Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 16
Dissonância dos caídos




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A lua, mesmo sendo apenas a metade dela, tomava o céu. Parecia até que estava maior, mais próxima dos seus observadores. Sua luz banhava uma vasta planície tomada por uma relva alta o suficiente para cobrir a canela dos que estavam presentes.

Ao menos foi isso que Sayaka constatou. “Onde estamos?!”

“Em um lugar onde não precisamos fingir.” Homura respondeu.

Tomada por um momento de epifania, Sayaka dirigiu a palavra para Nagisa. “Vamos! Se transforme!”

“Oi?” Disse Nagisa, ainda confusa com tudo aquilo.

“AGORA!!” Sayaka gritou desesperada.

“O-ok...” Nagisa deixou sua mochila no chão e com a magia, adquiriu suas vestimentas de garota mágica.

Homura demonstrou surpresa. “O que você está pensando, Miki-san?”

Sayaka empunhou sua lâmina com firmeza. “Você nos trouxe aqui para dar fim em nós duas de uma vez por todas.”

“Fufu. Convenhamos Miki-san.” Homura revirou os olhos. “Se eu quisesse acabar com vocês, seria melhor lidar com cada uma em separado. Não acha?”

“Não quero ouvir mais nada de você.” As palavras de Sayaka saíram com cólera.

“Hmm... Tudo bem.” Homura deu às costas e partiu em direção a uma solitária cadeira que estava posta ali na planície. “Não precisa vir de mim.”

“Ei! O que você quer dizer com isso? Volte aqui!” Sayaka voltou para Nagisa. “Nagisa, eu não sei o que ela está tramando, mas não importa. Temos que lutar com tudo, Madoka depende disso.”

Nagisa desviou o olhar e apertou os lábios. “Lutar contra a Homura-chan...”

“Você entende, não é Charlotte?” Disse Homura enquanto sentou na cadeira. “A felicidade da Madoka depende disso.”

Sayaka vociferou contra Homura. “Não chame ela assim e...e...” Ela piscou os olhos algumas vezes, confusa. Depois indagou para Nagisa. “’Homura-chan’?!”

Nagisa virou a cara o máximo que pôde.

Homura cruzou as pernas e os braços. “Conte para ela, bruxa, foi um dos motivos que agendei esse encontro.”

Ao ouvir o termo ‘bruxa’, Sayaka rangeu os dentes para Homura, mas sua atenção mesmo era para Nagisa. “O que significa isso?”

Nagisa estava inquieta com os dedos. “Eu...estou...com...”

“FALA!”

“Estou com a Homura! Estou vivendo com ela...”

“Está vivendo com...” Sayaka nem terminou de repetir as palavras, já foi tomar satisfação com a Homura. “Sua maldita! Como tem coragem de fazer isso. Traga a mente dela de volta!”

Homura gesticulou. “Não. Não. Ela está em plena faculdade mental. Fufu.”

“É verdade.” Disse Nagisa, se pondo novamente sob o olhar da Sayaka. “Eu me lembro de tudo, incluindo o que ela fez com Madoka.”

“Se você se lembra mesmo.” Sayaka exasperou. “Então como pode tomar partido com essa TRAIDORA?”

“Porque o que ela fez é bom!” Nagisa olhou para Sayaka, dizendo sem hesitar. “Tão bom que Madoka pode dar beijo de boa noite no irmão e recebê-lo dos pais. Tão bom que nós temos a oportunidade de ter uma vida normal.” Então procura Homura, que ainda estava sentada e com uma expressão impassiva. “Tão bom que ela tem medo de perder tudo isso, muito medo.”

A impassividade de Homura foi quebrada com um leve desvio de olhar para baixo.

“Como você é ingênua. Ela enganou direitinho.” Sayaka fez um sinal de desaprovação. “Ela é o mal encarnado, Nagisa. Sabe o que ela me disse uma vez? Que depois que acabasse com todos os demônios, ela destruiria o universo.”

“Mas como?!” Nagisa ficou perplexa. “Eu a vejo sair todos os dias para caçar os demônios no mundo inteiro e sempre surge mais. É interminável!”

“Hã? É...” Sayaka ficou sem o que dizer.

