Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 83
Último show


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Finalmente deixo a vocês um capítulo inédito. Ele ficou um pouco grande e bastante intenso, mas adianto que fecha um ciclo dessa temporada para dar início ao último ciclo, o de fechamento. Nesse capítulo, temos uma música que amo demais chamada "Nothing compares 2 u", do Prince (RIP), ou "Nothing compares to you", que quer dizer "Nada se compara à você". A versão, no entanto, é a de um cover do Chris Cornell (RIP) e esse é o link:
www.youtube.com/watch?v=IuUDRU9-HRk



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Quando desceu àquela hora da madrugada esperava uma noite vazia e sem muitas supresas. Quando desceu, a luz fria da noite tocou seu rosto, esperava vê-la cintilar na água limpa da piscina do clube, esperava ouvir apenas o cricrilar dos grilos e o canto de acasalamento das cigarras. No lugar, porém, estava ele. E, a música que ouviu era um murmurar de uma melodia que a levava diretamente aos seus tempos de adolescente.

“If you want to sleep, I’ll pull a shade, / Se você quiser dormir, eu puxo a cortina

If you should vanish, I’m sure to fade / se você desaparecer, estou certo de que sumo

If you should smoulder, I’ll breath in your smoke / se você arder em chamas, eu respiro a fumaça

If you should laugh, I’ll smile and pretend that I made the joke / se você sorrir, eu sorri e finjo que fiz a piada.

And if you should ever leave me, I will crumble / E se você me deixar, eu desmoronarei

That’s just the way I am, I hope you never leave me / É assim que sou, espero que nunca me deixe”.

                O ruivo sentava à beira da piscina, os pés dentro da água, a calça de moletom enrolada até os joelhos para não molhar e Ethan deitado em seu colo. Cantava baixo, apenas para o menino, que aos poucos fechava os olhos. Quando cantava para não deixa-lo, doía o coração de Natsumin. Aquela música que significou tanto para ela, para os dois e o que construíram enquanto dois adolescentes insensatos e egoístas que deixaram os próprios demônios tomarem os rumos de suas vidas e separá-los. O que não esperava, era que o resultado de toda a chama que acenderam agora estava ali no colo dele, sendo ninado com carinho. E a música, que há muito significou o relacionamento dos dois e a forma como se amaram e desamaram na mesma intensidade, agora ressignificava o amor dele pelo filho. Aquele momento, a aquele breve momento mudava muita coisa.

                Menos a forma como Natsumin se sentia naquele momento.

                Ela queria correr para os braços dele naquele momento, abraça-lo, repousar a cabeça no ombro dele, senti-lo beijá-la, ouvi-lo cantar para ela I will crumble mais uma vez, a música que ele compôs para ela quando moraram juntos, fingir que suas cicatrizes não estavam mais abertas e que seus traumas não haviam retornado. Mas, mesmo vendo aquela cena cheia de amor e harmonia como pareceu naquele momento, ainda assim ela não compreendia por que não se sentia digna de ser amada.

                O pesadelo com a morte dos pais nunca desvanecera, mas esteve conformado com o tempo, mas, especialmente com o nascimento do filho. Torná-la mãe a ajudou a superar seus traumas, ou pelo menos era o que ela pensava até...

                Até tudo retornar naquela noite, até ela perceber que tinha diante dela tudo o que sempre quis, mas toda a sua insegurança, seu medo de ser amada, seu medo de seguir em frente a puxar para trás.

                Mas ele a notou antes que pudesse desaparecer.

— O moleque gosta de dormir olhando para a água, sabe. Um folgado. Vai te dar trabaho. — ele disse como quem conversa sozinho, os olhos não a fitaram do outro lado da piscina, apenas olharam para o céu.

— Vai nos dar trabalho. — ela o corrigiu.

— Hm? — dessa vez ele a olhou. Natsumin saiu da escuridão em que se escondia e andou até a piscina. A luz refletia na água e aqueles reflexos de água iluminaram o corpo dela, com ondas fluidas de luz e seus olhos mais azuis do que nunca. Castiel perdeu-se naquela imagem.

Ela sorriu para ele. Um sorriso triste. — Você é o pai, não é?

— É. — ele ajeitou os ombros, um pouco sem graça. Era raro ver o ruivo assim. — Quis dizer, a nós. 

— É. — ela contornou a piscina lentamente, a cabeça baixa e o corpo envolto em um roupão de hóspedes da pousada. Retirou os chinelos e sentou-se ao seu lado. Os pés lentamente entraram na água da piscina, como os dele.

— Dormiu. — ele aproximou o menino para leva-lo aos braços dela.

— Deixa ele com você. Está confortável. — ela pronunciou com a voz baixa e terna.

— É o que parece. — Castiel curvou os lábios orgulhoso, como quem diz que está aprendendo rápido.

Nesse momento, ela abraçou o braço do ruivo e deitou a cabeça em sue ombro. Pelo que conhecia dela, Castiel sentia que o gesto era um pedido de ajuda. Ele, porém, apenas deitou a cabeça sobre a dela, num sinal de apoio e aquela foi a deixa para ela falar.

— Eu disse ao Viktor que dormi com você. — a voz dela saiu embargada, mas ela ainda não chroava. — Me desculpe por parecer que estou te usando, mas é que...

Castiel apenas suspirou.

— Eu queria que fosse diferente. Que eu pudesse entender como é realmente amar alguém. Mas eu tenho medo de... não sentir nada. — ela olhava o próprio reflexo na água, não impedindo o próprio julgamento.

— Você não vai saber... — Castiel retirou a cabeça da dela. — Pelo menos se não tentar.

— Eu tentei. — ela tirou a cabeça do ombro do ruivo e observou os detalhes de seu rosto. Os lábios finos, a forma como o queixo dele e o maxilar destacavam seu pescoço, os olhos alongados e pequenos que pareciam de lince.

— Talvez não tenha tentado com a pessoa certa. — o rosto dele era tão sério ao olhá-la de volta, que suas palavras pareceram um sermão.

                — É... — ela mordeu o lábio, algo que não fazia há muito tempo, mas lago que fazia, e só ela sabia, quando estava seduzindo. Naquele momento, a rebelde que de vez em quando simplesmente adormecia e não mais voltava, apenas abriu os olhos para observar. A olheiras a mostravam cansada, fatigada. Naquele momento, Natsumin não conseguia entender porque o queria tanto, porque queria o corpo de Castiel depois do que passara lá em cima. Em sua cabeça havia uma confusão de sentimentos, mas era como se ela quisesse tirar dela os que restara de Viktor, como se tivesse nojo naquele momento embora achasse que ele não merecesse aquele repúdio, não depois de tudo o que fez por ela.

