A criação II escrita por Mondler


Capítulo 5
Caçados


Notas iniciais do capítulo

Por onde começar? Então, eu peço mil desculpas para todos os leitores que estavam acompanhando essa história e eu simplesmente parei de atualizá-la. Me desculpemmm, sério. Então, mesmo depois de todo esse tempo, retorno para dizê-los que continuarei postando ela! Não desistiria do Will e da sua turminha (tão sessão da tarde :v)! Não se preocupem, não vou demorar meses para postar novamente! Também queria dizer que os capítulos vão voltar a ser grandes. Espero muito que vocês gostem e, mais uma vez, gostaria de pedir desculpas por esse atraso gigantesco. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/549712/chapter/5

Tiffany correu até a bancada de sua cozinha e agarrou seu porrete de madeira. Olhei de relance para Sara e os outros. John já tinha uma flecha preparada no cordel do arco e Ritho mantinha uma pistola preta em mãos, estirada na direção da porta do apartamento. A campainha tocou mais uma vez.

— O que vocês querem? — Tinha me esquecido como a voz de Tiffany poderia ser tão brutal. Ela colou o corpo na passagem trancada e aproximou o rosto do olho-mágico, tentando ver quem era. Depois de um tempo em silêncio, ela se virou. — Não tem ninguém aqui. — Dedilhou a maçaneta de cristal e empurrou a porta, abrindo-a.

Meu coração estava bastante acelerado, mas acalmou-se logo depois que a visão para a varanda do lugar ficou mais clara. Ela estava certa, não havia ninguém ali. A voz no rádio e a pessoa do lado de fora haviam desaparecido. Que merda estava acontecendo?

— Odeio quando as crianças tocam a campainha e saem correndo. — Comentei atrás do sofá, tentando quebrar o gelo.

— Estão brincando com as pessoas erradas. — Ritho passou enfurecidamente por Sara, chegando até o corredor do lado de fora. Ele passou a cabeça pelo vão das escadas e olhou para baixo. — Apareçam agora! —Seu tom violento de voz se espalhou por todo o edifício, com um eco agoniante.

Depois que não obteve nenhuma resposta, Ritho abaixou a arma e caminhou cautelosamente até a porta. Estava prestes a entrar no apartamento mais uma vez quando um dispositivo jorrando fumaça caiu da brecha entre os andares. Ele olhou pra cima e abafou um grito de horror. Olhei de relance para os seus pés e só tive tempo de me abaixar. Depois disso, tudo foi pelos ares.

***

Achei que já estava me recuperando com as feridas dos recentes ataques alienígenas. Aquela explosão só fez com que a situação piorasse. Acordei com um filete gelado de água escorrendo pelo meu rosto. Estava chorando? Não. Abri os olhos e encarei o teto. Minhas mãos estavam amarradas em um cano quebrado. A água estava escorrendo dali.

Apesar de pouco iluminado, consegui identificar vários elementos do lugar em que estava. Ao meu lado, o corpo de John e de Sara também estavam estirados, presos ao mesmo cano. O quarto parecia bastante grande e, mais ao fundo, grades trancavam pessoas como animais em um zoológico. Elas me encaravam tristonhas, como se algo ruim fosse acontecer comigo. Algo ruim realmente iria acontecer.

Um portão foi arrastado na parte mais clara do cômodo. Três homens surgiram de dentro da penumbra. Usavam máscaras de meias que quase não ocultavam as feições. Os alienígenas não eram nossos únicos inimigos. Um deles esticou o braço e puxou alguém de dentro das grades. Percebi que se tratava de Ritho. O rapaz estava todo amarrado, com um ferimento enorme da cabeça. Seu corpo imóvel foi deitado em uma placa de metal suspensa por dois blocos.

— O garotinho acordou! Isso é ótimo. — O mais alto dos três olhou diretamente para mim, depois esbanjou um sorriso maníaco perceptível. — É bom que vejam o que nós fazemos. — Dessa vez ele olhou para John e para Sara. Só agora notei que também estavam acordados. — Me chamo Tadeu, o rapaz do rádio.

O que segurava Ritho também decidiu se pronunciar, começando com um gesto dinâmico com as mãos, como se estivesse iniciando uma introdução de apresentação formal.

