Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 82
Nada se compara à você


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Finalmente deixo a vocês um capítulo inédito. Ele ficou um pouco grande e bastante intenso, mas adianto que fecha um ciclo dessa temporada para dar início ao último ciclo, o de fechamento. Nesse capítulo, temos uma música que amo demais chamada "Nothing compares 2 u", do Prince (RIP), ou "Nothing compares to you", que quer dizer "Nada se compara à você". A versão, no entanto, é a de um cover do Chris Cornell (RIP) e esse é o link:
www.youtube.com/watch?v=IuUDRU9-HRk

Bom, espero que gostem! ♥



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Um mês depois...

 

— A mochila?

— Sim, mamãe..

— A garrafinha de água?

— Sim, mamãe.

— O livro de desenhos?

                Dessa vez ele só bufou. Aquele pequenino poço de personalidade bufava para ela, ora essa. Natsumin se agachou à frente do pequeno Ethan e tocou seu rostinho.

                — A mamãe só quer saber se tá tudo certo. Mamãe nunca ficou longe de você por tanto tempo.

                — Mas é dois dias! — ele olhava para ela com aqueles olhos escuros. A luz que vinha da janela do quarto de hotel destacava a cor cinza nos olhos dele. Cristo, eram os olhos de Castiel.

                E por falar nele...

                A campainha tocou.

                — É ele, mamãe! É Catiel!

                Natsumin suspirou e sorriu antes de abrir a porta.

                — Oi, pingulinho! — Tsubaki tinha um sorriso aberto enquanto olhava para Ethan, aos pés de Natsumin. Ela beijou o pequeno, depois abraçou a amiga.

                Ethan mão parecia de bom humor.

                — Olha, mas o que está havendo? — Tsubaki tentou pegá-lo no colo, mas ele agarrou-se à perna de Natsumin.

                — Malcriação. — Natsumin fechou a porta e entrou enquanto tirava o pequeno de sua perna e o pegava no colo.

                — Me lembra alguém... — Tsubaki piscou para a amiga com um sorriso, antes de se sentar no sofá. Natsumin a observava, tentando entender o que ela queria àquela hora da manhã e, justo quando Castiel estava pra chegar.

                — Tsu, eu só preciso terminar de arrumar as coisas pro Ethan, o Cas..

                — Eu não vou demorar. — Tsubaki tinha as expressões sérias, o que era completamente atípico dela.

                Natsumin sentou-se ao lado da amiga no sofá e esperou.

                — Castiel te ama. — Tsubaki olhava fundo nos olhos dela. — É perceptível a todos, menos a você.

                Natsumin crispou os lábios. — Não é tão fácil assim. Você não o conhece.

                — Na verdade, conheço um pouco. — Tsubaki tirou um folheto da bolsa que carregava. Era um folheto dos Tríades. Acima do logo da banda, havia descrições como “último show na cidade”.  — A gente tem bebido juntos desde o casamento da Ayuminn. Ele vem me ajudando a encontrar o paradeiro do Nath.

Natsumin pegou o folheto em suas mãos. Os olhos bateram na palavra “último”.

                — Ele vai embora. — Natsumin suspirou. — E você não tinha que procurar o Nathaniel.

                — Ele não tem porquê ficar. — Tsubaki se levantou, um pouco frustrada com a atitude de Natsumin.

                — Não é simples, Tsubaki! — Natsumin se levantou também e encarou séria a amiga.      — Eu não quero discutir. — Tsubaki abaixou a voz a ponto de quase não ser mais audível. Ela fazia isso quando estava muito irritada e incomodada, diferente das pessoas que aumentavam o tom de voz. — Não tô aqui pra te dizer o que fazer, mas já que ele vai embora, achei que precisava saber.

                Natsumin a observou seguir para a porta. Castiel a estava evitando há um mês, sequer apareceu para ver o filho. Ela se recordou naquele momento de vê-lo conversar com Tsubaki no casamento de Ayuminn e de depois vê-lo com Ethan adormecido no colo. Aquela visão era a família que um dia ela pensou em ter. Mas, agora tudo estava mudado. Ela estava noiva, Viktor estava bem.

                Tsubaki acenou e bateu a porta. Natsumin dispersou seus pensamentos, permitindo-se cair sentada no sofá com um suspiro. Ao seu lado, o pequeno Ethan a olhava. Ela sorriu pro filho.  

                Bateram à porta.

                — É ele, mamãe! — Ethan saltou do sofá rapidamente, segurando a mochilinha, aquele pigmeu.

                Natsumin abriu a porta e, dessa vez, não teve surpresa.

                — Oi. —  Castiel assentiu friamente com a cabeça.

                — Chegou cedo. — ela sentiu-se uma idiota por tentar puxar assunto e ser correspondida com um Castiel desviando o olhar para o pequeno Ethan que agarrou-se à usa perna.

                — Catiel!!! — ele abraçou o ruivo com fervor, assim que Castiel pegou-o no colo, não sem antes jogá-lo no ar como sempre fazia.  

                — Já não te falei que é papai, moleque? — ele afastou Ethan para olhá-lo, fingindo estar sério. — Vamos lá, vou repetir. Eu falo “pa” e você fala...

                — Catiel.. — Ethan encostava a testa à dele com aquele sorriso safado que sabia fazer. Natsumin olhava os dois, sentindo um peso no peito. O peso que vinha com a partidade de Castiel. Era estranho ve-lo depois do que aconteceu e quase aconteceu entre os dois no casamento, como se nada tivesse acontecido, como se ele não tivesse sumido por um mês, voltado com um ultimato e tê-la mandado uma mensagem pelo celular, também como se nada tivesse acontecido, para passar um fim de semana com Ethan.  

                Notando aqueles olhos azuis tristes, Castiel pigarreou, chamando a atenção de Natsumin. Ela ainda evitava olhá-lo nos olhos, mas Castiel se aproximou com Ethan no colo e uma voz baixa e seca.

                — Trago ele na segunda de manhã. — ele buscava os olhos dela, mas não encontrava, ela não o olhava de volta.

                — Tudo bem. — Natsumin acariciou a cabeça do filho.

                Castiel assentiu e deu de ombros, caminhando em direção à porta.

                — Te amo, mamãe. — Ethan se jogou para o colo de Natsumin assim que chegaram à porta e a abraçou com força.

