lugar ‘especial’ da Sayaka.

Kyouko constatou que não havia nada de especial naquelas redondezas, exceto uma grande construção que ficava no meio de um pátio tomado pelo mato. Suas paredes de pedra continham vários vitrais, muitos deles quebrados. A entrada era uma imensa porta de madeira que ficava em uma torre no centro. O que chamou a atenção de Kyouko era arquitetura de forte influência estrangeira, mas que ela sentia certa familiaridade.

“Ôôô Sayaka. O lugar que você queria me mostrar é aqui?” Kyouko apontou para a construção aparentemente abandonada.

“Sim.” Sayaka ainda estava com um grande sorriso estampado.

“C-cê tá brincando né? Isso aqui é uma igreja!” Kyouko ficou com olhos arregalados, mais de surpresa do que de raiva.

“Bem...é...hehe” Sayaka coloca mão atrás da cabeça e começa a coçar enquanto dava um sorriso sem graça. Porém sua face muda repentinamente, seus olhos ficam arregalados como os da garota ao lado dela e seu sorriso desaparece. Ela olha fixamente para Kyouko e pergunta. “Como você sabe que é uma igreja?”

Kyouko abriu a boca prontamente com intuito de dizer ‘é óbvio’, mas ela hesitou. Seria óbvio? Por que isso foi a primeira coisa que passou na minha cabeça? Nesse momento ela notou na Sayaka um semblante de ansiedade. Parecia que a resposta aquela pergunta era de suma importância.

“Eu vi que aquilo tá cheio vitrais. Igreja tem vitrais né? Então eu deduzi. Duh!” Não era por isso que a palavra igreja veio primeiro, mas Kyouko não queria parecer idiota.

A face de Sayaka era só tristeza, não era aquela a resposta que ela tanto esperava. “Você está certa Kyouko. Bem... o que eu quero te mostrar está lá dentro. Vamos?” Sayaka entrou no pátio tomado pelo mato, em direção a porta da igreja.

Kyouko, com mesma mão que descartara a sexta maçã que havia acabado de comer, puxa o braço de Sayaka. “Ei Sayaka!”

“O que foi??” Sayaka já estava acostumada com a impulsividade de Kyouko, mas algumas vezes ela ainda se assustava.

Kyouko estava com olhar inquisitivo e penetrante. “Cê não tá em um ‘daqueles momentos’ né?”.

Algo que sempre deixava Kyouko preocupada era com a flutuação de humor de Sayaka. Tinha momentos que Sayaka estava feliz e as duas se divertiam muito. Em outros momentos Sayaka estava chorando por nada e ficava paranóica, temendo que alguém a estivesse observando. Kyouko tinha medo que Sayaka um dia ainda cometesse alguma loucura.

“E se eu disser que sim? Vai desistir? Depois dessa caminhada toda? Eu realmente queria te mostrar o que tem lá dentro.” Sayaka falou com determinação.

“Desistir? Eu? Há! Só não quero carregar uma chorona na volta hein?” Kyouko soltou braço de Sayaka. Ela não iria desistir, ainda mais quando a curiosidade já falava mais alto.

“Combinado!” Sayaka levantou o braço que Kyouko acabara de soltar e fechou o punho.

“Assim que manda garota!” Kyouko cerrou o punho também e deu um soco no de Sayaka, firmando o acordo.

As duas atravessaram o pátio e chegaram até a grande porta de madeira. Sayaka tentou abrir a porta, mas não conseguiu.

“Ah droga!”

“O que foi?” Sayaka voltou sua atenção para Kyouko. Ela viu que Kyouko havia pegado outra maçã do saco, que agora estava completamente vazio.

“Eu devia ter comprado mais.” Kyouko amassou o saco e jogou no chão.

“Ei!” Sayaka, com uma expressão zangada, colocou as mãos na cintura.

“Ah para né? Não vai bancar a certinha agora. Esse lugar é abandonado.” Kyouko revirou os olhos.

“Tá tá! Me ajuda a empurrar a porta. Acho que ela está emperrada.” Sayaka voltou para a porta e pôs as duas mãos nela.

“Okay.” Kyouko segurou a maçã com a boca e foi até porta fazer o mesmo que Sayaka.

“No três.” Sayaka disse.

“Mmff.” Kyouko assentiu com a cabeça.

“Um. Dois. TRÊS!”

As duas empurraram com toda a força. A porta se mexeu um pouco para atrás, mas não abriu.

Kyouko foi a primeira a parar. Ela tirou a maçã da boca, mas não antes de arrancar um bom pedaço.

Sayaka parou também. “Que droga! Não abre. Parece que tem algo no outro lado segurando ela.”

Balançando seus longos cabelos vermelhos, Kyouko virou a cabeça. Ela voltou a observar a construção que as duas pretendiam invadir.