                Mas ela sentia. E era um nojo iminente, coisa que não acontecia quando ela estava perto de Castiel. Ela sentia uma chama que a consumia, boa ou ruim, queimava a sua pele e ardia, mas depois a deixava cansada e.… infeliz. O que queria dele, afinal? Por que não sabia se o amava? Por que aquela paixão doía tanto?     

                — Eu não vou negar que desde que te reencontrei, o que mais quero é tê-la. — Castiel pronunciava aquelas palavras baixo e sem olhá-la nos olhos, como se tivesse vergonha. — Mas depois de tudo o que aconteceu... E agora quando te vejo assim... você está precisando de ajuda, Natsumin e se eu sou parte de seus demônios, talvez seja melhor que a gente...

                — Não fique junto. — ela disse entre lágrimas.

                O ruivo se limitou a assentir com a cabeça. Castiel escondia, mas a ardência nos olhos denunciava que lacrimejavam.

                — Nós podemos ser amigos. — ela o lançou um olhar firme.

                — Vai ser impossível pra mim ser apenas seu amigo, quando estou... — ele virou o rosto para ela, cujos olhos azuis o fitavam intensamente, à espera que continuasse.

Castiel suspirou, deixando no ar o que iria falar. Não conseguia confessar. Não conseguia dizer que era porque estava completamente apaixonado por ela.

                Natsumin deixou as lágrimas caírem pelo rosto. Ela estava, sempre fora apaixonada por ele. Ela se crucificou por todo esse tempo e, por mais que tentasse abafar, ainda se crucificava.

                Sem palavras, Castiel apenas envolveu um dos braços nela e a abraçou. Natsumin passou os braços ao redor dele e de Ethan, um terno abraço triplo.

                — O que eu mais quero... — ela olhava pro filho enquanto pronunciava. —  é tentar, mas... algo em mim me diz que eu não mereço.  — ela confessou. Dessa vez, em voz alta e aquelas palavras eram um pedido de ajuda.

                Castiel suspirou. Ajustou o menino em um dos braços e com o outro, tocou o rosto dela.

                — Eu sinto a mesma coisa. — ele baixou os olhos para o rosto dela. A ponta de seus dedos a acariciavam com ternura. — Eu sinto que não tenho ninguém.

                Natsumin então recordou-se de como Castiel disfarçava sua solidão com a música e o mau-humor na escola. De como sue único amigo era Lysandre, mas agora Lysandre tomara outro rumo. De como ela quase não o via sair com os colegas de banda. De como ele, de fato, não parecia ter tido carinho dos pais.  

                — Estamos quebrados, Castiel. — ela o lançou um sorriso triste, lembrando de que ela teve o carinho dos pais, mas por imaturidade, aversão, teimosia ou por qualquer outra palavra os perdeu. De como s ejulgou a vida inteira, superou uma parte, mas a vida não a permitiu ser feliz mesmo que tentasse. Compraram sua música mas até agora não viu o comprador fazer uso dela, um comprador anônimo que não se pronunciou. Ela tentava compor, mas tinha que admitir que dava muito trabalho com a faculdade e mais tendo que cuidar de Ethan e, mesmo que esse final de semana tivesse sido um fracasso porque Ethan ainda não tem intimidade o suficiente com Castiel para fazê-lo ficar sozinho com ele e, por mais que seus amigos sempre a tivessem ajudado seja sendo babá do Ethan, seja olhando-o quando ela estava compondo, ainda assim, ela só se sentia um fardo. E, não queria, poderia parecer egoísta, mas não queria dividi-lo com Castiel. Ethan foi por muito tempo tudo o que ela tinha.

                Só que Castiel não tinha nada.

                Quer dizer, tinha a banda, o sucesso cada dia maior, a turnê nacional e mundial que se aproximavam, mas... ele... ele mesmo falou que está sozinho, que não tem ninguém.

                — Que merda. — ele devolveu o sorriso, tão triste quanto o dela. Natsumin hoje, via um Castiel que ela não conhcia. O Castiel que se escondia atrás da camisa de couro e do sorriso de coiote.

                Naquele momento, Natsumin fechou os olhos. Castiel gravou o rosto dela em sua memória. Quando fechou os olhos, os lábios tocaram os dela e naquela energia selaram um beijo apaixonado. Dois músicos quebrados e em dívida com o passado. Mas sabiam que o único caminho era seguir em frente.

                “Eu te amo”, Castiel pronunciou na própria cabeça quando os lábios se separaram do toque, num beijo terno. Ela o olhava de volta como quem parecia dizer o mesmo, mas isso ele nunca descobriria, a não ser que ela dissesse. E era por nenhum dos dois dizer que, embora muito parecidos, ainda assim não se compreendiam.

                — Talvez a gente dê certo quando nos resolvermos. — Natsumin crispou os lábios e tocou a testa na dele. Castiel levantou a cabeça e beijou a testa dela com ternura. Respirou fundo e os olhos cinza na escuridão pareceram um par de ônix.

                                                                                  ***

                Um ano depois...

— Hey, hey.

                Ele pronunciou ao microfone, a voz estava mais rouca do que de costume, reflexo do esforço das últimas semanas. Os shows estavam indo muito bem, a turnê nacional passara por vinte cidades e essa era a última da lista. A fama dos Tríades deslanchou, principalmente depois do videoclipe de “That ass”, cujo acesso no spotify liderava o top 10 internacional e estava em segundo no top 5 nacional. Ele fechou os olhos sem querer, depois de passar as mãos pelos cabelos bagunçados e suados. Naquele momento a água da piscina refletida nos olhos dela era tudo o que surgia em sua cabeça, um pouco alcoolizada. Ele tirou a jaqueta preta, sentindo o calor repentino seguido de milhares de gritos histéricos que arrancaram dele um sorriso sem graça. Em seguida, ele passou a correia da guitarra por sua cabeça e entregou o instrumento para o assistente de palco, que já segurava um violão nas mãos. Castiel trocou os instrumentos e conectou o violão no cabo p10.

                — Hey.. — ele pronunciou mais uma vez no microfone, abaixando as mãos para que cessassem os gritos. Olhou para a plateia em silêncio. Aquele era o maior público que tiveram desde o início da turnê. Mas, naquele momento ele olhou aqueles milhares de rostos desconhecidos na escuridão, notou-os calarem-se aos poucos, cedendo ao seu pedido. Uma emoção que não conseguia explicar, mas que ao mesmo tempo a ele pareceu tão vazia. Tudo porque não via amigos, não via família, na a via ali. Ele cantava a milhares de desconhecidos e dentre tantos rostos, nenhum o olhava com recordação. Naquele momento, de alguma forma, não parecia suficiente.