                — Também te amo. — Natsumin apertou com força o filho e o deixou ir. Nos olhos do pequeno começaram a brotar lágrimas e ele começou a chorar.

                — Oh, carinha... — Castiel o balançava desajeitado, sem saber o que fazer. — Você quer ficar? — entre as lágrimas, Ethan balançava a cabeça negativamente.

                — Ethan... — Natsumin estendeu as mãos e Ethan se jogou novamente para seu colo. — Não quer se divertir com o Castiel? Tocar música? — Ethan esfregava o pequeno rostinho no pescoço da mãe.

                Castiel olhava mãe e filho com um pouco de tristeza. Sabia que não tinha como competir. Ele ainda era um estranho ao menino.

                Natsumin o balançava no colo com ternura enquanto murmurava algumas coisas para ele, explicando como ele iria se divertir com o “papai”.  Aquilo o fazia querer ser parte daquele pequeno mundo mais ainda. Castiel se aproximou e Ethan se jogou novamente no colo dele, agora mais calmo. Os dois saíram por aquela porta e Natsumin ficou parada, acenando enquanto prendia o choro. Uma confusão de sentimentos carregava aquelas lágrimas. Ora era por ficar longe do filho pela primeira vez por tanto tempo, ora pela certeza de que havia perdido Castiel para sempre.

                Ele caminhava com o pequeno no colo e a cabeça em turbilhão. Merda, ele não conseguia sentir raiva dela e aquilo era o que mais o irritava. Queria odiá-la, não querer se aproximar, mas não conseguia. Primeiro porque, se enxergasse com clareza, ela não o fez de todo, mal. Ele decidiu ir e deixa-la, ela teve razão. Esse mês esteve afastado, focando nas músicas e no show que se aproximava no outro final de semana. O último na cidade. Estava exausto. O produtor propusera descanso, antes do último show na cidade. Era a primeira vez que ele teria férias em anos. Esse final de semana, no entanto, era apenas um breve descanso. Achava que ficar longe de Natsumin o faria bem, mas nesse último mês fora uma tortura dormir. Não conseguia parar de pensar na estufa, em como ela confessou que o queria e logo o mandou embora. Não conseguia parar de pensar no filho e em tudo que poderia perder.  

                Ainda assim, não teve escolha. Estar próximo dela e não poder tê-la em seus braços, não poder confessar o que sentia, doía tanto quanto a distância. Dessa forma, ele distanciou-se com Ethan e seguiu pelo corredor. Pressionou o botão do elevador, mencionando ao garoto que o mostraria o estúdio e, claro, o menino perguntou o que era um estúdio.

                Merda, a quem estava enganando?

                Antes mesmo de responder Ethan ele retornou aqueles passos no corredor.

                Não interessa. Não interessa o orgulho, ou a dor de não poder confessar seus sentimentos. Natsumin e o garoto eram... essa breve noção de família que ele nunca teve. E, não importa que ela estivesse com o Viktor e não com ele, ele teria de aceita-la como ela é.

                O ruivo bateu à porta mais uma vez.

                Alguns segundos depois, ela a abriu, surpresa.

                — Eu prometo que não haverá nada entre nós dois. Eu prometo que irei respeitar as suas escolhas e que dormiremos em quartos separados. Eu prometo que estarei presente quando me quiser, para cuidar desse moleque aqui. Só não quero... estou cansado dessas brigas de adolescentes. Nós vivemos nossas vidas, fazer o quê. Fizemos nossas escolhas. Então vem. Não vai fazer mal fingir que o mundo inteiro não existe por um final de semana.  

                Natsumin ficou parada por um instante, tentando entender o que estava acontecendo. Nunca em sua vida vira Castiel como estava vendo naquele momento. Parecia desesperado, mas, ao mesmo tempo conformado. Ele queria a amizade dela e aquilo bastava. Ele não queria se afastar de Ethan.

                — T-tudo bem. — Natsumin crispiu os lábios antes de entrar para fazer as malas.

***

                O céu límpido daquele sábado era pintado por um azul claro. Da redonda estrela de fogo isolada naquela pintura azul, emanava a luz da manhã, aquecendo os corpos no solo que se banhavam entre as 4 piscinas do clube. Um rapaz de cerca de 18 anos tocava violão no palco que sobrevoava a primeira piscina, dividida entre adultos e crianças. Debaixo do guarda sol, na companhia de apenas um violão e uma caixa de som, o garoto de pele bronzeada e cabelos escuros tocava covers acústicos de músicas populares da atualidade. Caminhando em direção à piscina próxima ao palco, Castiel vestia uma regata cinza, bermuda, boné e óculos escuros para disfarçar a aparência, embora lhe tivesse sido garantido que n]ao haveria fãs no local, enquanto andava segurando a mão do pequeno Ethan, que por sua vez, balançava no ar o T-Rex articulado que Castiel o havia presenteado. O moleque adorava dinossauros. Atrás dos dois, Natsumin vinha, cautelosa. Odiava chamar atenção. Os cabelos negros estavam presos num coque alto, os óculos escuros tapavam os olhos azuis e ela vestia um vestido verde escuro leve e longo e chinelos, que cobriam o corpo com um maiô por baixo. Ela olhava ao redor, um pouco envergonhada diante de tantos desconhecidos de pele bronzeada e sorrisos artificiais. Castiel parou de andar e olhou para trás, esperando-a.

                — Vem, mamãe! — o pequeno Ethan batia os pezinhos impaciente. Estava louco para entrar na água.  Natsumin olhou ao redor antes de suspirar e se aproximar, seguindo para a cadeira de praia mais próxima. Castiel parou ao seu lado e colocou a bolsa onde ela sinalizou, ao lado da cadeira, abaixo do guarda sol. Natsumin tirou um protetor e fez sinal pra Ethan se aproximar. O pequeno, que já tirava a blusa e bermuda rapidamente, enquanto Natsumin e Castiel trocavam olhares cúmplices.

                — Pronto, vai. — Natsumin liberou Ethan depois de passar o protetor spray à prova d’água. Castiel seguiu o pequeno e Natsumin o chamou. O ruivo olhou para trás e ela se aproximou com o spray.

                — Fecha os olhos. — Natsumin prendia o riso. Castiel não contestou. Ela jogou o spary no ruivo, que soltou um espirro.

