Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 15
Castelo de cartas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/554741/chapter/15

“Ai! Ai... Estou tão estufada...”

Uma garota, usando um corte rebelde e curto nos seu cabelo violeta, onde raspara completamente as laterais, passa mão na sua barriga cheia. Era uma estudante da escola de Mitakihara e caminhava junto com as suas colegas mais próximas, voltando do almoço para a sala.

“Também Seki-chan!” Retrucou uma de suas colegas. Uma garota de olhos e cabelos azuis compridos. “Você comeu metade da sobremesa sozinha!”

“Ah Nana-chan, mas aquele pudim estava bom demais.” Os olhos roxos de Seki procuraram a outra colega que ainda não havia pronunciado. “Você sempre acerta a receita, não é Mami-chan?”

“Nem sempre, Seki-chan.” Mami Tomoe respondeu. “Algumas vezes desanda.”

Seki balançou a cabeça. “Não seja modesta.”

Nana se intrometeu. “Ela só está falando isso para poder ir almoçar todos os dias na sua casa.”

Seki ficou irritada. “Não é verdade! Não precisa ser todos os dias... só a maioria.”

“Viu?” Nana ficou olhando para Mami.

“Huhu.” Mami juntou as mãos. “Não vejo problema, eu gosto da companhia de vocês.”

Nana desviou o olhar. “Mas...”

Mami interveio. “Olha, se acha que estão usufruindo demais da minha hospitalidade, podemos fazer o seguinte: vocês tragam os ingredientes e preparamos algo juntas. Que tal?”

“É.” Nana ficou pensativa. “Parece ser uma boa idéia.”

Dessa vez quem veiocom os poréns foi a Seki. “Só que eu não sou boa na cozinha. Hehe.”

Mami sorriu. “Melhor ainda. Podemos ensinar a você.”

Seki não estava muito convencida. “Vou acabar estragando tudo.”

“Se estragar, vai ter que comer tudinho.” Nana falou em tom ameaçador.

“Não assusta ela, Nana-chan.” Mami levantou a cabeça e ficou olhando o teto do corredor. “Hum... Comecemos com algo simples e sem pressa. Não precisa ser no horário do almoço.”

“Ir na sua casa depois da aula? Yes!” Seki deu um soco no ar.

“Sekiiii!” Nana chamou a atenção.

Mami gesticulou. “Calma Nana-chan. Não quero dizer que seja hoje.”

“Ouviu Nana-chan?” Seki deu uma piscadela. “Não precisa ser hoje, pode ser amanhã.”

Nana estreitou o olhar. “É isso que me preocupa. Desse jeito, nós vamos passar o dia mais na casa dela do que nas nossas.”

Seki chegou perto da Nana e cochichou. “Até parece que não gosta de estar lá. Não foi você que queria convidar a Chiaki-san para ir junto, não?”

Nana sorriu, sabia que havia sido pega. “É verdade, uma pena que os pais da Chiaki-chan não permitiram.”

“Por isso que é bom a gente se reunir na casa da Mami-chan.” Seki cruzou os braços e levantou o queixo, convicta. “Lá não tem pai ou mãe alguma para incomodar.”

Nana parou de caminhar e virou para Seki com os olhos arregalados.

Seki pôs a mão na testa, mas precisaria de algo maior para enfiar a cara. “Falei algo que não devia...”

“Está tudo bem.”

Nana e Seki voltaram a sua atenção para Mami, que estava sorrindo.

“Seki tem razão. Se minha mãe estivesse lá, acabaria preparando tudo para nós. Assim não daria para ensiná-la.”

“Desculpa, Mami-chan...” Seki disse, ainda se sentindo muito mal.

“Deixa disso.” Mami fez um gesto com a mão para reforçar a afirmação. “Aconteceu. Mesmo se eu estivesse naquele vôo, nada poderia ser feito. O que eu posso fazer mesmo é seguir com a minha vida e ter amigas como vocês. Isso os deixaria contentes.”

Nana concordou. “Claro que eles estão contentes em terem uma filha como você, Mami-chan.”

“Obrigada Nana-chan...”

As três garotas resumiram sua caminhada até a sala de aula.

“Bem...” Olhando para Nana, Mami começou. “Qual será a receita que iremos pedir para Seki seguir à risca?”

Mami e Nana fitaram Seki, com os olhos semicerrados.