Estava bebendo mais do que bebia antes com os Tríades. Pelo visto o afastamento do filho e de Natsumin não fizera tão bem a ele. Naquele momento, ele apenas sentiu que aquela emoção, a mesma emoção que via nos rostos próximos a grade, rostos que ele conseguia enxergar, ele queria partilhar justamente com a pessoa que compôs aquela música.

A pessoa que ele deixou ir.

Ele limpou a garganta antes de dar continuidade e olhou para a banda atrás, assentindo. Estava cansado de se martirizar. Precisava aproveitar o momento. De alguma forma, achava que tinha feito tudo o que podia e que se afastar foi a melhor escolha. Para os dois. Ele só a queria ver feliz. E era por isso que havia comprado a música. Podia ser egoísmo sim, ele não queria que a música dela fosse cantada por outros lábios que não fossem os dela. Sequer achava os seus dignos disso. Queria ouvi-la cantá-la, mas nunca teve a oportunidade. Se perguntava sobre quem era e sentia que era pra ele. O que não sabia era que quando Natsumin levou a música à gravadora, ela mesma quis gravar, mas no lugar da versão apenas no piano que ela propusera, os produtores quiseram aproveitar sua aparência física para diversos outros motivos. Negá-los de primeira fez com que a produtora não fechasse contrato com ela e apenas sugerir a compra. O dinheiro foi pouco, comparado ao sucesso que agora a produtora fazia com o sucesso da turnê, mas foi um bom investimento. Pra ele, pelo menos. Os Tríades não quiseram gravá-la, então Castiel o fez sozinho. Alugou o estúdio e gravou a versão que agora estava nas rádios e no spotify.  

Fazia uma semana que Rough Diamond estava em primeiro no ranking nacional. Isso porque ela não foi lançada pelas Tríades, mas por uma voz alterada digitalmente. A voz de Castiel estava irreconhecível. Era doce, fina e melodiosa e o artista por trás daquela canção era desconhecido ao público. O mistério criado e a contagem regressiva que ele colocou no canal do Youtube apenas atraiu milhares de curiosos. Mas, com isso, Castiel apenas esperava mostrar a Natsumin, onde quer que ela estivesse, que o sucesso da música era mérito dela e não da fama dele. E vê-la liderar o ranking nacional era gigantesco. Principalmente para uma música que não era hit, mas autoral.  E a emoção naquele momento percorreu suas veias, a ansiedade de mostrá-la que o sucesso era dela, fervilhou em seu peito e o álcool o ajudou. Ninguém antes sabia da autoria daquela música, ou de quem a interpretou.  

Saberiam agora.

— Essa música é um sucesso atual. — Castiel afinava o violão enquanto conversava com a plateia. — Um sucesso inesperado por vocês e um sucesso que eu dedico à mulher que a compôs. — ele continuou a afinar o violão por um tempo e olhou os demais membros de soslaio.  Ele lia os lábios de George e James, com caras de poucos amigos, e que diziam que p* é essa, cara? — Vocês podem estar fazendo essas caras no momento — Castiel sorriu para eles, debochando. —Muitos de vocês podem não reconhecer agora, mas quando eu começar a cantar, vocês vão saber qual é.

Castiel terminou a afinação e começou um dedilhado. Esse dedilhado foi dando espaço para um jam. Lá atrás, entrou o baixo e a bateria esperou o seu momento. George e James tinham algo de bom. Sabiam improvisar. Então, Castiel retirou o próprio celular do bolso e apertou algumas coisas antes de guardar de volta. Logo, iniciou no telão uma contagem regressiva, a mesma contagem do youtube. E naquele momento, aquela multidão diante de seus olhos teve um rebuliço. As pessoas reconheceram. Castiel esboçou um sorriso e começou a cantar.

                                                ***

Algumas horas antes...

                — Meu pai eterno! Natsumin! Natsumin!

                Natsumin apertou os olhos e tirou os fones de ouvido. Os cabelos antes longos e em cascatas, agora estavam um pouco abaixo dos ombros, caindo em cachos largos. Depois que os cortou, os fios de alguma forma ondularam mais. Através do vidro reforçado da redoma do estúdio, ela reconheceu a cabeleira cacheada e desesperada.

                — Tsubaki? — Natsumin franzia o cenho e sorria enquanto observava a cabeleira cada vez maior da amiga balançar enquanto ela balbuciava com os lábios próximos ao vidro. Ela fazia isso de propósito quando acreditava que Natsumin estava gravando. Natsumin soltou uma risada, depois olhou para Jimmy, o técnico de som do estúdio. O rapaz, em seus cabelos coloridos de roxo, também ria.

                Alguns segundos depois, mais uma pessoa entrou. Era alta, esbelta, os cabelos longos estavam presos num rabo de cavalo. Ao aparecer sob a luz, pôde reconhece-la. Natsumin apertou os olhos, incrédula ao par de olhos esmeraldo que a olhavam de volta.

Ambre.

                — Pode entrar! — Natsumin gritou para o vidro.

                — Não consigo te escutar. — Natsumin leu os lábios de Tsubaki.

                Se não estivesse em choque, Natsumin riria da confusão. Astuto, Jimmy levantou da cadeira e abriu a porta, ainda sorrindo.

                — Achei que estivesse ensaiando. — Tsubaki entrou e rapidamente puxou a amiga para um abraço. Natsumin ficou sem reação por um tempo, não entendendo muito bem o que estava acontecendo. — E como tá ficando?

                — Hum? — Natsumin olhou para Ambre, em seguida para Tsubaki. Estava mais bonita e bem mais alta. Separou-se do abraço da amiga. — Tá ficando... — ela deixou escapar um sorriso orgulhoso. — Muito bom, modéstia à parte. — ela franziu o cenho novamente ao levar os olhos à Ambre. — E você? Está tudo bem? — Natsumin apontou com os olhos para a moça loira na porta.

                Ambre limitou-se a assentir com um sorriso tímido. Ao mesmo tempo em que lembrava a menina da escola, aquela mulher diante de seus olhos não tinha muito da Ambre que ela conhecia.

                — Não quero tomar teu tempo. — Tsubaki jogou uma mecha cacheada para trás da orelha, em seguida se aproximou de Ambre. — É uma longa história.

                — Tenho tempo. — Natsumin sentou-se novamente e puxou mais duas cadeiras.

                — Nós começamos a conversar pelo instagram. — Tsubaki crispou os lábios. — Ela precisa de ajuda para...

                — Nathaniel. — Natsumin completou, séria.

                — É. — Tsubaki passou a mão pelos cabelos.

                — E o Armin? — Natsumin não podia evitar de olhar para Ambre, que parecia desconfortável. Por mais que vê-la trouxesse de volta o sentimento ruim, ela mal se lembrava dos detalhes de tudo o que passou. Pareceram séculos. De alguma forma entendeu que não havia ressentimentos. E foi por isso que tocou a mão da moça e assentiu, fazendo seus olhos esmeralda encontrarem-na e parecerem mais calmos.