                — Se quer me matar, seja mais rápida! — ele segurava as narinas e apertava os olhos enquanto ela o rodeava de spay e ria.

                — Vai. Você é pior que ele. — ela finalizou dando de ombros e passando em si mesma.

                Alguns minutos depois, Natsumin se aproximou da piscina em que Castiel e Ethan brincavam. O ruivo segurava um alossauro que brigava com o T-Rex de Ethan e, claramente perdia. Ela tocou um dos pés para sentir a temperatura da água, em seguida, entrou num mergulho.

                — Mamãe! — Ethan comemorou, se jogando para frente com a bóia, o que forçou Castiel, que não tirava os olhos dele um segundo, a se aproximar também. Ele levantou os óculos e deparou-se com ela, agora com os cabelos molhados, vestindo um belo maiô preto com decote nas costas. O ruivo engoliu em seco.

                — Olá! — ela afundou na água e logo reapareceu eo outro lugar, ao redor da bóia redonda em que Ethan flutuava, roubando um beijo do pequeno que explodiu em risadas.

                Ela não via, mas bem próximo, um certo ruivo num escondia o sorriso de canto que surgiu ao vê-la naquela felicidade. Pela primeira vez em sua vida, Castiel provava o que era uma verdadeira família. E ele gostava do que sentia.

                Após um momento de risadas, os olhos dela encontraram os dele. Os dois se olharam por segundos, tão intensos que pareceram minutos, até que foram interrompidos.

                — Natsumin? 

                Natsumin virou para trás e seus olhos encontraram uma moça de cabelos curtos platinados e com mechas cor de rosa vestindo óculos pretos redondos e um maiô também preto.

                — Chani? — ela sorria enquanto se aproximava da borda da piscina.

                — Natsumin! — Chani retirou os chinelos e se sentou na borda.

                — Meu Deus, quanto tempo. — Natsumin olhou Castiel, que assentiu como se já fosse claro que ele olharia Ethan enquanto isso, e depois sentou-se na borda, ao lado de Chani. — Achei que tivesse saído da cidade.

                — Não, só mudei de curso. — Chani sorriu para ela. — Acho que fiz a escolha certa. Meu lugar é nas artes.

                — Sempre soube. — Natsumin passava a mão pelos cabelos, retirando o excesso de água.  

                — Eu acho que você me influenciou muito na escolha. — Chani sorriu novamente. Aquele sorriso de menina que Natsumin se lembrava.

                — Já se formou? — Natsumi torcia os cabelos, o que chegava a ser engraçado.

                — Me formo no ano que vem e.. — Chani finalmente notou Castiel e Ethan. — Oh, aquele é o pequeno Ethan?

                — Já não tá mais tão pequeno. — Natsumin levantou os ombros enquanto Chani acenava um olá à Castiel e sorria para o menino. Ethan nem ligava, estava no mundo dos dinossauros, se divertindo.

                Sem dizer nada, Castiel virou a bóia dele para a frente. Ethan, um pouco ressabiado deu um sorriso claramente forçado e sibilou um “oi” entredentes.

                Os três presentes riram.

                — Ele tem personalidade. — Chani levantou os omvros.

                — Não sei a quem puxou. — Natsumin e Chani sorriram, em seguida Natsumin e Castiel trocaram olhares cúmplices.

                — Bom, tenho que ir, daqui a pouco são 11 horas e não posso pegar esse sol. — Chani abraçou Natsumin e se levantou. De fato, ela tinha a pele de porcelana muito pálida, não a faria bem um sol forte. Natsumin correspondeu o abraço.

                — Podemos nos ver mais tarde? — Natsumin indagou. — Temos tanto o que falar.

                — Vamos no show à noite. Você vai adorar. — Chani sorriu.

                — Não posso.. — Natsumin olhou para Castiel e Ethan.

                — Eu fico com ele. — Castiel murmurou para ela. Natsumin assentiu, agradecendo.

                — Tudo bem! — Natsumin respondeu.

                — Ótimo! — Chani se foi com um sorriso.

                Natsumin coltou o olhar à Castiel, depois que a amiga partiu. O ruivo a observava em silêncio.

                — Mamãe, deixa! — Natsumin voltou à realidade. Nos instantes em que conversava com Chani, lembrava da Natsumin do início da faculdade. Ela virou o rosto para onde o filho apontava. A poucos metros, havia uma área paga de recreação e muitas das crianças na piscina começaram a ir para lá e Ethan havia prestado atenção nisso.

                — Eu pago. — Castiel já tinha Ethan fora da bóia em seu colo e já andava, antes que Natsumin pudesse pensar. Quando chegaram mais perto, viram a placa com os horários. O de agora já estava lotado.

                — Mamãe! — Ethan apontava para dentro.

                — Podemos trazê-lo mais tarde. E você pode ir ao show, se quiser. — ela olhou nos olhso de Castiel.

                — Eu passo o show. Mas podemos trazê-lo mais tarde sim. Faz mais sentido já que vamos almoçar logo. — Castiel tinha a voz bem fria e distante. Natsumin se lembrou que ele ficou assim depois de um longo telefone mais cedo, sobre o qual ela não perguntou.

***  

                No salão bem ao estilo tropical, com telhado de palha e luzes quentes, um rapaz de cerca de 18 anos, o mesmo que tocava de manhã, tocava mais músicas populares, dessa vez, algumas mais românticas. As pessoas vestiam coroas de flores e Natsumin percebeu que era a única que não tinha uma. Adentrou um pouco envergonhada, buscando o primeiro bar que viu. Sentou-se em seu vestido curto azul claro de frente ao balcão e o barman, um homem bem bonito, vestindo um blusão aberto e um sorriso indecente, piscou para ela, indagando o pedido. Natsumin limpou a garganta antes de continuar, devia confessar que se sentiu um pouco balançada por aquele charme e pediu um mojito. Checou a hora no celular e esperou. Chani marcou às 20, ainda faltavam dez minutos.   

                — Mais um mojito. — Natsumin virou-se para a voz conhecida. Chani sentou-se ao seu lado, trajando roupas escuras e uma maquiagem também. Seu estilo gótico/punk era único.