“Quando foi a última vez que cê veio aqui Sayaka? Foi antes de eu ir morar na sua casa?”

Houve uma breve pausa antes de Sayaka responder. “Sim. Foi.”

“E naquela vez cê conseguiu abrir a porta?” Kyouko, vendo que Sayaka estava demorando em responder, abocanhou mais um pedaço da maçã.

“Sim. Claro...” Sayaka respondeu como se estivesse se lembrado de algo.

Sem notar isso, Kyouko continuou. “Olha. Acho que a gente pode tentar entrar por um desses vitrais quebrados. Só vamos ter que ter cuidado para não se c...”

Kyouko foi interrompida pelo som de um impacto e da madeira se quebrando. Seus olhos se arregalaram ao ver que Sayaka havia não aberto, mas sim derrubado a porta com um chute!

“QQQUUUÊÊÊÊ?! Aonde cê anda malhando garota.”

“Eu acho que essa caminhada deixou as minhas pernas fortes. Hehe” Sayaka ficou coçando a cabeça.

Depois de se recuperar da surpresa, Kyouko descobriu o que estava bloqueando a porta: dentro da construção o mato também havia tomado e tinham inúmeros entulhos e tábuas de madeira no chão fazendo companhia.

“Vamos Kyouko! Eu quero te levar até o altar.” Sayaka adentrou-se, caminhando sobre a porta caída.

“Há! Então cê quer se casar comigo.” Kyouko, falando em tom de brincadeira, entrou também.

“Hahaha. Só se você lavar a louça todos os dias.” Sayaka respondeu.

“Vai sonhando.”

O altar que Sayaka mencionara era um palanque que ficava exatamente no outro lado de um grande salão, em relação à porta por onde elas entraram.

“Cuidado para não tropeçar.” Sayaka ficava apontando para todo de tipo de entulho que se encontrava no chão.

As duas chegaram até um lance de escadas que levava até o palanque. Os degraus eram feitos de simples tábuas de madeira.

“Ôô Sayaka. Essa escada é segura?” Kyouko parou de seguir Sayaka antes que as duas começassem a subir.

“Eu não disse que já vim aqui? Está com medinho?” Sayaka olhou par Kyouko com um olhar confiante e sorrindo.

Sem procurar responder a pergunta, Kyouko passou por Sayaka e começou a subir a escada.

Quando as duas chegaram lá em cima. Kyouko aproveitou para observar o salão onde elas estavam, enquanto terminava de saborear a maçã. O teto era alto e feito de pedra. As paredes eram praticamente compostas apenas de vitrais de todos os tamanhos. Muitos deles estavam quebrados, mas observando os que estavam inteiros, podia-se apostar que eram muito bonitos. A luz laranja do sol se pondo dava o toque final, trazendo calor a um lugar tão frio e vazio. No entanto uma cortina escura estava descendo sobre aquele ambiente. Em um minuto ou dois, tons laranja seriam substituídos pelo breu da noite.

Sayaka ficou observando as reações de Kyouko. Ironicamente ela teria que agradecer Homura por ter recriado o mundo com tanta perfeição, incluindo a igreja onde elas estavam. Sayaka viu sua amiga terminar de comer a maçã e ficar mordiscando os lábios com um dos dentes canino.

“Esse é o lugar. E então? O que achou?” Sayaka juntou as mãos em forma de oração, buscando conter certa agitação.

“Ééé... Até que devia ser bonito aqui, mas devia sempre ser chato também.” Kyouko arremessou a maçã comida em direção a escada.

Sayaka ficou observando a maçã quicando degrau a degrau até parar no chão. “E você não sente nada?”

“Como o quê? Espíritos? Buuuu” Kyouko fez uma careta. Vendo que Sayaka não respondeu a brincadeira, ela continuou. “Não senti nada.”

Sayaka ficou cabisbaixa. “E seu eu te disser que...”

A cortina escura continuava a descer.

“... essa era a igreja de seu pai?”

A face de Kyouko congelou, salvo uma veia na testa que tinha acabado de saltar para fora. Ela respirou fundo e respondeu. “Se isso era para ser uma brincadeira...Tch...” Kyouko parou por um momento e deixou seus dentes à mostra. Ela respirou mais uma vez. “E meu pai era ateu.”

“Desculpe.” Sayaka ainda cabisbaixa, respondeu em um tom baixo e choroso.

Kyouko voltou a sorrir. “Ei. Ei... O que a gente combinou?”

“Desculpe.” Sayaka respondeu ainda em tom baixo, porém não era mais choroso.

A cortina escura estava quase alcançando o palanque.