Onde estava Tiffany?

— Eu fui o corajoso que foi até o apartamento. Também joguei a bomba. Podem me chamar de Troy, mas vou logo dizendo que não vão ter muitas oportunidades para fazerem isso... Digo, vão morrer logo, então acho que não vai ser necessário ficarem me chamando. — Aquilo me deixou tonto. O sangue não estava chegando até as minhas mãos por conta da força com que as cordas foram amarradas.

— Nós encontramos o lado bom em todo esse mar de confusão. As regras foram exterminadas junto com a raça humana. Não precisamos mais arranjar desculpas para deixar a nossa humanidade de lado. — Tadeu pigarreou.

Troy arranjou um machado de dentro de um armário ao fundo. Ele colocou um avental ensanguentado, depois foi até Ritho. Mirou a coxa grossa dele e, rindo histericamente, foi interrompido.

John chiou do meu lado, balançando-se ferozmente, tentando se soltar. O mais calado dos homens cambaleou até o jovem garoto, encarando-o com frieza. Queria gritar para que ele se afastasse, mas sabia que não seria algo legal para se fazer.

— Vocês não vão machucar o meu amigo! — Ele gritou.

— A carne boa é aquela que é morta facilmente. De todos os capturados, você foi um dos que mais me atraiu. Todas as minhas expectativas estão postas no sabor delicioso da sua pele. — Ele agarrou John e mordiscou o seu pescoço, mesmo com os protestos do garoto. Aquilo era bizarro. Quando a boca se afastou, uma gota de sangue escorreu do membro mordiscado. — Dizem que os ruivos são deliciosos. Não quero que fique se debatendo ou lutando contra a força maior, que no caso somos eu e meus amigos. O seu destino é ser dilacerado com os meus dentes. Aceite.

Iriam nos devorar. Não podia permitir que aquilo acontecesse. Esse não poderia ser o meu fim! Desmembrado e depois mastigado por um trio psicótico? Era um bom momento para escapar. Sara me olhou rapidamente e focou os olhos em um machado perto do corpo desmaiado de Ritho. Agora ou nunca. Pensei.

Forcei os braços para baixo. O cano já estava um pouco quebrado, então não foi muito difícil para fazê-lo se partir. Nossos corpos desabaram no chão lamacento e me desvencilhei das amarras antes que Tadeu pensasse em correr. A parte primordial do meu corpo estava ativa, chamando os meus instintos de defesa essenciais. Levantei-me depressa, correndo até Tadeu.

Estiquei os braços e pulei no seu corpo, tentando jogá-lo na parede. Seu braço passou por cima da minha cabeça e senti sua mão pesada atingir a minha barriga. Todo o ar dos meus pulmões parecia ter pulado para fora da minha boca. Ajoelhei-me incapaz, buscando oxigênio. Esquivei-me de alguns dos seus golpes e me levantei logo em seguida.

Nesses últimos dias, já havia lutado com caranguejos demoníacos, crianças que queriam me matar, bolas voadoras e um alienígena esquisitão de maiô. Um canibal imbecil era fichinha. Motivado com a ideia de vitória, desci a mão contra o seu maxilar e, ainda no mesmo movimento, chutei o seu saco. Tadeu puxou uma faca de dentro do bolso e arremessou em mim antes de cair. A lâmina passou raspando pelo meu pé e fincou no chão o meu lado.

Tive a genial reação de pegá-la. Estava bastante trêmulo, mas consegui segurá-la de forma ameaçadora. Encontrei o material gélido em sua garganta e o pressionei contra o chão. Queria muito rasgar a garganta daquele idiota, mas havia algo em minha mente que me impedia. A minha humanidade era a única coisa que me mantinha afastado do tipo de personalidade daqueles rapazes. Eles não comiam humanos por falta do que se alimentar. Tratavam aquele processo como algo divertido.

Virei a faca e bati com o cabo na cabeça de Tadeu, fazendo-o desmaiar. As pessoas nas grades gritavam, comemorando. Sara tinha conseguido pegar o machado e, com a ajuda de John, lutava contra Troy, que tinha uma pistola. Pensei em ajuda-los, mas algo muito pior me fez mudar de ideia.