“Por que estão me olhando desse jeito?” Seki ficou apreensiva. “Vocês irão me ajudar, não vão?”

Nana foi cochichar algo no ouvido da Mami, que tampou a boca para abafar o riso.

“Não me torturem, por favoooor!” Seki pôs as mãos na cabeça.

“Hahaha!” Nana não se conteve. “Claro que não, sua boba. Só estamos brincando.”

“Vocês... quase me pegaram dessa vez.” Seki disse, emburrada.

“Hahaha!” Nana continuava rindo.

Já Mami ficara curiosa com outra coisa. “Quem será essa garota?”

“Hum?” Nana e Seki viram que, próxima a entrada da sala delas, havia uma garota aguardando.

“Bonita, não é?” Nana comentou. “Aqueles cabelos verdes são bem cuidados.”

“E alta também.” Seki complementou. “É maior que nós três.”

Mami indagou. “Será que é uma estudante nova?”

“Entrar nessa época do ano?” Seki balançou a cabeça negativamente. “Muito difícil. Deve ser namorada de algum rapaz da sala.”

Nana fez uma cara de desconfiada para Seki. “Por que está dizendo isso? Está com ciúmes?”

“Claro que não!” Seki respondeu prontamente.

“Nana tem razão.” Mami afirmou. “Ela pode ser parente ou amiga de alguém da sala também. A única forma de descobrir é perguntando a ela.”

Mami tomou a frente das suas colegas, em direção aquela garota, mas antes que pudesse cumprimentá-la, a garota tomara a iniciativa.

“Oi. Por acaso você é a Mami Tomoe?”

“Sim.” Mami disse um pouco surpresa.

A garota procurou evitar qualquer mal entendido. “Seus colegas de sala me passaram a sua descrição...”

“Entendo.” Mami sorriu. “O que posso fazer por você?”

A garota curvou-se. “Tomoe-senpai, eu me chamo Hitomi Shizuki e sou a representante de classe de uma das salas da oitava série.” Ela então ergueu-se. “Eu tenho em minha posse algo que lhe pertence.”

Hitomi estendeu sua mão para Mami, nela continha um pendrive. “Foi encontrada por uma das minhas colegas de classe, mas posso garantir que não acessamos nenhuma vez o que está contido nele.”

Mami não sabia o que dizer.

“Você perdeu isso?” Nana havia alcançado as duas.

Seki também. “Olha! Tem até uma etiqueta com o seu nome. Você é sempre cuidadosa.”

Hitomi estava aguardando por uma resposta da dona, com a mão estendida.

Mami reforçou seu sorriso. “Claro! Eu nem tinha dado conta ainda que tivesse perdido. Muito Obrigada Shizuki-san.” Então ela pegou o pendrive.

Hitomi curvou-se novamente. “Tomoe-senpai, isso não foi nada. Agradeça as minhas colegas, que encontraram ele e tiveram a integridade de devolvê-lo. Agora peço licença, pois a aula está prestes a começar.”

Mami acenou com a cabeça. “Claro Shizuki-san e obrigada de novo.”

Hitomi partiu.

“Hummmm... Educada também.” Seki falou enquanto observava Hitomi se distanciando. “Eu achava que a Mami-chan já era demais...”

“Qualquer uma é educada demais para você Seki-chan. Por que será?” Nana puxou um sorriso de lado.

“Ahhh... Pode parar com isso!” Seki disse irritada.

“Hahaha!”

Ignorando a interação entre a Nana e Seki, Mami segurava aquele pendrive com força. Ela tinha plena certeza que não a pertencia. Mesmo assim, deixou se levar pelo momento e curiosidade. Se não era dela, por que havia seu nome escrito naquela etiqueta?

/人◕ ‿‿ ◕人\

Intervalo.

Homura tinha sua atenção para uma Madoka sentada, fazendo anotações no caderno, completamente isolada em relação às conversas dos que estavam ali presentes.

Madoka, isso não vai continuar assim por muito tempo.

No entanto, sua visão sagaz havia captado Sayaka saindo da sala sozinha.

Miki-san... sempre estragando esses momentos.

Levantou-se e a seguiu, mas não antes de olhar para Kyouko, que estava distraída sortindo sobre a carteira uma série de mini-barras de chocolate.