                — A gente já não tava mais.... — Natsumin notou os olhos de Tsubaki lacrimejarem. — Foi estupidez tentar algo que eu sabia que não ia dar certo porque.. porque... — Natsumin interrompeu Tsubaki tocando e em sseguida apertando sua mão livre.

                — Onde ele está? — ela olhou para Ambre ao perguntar.

                — Armin? Tá jogando videgame como sempre, é só o que ele.. — Natsumin interrompeu Tsubaki, apertando a mão dela. Apontou para Ambre com a cabeça.

                — Ele precisa se esconder por alguns dias, ele entrou em algo que não podia sair, mas está contribuindo com a polícia, só que... — Ambre balbuciou pouco, mas Natsumin logo percebeu.

                — Droga, Tsubaki! — Natsumin passou a mão pelo rosto, nervosa. — Ele tá aqui, não tá?

                Ambre e Tsubaki trocaram olhares cúmplices.

***

                Momento atual.

“Maybe you’re a diamond

A rough Diamond, afterall

But why can’t I take you out of my head?

Why is your smile what makes me glad?

Yes, you’re a Diamond. My own Diamond. My rough Diamond. And that’s the way I like you”.

                Castiel pausou a voz e apenas tocava o violão enquanto se aproximava da ponta do palco. A multidão empolgada cantava em uníssono, era uma sensação indescritível. Em seu coração, ele só esperava que Natsumin fosse capaz de ver isso. Algumas meninas nas primeiras fileiras choravam enquanto cantavam, outras fechavam os olhos e apreciavam. Mas, aquele amontoado de vozes o trazia uma energia diferente, de certa forma, paz.

Ele suava e parte do cabelo rubro grudava em seu rosto. O ruivo se limitava a jogá-lo para trás enquanto as mãos hábeis improvisavam no violão sem perder a harmonia. Finalmente a misteriosa música ganhava corpo, rosto, sexo, mesmo que apenas ele soubesse exatamente de quem. Naquele momento, o país via que a famosa música das rádios era dos Tríades, mesmo que, na verdade, fosse apenas de Castiel. Ele comprara no próprio nome diante da recusa do empresário e da banda. Ele performava como Natsumin havia imaginado, como uma vez a ouviu cantar escondido. Seguira à risca a melodia e os arranjos que ela havia feito até ali. Os olhos do ruivo estavam fechados, o suor escorria pela sua testa, seu pescoço...

                Ele encerrou a música e jogou o cabelo para trás. Mais gritos.

                Mal sabia Castiel que estava nos trends do Twitter naquele momento e que muito além de seu país, as pessoas se perguntavam quem diabos era a misteriosa compositora.

                Sem abandonar aquela empolgação, Castiel levou os lábios próximos ao microfone. Um ponto de luz acendeu sobre ele e o ruivo sorriu murmurando o refão melodicamente e sem instrumentos. Gary, o iluminador do show também era bom com improvisos.

                A plateia estava indo à loucura. Ele podia sentir a vibração daquele lugar e, inutilmente, seus olhos passeavam pela multidão, mas não viam quem queria.

                — Obrigado. — Castiel pronunciou com um sorriso. Logo depois, ele reverenciou a plateia em agradecimento, ouvindo os aplausos e gritos intensos. Tudo parecia uma mera ilusão. E, naquela ilusão, ele não reconhecia ninguém. Era belo, farto, mas, ao mesmo tempo, solitário e amargo. Agridoce.

                Depois de se despedir, a banda saiu do palco e as luzes se apagaram. A plateia gritava desesperadamente por bis e, atrás daquela andança metálica e de cortinas pretas, Castiel esperou. Diante daqueles gritos intensos de bis, a imagem de Natsumin em sua cabeça, a banda às suas costas esperando a decisão, Castiel pegou uma garrafa de Jack Daniels e bebeu com vontade, respirando fundo. Depois, junto à banda, retornou ao palco.

                As luzes reacenderam, as pessoas continuaram ali como se já soubessem, os gritos reiniciaram. Castiel se posicionou no microfone, George, com sua cabeça raspada e barba bem-feita, na bateria e James com os cabelos castanhos e, agora na altura dos ombros, no baixo.

                Castiel deu umas batidinhas no microfone e fez um sinal com a mão estendida, descendo-a para que a plateia fizesse silêncio. Era incrível a sensação de poder que ele tinha naquele momento. As pessoas iam silenciando aos poucos, o ruivo tirou o violão já colocado no suporte pelo assistente de palco e se aproximou do microfone. Em poucos segundos, só se podia ouvir a voz dele.

                — A próxima música. — Castiel dedilhava no violão uma melodia suave e nostálgica. — Dedico a todos aqueles que se dedicam à música e nunca tiveram reconhecimento. — ele olhava para o violão, o cabelo tapava seu rosto, a cabeça girava um pouco. — A todos aqueles que lutam diariamente por suas conquistas, mas elas só parecem cada vez mais longe. — uma garota gritou “lindo” e ele sorriu, arrancando um “ahh...” da plateia. — Dedico a esses caras aqui no palco comigo. — ele apontou para George e James com a cabeça e alguém gritou “gostosos”, arrancando mais um sorriso do ruivo. — Mas, especialmente, dedico à mulher que tá há muito tempo nessa estrada e que, mesmo escrevendo esse sucesso que vocês ouviram... — ele levantou o rosto para a plateia e as pessoas o olhavam atentos e com surpresa. — Ainda não teve reconhecimento. — ele balançou a cabeça, tirando parte dos cabelos do rosto. — E ela vai me odiar por isso, mas o nome dela é Natsumin.

                A plateia foi à loucura.

***

— Já tô metendo o pé — Jimmy murmurava enquanto batia no vidro e fazia sinais. Havia um charme no rapaz com aqueles olhos serrados e o piercing na sobrancelha. Era muito bonito, mas muito desligado das pessoas. Natsumin passava um bom tempo com ele, desde que pagou a gravadora para fechar seu priemiro disco dois meses. Durante esse tempo, ela conheceu Jimmy, sua música bombava nas rádios e no spotify, mas ninguém ainda sabia quem era o artista que a comprou. Era estranho ouvi-la, quando desde o início foi tão particular. Durante esse tempo, perguntou-se se, de alguma forma ele poderia imaginar que era de fato sobre ele. O pensamento a arrepiava, ela sentia falta dele. Especialmente depois da conversa na piscina. Mas, de alguma forma ver sua música fazer sucesso mesmo que nunca seria associada a ela era reconfortante. Sinal de que estava no caminho. Isso a deu confiança para gravar o CD e compor mais. Também via uma terapeuta indicada por Rosalya, que começara a cursar psicologia. Era nova, a menina, tinha a sua idade, mais ou menos. Mas era muito boa. O trabalho dela vinha da medicina chinesa e da terapia com cristais e reiki, estudos dos quais ela nunca antes ouviu falar. Mas, havia encontrado um caminho para se entender consigo mesma. Um caminho que não a permitia mais olhar para trás. Era uma escada, ela sabia. Levaria tempo. Mas, ela sentia a melhora depois daquele ano e, sabia, que o futura a reservava mais do que ela esperava. Aquele era o momento de não o deixar para trás.