“Fufu...fufu...fufufwahahaha!!”

A gargalhada da Homura só instigou ainda mais o ódio da Sayaka.

“Eu tenho que admitir.” Homura continuou. “Sarcasmo não é meu ponto forte, ainda mais quando dirigido a você. Contudo, pense Miki-san, não seria contraproducente eu destruir um universo onde Madoka está inserida? Hum?”

Era isso, Sayaka não toleraria mais. Sua lâmina estava pronta para cortar aquela língua mentirosa.

“Sayaka!”

No entanto, a voz de Nagisa desviou o seu foco.

“Você tem uma família, não? Eles não estão felizes em tê-la em casa? Não está feliz de ver seus colegas de esco...”

“Mesmo se for verdade.” Sayaka interrompeu. “Eu jamais aceitarei uma felicidade proveniente de um crime.”

“Então prefere viver na Lei dos Ciclos, em seu anfiteatro particular, ouvindo, por toda a eternidade, uma orquestra que lembra seu amor não correspondido?” Argumentou Homura.

Sayaka ficou espantada. “O que? Como você... Nagisa?”

“Eu contei a ela.”

“Não devia!”

“Qual o motivo para esconder?” Nagisa falou com um tom de desânimo. “Que eu vivo lá, no meio de um monte de doces, quase sempre sozinha, em uma existência sem sentido? Os lacaios são só uma extensão da nossa alma, da nossa magia, não tem personalidade alguma. Sem contar a Madoka, não tenho mais ninguém lá.”

“Isso é escolha sua.” Sayaka rebateu. “Nada impede que você visite as outras garotas.”

“Fácil falar isso quando é você.” Nagisa retrucou. “A mais próxima da Madoka. Eu lembro bem, durante o planejamento, que você questionava tudo que ela dizia. Sempre sugerindo, sempre se impondo, dando ordens.”

Sayaka estremeceu.

“Se sente importante, não é? Com certeza todas as garotas consultam você para conhecerem melhor Madoka, já que ela sempre está muito ocupada.” Disse Nagisa em tom de nojo. “Por isso que quer voltar. Nem é pela Madoka, é porque você não dá valor à vida que tinha e que pode ter novamente aqui.”

Rangendo os dentes, Sayaka apontou o sabre para Nagisa. “Não tem moral ALGUMA para proferir isso.” Uma aura circular azulada se formou sob os pés dela. “Vocês duas não só traíram Madoka. Traíram a Lei... Traíram TODAS as garotas mágicas, que semearam, que semeiam e que semearão a esperança no mundo.”

Nagisa deu um passo para trás. “Sayaka, você...”

“Charlotte!” Homura chamou a atenção dela. “Suas palavras foram corajosas, mas chega o momento em que é preciso defendê-las com a força.”

“Hahahaha!” A capa de Sayaka esvoaçou com a magia crescente da sua aura. “Coragem? A mesquinhez de vocês jamais compreenderá o significado dessa palavra e nenhuma força será capaz de desafiar a ordem das coisas como elas devem ser. JAMAIS!”

Homura gritou com autoridade. “DEFENDA-SE, BRUXA!”

Em um ato reflexo diante daquele grito, Nagisa inclinou seu corpo para esquerda. Nisso, uma lata de refrigerante, com um rótulo preto com bolinhas vermelhas, apareceu por debaixo do xale e caiu na sua mão. Chacoalhou bem.

“IIIIAAAAAHHHHH!!!” Sayaka lançou-se contra ela.

Nagisa apontou a tampa da lata na direção da Sayaka e abriu. Com grande pressão, uma torrente de bolhas saiu da lata, fazendo Nagisa voar para trás como se estivesse segurando um foguete.

As bolhas envolveram Sayaka e a jogaram para trás.

Com isso, se criou uma distância de aproximadamente cem metros entre as duas.

A única chance de Nagisa era manter essa distância. Em um combate corpo-a-corpo, Sayaka seria imbatível. Aproveitando o momento de confusão, ela começou a amassar e desdobrar a lata, em uma mistura de habilidade e magia. O produto final dessa manobra fora um trompete preto com bolinhas vermelhas, com uma pluma vermelha e outra azul fixadas próximo a boca.