Seguindo pelos corredores, Homura estranhou. Essa era uma rotina bem estabelecida, qualquer diferença era necessário considerar.

Miki-san está no banheiro, mas não sinto uma aflição expressiva.

Abrindo a porta, encontrou Sayaka próxima ao balcão da pia, que olhava para ela intensamente.

Homura respondeu na mesma moeda.

As outras garotas que estavam no banheiro perceberam o clima.

“Será que elas vão brigar?” “Eu não vou querer estar aqui, senão sobra pra gente.” “Deve ser por causa de homem, minha mãe sempre diz...”

Os cochichos foram escasseando a medida que as garotas saíam do banheiro. Por fim, Homura trancara a porta como de costume. “Tem algo a dizer, Miki-san?”

“Sabe muito bem do que se trata.” A expressão séria de Sayaka não deixava dúvidas.

“Pensou bem como eu lhe instrui?” Homura sorriu.

Sayaka procurava se conter. “Eu vou dar uma resposta quando for a hora de ir embora.”

Essa afirmação instigou a curiosidade da Homura. “Então por que se dar o trabalho de falar comigo agora?”

Sayaka cerrou os punhos. “Eu não quero envolver a Kyouko nisso.”

“Entendo.” Homura fechou os olhos, serena.

Com a próxima aula em vias de começar, as duas retornaram juntas à sala.

Durante a última aula do dia, Sayaka recebera uma mensagem telepática de Homura.

[Chegou a avisar a Kyouko?]

Sayaka respondeu. [Vou avisá-la quando terminar a aula.]

[Ok. Procure ser convincente, quero evitar transtornos desnecessários.]

[Não precisa me dizer isso.]

Quando chega o fim da aula. Kyouko é a primeira se levantar e nota que sua amiga não estava com o mesmo pique. “O que foi Sayaka?”

“Hoje terá que ir embora sozinha, Kyouko.” Sayaka disse enquanto levantava.

“Ué?”

Nessa hora, Homura se aproxima das duas.

Kyouko não estava feliz com isso. “O que cê quer?”

“Calma Kyouko.” Sayaka sorriu para ajudar com o clima. “Eu e a d... Akemi-san vamos para biblioteca estudar juntas.”

Kyouko colocou a mão na testa da Sayaka. “Cê tá bem?”

“Está sim. Ela só precisa melhorar nas notas.” Homura respondeu.

“Não falei contigo!” A irritação em Kyouko ficava mais e mais evidente.

Sayaka segurou a mão de Kyouko. “Ela tem razão.” Uma pausa. “Minha mãe tem pegado no meu pé quanto ao meu rendimento escolar. Ela não tem pegado muito no seu, mas enfim...”

Homura sorriu. “Não que isso impeça ela de participar conosco.”

“Não!” Sayaka exclamou, parecia que estava prestes a matar Homura pelo olhar. Contudo, depois voltou a ficar mais calma. “Eu não avisei a minha mãe que ficaria mais tarde na escola. Pode avisá-la por mim, Kyouko?”

“Sayaka...” Kyouko olhava para Sayaka, para Homura, para Sayaka, para Homura... “Tch.” Pegou sua bolsa e saiu da sala, já quase vazia, com pressa.

“Uma pena.” Homura começou. “Ela bem que está precisando de umas aulas de reforço.”

“Pode parar com esse ato.” Sayaka foi sucinta.

“Fufufu...”

Sayaka cortou o riso da Homura. “Aonde vamos agora? Você não me disse lá no banheiro.”

“Sim. Eu havia pensado nisso durante essas últimas aulas.” Homura olhou bem para os olhos da Sayaka. “Que tal o topo da escola?”

/人◕ ‿‿ ◕人\

“Até amanhã, queijo fedido!”

Takuma espalhou o cabelo loiro de Aki antes de ir embora com Sanjuro e Ogai, que já estavam na esquina do corredor, rindo.

“Pode voltar a fofocar com as suas amigas, sua marica. Hahaha!”

Aki estava junto a Nagisa e Ayako, próximo a porta da sala.

“Uuuuhhhhh... Esse Kuroki.” Ayako estava enfezada. “Ele um dia vai ter o que merece, pode apostar nisso, não é Nagisa-chan?”

“É... Claro Ayako-chan. Hehe.” Nagisa terminou com um riso forçado.