“Olha.” Kyouko colocou a mão em um dos bolsos do seu uniforme. “Cê teve o maior trabalho de me trazer aqui. Então acho que devo recompensar a minha priminha querida.”

Sayaka estava cabisbaixa, mas ela notou que Kyouko havia retirado uma maçã do bolso e estava oferecendo para ela. “Kyouko? Você...”

“Eu estava barganhando lá. Entendeu? Cê não me deixou terminar. Então tive que compensar o gasto.” Kyouko deu uma piscadela.

Furiosamente, Sayaka deu um tapa na maçã que a fez voar e se perder no meio do mato e dos entulhos daquele salão.

Kyouko avançou com raiva em direção a Sayaka e a chacoalhou. “Que merda que cê tem na sua cabeça hein? Cê sabe que...que eu...” O chacoalhar para. Os olhos de Kyouko começaram a se mexer de um lado para outro, como se estivesse procurando algo.

Notando que Kyouko havia passado da raiva para confusão, Sayaka voltara a levantar a cabeça. “Kyouko?”

Kyouko soltou Sayaka e começou a se afastar. “Perae Perae...hum...isso já aconteceu?”

Não deixando ela se afastar mais, Sayaka abraçou-a. “Kyouko! Você se lembra?”

A cortina alcança as duas garotas. Por um momento, a escuridão as poupa das mentiras que as rodeiam. Apenas os sentimentos continuavam presentes.

“Ei Sayaka.” Kyouko fala bem baixinho.

“Sim...” Sayaka naquele momento não sabia discernir a quem pertencia aquelas batidas do coração.

“Por que eu ainda estou vestindo esse uniforme idiota?” Kyouko retornou o abraço de Sayaka.

Lágrimas de alegria começaram a deslizar sobre a face de Sayaka. É... Eu não consegui cumprir o combinado.

/人 ‿‿ 人\

“Hahaha! Eu sabia! Eu sabia que aquela garota era biruta! Hahaha! Mas isso? Hahaha! É ridículo!” Kyouko estava olhando para lua que estava erguendo no céu. Uma lua que havia sido literalmente cortada pela metade!

As duas estavam caminhando pelas ruas de Mitakihara, voltando para a casa. A mãe de Sayaka já devia estar furiosa, mas essa era uma das menores preocupações.

“Você acha que ela é insana?” Sayaka já havia deixado Kyouko a par sobre o que Homura Akemi havia feito.

“Claro né! As mais quietinhas é que são perigosas.” Kyouko continuava olhando para a lua. “Quando nós caçávamos demônios, ela só abria a boca para falar sobre aquela Madoka. Se lembra?”.

Kyouko olhou para Sayaka e viu que sua amiga de cabelos azuis tinha ficado com a cara fechada.

“Tá. Agora sei que ela existe mesmo e pá...” Kyouko esperou por alguma resposta de Sayaka, mas sem sucesso. “Ei. Tem notícias da Mami?”

Agora Kyouko havia obtido uma reação: Sayaka arregalou os olhos e baixou um pouco a cabeça.

Kyouko parou de andar. “Sayaaaka. O que houve?”

Sayaka parou também. “Eu queria falar sobre isso em outra hora.”

“Essa hora é agora. Vai fala ae.” Kyouko estava com o corpo completamente tenso.

Sayaka respirou fundo antes de falar. “Foi hoje no final da aula. Sabe quando você estava na máquina de venda de doces? Foi nessa hora que eu vi...” Sayaka estava preocupada com o que as próximas palavras significariam para Kyouko. “...Mami-san junto com a Homura Akemi.”

“Tá. E ae?” Kyouko continuou ouvindo.

“Bem... eu apostei que ela estava distraída com a Mami-san e então me arrisquei e te trouxe até a igreja. O resto você sabe.” Sayaka sorriu para Kyouko.

Kyouko começou a fechar os punhos. “Cê acha que a biruta vai fazer algo com a Mami?”

Sayaka já estava suando frio. Se Kyouko fosse atrás da Mami, ela poderia por tudo a perder. “Ela vai ficar bem. No máximo, ela será lobotomizada.”

“LobOQUÊÊ?!!!”

Sayaka deu um pequeno salto com a reação de Kyouko. Ela olhou para os lados para ver se aquela cena não tinha chamado a atenção de ninguém. Felizmente não era o caso.

“Calma Kyouko. Só foi um jeito de falar. Hehe. O que eu quero dizer é que no máximo as memórias da Mami-san serão alteradas de novo.”

“E isso não é RUIM?” A agitação de Kyouko continuava.

“É, mas é reversível. Como você pode atestar.” Sayaka deu o maior sorriso que conseguia para reduzir a tensão.

Aos poucos, Kyouko relaxou sua postura.

“Vamos para casa. Ok? Precisamos descansar e comer.” Sayaka deu uma piscadela ao terminar a frase.