“Não vai escapar de mim!” Gerando uma nova aura azulada fluorescente, maior que a anterior, Sayaka se preparou para uma nova investida, onde voava rente ao chão na velocidade de um torpedo.

Nagisa assoprou o trompete, lançando um jato de bolhas, sendo algumas maiores do que ela mesma.

Sayaka conseguiu escapar das primeiras bolhas por mero acaso, já que elas se espalhavam sem rumo. Contudo, quando chegou mais próxima da Nagisa, se viu obrigada a estourá-las. O estouro gerou uma poderosa onda de choque, atingindo Sayaka com força e fazendo as outras bolhas estourarem, gerando uma reação em cadeia.

O grito de dor foi abafado pelo som das explosões. Sayaka foi arremessada para trás novamente, dessa vez capotando seguidas vezes sobre a relva.

Quando tentou se levantar, uma terrível pontada de dor em seu peito avisou que ela havia quebrado as costelas. Tossiu, manchando sua luva branca com uma golfada de sangue.

“Por favor Sayaka! Pare com isso!” Nagisa exclamou, muito preocupada.

“Hahahaha!” Sayaka ficou de pé, seus ferimentos internos quase inexistentes graças ao seu acelerado fator de cura. “Não adianta implorar.”

Então deu um grande salto e parou no ar sobre uma plataforma circular azul brilhante gerada por sua magia. Era grande o suficiente para discernir que era formada por pautas musicais acompanhadas de notas.

Cruzou os braços, com um ar de superioridade. Logo, próxima a Sayaka, surgiram no ar pequenos círculos azuis. Como se fossem portais, desses círculos saiu cópias do sabre que a garota mágica portava.

Para o espanto de Nagisa, o céu foi tomado por dezenas dessas lâminas. Ela estufou o peito o mais que pôde.

“Eu sou o arauto da Lei!” Sayaka abriu os braços. “E, se necessário, ela será imposta sob metal frio.” Como se tivessem escutado aquelas palavras, as lâminas voaram em direção a Nagisa.

Nagisa assoprou com força seu trompete, disparando bolhas continuamente.

Como esperado, as lâminas perfuraram facilmente as bolhas, mas os violentos estouros fragmentavam as espadas. Mais lâminas, assim como bolhas, eram geradas. Naquele momento, era como se dois generais estivessem testemunhando o embate de seus exércitos.

Sayaka estava confiante. “Você só conseguirá segurar enquanto tiver ar dentro de si, isso vai acabar...hã?”

Uma nuvem de fragmentos das lâminas, impulsionadas pela continua onda de choque proveniente das bolhas, atingiu Sayaka com violência.

Os metais perfuraram e dilaceraram a sua carne. “AAAAAAAHHHHH!!!”

Homura, ainda em sua cadeira, checava as suas unhas. “Você melhorou muito Miki-san, mas ainda comete tolices.”

Agradecendo que a chuva de lâminas terminara, Nagisa recuperava seu fôlego.

Já Sayaka, estava sobre a sua plataforma, completamente ensangüentada. Círculos negros surgiam sobre as suas feridas, as fechando, porém, onde o metal estivesse fincado em sua carne, ela se viu obrigada a retirar com as próprias mãos.

Terminada a sua excruciante tarefa, Sayaka voltou a olhar para Nagisa, em silêncio.

“Sayaka...por favor...” Nagisa não queria continuar com aquilo.

Mas as novas lâminas que foram surgindo envolta da Sayaka, não deixavam dúvidas.

“Não...” Nagisa preparou o seu trompete.

Subitamente, a plataforma se desfez e Sayaka retornou ao solo. Ela desatou-se a correr com dois sabres, um em cada mão.

Nagisa, por um reflexo, apontou o trompete para a espadachim e assoprou. Logo se deu conta: as lâminas que estavam no ar, que haviam sido geradas anteriormente, dispararam em direção a ela.

Nagisa parou de usar o trompete e deu pequenos saltos para trás para escapar das espadas voadoras.

Isso bastava para Sayaka. Ela contornou a nuvem de bolhas e viu-se com o caminho livre até Nagisa.