“Eu não me importo com eles.” Aki procurava ajeitar o cabelo no lugar. “Já me acostumei com as brincadeiras.”

“Isso não é bom.” Ayako disse em tom de desaprovação. “A tendência é que eles cada vez façam algo pior contigo. Você devia falar com os professores.”

“É.” Nagisa complementou. “Se os professores não acreditarem, nós podemos testemunhar a seu favor.”

“Hum... Vou pensar nisso. Obrigado a vocês.” Aki olhou para Nagisa.

Um pouco corada, Nagisa respondeu. “De nada...”

Ayako deu com os ombros. “Isso não é problema algum.”

Aki coçou a nuca. “Bem... é... tenho que ir...”

“Uhum.” Nagisa ficou passando o dedo na alça da sua mochila.

“Tchau Momoe-san, tchau Kitomono-san.” Aki acenou antes de partir.

“Tchau tchau Hidaka-kun!” Ayako disse, animada.

“Até amanhã Hidaka-kun.” Nagisa falou mais contida.

Quando Aki se afastou o suficiente, Ayako cochichou no ouvido da Nagisa de forma melosa. “Até~ amanhã~ Hidaka-kun~.”

“Ah! Eu não falei desse jeito!” Nagisa exclamou, indignada.

“Mas bem que gostaria. Hmmm...” Ayako sorriu.

A pele clara da face de Nagisa ganhava tons rubros. “S-só somos colegas, no máximo amigos. Além disso, eu e ele somos... diferentes.”

“Claro que são diferentes!” Ayako colocou as mãos na cintura. “Ele é um homem e você uma mulher...”

“A-ayako!!!” Nagisa estava espantada. “Se você fala assim agora, eu tenho medo de imaginar como você será daqui alguns anos.”

“Hahaha!” Ayako deu uma leve cotovelada em Nagisa. “Não seja dramática. Eu vou ser sempre a sua amiga que você conhece. Por falar nisso, eu também penso em como você será no futuro.”

“É?”

“Sim!” Ayako continuou. “Eu vejo você em um belo vestido de casamento.”

Nagisa ficou olhando para o seu corpo. “Vestido de casamento!?”

“É...” Ayako começou a passar a mão nos cabelos da Nagisa. “O bom é que você nem precisa de um véu.”

“Sério?” Nagisa puxou suas mechas claras de cabelo para ver melhor. Depois balançou a cabeça negativamente, se dando conta. “Ah! Mas é muito cedo para pensar nisso.”

“Ah! Então vai pensar nisso depois com ele.” Ayako afirmou.

“Claro!” Nagisa respondeu prontamente, como se fosse óbvio. Então arregalou os olhos. “Quero dizer... ah... você me confundiu! Ayaaaakkooooooôôôô!”

“Minha Nagi~! Como você fica fofa quando está irritada.” Ayako começou a puxar as bochechas de Nagisa.

“Aiê! Não faz isso...” Nagisa ficou passando a mão nas suas bochechas marcadas.

Ayako puxou as suas próprias. “Minhas tias fazem direto isso comigo. Agora eu sei por quê. Hihi.” Depois ouviu o som do toque do seu celular. “Ah! Minha mãe deve estar no portão.”

Nagisa ficou sorrindo. “Bem... então...”

“Você vai se encontrar com a sua vizinha, não?” Ayako interrompeu.

“Oi?”

“Não é ela que leva você para casa?”

Nagisa ficou perplexa. Será que Homura falou com aquela garota dos pesadelos? Ela deve ter alterado as memórias das pessoas...

“Disse algo errado?” Ayako ficou apreensiva.

Nagisa voltou a si. “Ah não! Ehihi. É que com essa nossa conversa, eu esqueci que ela deve estar esperando.”

“Puxa! É verdade.” Ayako procurou ajeitar a piranha em forma de joaninha presa em seu cabelo. “Ei Nagisa-chan, a gente devia combinar de se encontrar na casa de alguém. Minha mãe ainda não deixa eu andar pela cidade sem um adulto acompanhando.”

“A minha também não.” Nagisa respondeu. “É... só que eu acho que a minha não vai deixar você ir lá em casa.”

“Sem problema. Melhor ainda!” Ayako juntou as mãos. “Minha mãe quer tanto te conhecer. Ela vai adorar!”