                — Desculpa, não queria me intrometer, mas... você parece feliz. — Chani empurrou o mojito que chegou para Natsumin e esperou pelo seu. 

                Natsumin sorriu. — É, acho que sim. — ela tomou um gole do mojito e sentiu o álcool descer pela garganta. — Quer dizer, para a mórbida Natsumin..

                — Ser mórbido não é ruim... — Chani sorria.  O mojito dela finalmente chegou e ela tmou mais um gole. — Você ainda tá no hotel?

                — Infelizmente. — Natsumin tomou mais um gole. — Acho que só saio de lá depois que me formar...

                — Você ainda quer se formar? — Chani tomou mais um gole, dessa vez um pouco cabisbaixa. — Eu às vezes acho que deveria me dedicar mais à prática do que à teoria.

                — Bom, um não impede o outro. — Natsumin virou desceu do banco alto e apontou para o palco com a cabeça, incitando Chani a acompanha-la. — Eu tive que me desdobrar e acababei não conseguindo me formar com a turma original, mas.. também com um filho, complica.

                — Mas e as suas composições? — Chani a acompanhava até mais próximo do palco. Pararam diante dele.

                — Eu vendi minha primeira. — Natsumin tomou mais um gole, orgulhosa.

                — Oh, nossa! Qual? — Chani pulou de alegria, o que foi engraçado. — Foi “Diamante Bruto”, não foi?

                — Como você sabe? — Natsumin abriu um largo sorriso. De repente se via como caloura na faculdade novamente.

                — Acho que conheço você... — Chani deu uma risadinha. — Além do mais, era a que eu mais gostava.     

                — Jura? Achei que gostasse de “Ônix”. — Natsumin deu uma olhadinha no cantor, que trocava o violão por um ukelele.

                — Ônix vem depois. Diamante bruto tem uma paixão profunda e melancólica. Gosto disso.

                — É. Podemos dizer que sim... — Natsumin tomou mais um gole do mojito e o rapaz passou a tocar alguns acordes que ela reconheceu. Quando ele pôs voz, ela percebeu. Ele começou a tocar “Those eyes” dos Tríades, a banda de Castiel. Essa composição era dele.

                Natsumin olhou ao redor, na falsa esperança de tê-lo por perto. Mas ele não estava.

                — Essa também é muito boa. — Chani apontou para o cantor com a cabeça.

                — É. É sim. — Nastumin lembrou-se de quando Castiel dedilhou essa música para ela em seu quarto. Ele não confirmou, mas pela forma como ele fez aquilo e silenciou quando ela perguntou... sim, aquela música era para ela.

                — Vocês são bonitos juntos. — Chani terminou o mojito com um sorriso sincero. — É ele? O Diamante Bruto?

                Natsumin suspirou ao olhar a velha amiga. Chani surgiu em sua vida no momento em que ela mais precisou. Era caloura na faculdade de música, como ela, mas Natsumin estava ainda lidando com o início do papel de mãe e com a mudança de vida, com lidar com a música depois de muitos anos, com o fato de Ayuminn e Tsubaki desaparecerem por um tempo por causa de trabalho e família, o mesmo com Rosa, Alexy.. Enfim, eles tinham suas vidas. E chani preencheu todo esse vazio.

                — Você sabe tanto de mim. — Natsumin soltou o ar numa risada triste. — Como pode?

                — Tem conexões que não explicamos. — Chani assentiu para ela.

                — Mas eu tbm te contei tudo naquela noite, né? — Natsumin relembrava em flashes o dia em que ela e Chani ficaram bêbadas na festa de boas-vindas e uma banda cover dos Tríades tocou todas as músicas de Castiel.

                — Você xingava todas as músicas dele. — Chani sibilou como se adivinhasse os pensamentos da amiga. Elas viajaram para as mesmas regiões de pensamento, aparentemente.

                — Ai, foi horrível... estar bêbada e ver uma imitação... tava tudo tão recente. — ela olhou novamente para o palco. De alguma forma, queria que ele estivesse ali no lugar do garoto com o ukelele.

                — Mas vocês estão juntos agora? — Chani terminou seu mojito.

                — Não, mas ele assumiu o Ethan. — Natsumin colocou o copo vazio dela em cima da primeira mesa que viu. — Estou noiva do Viktor.

                — Por que? — Chani levantou as sobrancelhas.

                — Porque é o certo... — Natsumin suspirou.

                — E onde ele está? — Chani fixava o olhar na amiga.

                Natsumin suspirou.

                — Não parece tão certo. — Chani colocou a mão no ombro de Natsumin.

                — Ele vai embora de novo. Em breve tem a turnê do novo CD.

                — Isso não significa nada. — Chani retirou a mão do ombro dela e passou a revirar os bolsos.

                — Eu tenho meus estudos, tenho o Ethan, tenho minhas músicas e o Viktor, ele sempre esteve..

                — Toma. — Chani retirou um pingente rosa dos bolsos e o fino cordão de prata do próprio pescoço. Num instante juntou os dois e pegou a mão de Nastumin. — Esse é um quartzo rosa. É a pedra do amor. O quartzo rosa em excesso te dá desequilíbrio, então normalmente a gente regula com a verde, a razão. Mas você está sendo racional demais e está esquecendo seus sentimentos. Use no pescoço. Vai te fazer bem.

                Natsumin não teve palavras para contestar. Chani ficou parada, esperando-a colocar a pedra no pescoço.

                — Obrigada, Chani. — Natsumin terminou de pôr o colar e depois puxou a amiga num abraço inesperado.

                A música cessou e enquanto tomava água, o cantor levou mais uma vez a boca ao microfone.

— Ora, não acredito, quem temos aqui. É ele, nosso ídolo, Castiel!

                O coração de Natsumin disparou. Todos no salão viraram para a porta, inclusive ela mesma, deparando-se com Castiel que vestia regata e bermudas. Ele passou a mão pela nuca, mentalmente xingando a si mesmo por ter tido a ideia estúpida de aparecer por ali.  

                Chani imediatamente olhou para Natsumin. Natsumin revirou os olhos.

                — Vem cá, Castiel! Canta para gente um pouco! — o rapaz no microfone pediu e Castiel balançava a cabeça para os lados enquanto levantava a mão, negando. Ele apontava para a garganta, dizendo que não estava bem. — Você pode então só tocar, não é, pessoal? — o cantor puxava a plateia que começar a clamar: “Cas-ti-el, Cas-ti-el”, Cas-ti-el”.