Nagisa, sem demora, colocou o trompete novamente em sua boca.

Sayaka ainda não estava perto o suficiente, mas não precisava: lançou um dos sabres e fez um gesto.

O sabre que ela arremessou explodiu no ar, o impacto atordoou Nagisa momentaneamente. Para o desespero dela, Sayaka surgira com velocidade em meio à coluna de fumaça.

Usando a empunhadura do outro sabre como um soco inglês, Sayaka atingiu em cheio a face de Nagisa.

A pancada foi forte o bastante para fazer Nagisa voar, perdendo o seu trompete no caminho, e cair de bruços no chão. Sentiu um gosto metálico há muito tempo esquecido, em sua boca. Seu sangue. Ela procurou se levantar, mas um impacto em suas costas a impediu. “Aaarrrgh.”

“Não se levante!” Sayaka havia colocado um pé sobre Nagisa e apontava seu sabre. “Se acha ainda que Madoka possa perdoar você, não se levante!”

Nagisa ficou imóvel.

“Como é fraca.” Gotas de sangue pingavam da vestimenta da Sayaka. “Eu nunca entendi por que Madoka te escolheu. Havia outras bem, mas bem mais competentes que você.”

Sayaka curvou-se um pouco para chegar mais perto de Nagisa e disse com intensidade. “Aliás, ela só precisava de mim, De mIM!”

Uma pena. Homura se levantou da cadeira. “Basta!”

Sayaka ergueu-se, mas não fitou Homura.

Homura abriu os braços. “Estou aqui. Ainda quer lutar comigo, não? Fufu.”

“Eu não terminei aqui.” Sayaka disse rancorosa. “Mas quando for a hora, eu vou adorar cortar fora essa sua língua imunda.”

Não houve tempo de reagir, apenas de se lamentar por não ter pisado em Nagisa com mais força. A garota de cabelos brancos rolou e, com a ajuda do braço, deslocou a perna da Sayaka que estava sobre ela.

Desequilibrada, Sayaka só pôde testemunhar com horror aquela face branca e os olhos multicoloridos visando sua perna que estava apoiada ao chão. Testemunhar com dor aquela enorme mandíbula afiada encravando nela.

“GAAAAAAAHHHHH! AAAARRRRGGHHH!!”

Delicioso! Uma fina camada de chocolate branco. Hmmm~! Uma massa vermelha bem molhadinha, sabor framboesa. Ahhh...! E para terminar, como recheio, um suspiro bem crocante.

Homura ficou pasma quando presenciou Nagisa se levantando com a canela da Sayaka em sua boca.

Sayaka urrava em desespero enquanto sua cabeça arrastava no chão.

Nagisa chacoalhava a cabeça, parecia que iria arrancar a perna fora.

Quando Sayaka começou a tentar golpear Nagisa com o sabre, ela foi arremessada para longe.

Com uma respiração ofegante, de êxtase, Nagisa lambia os beiços e removia nacos de carne entre os dentes. Foi quando percebeu todo aquele sangue em seu xale e em suas mãos. Diante do estresse e medo, ela havia fraquejado.

Sayaka contabilizava os estragos: sua canela destroçada até o osso, seu pé só estava unido por uma tira de pele. Logo um grande círculo mágico negro projetou-se sobre o ferimento, os tecidos regeneravam, os fragmentos de ossos estavam voltando ao seu local de origem e reconectavam-se. Tentava se levantar usando o sabre fincado ao chão como apoio, ainda levaria tempo para a cura se completar. “Ah...ah...Se queria me matar, ah...não deveria ter me soltado.”

Porém Nagisa não queria matar, só queria que aquela luta, aquela loucura, terminasse. Puxou ar, inflando bem a sua barriga. Então, em um arroto, começou a encher uma grande bolha.

Temendo as intenções de sua adversária, Sayaka puxou seu sabre. “Acha que vou ficar olhando?” E se preparou para arremessá-lo. O que ela não esperava é que, quando jogou o braço para trás, ele seria laçado.

Pyotrs, vários deles surgindo por debaixo da relva, usaram seus rabos para segurar Sayaka e davam encontrões, a desarmando.