“Jura? Que bom.” No entanto a alegria de Nagisa foi efêmera. “Porém eu não sei se a minha vai deixar eu ir na sua também.”

“Nossa! Sua mãe é mão de ferro.” Ayako desanimou.

Vendo sua amiga decepcionada, Nagisa tentou ser mais esperançosa. “Eu vou falar com ela, com jeitinho, talvez ela deixe.”

“Vou torcer por isso.” Ayako segurou as mãos de Nagisa, empolgada. Seu celular toca novamente. “Ai! Tenho que ir!”

Ayako sai correndo, mas antes de sumir de vista ela vira e acena, gritando. “QUASE ESQUECI! ATÉ AMANHÃ NAGISA-CHAN!!!”

“ATÉ AMANHÃ AYAKO-CHAN!!!” Nagisa acenava freneticamente.

/人◕ ‿‿ ◕人\

Mami se despedia de suas colegas.

Porém Nana insistia. “Você realmente não quer ir ao shopping comigo? A Seki-chan não vai poder por causa que ela aprontou muito.”

“Sinto muito, mas tive muita dificuldade com essa última matéria de matemática.” Mami respondeu.

Seki franziu a testa. “Mas essa não me pareceu difícil e olha que sou ruim com números.”

“Talvez a Mami-chan ainda não entendeu.” Nana interveio. “Ela está certa em passar um tempo a mais estudando.”

Seki fez uma careta de desânimo. “Estudar fora da sala? Não consigo de jeito algum.”

“Por isso que suas notas andam ruins, Seki-chan.” Nana sorriu. “Então conversamos mais tarde Mami-chan, ainda temos que ver a receita.”

Seki fez uma careta ainda pior. “Ah! Nem me lembra disso.“

“Huhu! Claro.” Mami acenou. “Nana-chan, Seki-chan. Até.”

“Tchau Mami-chan!” Nana e Seki disseram em uníssono.

Enquanto deixava suas amigas, Mami se sentia mal. Em parte porque ela havia mentido para elas e em outra por causa da sua ansiedade causada por aquele pendrive. Durante as aulas, ela pensou em mil possibilidades sobre aquilo. Poderia ser um trote, talvez um admirador secreto ou até mesmo a existência de outra pessoa com o mesmo nome que ela na escola.

Sua única pista era aquela representante de classe, que afirmara que suas colegas haviam encontrado. Contudo não havia garantias dessa informação ser verdadeira.

Não havia outra forma, ela teria que ver o que havia dentro.

Chegando ao pátio da escola, Mami procurou por um banco para sentar, de preferência um longe dos poucos alunos que ainda estavam por ali. Se fosse um trote, era melhor não ter testemunhas.

Retirou o notebook da sua bolsa e o ligou. Quando fora conectar o pendrive, ela hesitou. Olhou bem para aquela etiqueta, talvez lera o nome errado. Não. Estava claro que era o nome dela. Era só a sua mente procurando desculpas.

Conectando o pendrive, Mami agradeceu pela máquina não ter pifado. Ela pensara na possibilidade de conter um vírus. Após a devida instalação dos drivers do novo dispositivo, ela mandou abrir para ver o que estava contido. Seu coração acelerou enquanto aguardava o carregamento.

Dentro havia apenas um arquivo.

ASSISTA_MAMI.QB4

Um arquivo de vídeo?

E o pior. Seu nome estava no arquivo. Sua palpitação estava mais forte.

Mami pegou e conectou o fone de ouvido no notebook. Abaixou o volume, para reduzir a possibilidade de tomar um susto em caso de trote. Olhou envolta, verificando se não havia ninguém a observando. Não encontrando nada, ela suspirou uma última vez antes de iniciar o vídeo.

Era uma gravação, pela qualidade e trepidação da câmera Mami pode constatar que era de um celular. A cena envolvia uma garota de longos cabelos ruivos que usava o mesmo uniforme da escola em um quarto.

Será que essa é uma das colegas que Shizuki-san mencionou?

Logo se ouviu a voz de uma garota no vídeo, provavelmente a que estava segurando o celular e não aparecia na gravação. “Pode começar Kyouko!”

A garota de cabelos ruivos sorriu e olhou bem para a câmera. “Ei Mami. Há quanto tempo hein?”

Mami ficou surpresa. Nos conhecemos?