E foi aí que ela lembrou.

— Ohh, claro! — Natsumin acenou para Jimmy de dentro da redoma. — Obrigada e.. até semana que vem!

O rapaz assentiu e piscou para Natsumin, em seguida olhou para Ambre e Tsubaki. Ambre olhou de volta e Tsubaki estava nervosa demais para perceber. O rapaz sorriu para Ambre e ela virou o rosto, mas não deixou de nota-lo.

— Me dá a chave do carro. — Natsumin levantou-se com um suspiro.

— Eu vou com você. — Tsubaki levantou-se, seguida de Ambre.

— Não vamos te deixar ir sozinha. É perigoso. — Ambre tocou o ombro de Natsumin para impedi-la.

— O carro tá lá fora, até inde eu sei, vocês prestaram atenção se estavam sendo seguidas ou não, né?

Natsumin olhava para as duas como a quem olha duas crianças travessas.

— Não é? — repetiu com o cenho franzido.

— AH, merda... — Natsumin passou a mão pelo rosto antes de respirar fundo. — Muito bem. Quando isso acabar, eu vou matar vocês, mas agora vocês precisam me ouvir e..

— Natsumin, você não vai carrega-lo sozinha. — Tsubaki pôs-se na frente da porta.

— Carregá-lo? — Natsumin olhou para Ambre, que abaixou o rosto. — Ele está morto, Tsubaki?

— Vamos nós três. — Ambre abriu a porta sem mais delongas. — Você vai entender melhor quando o ver.

Furiosa, Natsumin atravessou a porta da redoma, em seguida pegou as chaves do estúdio. Quando rapidamente chegaram à rua, avistou a picape preta e grande do outro lado. Natsumin não perdeu tempo ao se posicionar na porta do motorista. E deixou na mão de Ambre um controle remoto.

— Tsubaki, me dá as chaves, Ambre, abre o portão. — Tsubaki não hesitou ao entender o que ela queria dizer. — Eu vou entrar o mais rápido que puder e seja qual surpresa espera lá dentro, a gente vê na garagem.

Em poucos minutos, já estava estacionada e saíam de dentro do carro ligando as luzes. Tsubaki correu para o banco de trás e abriu a porta, seguida de Ambre e, por último, Natsumin.

— Olá. — De dentro do carro, Kim sorriu, enquanto segurava o corpo desacordado de um loiro com pierciengs, um corte nos lábios e... sangue por toda a camisa.

                — Belo reencontro de turma, né? — Kim levantou os olhos verdes para Natsumin antes de levantar os ombros.

— Ambre, vem comigo e liga para esse número. — ela tirou uma caneta e escreveu nas costas das mãos de Ambre um número de celular. — Tsubaki, fica com a Kim. — Natsumin não teve muito tempo para responder, o desespero batia mais forte e ela precisava agir. Atravessando a sala do estúdio, ela seguiu para onde guardavam os instrumentos. Retirou um teclado de cima do suporte e pediu que Ambre trouxesse a caixa firme e retangular do instrumento do oturo lado do cômodo enquanto esperava a ligação ser atendida. Rapidamente as duas posicionaram a caixa sobre o suporte e seguiram para a garagem. Quando chegaram, Tsubaki segurava a mão de Nathaniel numa cena comovente. Ela não chorava, mas era claro que seu coração estava despedaçado. Natsumin apenas tocou seu ombro e pediu que se afastasse.

— Atendeu. — Ambre tocou o ombro de Natsumin.

— Oi. — Nasumin pegou o celular com rapidez e manejou de falar ao telefone enquanto tentavam tirar o corpo de Nathaniel do carro. — Preciso que venha no estúdio agora. É urgente.

***

                Momento atual.

                Castiel agradecia, reverenciando o público enquanto segurava o violão na mão. “Maybe” era uma música do novo CD que contava a história de uma menina, musicista de rua. Era uma das mais promissoras, mas, infelizmente para ele, “That ass” fez mais sucesso.  Bom, podendo tocar uma que ele gostava já era o suficiente para deixa-lo melhor. Depois de ovacionado por finalizer maybe, ele sentou novamente para conversar.

                — Já faz um tempo que compus essa música e... bem, vocês devem saber que compus para alguém. — Castiel deu um sorriso, o álcool o estava permitindo sorrir bastante naquele show. — Ela foi nosso primeiro single e uma das que vocês mais gostaram. Vamos encerrar isso aqui com a nostalgia do nosso primeiro CD e eu não podia deixar de dedica-la novamente à Natsumin. — ele afinava o violão enquanto pronunciava ao microfone. — Eu sinto a sua falta. — Castiel disse para os holofotes, as luzes o cegavam. Mas, talvez fosse isso que ele quisesse. De alguma forma, redenção.

                Em poucos instantes gritos histéricos o tiraram de seu momento. Ele começou a dedilhar e, finalmente cantar:

“If you want to sleep...”

***

                Algumas horas antes...

Em poucos instantes, as quatro manejaram da maneira mais desajeitada, porém eficiente, de colocar o rapaz sobre a capa de couro. Kim segurou-o pelos ombros, já que já estava atrás dele mesmo. Tsubaki e Natsumin seguraram o tronco e Ambre manejou de segurar firme o suporte de teclado para que não saísse do lugar. Era uma boa ideia, tinha que confessar. Uma maca improvisada. Logo o levaram para um pequeno cômodo com almofadas sobre um tapete no chão e alguns cadernos espalhados. Natsumin rapidamente tirou as coisas do caminho e ajustou as almofadas para que o corpo dele ficasse confortável. Novamente, as quatro moveram o corpo dele e, dessa vez o colocaram sobre o tapete.

                Tsubaki ajoelhou-se ao lado dele e começou a rasgar os já abertos buracos de sua camisa, expondo pontos feitos por uma pessoa claramente não profissional em próximo às costelas do loiro.

                — Eu não sou médica. — Kim levantou os ombros como quem diz que fez o melhor que pôde. — Ele não permitiu que chamássemos a ambulância.

                — Ele é um idiota. — Natsumin notou que suas mãos tremiam. A campainha tocou. Ela não hesitou.

                Nesse momento, uma moça de olhos e pele escuros, assim como os cabelos curtos e encaracolados entrou. Ela vinha equipada com uma maleta e um rosto preocupado.