“Saiam! Saiam de mim!”

Com a Sayaka distraída, Nagisa conseguira terminar a sua bolha. Ela assoprou com força, impulsionando-a em direção a garota de capa e espada.

Os pyotrs recuaram, se escondendo no meio da relva novamente, e Sayaka se viu diante da bolha em rota de colisão. Ela tentou se levantar, mas sua perna ainda não havia restaurado completamente. “Não!”

Ao entrar em contato, Sayaka atravessou a superfície da bolha e ficou presa lá dentro, flutuando um pouco acima do solo. Furiosa e sem demora, ela puxou a capa e sacou uma nova espada.

“SAAAAYYYAAAAKKKAAAAWWWRRR!!”

O rugido parou com o intento da Sayaka.

Nagisa continuou. “Você consegue sentir a concentração de magia nessa bolha. NÃO A ESTOURE!”

Ela sentiu o poder que emanava naquela superfície. Considerando as bolhas anteriores, Sayaka era capaz de imaginar a extensão destrutiva da sua prisão, caso ela tentasse escapar.

“Homurawr-chawr!” Nagisa não conteve a sua voz. “Termine com isso.” Ela fez questão de mostrar para Homura o seu xale ensangüentado. “Dê fim com essa crueldade! Por favor...”

“Claro.” Homura sorriu. “Estou orgulhosa de você.”

“Orgulhosa...” Nagisa esmoreceu.

Homura percebeu isso. “Você pode não compreender, mas essa luta tem um propósito.”

“Claro!” Sayaka foi sarcástica. “Seu entretenimento.”

Homura fez não com a cabeça. “Você disse que ela era fraca, Miki-san. Então por que você perdeu?”

Ela não deu tempo para Sayaka responder. Olhando para Nagisa, continuou. “Porque ela lutou pelo que acredita, palavra por palavra. Ela não queria machucar você, Miki-san, mas também não cederia. Ela sabe o que quer.”

“Homura-chan?” Nagisa estava surpresa com a forma que Homura estava falando sobre ela.

Sayaka ridicularizou. “E acha que eu não acredito pelo que luto. Você está fora si, completamente!”

“Não.” Homura voltou novamente sua atenção para Sayaka. “Eu até discordo da Charlotte. Eu até acredito que você deseja a Madoka... também.”

Sayaka rangeu os dentes, seu pescoço tencionou.

“Só que eu notei nessa luta o quanto o seu dilema pesa em cada movimento. Até acreditei em um primeiro momento que eu estava enganada, que poderia ser consideração por sua colega de missão, mas depois do que disse quando achou que estava ganho, essa hipótese foi descartada.”

“Dilema? Do que está falando?” Sayaka indagou.

“Kyouko Sakura.”

Sayaka arregalou os olhos.

Homura deu de ombros. “Sua mãe também em menor grau. Seu pai...bem.. você já está acostumada em ficar longe dele.”

Sayaka se recompôs e riu. “Haha! Acha isso mesmo? Madoka...”

Homura interrompeu. “Madoka me disse que jamais iria abandonar a família dela, os amigos...”

Sayaka fez o mesmo. “E ela nunca abandonou! Ela sempre esteve próxima de vocês todos.”

“Fufufufu...” Homura conteve o riso com a mão. “Estar lá e as pessoas terem consciência desse fato, são coisas bem distintas.”

“Isso é mentira!” Sayaka vociferou. “Você deve ter manipulado ela.”

“Esse é o desejo mais profundo dela!” Homura cerrou os punhos. “E ela foi forçada a deixá-lo de lado,...” Abaixou o olhar. “...por minha culpa.”

“Portanto Miki-san.” Homura apontou para ela. “Pare de se afogar em sua HIPOCRISIA!”

A respiração de Sayaka foi ficando mais curta, se sentia mais encurralada do que já estava.

Homura acalmou a voz. “Não tenha medo de aceitar o que deseja. Pare de sofrer. Eu quero evitar lutas desnecessárias, inclusive aquelas dentro de nós mesmas.”

Sayaka desviou o olhar e contorceu a face.