“É bem possível que não se lembre de mim. Heh.” A garota pousou sua mão esquerda no peito. “Eu me chamo Kyouko Sakura e sou uma garota mágica, assim como tu.”

Garota mágica? A idéia de ser uma brincadeira voltava a assombrar a mente da Mami.

“A prova disso tá aqui.” Kyouko aproximou sua mão esquerda da câmera. “No dedo médio há um anel e uma marca na unha.”

Mesmo achando aquilo tudo um absurdo, Mami ainda olhou para sua a mão esquerda, não havia nada lá.

“Só que cê não deve enxergar ou sentir, pois sua mente tá bloqueada.” Kyouko desviou o olhar, claramente em direção para a pessoa que segurava o celular. “Ô Sayaka. É sério mesmo?”

A outra garota, que agora Mami sabia que se chamava Sayaka, respondeu. “Sim. Nas minhas tentativas de recuperar as suas memórias, você me dizia que não tinha nada na sua mão e nem na minha.”

Aquela história não tinha nenhum nexo, mas Mami não conseguia sentir um tom de brincadeira naquilo.

“Mami.” Kyouko voltou a falar para a câmera. “Cê não se lembra porque a nossa infeliz ex-companheira de caçada, a Homura Akemi, resolveu bancar a rebelde. Cê também não deve saber nada sobre ela.”

Elas não iriam fazer uma história tão elaborada para dar um trote em uma completa desconhecida. Iriam? Contudo, mesmo se esforçando, Mami não encontrava lembrança alguma.

“Vou fazer uma demonstração agora.” Kyouko deu um largo sorriso e estendeu sua mão esquerda. Partindo do anel, um flash luminoso vermelho materializou uma gema rubra em forma de ovo.

Os olhos de Mami arregalaram-se.

Kyouko de um salto mortal de costas. No ar, ela foi envolvida por uma aura vermelha. Ao cair de pé sobre a cama que estava ao fundo, sua roupa havia mudado completamente. Ela usava um vestido vermelho que se abria na altura da barriga, revelando um vestido preto embaixo, junto com uma mini-saia rosa. Próxima a gola, uma gema vermelha ovalada. Outra coisa em vermelho eram as botas que ela calçava, acompanhadas por uma meia-calça preta.

Mas o que mais chamou atenção da Mami foi a longa lança que ela agora portava. Devia ter dois metros de comprimento e o meio da ponteira de metal era pintado também em vermelho.

“Quem disse que podia pular na minha cama!” A voz da Sayaka ecoou no vídeo.

“Cê não queria impacto? Então tenho que ter um palco.” Kyouko retrucou. “Agora vem aqui, faz um close.”

Mami segurava o seu queixo com ambas as mãos, procurando evitar que ele caísse. Isso é um efeito especial, não é? Só pode ser...

Kyouko ficou olhando para a sua lança. “Nossa...”

“O que foi Kyouko?” Sayaka perguntou.

“Agora me dei conta de quanto tempo eu não segurava isso, assim como essas roupas.” Kyouko olhou para seu vestido, depois voltou para câmera. “Eu caçava demônios assim, junto contigo, todas as noites.”

“D-demônios?” Mami não conseguia mais desgrudar da tela.

“Cê me ensinou localizá-los, a lutar, usar todo o potencial da minha magia.” Kyouko ficou com o olhar perdido. “Passamos por uns momentos ruins, mas você sempre será... s-será...” Ela colocou o braço na frente dos olhos. “Droga!”

“Kyouko?” Sayaka a chamou.

“Caiu um cisco no olho, peraí.”

“Aham... ficou emocionada, não é?” A câmera se aproximou mais ainda da Kyouko.

“Tira!” Disse Kyouko, empurrando a câmera para longe.

“Hahaha!” A câmera do celular foi virando até mostrar a pessoa que o estava carregando. Uma garota de cabelos azuis curtos com um prendedor de cabelo amarelo próximo a orelha esquerda. “Mami-san, eu sou a Sayaka Miki. Vamos para um intervalo, já que a Kyouko está precisando se recompor.”

“Tô nada!” Kyouko ralhou.

Sayaka ignorou. “Eu não tenho uma história tão longa contigo como a Kyouko, mas esse tempo bastou para você me mostrar como a magia pode ser usada para o bem. É a minha inspiração.”