                — Obrigada, Kathy, é uma longa história. — Natsumin a abraçou rapidamente antes de leva-la para dentro. Kathy era a atual namorada de Kentin, ou Ken, ou seja, como ele queria ser chamado. Natsumin a conheceu há uns quatro meses, quando os encontrou em um restaurante enquanto almoçava com Jimmy e o filho. Natsumin e Kathy se tornaram bem próximas depois daquele dia. Era aquele tipo de amizade que não precisava de muito tempo para amadurecer, acontecia rápida e inesperadamente. E, ver como Kentin mudou e evoluiu depois de namorar com aquela moça, só a ajudava a gostar dela ainda mais.

                Kathy vestiu um par de luvas cirúrgicas e pediu que todas se afastassem. Ela tirou algumas tesouras e passou a cortar a blusa de Nathaniel enquanto Natsumin guiava as meninas para a sala. Enquanto se sentavam no sofá, ninguém pronunciava uma palavra. Natsumin se juntou a elas e esperou. Esperaram por um bom tempo e, depois de uns quarenta minutos, Kathy finalmente abriu a porta.

                — Então, quem é responsável por ele? — Kathy segurava uma pequena fotografia nas mãos enquanto esperava a resposta.

                Tsubaki e Ambre se olharam por alguns segundos, mas Tsubaki logo abaixou a cabeça. Sabia que não podia se responsabilizar por Nathaniel. Não depois de tanto tempo. Ambre levantou-se e entrou com Kathy.  Ela mostrou a pequena fotografia e Ambre notou uma pequena máquina branca sobre um pano no chão.

                — Esse é o raio-x dele. — Kathy apontava, enquanto Ambre tentava controlar as próprias emoções. — Como você pode ver, não há perfurações internas, apenas lesões leves. Posso presumir que o corte que foi suturado foi de uma faca, mas ela não atingigiu nenhum órgão vital ou osso.

                Ambre suspirou aliviada.

                —   Eu vou deixar alguns analgésicos e anti-inflamatórios. Mesmo não sendo altamente grave, ele precisa de repouso porque os ferimentos inflamados se não tratados direito podem levar a lesões e...

                — Obrigada. — Ambre abraçou a médica, aos prantos.

                — Não seja por isso. — sem graça, Kathy deu umas batidinhas nas costas dela. — Espero que o seu..

                — Irmão.

                — Espero que o sue irmão fique bem logo. — Kathy sorriu para Ambre. — Tudo vai depender do sistema imunológico dele. E... Bom, espero que vocês o coloquem num lugar melhor do que esse tapete.

                Ambre assentiu com um sorriso agridoce.

                                                                                ***

Momento atual.

“I you’re an explosion, I won’t search for shelter

If you’re the sun, I’ll sit here and swelter

If you’re the moon, I’ll stay up all night

If you’re a ghost, I’ll be haunted for life

 

And If you should ever leave, I will crumble

That’s just the way I am, I hope you never leave me

That is to say

I will crumble, I will crumble....

I will crumble, I will crumble....

I will crumble, I will crumble....”

                Finalizando a música, Castiel afastou-se do microfone e aproximou-se dos colegas de banda. Ao fundo, no telão, a imagem do grupo amplificada permitia os demais ao longo do espaço vê-los melhor. O ruivo levantou os braços ao redor dos outros dois e, juntos, inclinaram os corpos em agradecimento. No telão, o logo com o nome Tríades destacou-se num efeito explosivo. Gritos e aplausos ecoaram e suas cabeças. George murmurou um “você é louco” para Castiel, que fingiu que não escutou enquanto James apenas apontou para a banda de trás e a equipe de backstage que passava a entrar no palco. Todos abraçaram-se e agradeceram juntos e então uma explosão xe fumaça cobriu todos no palco.  

                — Obrigado!!! — gritavam enquanto se retiravam.

                À medida que a fumaça se dissipava, as luzes se apagavam, encerrando, definitivamente, a noite.

***

                Alguns longos minutos antes...

— Que noite. — Tsubaki sentou-se no mesmo puff gigante que Natsumin. Na sala, sob a meia luz amarelada de um abajur, Kim e Ambre dormiam, exaustas em outros sofás. Nathanniel não estava mais no chão, elas o moveram para um colchão inflável largo e tão confortável quanto um puff e dormia , medicado. Por sorte ele não perdera muito sangue e os ferimentos foram em maioria superficiais. O da costela perfurou a pele, mas não profundamente. Demoraria para sarar um pouco mais do que os outros e Kathy fizera um excelente trabalho de sutura.

— Que noite. — Natsumin estendeu o braço para que a amiga apoiasse a cabeça em seu ombro. Eram amigas há muito tempo e, naquele silêncio se compreendiam. O suficiente para Natsumin entender que Tsubaki nunca esquecera Nathaniel.

Natsumin suspirou e apertou a amiga bem próxima ao peito.

— Desculpa por acabar com a sua noite. — Tsubaki pegou o celular para ver a hora. Notou algumas notificações do Twitter, mas preferiu guardar no bolso novamente.

— Você não acabou com nada. Já ia terminar por hoje. — Natsumin afastou o rosto para olhar a amiga nos olhos.

— E o show do Castiel? — Tsubaki a encarava de volta. — Ele não enviou os ingressos para você à toa. Tinha até credencial.

— Eu já não ia mesmo. — Natsumin suspirou. — Não me sinto pronta.

— Também não me sentia pronta. — Tsubaki tirou os braços da amiga e abraçou as próprias pernas. — Até... vê-lo quase morto. — os olhos da moça se encheram de lágrimas. — Eu ainda não sei o que fazer, Natsumin, mas ele vivia me mandando mensagens e eu ignorava todas... não porque queria, mas porque não podia me aproximar dele novamente.

— Por causa dessa... coisa em que ele estava envolvido? — Natsumin franzia o cenho.

— Não, ele parou de me mandar mensagens quando entrou pra isso. Ou cansou, sei lá. — Tsubaki levantou os ombros.

— Vai ver ele tinha medo de que fossem atrás de você. — Natsumin pontuou.

— Eu sei. — Tsubaki pegou o celular novamente, que não parava de vibrar. Mais notificações do Twitter. Guardou. — Só que eu me sinto...

— Culpada. — Natsumin tocou o ombro dela. — Não se sinta. A escolha foi dele.

— Não é assim tão simples...

— Tsubaki, só porque você ignorou as mensagens dele não quer dizer que ele tinha que se meter com essa gangue zé droguinha... — Natsumin falfou bem ríspida, fazendo Tsubaki bufar. — Ele tá vivo, vai ver essa é a tua chance. — ela olhou para a sala onde o loiro estava.