“Tudo o que desejo, sinceramente, é um final feliz para todas nós.” Motivada pela nostalgia, Homura suspirou. “Ah... Se lembra da nossa conversa, daquela última antes de descobrir o que eu havia me tornado?” Então pousou sua mão no peito. “Pode, o coração que deseja isso, estar errado?”

Ao fechar os olhos, lágrimas escorreram pela face da Sayaka.

Nagisa se intrometeu. “É verdade o que ela diz, Sayaka! E-ela desconfia de nós, tem medo do que possamos fazer, mas ela quer o nosso bem.”

“Obrigada.” Homura, após agradecer Nagisa, voltou a falar com a Sayaka. “Nós não precisamos ser amigas. Apenas peço que relaxe, não se atenha a detalhes, deixe a sua vida ser mais simples.”

tEM rAO.”

Além dos olhos, agora a água saía pelos ouvidos da Sayaka.

“eSSe Foi mEU ErRo, Me deIXeI lEVar peLoS dETalHes. tUDo É MAis siMpLeS!”

“Sayaka?” Nagisa ficou surpresa com aquela voz distorcida.

“Eu não acho que seja a Miki-san...” Homura comentou.

Quando a água começou a sair pelas narinas, Sayaka revelou seu olhar tomado inteiramente por um azul marinho. “vOcÊs São tRAidoRaS.”

Como em um suor intenso, o cabelo e as vestimentas foram ficando encharcadas.

eUo COmpACTuo cOM tRaIDorAs.”

A bolha começou a encher de água. Com o peso, ela começou a descer.

trAiDorAs TeM Um veREdiCtO!

As luvas de Sayaka foram tomadas por um véu negro e em seu lugar surgiram manoplas de ferro.

a EXecUçÃO!!!”

“Não é possível! Sayakawr!” Nagisa estava completamente abismada. “Como está se transformando? Você tinha conseguido se separar dela!”

“Charlotte!” Homura chamou a atenção de Nagisa. “Se lembra da minha teoria? Pois parece que Sayaka ou sua bruxa descobriram isso. Para resistir ao meu poder, ela se entregou a maldição novamente.”

“Não...”

“Assim como no passado, o destino dela seria sombrio se eu mantivesse como as coisas estavam. Hoje forcei ela a tomar uma decisão. Você era o meu trunfo, mas ainda assim ela escolheu cair.

A bolha tocou o solo, a água já estava na altura do pescoço da Sayaka. “MAldItAs! voCÊs esTrAgaRAm tUdo!”

Erguendo a cabeça, somente com a face acima da linha da água, ela proferiu as últimas palavras. “eU QUeRO sER uMA heRoÍNa, EsSE é o MeU ÚLtiMO sONho.” Antes de dar uma estocada com o seu sabre na bolha.

“NÃÃÃOOO!!!” Nagisa deu um grande salto para trás, colocando os braços para proteger o rosto.

A superfície da bolha emanou um intenso brilho laranja e explodiu, liberando uma poderosa onda destrutiva.

Despreparada para aquela ocasião, Homura foi pega em cheio, sendo arremessada para o alto. A cadeira e a relva desintegraram-se, uma imensa nuvem de pó se estendeu pelo ambiente.

Um zumbido no ouvido, que aos poucos ia diminuindo, acompanhou Homura enquanto ela voltava a ficar de pé. Percebeu que seu uniforme ficou aos frangalhos, mas não tinha nenhum ferimento aparente.

Em meio a toda aquela poeira, ela não conseguia enxergar muito além. “Charlotte!”

Com a poeira se dissipando, ela pôde avistar a distância a silhueta de uma garota.

Nagisa ouviu o chamado. Quando viu Homura, sua boca expressou melhor sua apreensão do que seus olhos. “Homura-chan?!”

Homura compreendeu o motivo daquela reação. “Só foram as minhas roupas. Eu estou bem e você?”

Nagisa apenas balançou a cabeça, afirmando.

Quando a poeira abaixou, uma cratera de oito metros de diâmetro estava no lugar onde Sayaka fora vista pela última vez.

Homura ficou tensa. “Ela se matou...”

Nisso o chão começa a tremer.

“Não.” Nagisa se preparava. “Isso é pior que a morte.”