“Sayaka Miki...” Aquelas declarações soavam profundas. Mami sentia remorso, pois não era capaz de dizer o mesmo para elas.

“E tem outra pessoa que quer falar com você. Nossa convidada especial!” Sayaka então revelou a outra mão, nela havia um curioso fantoche de pano. A cabeça lembrava uma embalagem de bombom ou de bala, um botão azul e outro vermelho representavam os olhos, costurados sobre o tecido branco que representava a face. Uma costura com fios roxos faziam o papel de boca. O corpo os braços eram feitos de pano marrom escuro. “Fala aí Bebe!”

“Bebe...” Uma grande angústia despontou dentro da Mami quando ela ouvira aquele termo.

Não havendo competência para ser ventríloca, da boca da Sayaka saía um som infantilizado. “Eu amo a Mami! Eu amo queijo também! Eu me transformaria em queijo para a Mami!”

A imagem daquele fantoche, o nome. Aquilo a incomodava muito. Mami sentiu que havia algo... errado.

“Mascarpone! Camembert! Pecorino! Gouda! Roquefort! Parmigiano Reggiano...”

Mami fechou os olhos. Em sua memória ela não encontrava imagens, mas aquelas vozes soavam familiar. O desconforto angustiante lhe dizia isso. Precisava se concentrar. Onde ela já sentira isso?

“Bebe... Sayaka... Kyouko...”

No vídeo, Sayaka continuou. “Parece que a nossa Kyouko conseguiu tirar o cisco! Viva!!”

“...Kyouko...”

...Mami-san! Você é demais! Eu sonho em um dia ser que nem tu...

...não precisamos salvar todos, Mami Tomoe...

...se você me seguir, uma de nós vai morrer...

...cê arranjou duas pro seu clubinho, hein?...

...aquela idiota tá precisando de uma mão. Se tiver um espaço no seu cafofo, eu posso...

Fragmentos. Fragmentos daquela voz ecoavam em sua mente, mas era difícil discernir se aquilo era uma lembrança ou uma mera invenção. Uma pontada de dor de cabeça fez Mami contrair os punhos.

Foi então que sentiu algo em seu dedo.

Com a respiração mais rápida, Mami lentamente abriu os olhos. No dedo médio da mão esquerda havia um anel de metal, na unha, uma marca amarela em forma de flor.

Seu pescoço ficou duro, tremia. O som das folhagens das árvores ao sabor do vento, um solitário estudante que passava por ali, o calor gerado pelo notebook sobre as suas coxas... ela não sentia mais isso, assim como não percebeu que estava escancarando a sua boca.

Como uma represa se rompendo, aqueles fragmentos ganharam volume e forma. Invadiam e consumiam as mentiras que estavam ali instaladas. Kyouko, Sayaka, Bebe, não eram mais apenas sons familiares, mas imagens e emoções. No meio desse amálgama, então surgiu uma figura esculpida em trevas.

...Eu vou dizer ela que você mandou um adeus. Fufufwahaha...

“...ÁÁÁÁÁÁÁÁÁHHHHHH!!!!!!” O que a silenciou não estava mais presente.

“...planos. Mami, caso cê tenha se lembrado de algo, tenta contac...” O notebook caiu no chão com o súbito levantar da Mami.

Aquela reação chamou a atenção dos poucos que estavam presentes. “Oi?! Tudo bem com você?”

Com a mão na cabeça, Mami correu em direção ao prédio da escola, deixando seus pertences para trás.

A única coisa que importava era o que estava na sua mão. Sua gema da alma estava reagindo diante de um grande poder mágico nas proximidades, brilhando intensamente.

Mami rangia os dentes. “Akemi-san...”

/人◕ ‿‿ ◕人\

Sayaka suspeitou de algo. “Aconteceu algo por aqui?”

Homura olhou bem para a Sayaka. “Por que essa pergunta?”

“Não acho que você fecharia o topo da escola por nada.” Sayaka checou o seu entorno, não parecia haver nada de diferente naquele lugar.

“A escola tomou essa medida em nome da segurança dos estudantes.”

“Mentirosa.”

Homura suspirou. “Então Miki-san, o que vai ser?”