                Natsumin suspirou. Da porta, ele a encontrou com o olhar e esperou, como se pedisse permissão. Natsumin levantou os ombros e sorriu como quem diz que seria bom pra ele aparecer um pouco.

                O ruivo então dirigiu-se ao palco diante de uma ovacionada. Ele abaixava a cabeça agradecendo e apertou a mão do cantor, que mencionava que era um grande fã. O rapaz o passou o violão e diante de um silêncio ansioso, ele afinou o instrumento antes de continuar. O cantor colocou o microfone diante do ruivo, que cedeu. Castiel limpou a garganta antes de falar.

                — Bom, é... — ele afinava o instrumento enquanto discursava. — Eu vou fazer um cover acústico do Prince, se vocês não se importarem. — Uma pessoa isolada ao fundo, provável fã de Prince, gritou um uhul bem alto, fazendo outros rirem, inclusive Castiel, que abriu o tradicional sorriso de coiote que Natsumin não via há tanto tempo. Ele parecia tão à vontade no palco. Estava no caminho certo. — Essa versão foi feita pelo Chris Cornell, que morreu um ano depois dele. É meio melancólico, mas são duas lendas que merecem respeito. E essa música é fantástica. Então... é isso. — Castiel assentiu para o garoto ao seu lado, que pegou o ukelele para dar uma improvisada. Da plateia, Natsumin prestou atenção na performance ao lado de Chani, que prestava atenção nos dois.

                Castiel começou a levada no violão e Natsumin reconheceu “Nothing compares to you” com um sorriso. Ela já havia visto essa versão no youtube. Era belíssima. (Link pra quem quiser acompanhar: https://www.youtube.com/watch?v=IuUDRU9-HRk)

It's been seven hours and sixteen days
Since you took your love away
I go out every night and sleep all day
Since you took your love away

 

                A voz do ruivo tomou o ambiente. Casais se abraçavam e alguns dançavam, ao som daquela voz ligeiramente rouca e amargurada, o timbre característico de Castiel.

 

Since you been gone I can do whatever I want
I can see whomever I choose
I can eat my dinner in a fancy restaurant
But nothing
Nothing can take away these blues

'Cause nothing compares
Nothing compares to you

 

Nesse momento, Natsumin sentiu uma proximidade de sua história com ele (desde que você se foi eu podia fazer o que quisesse, eu podia escolher que meu quisesse). Castiel cantava com os olhos fechados, ou evitando olhá-la.

 

It's been so lonely without you here
Like a bird without a song
Nothing can stop these lonely tears from falling
Tell me where did I go wrong

 

                A letra invadia o coração de Natsumin com tamanha intensidade que ela sentiu seus olhos lacrimejarem. Ela também se sentia como um pássaro sem sua canção. Se sentiu assim por anos depois que ele se foi. E nada.. nada preencheu o vazio que ele deixou. A sua cura estava num pedacinho dele que deixara para trás. Seu Ethan.

I can throw my arms around any girl I choose
But it just reminds me of you
I went to the doctor and guess what it told me
He said, boy, you better try to have fun no matter what you do
But he's a fool

 

'Cause nothing compares
Nothing compares to you, hey

 

                Ainda assim, mesmo com ele cantanto “Eu poderia jogar meus braços ao redor de qualquer garota que escolhesse, mas isso só me lembrava de você, mesmo que os olhos de Castiel encontrassem os seus com intensidade, mesmo que ela quisesse arrancá-lo daquele palco naquele momento e fugir, a razão dominava seus pensamentos. Ela não podia. Estava noiva e isso doía. Já havia se sentido culpada o suficiente pelo que aconteceu no casamento de Ayuminn. Não poderia ceder a uma segunda traição. Viktor ficaria destruído.  

Desde aquele momento em que seus olhos se encontraram, Castiel não retirou mais os olhos dos dela. Ele cantava já com um ar derrotado e ela devolvia um olhar que dizia “sinto muito”.  Castiel cantava como se mandasse um recado, cantava como se declarasse. Nada, de fato, se comparava à ela.

All the flowers that you planted, mama
In your back yard
All died when you went away
And I know living with me is sometimes hard
But I'm willing to give it another try

 

Conforme a música seguia, Natsumin lutava para prender as lágrimas. Aquela versão era tão forte e ela nunca vira Castiel daquela forma. Ele sempre teve um ar superior de quem nunca desistia. Hoje ele olhava para baixo, a voz estava derrotada. Nesses dois últimos versos que diziam “eu sei que viver comigo é difícil, mas eu anseio por dar uma chance a isso tudo”, ele fixou os olhos nos dela e assentiu, como se pedisse permissão. Ele a queria de volta, só precisava de uma chance. Aqueles olhos escuros quase imploravam na intensidade daquela voz amargurada e naquelas letras bem escolhidas.

 

'Cause nothing compares
Nothing compares to you
Nothing compares
Nothing compares to you, to you
To you

                Castiel repetia “Nada se compara a você” diversas vezes, enquanto improvisava no violão, acompanhado do rapaz no ukelele. Quando diminuiu o ritmo, o rapaz abafou o ukelele e Castiel abafou o violão, permitindo a voz dele à capela finalizar o “Nothing compares to you” belamente. Ele fechou os olhos e, quando os abriu, encontrou novamente os dela. Sério, ele finalizou, aclamado pelo salão. Chani olhou Natsumin, depois Castiel. Era ele mesmo. O Diamante Bruto de Natsumin.

                Castiel assentiu, agradecendo, e, antes de descer do palco, o rapaz pediu uma foto. Um pouco sem graça, nunca foi fã disso, Castiel sorriu para a selfie no celular do rapaz, depois seguiu para fora dali. Antes de passar pela porta, ele olhou para Natsumin, como se a convidasse a juntar-se a ele. A moça, no entanto, apenas suspirou enquanto processava todo aquele momento. Seus olhos lacrimejaram. Ela apertou com força a pedra no colar contra o peito.

                — Siga a sua intuição. — Chani tocou seu ombro novamente. — Onde está Ethan?

                — Naquele brinquedo caro e sem graça. — Natsumin ria entre lágrimas.