O tremor ficou mais intenso. Próximo a cratera, uma lâmina surgiu por debaixo da terra, erguendo-se a uma altura de seis metros. Como uma barbatana de tubarão, ela rasgava o solo com velocidade em busca de Nagisa.

“Cuidado!” Homura alertou.

Quando a lâmina estava próxima, Nagisa deu um salto para o lado com intuito de desviar, porém o mundo foi tomado pela escuridão antes que ela tocasse os pés no chão novamente.

Do solo saiu uma enorme manopla de ferro, que capturou ela por inteiro.

“Charlotte!” Homura se transformou em sua forma com asas e vestido negro.

A figura titânica de quinze metros de altura de Oktavia von Seckendorff se ergueu da terra, com a sua presa em uma mão e seu enorme sabre na outra.

Os olhos de Homura cintilaram, bateu palmas com força, mas nada aconteceu. Ela resiste.

...etnem A

“Eu sei. Eu não tenho posse de uma mente se ela está perdida. Também ela está desafiando a nossa realidade.” Disse Homura enquanto conjurava seu arco negro.

Oktavia abriu a mão lentamente para espiar. Lá encontrou uma boneca de pano, amassada. Ela ergueu seu sabre.

Subitamente, Charlotte, em sua forma de uma grande serpente, saiu da boca da boneca e partiu em direção à cabeça de Oktavia.

Oktavia já estava preparada para isso, ela colocou sua lâmina para bloquear o caminho.

Charlotte mordeu a lâmina e não largou mais, como um cachorro com o seu osso. A serpente se esforçava em arrancá-la da mão de Oktavia.

Observando o embate das duas bruxas, Homura nada podia fazer. Disparar suas flechas iria por em risco a vida de Charlotte.

Oktavia ergueu seus braços e arremessou Charlotte, com lâmina e tudo.

Homura viu a serpente voar algumas dezenas de metros antes de capotar pelo solo. Logo ela descobriu que fora um erro seguir aquela cena com os olhos.

Quando Homura voltou a sua atenção para Oktavia, a bruxa já havia disparado em direção a ela. Com um novo sabre em mãos, a bruxa deslizava sua cauda de peixe pelo chão com desenvoltura e estava prestes a empalar seu alvo.

Homura armou suas asas, mas não daria tempo para fuga. Se tornar etéreo ou invisível não funcionaria contra algo que resiste ao seu poder. Sua única chance era preparar o arco e atirar antes que fosse tarde.

No entanto, sua visão da Oktavia foi tomada por uma parede preta com bolas vermelhas. Logo a lâmina perfurou aquela parede, seguido de um rugido de dor.

Próxima de onde a lâmina havia perfurado, a face da Charlotte expressava agonia. Ela abriu a boca e uma cópia da serpente começou a sair por ali.

A bruxa sereia foi rápida: Com a manopla que estava livre, ela socou a face da cópia e a forçou goela abaixo, de volta à original.

Charlotte instintivamente fechou a boca, arrancando a mão de Oktavia, que expressou sua dor com um som estridente de metal arrastando. Seu ferimento jorrava líquido semelhante a uma tinta azul.

Não haveria perdão. Oktavia começou a atravessar a lâmina ao longo do corpo da serpente, que se debatia em sofrimento.

“NÃO!” Homura deixou seu arco de lado e voou para alcançar a espada. Com suas mãos tomadas por um brilho violeta, segurou pela lâmina e exerceu uma força contrária para impedir Oktavia de cortar Charlotte completamente.

A partir das mãos de Homura, trincas que emitiam uma luminescência violeta começaram a se formar ao longo do metal. Do sabre passaram para a manopla e depois para armadura de Oktavia, que recuou.

Uma miríade de sons agudos e desafinados anunciavam o desespero da sereia. Oktavia testemunhou seu corpo desmontar como um quebra cabeça. No final sobrou apenas uma montanha de peças de metal sobre uma poça azulada e o silêncio.

O corpo da Charlotte começou a desinflar. Do rasgo que Oktavia havia causado, Nagisa apareceu caindo. A princípio ela estava com roupas de garota mágica, mas logo passou a ser o seu vestido rosa. Sua face também havia voltado ao normal.