Era possível concluir que Homura estava com pressa. Sayaka engoliu sua raiva, precisava ser o mais racional possível. “Sobre o que conversamos...” Sorriu. De repente, notas musicais de um tom fluorescente azul claro surgiram e a envolveram. Quando a luz dissipou, Sayaka estava usando um curto tomara que caia que era azul marinho na altura do busto e branco no resto. Uma saia azul presa com cinto, botas azul claro com um longa meia branca que ia até o joelho. Uma longa capa branca com detalhes dourados tremulava em suas costas. Uma abertura próxima a cintura do seu vestido mostrava uma gema azul em forma de ‘C’ sobre o seu umbigo.

Sayaka apontou o sabre que estava portando, com detalhes azuis na base da lâmina e uma empunhadura dourada, para Homura. “Eis a minha resposta. O que achou?”

“Previsível e sem criatividade alguma...” Disse Homura de forma monótona.

“Eu tenho uma proposta.”

“Proposta?!” Homura falou com surpresa. “Sou toda ouvidos.”

Sayaka sentiu que Homura havia forçado naquele tom de voz. “Eu aceito o que você fez por Madoka e por nós.”

Homura pendeu a cabeça para o lado. “Se...”

“Um duelo.”

“Duelo...” Homura repetiu.

“Sim! Sem truques, nem manipulação da mente ou do universo.” Sayaka fitava com determinação. “Prove a sua coragem por Madoka e eu cooperarei. Dou a minha palavra.”

Homura foi rápida e sucinta. “Recuso.”

“Como?”

Fechando os olhos, Homura colocou a mão na testa. “Ainda não aprendeu? Não tem noção do que está fazendo?”

Sayaka baixou o sabre. “Você é que perdeu o juízo. Eu estou lhe dando uma chance...”

“Eu aceitaria a sua proposta...” Homura a interrompeu. “...e faria você acreditar que a luta fora ‘justa’.”

“Sabe que não conseguiria me enganar por muito tempo.”

“E viria com uma revanche?” Homura fez não com a cabeça. “Você quer impor regras sobre mim. Isso vai contra a minha natureza. É impossível. Compreende? Impossível!”

Sayaka desviou o olhar.

“Eu deveria estar gargalhando agora, Miki-san.” Homura continuou. “Porém a pena que tenho de você acabou com o meu humor. Confunde uma teimosia tola como sendo uma corajosa determinação. É por isso que eu a trouxe aqui.”

“Sabia que você não me traria aqui por acaso.” Sayaka voltou a apontar a espada.

“Eu disse que sua resposta era previsível, não disse?” Homura virou o rosto em direção a porta que dava acesso ao topo. “Gostaria que você visse uma pessoa.”

Sayaka seguiu o olhar de Homura e encontrou uma menina, de longos cabelos brancos, espiando pelo canto da porta.

“Nagisa!?”

Homura fez um gesto. “Venha.”

Nagisa se aproximou delas, hesitante e encolhida. Não tinha coragem de ficar olho a olho com a Sayaka. “Hum... Oi Sayaka.”

“Você se lembra de mim.” Sayaka sorriu. “E eu considerando que algo pior tivesse lhe acometido. Nossa...”

Uma forte lufada de vento interrompeu a conversa das duas.

“Eu pensei em um local mais apropriado para continuarmos.” Disse Homura.

/人◕ ‿‿ ◕人\

O brilho na gema perdia força.

“Não.” Mami subia as escadas com velocidade, chegando à porta que dava acesso ao topo. Girando a maçaneta, constatou que estava trancada.

Mami invocou suas vestimentas de garota mágica e conjurou um mosquete. Nem se deu o trabalho de mirar na fechadura: explodiu a porta em dezenas de pedaços.

O topo da escola estava deserto.

“Ela estava aqui agora a pouco.” Mami ajoelhou-se e socou o chão. ”Por que você fez isso? AKEMI-SAAAAAANNNN!!!” Vendo lágrimas tocarem o chão, Mami ergueu a cabeça e retirou a gema que estava encaixada no centro do seu pino para cabelo.

A gema amarela adquiriu tons mais turvos.

“De nada adiantarão essas lágrimas.” Mami olhou para o céu, que aos poucos ganhava a cor alaranjada do fim de mais uma tarde. “Bebe. Desculpe, mas não se preocupe, pois o que eu prometi continua de pé. Aliás, eu devo acrescentar.”

Sorriu.

“Eu vou lutar para que nós sejamos felizes e juntas.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Dissonância dos caídos