— Eu tenho medo de...

— Os pais deles já o abandonaram tem tempo. — Natsumin a cortou. De fato, depois que Nathaniel se separou do casamento forçado com Melody, eles viraram as costas e o pai o deserdou. Tudo ficou para Ambre que a cada dia investia mais na carreira de modelo. — Agora mais do que nunca é que vocês vão precisar um do outro. Arruma uma ponta pra ele no restaurante da sua mãe, dá um jeito. Leva ele pro seu apartamento. Quando isso tudo passar e os culpados forem pegos, é claro. Não...

— Faça como você. — Tsubaki retomou o assunto do ruivo. — É difícil ouvir isso de você sabendo que você dá as costas para os próprios sentimentos.

Natsumin silenciou.

O celular de Tsubaki vibrou novamente. — Que saco, o twitter tá bombando e nem sei por quê.

— Abre, ué. — Natsumin levantou os ombros.

Tsubaki ouviu a amiga e espantou-se quando leu o que estava em primeiro nos trends topics: Natsumin.

***

 

Momento atual.

— Você é maluco, meu irmão! MA-LU-CO. — James batia no ombro de Castiel enquanto sorria. Os três ainda estavam embrigados de energia do show enquanto se dirigiam para os camarins e o pessoal do staff e backstage fazia seu trabalho.

— A tua sorte é que a gente sabe improvisar. — George tinha uma cara de poucos amigos. Diferente de James, ele não gostara nem um pouco da situação.

Castiel trincou os dentes, mas nada respondeu. Enquanto caminhavam e os três recebeiam parabéns no backstage, Castiel só buscava por um rosto. Um rosto que esperava estar usando as credenciais que ele enviou junto com o moleque que agora devia ter uns cinco anos. Nossa, o tempo passava rápido mesmo. Ah, cinco não, quase cinco. Ele fazia aniversário no final do ano. Castiel recordou-se do quarto aniversário de Ethan há alguns meses atrás no final do ano passado. O moleque quis o tema de guitarras de tanto que ficou apaixonado pela sua. Também foi inesquecível a cara de Natsumin ao vê-lo aparecer na festa e tirar fotos com o filho. Era desconfortável, visto que os dois tinham combinado de não se falar mais por um tempo, mas.. depois daquele aniversário, de fato, eles não se falaram mais. E Castiel, é claro, evitava ver o filho, principalmente depois de “That ass”. Natsumin deixou bem claro que não queria fotógrafos perseguindo ela e o filho e manchetes na internet sobre quem ela era. Castiel repeitou seu desejo.

Até hoje.

Era egoísta, ele sabia, mas também era estupidez os dois estarem desperdiçando as suas vidas daquela maneira. Castiel sentia que, vendo o sucesso da música de Natsumin, conseguiria provar a ela que ela tinha talento sem precisar dele. Conseguia provar que ela merecia. Não fazia ideia do que aconteceria daqui pra frente, mas ele esperava estar junto deles o quanto antes.

Da sua família.

Ele não tinha mais ninguém. Eles eram tudo o que ele precisava pra se manter são. Era o que o mantinham são.  Do contrário, já estaria entregue ao “sexo, drogas e rock’n roll há tempos.

— Castiel. — George parou quando chegaram nos seus camarins improvisados no backstage. — Eu espero que essa seja a última vez que você atrapalhe o nosso setlist por causa...

Castiel esperou a respota dele.

— Daquela garçonete gostosa. — George deu um sorriso maldoso, o que fez Castiel trincar os dentes e prender a respiração.

Relativamente orgulhoso de não ter se rendido àquela provocação, Castiel deu de ombros para entrar no seu camarim. A porta estava trancada e aquilo o irritou a ponto de... Ele apertava a fechadura, desejando que fosse a cabeça de George, mas...

E então ele fez. Ele voltou.

— George. — Castiel chamou e o homem de cabeça raspada virou o rosto para ele. Num movimento rápido, Castiel disparou um soco na cara dele, que fez George cambalear para trás. George era bem mais alto que ele e mais forte então ele sairia na desvantagem, mas não aceitaria George desmerecendo Natsumin. George sempre fora muito prepotente e se achava superior aos outros e quando chamou Natsumin de garçonete naquele tom e naquele sorriso não quis fazer um elogio. Castiel não se importava que Natsumin não fosse mais garçonete. Não se importava que a ofensa não tivesse chegado a ela, mas George estava desmerecendo o emprego dela. Isso era inadmissível.

Antes que George pudesse ataca-lo, membros da staff o seguraram e levaram Castiel para dentro do Camarim que, de fato estava trancado e precisaram arrombar a porta. George foi se acalmando, assim como Castiel, mas não antes de George gritar:

—Depois que tu viu essa mulher nunca mais foi o mesmo! Que que ela tem, hã? Deve fo... — James apareceu para empurrar George para dentro e calar a sua boca.

Castiel respirou fundo no camarim, depois engoliu quase toda a garrafa de um litro de água, na esperança de evadir o álcool de seu corpo. Nunca foi muito próximo de George, mas nos últimos tempos trocavam farcpas constantemente. Sempre disfarçadas de brincadeiras, o que não foi o caso hoje. Aquilo era sério. Podia levar ao fim da banda.

                Castiel acendeu um cigarro e, só depois de tragar longamente, conseguiu se acalmar. Como se não bastasse estar com os nervos à flor da pele, alguém bateu à porta.

                Ele esperou, a cara de poucos amigoa estampada no rosto.

Um cara mais ou menos da sua idade e diria que até parecido com ele, se não fosse tão estranho, entrou. Também tinha os cabelos tingidos de vermelho, vestia roupas muito parecidas com as suas, diria que até caminhava como ele. A personalidade era diferente, pelo que parecia, o cara era um lunático.

                — Hm? — o ruivo respondeu enquanto tragava mais uma vez.

                — Eu sou o Tom. Não lembra de mim? — O cara sorria um sorriso idiota.

                Castiel o olhou em silêncio, o cenho franzido.

                — Eu sou o ganhador da promoção da rádio. — ele tocou o ombro de Castiel e o ruivo odiava isso.

                — Ah. Legal. — o ruivo olhou a mão dele em seu ombro e o cara a retirou. — O que eu devo fazer?

                — Acho que só tirar uma foto e me ouvir falar um pouco, você sabe, coisa de fã. — O cara sacou um celular do bolso. Castiel trincou os dentes, odiava isso.

                — Ok. — Castiel levantou os ombros.  

***

 

Alguns minutos antes...

Naquele momento, Tsubaki ficou pálida. Os lábios perderam cor, os olhos arregalaram. Natsumin não havia prestado muita atenção na tela, até ver a resposta no rosto da amiga.

— O que foi? Aconteceu alguma coisa?