                — Quer que eu pegue ele lá? — Chani franzia o cenho.

                — Não, deixa que eu vou. Eu não posso falar com ele agora.

                — Nessa vida, você só vai ser Natsumin uma vez.

                — O que quer dizer com...

                Nesse momento um homem distribuindo coroas de flores, colocou uma em Natsumin e outra em Chani. Em seguida, puxaram as duas para uma roda de dança enquanto o rapaz voltava a tocar o ukelele, dessa vez numa música mais animada e dançante.

                — O que quer dizer com isso? — Natsumin gritava entre a roda de pessoas loucas e enérgicas para Chani, do outro lado.

                — Mesmo que haja outras vidas, você só vai ter chance de ser você de agora. Não tem como voltar a mesma! — Chani ria sem graça enquanto era balançada junto à amiga e o bando de loucos.

                — Não dá! É...

                — No três a gente sai! — Chani gritava de volta. — Um, dois... três!

                As duas se livraram da roda juntas, ainda com as coroas de flores nas cabeças.

                — Vai, eu aviso se der o horário do brinquedo. — Chani sibilou rapidamente. Natsumin voou pela porta.

                Ao chegar do lado de fora, não foi difícil encontra-lo. Do outro lado do jardim, num canto não muito bonito, Castiel sentava sobre o concreto que cobria a bomba dágua das piscinas que, naquele momento, estava desligada e o único ruído que ouviam era das cigarras num canto de acasalamento. Típico.

                Natsumin se aproximou a passos curtos, observando notando o ruivo tragar em silêncio, com o corpo de lado para ela. Ela se sentou do lado dele em silêncio e, então, suspirou. Sua cabeça não conseguia apagar o rosto dele olhando para ela do palco e a música ecoava em seus ouvidos.

                — Sabe, às vezes só tenho vontade de entrar num carro e dirigir sem rumo. Sumir por uns dias, esquecer quem eu sou e aproveitar o dia.

                Castiel exalava a fumaça pela boca e narinas. Nada disse.

                — Quer conversar? — ela olhava o ruivo, que tragou mais uma vez antes de dizer qualquer coisa.

                — Não.

                Natsumin engoliu em seco com a resposta dele. Mal sabia que o ruivo havia acabado de falar ao telefone mais uma vez. Estava confirmado. Eles entrariam em turnê mundial. Era ótimo, era fenomenal. Significaria que os jogos com Natsumin acabariam, que ele deixaria a cidade detestável em que nasceu mais uma vez e, ele torcia que, para sempre.

— E sobre a música? — ele virou o rosto para ela assim que ela perguntou. Castiel sabia bem onde ela queria chegar, mas podia ver nos olhos de Natsumin que a resposta dela seria negativa. Não importava o que ele dissesse. 

Castiel tragou mais uma vez em silêncio. — Não. — soltou a palavra com a fumaça.

— Eu acho que você não me quer aqui. Tudo bem. — ela se levantou. — Só é estranho, depois de toda a energia que eu senti ao vê-lo cantar.  — ele continuou em silêncio e desviou o olhar. Ela suspirou antes de dar de ombros e partir.

— Você não precisa responder nada. — ele deu umas batidinhas no cigarro antes de tragar mais uma vez.  Ele respirou fundo, como quem lutava contra si mesmo e Natsumin permaneceu ali, de pé, olhando-o. Seu corpo estava paralisado ao vê-lo anquela luta interna. Era dolorido. — Você está linda com esse... bagulho na cabeça. — Ele olhava para a luz cheia que iluminava seu perfil. — Sempre te achei linda. — ele virou o rosto e também o corpo para ela. — Mas nós dois sabemos onde essa conversa vai dar.

Natsumin ficou em silêncio. Aproximou-se vagarosamente e sentou-se ao lado dele, o rosto diante do dele. Ela o olhava tão fixamente que quase o deixou desconfortável. O ruivo deu mais umas batidinhas no cigarro para deixar cair as cinzas. Não tragou.

Nastumin pousou a testa na dele. Acariciou seus cabelos rubros que caíam sobre seu rosto. Sentiu a pele lisa, ele havia feito a barba. Acariciou seu rosto, um rosto que ela nunca esqueceriu. Ela beijou a ponte de nariz de Castiel, depois pousou a testa na dele mais uma vez.

— Eu sinto muito. — Natsumin pronunciou e logo Castiel soltou um suspiro triste. Ele beijou a palma da mão dela que estava em seu rosto e sobrepôs a mão na dela. Abaixou o rosto derrotado, mas Natsumin continuou ali. Ela não queria ir. Ela também o queria. Mas por que desistia? Não podia ser o noivado a única coisa que a prendia.  Ele levantou o rosto, esfregando docemente o nariz no dela. Natsumin suspirou, depois levantou e partiu.

— Natsumin? — no caminho de volta, ela ouviu uma voz conhecida a chamar.

                                                ***

Enquanto isso, na cidade...

Tsubaki aconchegou-se nos braços dele. Havia sonhado com Nathaniel por dias. Agora, sentia-se numa zona diferente, talvez num limbo de sentimentos. Depois dos meses que passou fora, sentiu que não conseguiu preencher o vazio que sentia e sabia que o vazio não era Nathaniel, mas a sua cidade. Seu trabalho no restaurante. Tudo parecia tão distante agora. Ela abriu os olhos.

— Ahhh!!!

— Aaaah!!!!

Ambos gritaram ao mesmo tempo assim que os olhos encontraram o rosto um do outro. Tsubaki levantou o lençol fino e notou seu corpo nu por debaixo. Inevitável. Gritaram novamente.

— Eu não sei se vou me acostumar... — Armin passo a mão pelos cabelos negros e a deu um sorriso. — Mas não vou negar que é bom.

— Eu não estaria aqui se... — Tsubaki sentou-se na cama, enrolando-se ao redor do lençol.

— Se? — Armin sentou-se também, mas sem pudor dessa vez, e levantou uma sobrancelha.

Tsubaki não respondeu.

— Se não estivesse bêbada, não é? — ele levantou os ombros, desapontado.

Tsubaki o olhou, desapontada consigo mesma. — Não, eu...

— Bom, se vale de consolo, eu não me importaria de dormir com você sóbrio. — ele enrolou-se no lençol e levantou da cama, buscando roupas limpas no armário.

