A porta se fechou atrás de Alex. Uma chuva começou a cair do lado de fora, os pingos de chuva caíam no teto de vidro escorrendo para as extremidades. O silêncio se estendeu pelo que pareceu uma eternidade. Finalmente Alex havia ficado cara a cara com o responsável por tudo aquilo, pelo decair dos seus amigos e dele mesmo, mas essa pessoa era seu pai, Edward Spencer.

Ele era do mesmo jeito que Alex o tinha em suas memórias, só que ali, naquele momento, ele parecia mais velho, com o cabelo com uns fios grisalhos e umas poucas rugas no rosto que davam a ele um ar de quem não dorme há dias.

Enfim o rapaz poderia ter suas respostas, mas por onde começar?

– Você deve estar se perguntando – disse o homem – o motivo de tudo isso.

Alex serrou os punhos.

– Não se incomode – disse o rapaz com ódio na voz – já descobri por mim mesmo.

– Por você mesmo ou pelas memórias de David? – respondeu Edward em um tom sarcástico.

O homem se aproximou de uma mesa onde havia uma pasta cheia de papeis dentro e jogou ela para Alex que a pegou no ar. Havia uma foto de Alex na frente – na foto ele parecia um pouco mais jovem e tinha os cabelos bem penteados – e o maldito nome David Spencer ao lado da foto.

– O que é isso? – perguntou ele.

– São seus registros, as principais missões realizadas por você. Antes de eu lhe contar a minha história eu acho que você deveria primeiro descobrir a sua própria história.

O rapaz meio desconfiado abriu a pasta e lá dentro encontrou algo que ele preferia permanecer não descoberto. Os papeis diziam:

David Spencer.

09 anos.

Missão: Invasão na central policial para roubo de material para pesquisa. Bem sucedido. Todos os policiais que lá se encontravam foram mortos pelo mesmo, um total de 15 (quinze) homens armados.

10 anos.

Missão: Assassinato de Joe Ortega e Anna McDan (agentes investigando projetos da Organização). Bem sucedido. Ambos mortos pelo agente. Detalhes: Ortega morto a facadas e McDan morta por tiro à queima-roupa.

Missão: Incendiar casa com documentos incriminando A Organização. Bem sucedido. Detalhes: Uma mulher e uma criança foram mortas no incêndio.

12 anos.

Missão: Execução de soldados rebeldes da própria Organização. Bem sucedido. 5 (cinco) dos 9 (nove) soldados mortos por Spencer. Detalhes: recebeu um tiro no antebraço, porém este continuou com a missão.

13 anos.

Missão: Raptar Paul Spencer (tio do agente) para implantar neste o processo de amnésia. Paul não deu positivo para o processo e a implantação na mente do indivíduo, fazendo com que ele recobre a memória rapidamente, porém fora isso a missão foi bem sucedida.

Missão: Infiltrar na agência S.I.O.R.C. para observar Paul Spencer e outros dois líderes da agência de perto e avisar caso estes recobrem as memórias momentaneamente. Bem sucedido. Detalhes: o indivíduo recobrou as lembranças 9 (nove) vezes até o dia da datação deste documento, em todos os casos o agente David Spencer o levou para a Organização para a indução de amnésia.

Alex sentiu o corpo tremer, ele havia matado todas aquelas pessoas? Não, foi David, ele havia feito aquelas coisas hediondas, mas agora o indivíduo não existia mais, o que levou Alex a tentar fazer a si mesmo acreditar que o homem que ele matou tinha sido morto por David e não por ele. As duas últimas missões deixaram o rapaz pasmo, então realmente fora ele o traidor que foi o motivo da perda de memória de Paul, Michael e Amy.

Mas não fora isso que deixou o rapaz mais abalado, foi a missão descrita logo abaixo das outras.

14 anos.

Missão: Raptar um agente da S.I.O.R.C. conhecido pelo codinome de “Christopher Parker” para a indução de amnésia. Bem sucedido.

– Chris tinha uma memória fotográfica – disse Edward – nós precisávamos usa-lo como cobaia. Ele nos deu muitos avanços nas nossas pesquisas. Sabe, o normal é que as cobaias tenham alguma sequela após a amnésia; como você e a sua lerdice, Douglas e suas múltiplas personalidades... Chris, por ter uma mente superior ele continuou com a consciência e personalidade estáveis, mas acabou perdendo sua memória fotográfica, o que é uma pena.

Alex serrou os dentes.

– Ah, o que foi? – disse o homem com o mesmo tom sarcástico – Está com raiva de mim? Ora, pois saiba que quem escolheu esse caminho foi você mesmo.

– Eu só tinha dois anos! – disse Alex resgatando uma memória de David que parecia perdida e que ele havia consultado antes.

– Você nunca reclamou, mesmo após crescer, mesmo após ser exposto a vários testes cansativos, mesmo sem poder ter amigos, mesmo tendo que fazer tudo isso você não reclamava. Eu gostava disso em você. Mas olha só, agora só restou... Isso. Um molenga que corre dos problemas.

– VAI SE... – Alex começou a dizer.

– Cale a boca! Poupe-me disso! Você simplesmente o jogou fora! Sabe quantos anos eu demorei para tornar você no soldado perfeito?

– O que? Então era só isso que eu era para você? Um soldado? Uma ferramenta?

– Claro, oras! Eu lhe dava “amor” e você fazia o que eu pedisse, foi até divertido manipular você e, claro, eu não podia falar isso a David, pois assim eu perderia a minha arma. Mas ele não existe mais, então não preciso me preocupar em contar isso e em... – Edward tirou de dentro da bata uma pistola e a apontou para o rapaz - ... Matar você.

Alex apertava os punhos ao redor da pasta. O corpo dele tremia.

– O que foi? Está com medo? Não me faça rir – o homem deu uma risada.

– Não – disse ele com a cabeça baixa – só estou rindo do que eu farei com você.

O rapaz levantou o rosto com um sorriso psicopata estampado no rosto, mas... O seu olhar... Aquele não era mais Alex, aquele era...

– Olá papai – disse David – há quanto tempo, né? Ah, e sim, eu ouvi tudo, e saiba que terei o mesmo prazer em esquartejar você em mil pedacinhos.