“Heh. Um rango ia ser uma boa...” Estava mais calma, mas Kyouko não demonstrou muita simpatia com a sugestão de Sayaka.

As duas voltaram a andar lado a lado. Mal passou um quarteirão e Kyouko perguntou. “Quantas vezes a minha memória já foi alterada?”

Sayaka, surpreendida pela pergunta, demorou um pouco para formular uma resposta. “Olha. Essa é a primeira vez que você recuperou suas memórias.”

“Sério?”

“Sim. Por isso terei que ensinar a você tudo o que sei para não ser pego por aquela traíra. Certo?” Sayaka deu um empurrão em Kyouko e desatou a correr. “NOVATA!”

“NOVATA?! Volta aqui! Vou te mostrar quem é a novata!” Kyouko passou a perseguir Sayaka.

“HAHAHAHAHA!!!”

Apesar dos pesares, Sayaka estava feliz. Pela primeira vez ela tinha conseguido recuperar a memória de sua amiga. E ela esperava um dia conseguir o mesmo feito com Madoka.

/人 ‿‿ 人\

Mami Tomoe observou a lua através da janela de seu apartamento. Apesar de estar cortada pela metade, ela brilhava majestosamente. “Não quer mesmo que eu chame um táxi, Saitou-san?”

“Não precisa. Eu sei me cuidar.” Homura deu um singelo sorriso enquanto as duas se dirigiam até a porta saída.

Já era hora de Homura partir, depois de uma noite de chá e biscoitos no apartamento de Mami. A visitante já se encontrava no lado fora enquanto que a anfitriã ficara cuidando da porta.

“O que achou dos chás que eu preparei?” Mami perguntou em uma voz serena.

“Estavam excelentes. Especialmente o preto.” Homura respondeu prontamente.

Mami ficou um pouco corada. “O chá preto? Huhu. Acho que eu acabo preparando ele com mais carinho por ser o meu favorito.”

“Certamente.” Homura disse, fechando os olhos.

Virando a cabeça, Mami exclamou. “Nagisa!”

Os olhos de Homura voltaram a abrir. Os poucos traços de simpatia que ela estava apresentando se foram.

Logo uma mecha de cabelo prateado surgira, denunciando que alguém estava atrás da Mami. Uma mão pequena agarrou o lado direito do uniforme dela e então, timidamente, a face de uma menina de olhos alaranjados apareceu.

“Nagisa. Eu quero que você se despeça da Saitou-san.” Mami carinhosamente afastou a franja de Nagisa para o lado.

Nagisa não dirigia o olhar para Homura. “Tchau... Saitou-san.” Dizendo em tom baixo.

“Ela é sempre tímida assim?” Homura perguntou sem tirar os olhos de Nagisa.

“Huhu. Não não. Ela é bem sapeca até. Acho que ela estranhou um pouco. Só isso.” Nesse momento, Mami sentiu que a mão de Nagisa havia apertado o uniforme dela com mais força.

“É...eu assusto ás vezes. Fufu” Homura voltou a olhar para Mami.

“Ora! Ora! Deixa disso! Você já é bem vinda aqui.” Mami pousou sua mão em seu peito. ”Venha me visitar mais vezes. Ela vai se acostumar com você. Aí vai saber como ela me dá trabalho. Huhu”

“Fufu. Imagino.” Homura jogou o cabelo para trás. “Tomoe-san, Momoe-san. Obrigado pelo chá e boa noite.”

Homura passou a andar em direção a escada que dava acesso a saída do prédio.

“Boa noite Saitou-san. Se cuide.” Mami pronunciou antes de fechar a porta.

Homura já se encontrava na rua quando começou a resmungar.

“Desperdício de tempo.”

A noite não havia sido tão proveitosa quanto Homura esperava. O medo que Nagisa expressava era claramente suspeito. Contudo, conscientemente ou não, Nagisa acabou mexendo com os instintos protetores de Mami. A loira tomava as rédeas em todas as conversas e ela não obteve nenhuma informação relevante em relação a protegida.

Homura ficou olhando para o topo da mão esquerda enquanto uma jóia na forma de um losango de cor violeta surgia.

“Bruxinha esperta,...”

Sayaka era sinônimo de problema, mas Homura conhecia muito bem aquela garota. Nagisa era exatamente o contrário: ela ainda não tinha incomodado, mas pouco se sabia sobre o passado da mesma. Era uma variável imprevisível e perigosa em seu mundo, ainda mais agora que Homura descobriu que Mami havia recuperado as memórias.

“...mas se a minha teoria estiver certa...”

Homura não arriscaria. Ela protegeria Madoka.

Na calada daquela noite, ninguém estava por perto para ouvir o som de duas batidas de palma.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Contraste