Tsubaki não tinha palavras. Tentava formular em sua cabeça como dar a notícia, então clicou na #Natsumin em destaque e rolou as telas do Twitter. A maioria deles perguntava quem era Natsumin, outros criavam teorias, outros diziam que ela não existia e que era invenção dos Tríades para aumentar a fama. Alguns simpatizavam, criavam memes e brincavam, dizendo “namore com alguém que fale de você como Castiel fala da Natsumin”. Ela rolou alguns vídeos, mas não os assitiu. Mas não foi por muito tempo que Natsumin ficou desinteressada.

                — Alguém com o meu nome nos trends? — Natsumin brincou num sorriso. — Eu sei que é incomum, mas não impossível. — ela aproximou o rosto da tela do celular da amiga e passou a ler alguns dos “twits”.  Não era outra Natsumin, era ela precisamente. — O que? — Natsumin passou a rolar a tela e ler tudo o que podia o mais rápido possível. Havia um mutirão para encontrar quem era a “musa de Castiel”. Não, não, não. Não era o que ela precisava no momento. Não agora que estava içando sua carreira. Não precisava ser musa de ninguém. Como se já não bastasse o bafafá que houve na mídia no mês passado quando Castiel resolveu dar uma volta com Ethan na cidade e foi fotografado. Ele se saiu bem, dizendo que era filho de um amigo e os investigadores da internet tentaram de tudo, mas não conseguiram rastreá-lo proque Natsumin não tinha nenhuma rede social, nenhuma foto do filho na internet e ainda proibiu Castiel de aparecer em público com ele novamente. Tudo extremo, ela sabia, mas ela não queria... Em parte era egoísmo porque Castiel tinha o direito de sair com o filho, de revelar que era, de fato seu filho, mas... Ele podia ter esperado.. só um pouco mais... por que? Por que ele fazia tanta questão? Por que a quis expor daquela maneira?

                Um vídeo feito por uma fã apareceu na tela. Natsumin apertou o play para assistir.

                Afinando um violão no palco, Castiel conversava com a plateia. Estava bonito, parecia mais forte, a barba estava feita. O vídeo estava cortado e era muito curto. Em seus poucos segundos, o que ele falava era: “E ela vai me odiar por isso, mas o nome dela é Natsumin”. Acima do vídeo, a menina que o postou convocava: “Vamos encontrar essa Natsumin”.

                Natsumin levantou do puff, nervosa.

                                                                                ***

                Castiel levantou da cadeira, nervoso.

— Escuta, cara. — Ele se aproximou do fã. — Você já me alugou por uma hora, já está na hora de terminar essa porcaria. — Ele pegou mais uma garrafa d’água antes de se direcionar à porta e abri-la.

O rapaz, de olhos escuros e meio psicóticos  soltou uma risada, irritando ainda mais o outro ruivo.

— Não esperaria menos de vocês, Castiel. O Tríade mais be humorado e carismático. — ironizou. — Eu adoraria encerrar, mas ainda há mais uma coisa a fazer com o fã premiado.

— Eu tô pouco e lixando pra fã premiado. — Castiel tomou um longo gole de água. — Sai.

— Tá bom, então toda a internet vai saber quem é Natsumin e o menino que tava contigo na rua.

Castiel passou a mão pelo rosto. — Como se eu fosse aceitar chantagem de um moleque intrometido.

— Tá bom. — o moleque mostrou uma foto no celular de Castiel e Natsumin há um ano se beijando na beira da piscina da pousada em que estiveram. No colo do ruivo, estava o pequeno Ethan.

Castiel trincou os dentes e não falou mais nada.

— Tudo o que precisamos fazer agora é dar uma passeio de carro até i seu bar favorito. Acho que é o de um hotel, né? Aquele onde você morou por quase um ano.

Castiel suspirou e pegou a chave do carro.

                                                ***

Duas horas depois...

Enquanto dirigia para a casa de Lysadnre e Ayuminn, Natsumin limpava as lágrimas dos olhos. Não queria deixar Tsubaki mais nervosa do que já esteve e não poderia levar Ethan para o estúdio, onde estava Nathaniel. Ela precisava de um tempo sozinha e, principalmente, precisava da companhia do filho. Enquanto os olhos embaçavam de raiva e as mãos tremiam ao volante, uma chuva forte começou a cair. Ela ainda estava na estrada, sozinha. Parou o carro lentamente e pegou o celular. Não ligava. Droga, a bateria havia acabado. Olhou para o céu e desligou o motor. Esperou um pouco.

A chuva só piorava com o passar dos minutos. Em seu atual estado emocional, não seria segura continuar. Ela mal sabia em que altura da estrada estava visto que acompanhava pelo GPS do celular. Ótimo. Tudo isso porque não decorara o caminho à casa de Ayuminn e Lysandre.

Ela avistou um posto de gasolina abandonado e desviou o carro para lá. Debaixo da cobertura, abriu um pouco os vidros e sentiu o ar frio invadir o carro. Fechou-os novamente. Droga, droga, droga! Ela batia no volante com uma mistura de sentimentos que variavam do ódio, à saudade, à vontade de vê-lo, a necessidade de estar com o filho, frustração. Nunca esteve tão perto e tão longe de tudo isso ao mesmo tempo. Não só emocionalmente, mas.. na estrada.

Por alguns instantes, ela respirou fundo e tentou se acalmar. As lágrimas secavam em seu rosto lentamente. Ela olhou o rádio e tentou se atualizar sobre os rumos da tempestade. Até onde ela podia perceber, não pararia tão cedo.

Mas, quando finalmente ligou o rádio, a nóticia que ouviu era algo que nunca imaginaria em toda a sua vida.

“(voz 1) É, meu amigo, estamos ainda desacreditados. A polícia ainda investiga as causas do acidente, mas até o momento tudo indica que seja ele, Juvenal.

(Voz 2) É, Arnaldo, uma grande perda para o país. Tão logo no início de carreira”.

                Natsumin franzia o cenho enquanto ouvia. Os lábios tremiam e a adrenalida corria por suas veias. Ela esperou que continuasse, mas seu coração já disparava.

“(voz 1) Calma, calma Juvenal, ainda não há nada confirmado. Oh, não, pera... Ah, já temos, Juvenal. A polícia acaba de confirmar. Havia uma identidade junto ao corpo. É ele.

(Voz 2) Queridos ouvintes, como sempre estamos aqui com notícias de primeira mão e a de hoje é uma que nenhum de nós gostaria de ouvir. A polícia acaba de confirmar a morte do jovem músico e guitarrista Castiel Hayes”.  

                Natsumin sentiu o coração sair do peito.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo! Postarei o mais breve possível. Já está em andamento. o/
E não se esqueçam: NEM TUDO É O QUE PARECE! ♥



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