— Se fosse no dia do casamento da Ayuminn, tudo bem, mas hoje....

— Hoje você estava sozinha no bar. — ele a cortou, irritado. — Eu fui gentil e você deu em cima de mim.

— EU NÃO DEI EM CIMA DE VOCÊ! — ela levantou da cama, enrolada no lençol e quase tropeçou no mesmo tecido que a envolvia, fazendo Armin prender o riso.

— Você sabe que deu. — o ar dele era mais leve, ele estava menos irritado e mais sarcástico.

— Eu estava carente e bêbada e você se aproveitou disso. — Tsubaki agora se cobria até os cabelos. Estava parecendo um fantasma.

— Você deu em cima de mim antes de estar completamente bêbada. — ele segurou firme o lençol e se aproximou. Tsubaki permaneceu no lugar, notando seu peitoral e abdômen definidos. Como ele conseguia ter esse corpo se só jogava videogame?

— Agora, pro exemplo, vc tá de olho no meu abdômen. — ele sibilou, mais próximo. — Confessa que você quis.

Tsubaki deixou cair o lençol de seu rosto, até a altura do busto em que se envolveu. Ela se aproximou, séria, olhando-o nos olhos. Armin franziu o cenho e recuava à medida que ela se aproximava.

— Ok, agora você está me assustando. Se quiser que eu diga, eu digo, a culpa foi minha, eu te seduzi porque você estava tão linda que eu não resisti.

Tsubaki parou de andar. Soltou uma risada.

Armin a olhou estranho, depois entendeu o clima que mudava.

— Eu acho que você devia tomar um banho. Meu quarto tá com cheiro de piriri. — ele deixou o lençol cair propositalmente.

— Idiota! — Tsubaki riu e socou o peito dele, mas não pôde deixar de notar novamente seu membro exposto, depois, passou direto por ele em direção ao banheiro.

— Quer ajuda? — Armin murmurou com um sorriso encantador.

— Quer saber? — Tsubaki retornou, caminhando em direção à ele novamente. — Não vou tomar banho não. ESSE CHEIRO DE PIRIRI É SEU! — ela soltou o lençol e passou direto por ele, nua. Armin não pôde conter o olhar, que a perseguiu até a cama, onde ela deitou de bruços com as pernas para cima. Tsubaki então olhou para ele e sorriu.

— Eu acho.. — Armin se aproximou da cama e flexionando o corpo para ficar mais próximo dela. — Que o cheiro é teu sim! — ele pegou-a no colo e correu para o banheiro, ambos rindo enquanto ela se debatia. Assim que chegaram ao cômodo, Armin a colocou no chão. Olhou-a nos olhos por uma tempo e, em seguida, se afastou.

— O que foi? — Tsubaki franziu o cenho ao ver sua mudança de humor.

— Eu não quero te forçar a nada, Tsubaki. Não quero que aconteça de novo o que...

— O que aconteceu com Natsumin. — Ela se aproximou dele. — Garoto. — ela pegou as mãos dele e colocou em seus quadris. — Me taca na parede e me chama de lagartixa.

Os dois soltaram risadas contagiantes antes de selarem um beijo fervoroso.

***

— Viktor?

Natsumin virou-se com os olhos arregalados. — Como que...

— Eu vi o vídeo na internet. — ele aproximou-se com um celular na mão e... um buquê de flores. — Você está tão linda. — ele entregou o buquê que Natsumin aceitou com os cenhos franzidos. Nunca foi muito fã de presentes como esses, ainda mais quando junto a um... comportamento estranho.

— Que vídeo na internet? — ela perguntou estranha, antes de ele a dar um selinho rápido.

— O da apresentação do... — ele sequer queria pronunciar o nome dele. — Um parceiro meu estava aqui na plateia e fez um story. Eu vi você nesse story. Depois, não demorou muito pras notícias chegarem rápido, espalhando que ele estava apaixonado.

— Viktor, o que você quer...

— Não quero insinuar nada. — ele a cortou, decidido. — Eu só estava aqui do na pousada do lado. Os grupos se dividiram porque era muita gente, então uma parte ficou nessa e outra na pousada do lado. Eu pedi a um colega para trocar comigo na hora. Precisava pedir perdão. Nós brigamos antes de eu viajar e eu não pude estar no casamento..

— Ah, sim. — Natsumin engoliu em seco e cheirou as flores. Eram rosas vermelhas, como de sua tatuagem na perna, agora exposta pelo minivestido.

— Você deixou o Ethan em casa? — ele indagou, preocupado.

— Não, ele está comigo aqui, mas a gente divide a guarda..

— A gente? — Viktor estava visivelmente confuso com os cenhos franzidos e a boca entreaberta.

Castiel surgiu das sombras, passando direto pelos dois.

— Castiel, espera. — Natsumin pediu e ele imediatamente olhou os dois ressabiados.

— Não estou entendendo.. — ele ergueu os olhos para Castiel.

— A gente tá passando um fim de semana juntos. Mas não tem nada de mais, dormimos em quartos separados e..

— Mas o que ele tem a ver com o Ethan? — Viktor murmurava, como se Castiel já não soubesse que era pai do menino.

— Enquanto você esteve fora, nós alteramos o registro. — ela o olhava, séria. Castiel cruzava os braços.

                Viktor bufou em passou as mãos pelos cabelos. — Tudo bem. Ele é o pai.

                — Eu sei. — ela assentiu.

                — Tem mais alguma coisa que preciso saber? — ele olhava para ela, depois para Castiel.

                — Eu vou pegar Ethan no brinquedo agora. Me esperem aqui. — Natsumin olhou os dois de relance antes de seguir.

***

— Dá pra parar de me esfregar como se eu estivesse imunda? — Tsubaki virou o rosto para trás. Estava sentada no colo de Armin, dentro da banheira. Ele esfregava as costas dela com uma esponja.

— Não dá pra evitar, é o que me distrai disso. — ele beijou o pescoço dela e levou a mão à sua região íntima.

— A gente pode resolver isso então. — um pouco desajeitada, ela se sentou novamente no colo dele, essa vez com o rosto de frente para o dele. Em seguida, beijou seus lábios e levou a mão ao membro dele.

— Ai, ai. — Armin ria enquanto ela fazia um bom trabalho. — Na água tem atrito, dói a beça.