Ao tocar no solo, contudo, o rosa do seu vestido havia adquirido uma mancha vermelha, que espalhava rapidamente.

Homura aproximou e ficou de joelhos. Nagisa estava caída de barriga para cima, pálida, seus olhos laranjas arregalados e assustados.

Sem demora, Homura levantou o vestido ensangüentado e se espantou com o ferimento: um corte diagonal profundo, que ia da parte inferior do abdômen até a altura das primeiras costelas do peito direito. Sangue escapava pelo ferimento a cada pulsação.

Homura rangeu os dentes, furiosa. “Sua imbecil! Eu não precisava ser salva! Eu não quero ser salva!”

Nagisa não era capaz de dar uma resposta, apenas de olhar, assustada.

Com a mão esquerda, Homura revelou sua gema em forma de coroa. Fazendo-a brilhar intensamente e flutuar sobre a ferida, Homura conseguiu curá-la.

Cura não era a especialidade da magia de Homura, mas com o poder que tinhas em mãos, isso bastaria.

Sangue começou sair pelas narinas e pela boca de Nagisa. O volume foi ficando crescente e ela começou a ter espasmos, emitindo um som de engasgo.

“Charlotte!” Homura logo notou que, apesar de ter fechado o ferimento, a poça de sangue continuava a crescer, tingido aqueles cabelos brancos com tons rubros.

Homura virou Nagisa, deixando ela deitada de lado, e viu que nas costas havia um corte de formato semelhante ao anterior. Como a lâmina atravessou o corpo da serpente, assim refletiu no corpo da garota.

Usando novamente a gema, ela curou a ferida. Para alívio de Homura, Nagisa havia parado de convulsionar. “Pronto...”

Ao virar de volta, Homura viu que a expressão de Nagisa mudara. Seus olhos, antes arregalados, agora estavam semi abertos, sem foco. Sua boca também estava entreaberta e por ela ainda saia um pouco de sangue.

“Ei. EI!” Homura segurou a cabeça de Nagisa pelo queixo e chacoalhou. Não houve reação. Então ela pressionou o pescoço com dois dedos. “Droga!”

Juntando as mãos, Homura concentrou sua magia. Com elas emitindo faíscas violetas, pousou-as sobre o peito de Nagisa. Dirigidos pela sua vontade, as mãos descarregaram, fazendo o corpo de Nagisa arcar.

Sangue espirrou pela boca e nariz da garota caída, mas nada além disso. Ela continuava imóvel.

Homura então colocou a cabeça de Nagisa de lado e, com ajuda de um dedo, retirou o excesso de sangue dentro da boca. Depois começou um trabalho de respiração boca-a-boca, mas percebeu que não havia um movimento significativo no peito de Nagisa. Algo está obstruindo, deve ser o sangue.

Com sua magia, Homura preparou uma nova descarga. O corpo de Nagisa voltou a arcar. E mais uma descarga, E outra. O intuito tentar desobstruir.

“Vamos. Vamos!” Homura voltou a fazer respiração boca-a-boca. Havia movimento no peito, mas era maior que o antes? Ela não tinha certeza.

Homura preparou mais uma descarga, o máximo que podia. Com uma quantidade maior de magia, ela poderia explodir a garota.“AAAAAHHHH!!!”

Nagisa arcou novamente e relaxou.

Uma Homura ofegante ficou apenas observando. Nagisa, ironicamente, parecia como uma boneca inanimada. Foi também nesse momento que se deu conta que seu vestido negro, sua face, até suas asas, tinham respingos de sangue.

Então colocou o vestido de Nagisa de volta ao seu lugar, trazer alguma dignidade era o máximo que podia fazer agora. Segurou a nuca, removendo o cabelo que ficara grudado devido o sangue coagulado. Trouxe-a para si, colocando-a sobre suas coxas, e abraçou.

Por fim, com os dedos, fechou as pálpebras da Nagisa.

“Eu vi em seus olhos que, dessa vez, você não queria morrer.”

E beijou-lhe a testa.

“Sinto muito, bruxa.”


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Notas finais do capítulo

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