O terceiro rapaz estava em pé ao lado de Ritho, usando uma faca comum para cerrar a mão do rapaz. Sua máscara havia caído e o rosto mostrava uma expressão de medo e total apreensão. Enquanto corria até ele, notei que o corte não estava fazendo muito efeito. A faca não era muito pontuda e só arranhava a pele. Mesmo assim, sabia que uma hora ou outra, ele acabaria conseguindo um ferimento mais profundo.

Talvez tenha sido por causa do desespero. No meio de todo aquele combate, meu instinto de predador acabou subindo a cabeça. Se Ritho morresse, sentiria culpa, assim como fora com a morte do Jimmy. Talvez aquilo explicasse o que eu fiz, mas não era momento para pensar. Havia lançado a lâmina de Tadeu contra o homem. A faca acertou seu peito com uma força que chegou a me assustar. Ele parou imediatamente de cerrar a mão de Ritho e caiu para trás.

Troy se virou pra mim no momento que ouviu o corpo do amigo desabando. Apontou sua pistola imediatamente na minha direção, mas errou feio ao dar as costas para John e Sara, que acertaram sua cabeça com o machado antes que ele pudesse fazer qualquer disparo.

Aproximei-me do corpo do homem que eu acabara de matar. Sim, ele estava morto, mas o pior de tudo foi que eu não senti exatamente nada. Achei que ficaria com pena, mas um vazio enorme me puxou para dentro de um buraco sombrio. Eu matei uma pessoa. Queria sentir algo, tristeza ou felicidade. Até mesmo culpa. Não, eu não merecia aqueles sentimentos.

— Você está bem? — Sara se aproximou. Ela tinha grandes olheiras ao redor dos olhos. Estava tão cansada. — Precisamos sair daqui agora. — Ela envolveu seus braços ao redor do meu pescoço e me abraçou. — Essas pessoas eram monstros.

Não a respondi. John rasgou uma parte da sua camisa e usou no ferimento na mão do Ritho e no corte em seu pescoço. Sara foi até a outra porta e descobriu que estávamos nos fundos de um estacionamento de um prédio. Cansado de olhar o corpo morto, fui até os outros dois desmaiados e cravei a lâmina em suas gargantas. Não permitiria que fizessem aquilo com alguém novamente. Foi então que as grades balançaram.

Fui até o portão que havia ali e libertei as pessoas que, provavelmente, também haviam sido aprisionadas pelo trio canibal. Não eram muitos presidiários. Pareciam famintos e adoecidos.

— Nós estamos indo para um refúgio, podem nos acompanhar se quiser. — Disse para eles.

Todos consentiram com a cabeça, surpresos com a notícia. Ritho acordou no finalzinho da tarde e repousou um pouco. Sara vasculhou todo o edifício e conseguiu mantimentos importantes para a jornada. John e eu também procuramos por Tiffany, mas a garota não estava em lugar nenhum. Não gostava do seu desaparecimento. Eu não podia perdê-la novamente. Querendo ou não, ainda me sentia atraído por ela. A noite que passamos no meu carro ainda estava na minha cabeça.

Já estávamos prestes a deixar o lugar quando uma voz familiar partiu de dentro cela. Ali dentro, encostado na parede, estava Mike. Ele olhou pra mim com um sorriso no rosto. Sua pele estava um pouco pálido, mas ele ainda fazia o estilo galã. Estendi a mão para que ele pegasse e, quando o fez, a sensação que eu senti foi estranha. Lembrei-me quando estávamos saindo do prédio desabado, correndo na pista empoeirada, também de mãos dadas.

— Senti sua falta. — Seus braços me envolveram em um abraço apertado e eu não demorei a retribuir.

— Eu pensei que você estivesse morto... — Sussurrei em seu ouvido ainda o abraçando. Lembro-me de tê-lo visto nos destroços da ambulância, desacordado. Teria o ajudado, se não fosse pelo ataque que me fez acordar muito tempo depois, em um hospital.

Mike estava vivo e aquilo era o suficiente para confortar o meu coração. Em meio a tantas notícias ruins, apenas a chegada de um velho companheiro podia cicatrizar tantas feridas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até a próxima semana!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A criação II" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.