— Ora, então não é como nos filmes, né? — ela sorriu, levantando-se e pegando uma toalha.

— Infelizmente. — Armin continuou sentado na banheira, admirando o corpo da moça.

— Tá esperando o que? — ela olhou para ele de relance.

— Nada! — num pulo, o rapas saiu da banheira e se enxugou. Os dois partiram para a cama, apressados.

***

Assim que ela saiu e esteve numa distância segura, Castiel começou, para a surpresa de Viktor.

— Era pra eu passar um fim de semana com Ethan, mas ele chorou. — o ruivo permaneceu naqueça distância segura onde sabiam que não cairiam no soco.

— Ele chorou porque não te conhece. — Vitkor alfinetou.

Castiel bufou e passou as mãos pelos cabelos. — Olha, não vou perder meu tempo discutindo com você. Sei que está com raiva da situação, mas a verdade é que não aconteceu nada. — naquele momento Castiel lembrou da quase transa no casamento de Ayuminn e o quase beijo há poucos minutos e há poucos metros de Viktor.

— Como se fizesse diferença. — Viktor chutou a grama sob seus pés e olhou para a lua.

Castiel acendeu mais um cigarro. Viktor virou o rosto para ele com desdém.

— Eu não gosto de você. — Viktor sibilou, sério.

                Castiel se limitou a levantar os ombros, como quem diz que sabe e não se importa.

— Antes de você ir embora eu sofri um acidente. Me deixou com uma perna um pouco deficiente, mas fiquei bem.... Ela esteve lá por mim o tempo inteiro.

Castiel surpira e exala fumaça com calma. Já sabia disso, Tsubaki o contara. Ele se sentiu um idiota por ter sido tão imbecil com Viktor, contando vantagem por Natsumin como se fosse um prêmio. Mas, não se importava com o que aconteceu com Viktor, não sentia culpa. Não foi ele quem o atropelou.

— Mas não. — Viktor continuou. — Não porque ela me amava ou algo do tipo, não quero jogar isso na sua cara.  Mas ela esteve lá porque se sentia culpada por aquilo. Porque sabia que eu a tinha visto com você.

— Onde quer chegar? — o ruivo o olhou, irritado.

— Natsumin não me ama, eu sei disso. Ela tem pena de mim. — Viktor voltou o rosto à lua novamente.

— Ela te ama, seu imbecil. — Castiel tragou mais uma vez. — Não é pena a forma que ela olha pra você.

— Nunca vai ser como ela olha para você. — Viktor não se moveu.

                — A escolha é dela. — o ruivo levantou os ombros.

                — Eu sei. — Viktor baixou o rosto novamente e colocou as mãos nos bolsos.

— O que você quer, afinal? — o ruivo se aproximou, finalmente. — Quer o quew que eu dê em cima dela por você?

Viktor sorri, o contrariando.

— Eu quero na minha vida alguém que me olhe dessa maneira... Ela nunca vai olhar.

— Já falou isso com ela? — Castiel não pôde conter um sorriso de canto de boca. — Não quero piorar as coisas, mas isso facilitaria MUITA COISA PRA MIM.

Viktor ri.  — Me desculpe, cara. Mas não quero facilitar as coisas para você.

Castiel assentiu. — É claro. Eu faria o mesmo.

Viktor  então lança um olhar à Castiel, depois passa direto por ele. Para, de costas.

— Nesses anos, pensei em muito pra te dizer quando você voltasse. No final, trocamos uns socos. — ele virou o rosto para trás, para Castiel. — Eu pensei em te dizer que, depois de quatro anos treinando, o sexo entre nós dois está sendo o melhor que já tive em minha vida. E que hoje transaremos muito novamente.

Castiel se aproxima com ódio nos olhos.

— Mas não quero. Pelo que parece, o mundo realmente gira. E você realmente está pagando pelo que me fez passar.

Castiel recuou e não avançou. Não valia a pena.

— Boa sorte então. Não estou aqui para disputar ninguém.

— Eu sei. — Viktor deu de ombros mais uma vez com aquele ar superior.

                                                ***

Eram três da manhã quando Castiel acordou com o choro de Ethan. Já esperava que Natsumin o deixaria com ele depois do que acontecera, assim como já esperava que nesse momento eles estivesse transando loucamente. Não podia negar, as palavras daquele idiota ressoavam em sua cabeça, não como uma lição de moral, mas o suficiente para fazê-lo não dormir, imaginando Natsumin nua sob o corpo dele e a forma como ele queria estar naquele lugar. Ele se levantou num pulo, pegando o pequeno no colo.

— Ei, moleque. Tá tudo bem. — ele balançava Ethan ainda sonolento no colo. Pelo visto ele estava tendo um pesadelo. Ele beijou a cabeça do menino, lembrando que quando tinha essa idade, não tinha memórias de seus pais com ele. Na verdade, ele mal tinha memória dos pais em qualquer idade. Sempre ausentes, ele nunca sentiu essa proximidade. — O papai tá aqui. — Completou diante do silêncio da noite.

***

Não muito distante dali, no outro quarto, Natsumin gemia – não de prazer, mas de dor – enquanto Viktor a penetrava. Ele estava diferente, rude, como se de alguma forma a punisse por algo e a culpa que ela sentiu pelo que aconteceu no casamento de Ayuminn não a ajudava.

                — Viktor.. — ele a penetrava com força e ela aguentava mais do que deveria. — Vitkor.. — ela pronunciou mais uma vez e ele a penetrou com ainda mais força e agilidade. — Viktor! — ele só parou quando gozou dentro dela. — Natsumin o empurrou depois do urro de prazer que ele soltou e, nua, passou a se vestir.

                — O que foi? — Viktor. sentou-se na cama, ainda sem fôlego.

                — Eu transei com Castiel. — ela o olhava com o olhar fixo, embora soubesse que era mentira. Ela não dormira com Castiel. Fora rejeitada por ele.

                Viktor passou a mão no rosto, decepcionado. Em seguida, suspirou.

                — Tudo bem, meu amor. — ele se levantou e se aproximou de Natsumin, nu. Tocou sua mão com carinho. — Eu também dormi com uma pessoa nessa viagem.

                Natsumin arregalou as órbitas azuis.


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Notas finais do capítulo

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