Teous! escrita por Mariez, Mariesz


Capítulo 29
A Única


Notas iniciais do capítulo

Sim, os capítulos voltaram a ser de terça e quinta!



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Chegamos ao eixo Norte e Marcus me soltou antes de pararmos de girar e eu caí. A bolsa aberta derrubou algumas cartas que eu tentei recolher rapidamente, mas o chão ainda tinha poças de uma chuva recente e a carta de Ryan ficou encharcada.

—Teous. —Um terreno vazio se transformou na maior casa que eu veria em anos. A mansão em cores escuras tinha estátuas de leões antes de enormes portões de ferro pretos. Me senti sendo levada contra minha vontade até o lugar, mas não vi sequer uma pessoa me segurando. Olhando para o lado, percebi que Vinícius estava na mesma condição. Era um feitiço, e que ninguém tentava lutar contra. Eu poderia apostar que ele estava confiante. Até de mais para quem estava prestes a encontrar Vera Nortista.

Os portões se abriram sozinhos e os leões rugiram anunciando nossa entrada. Fomos parados em uma sala vazia e Marcus desapareceu nos fundos.

—Eu não disse? — E eu mesma tinha duvidado de Vinícius sobre Marcus.

—Odeio não saber o que vai acontecer. —Vi a sombra de uma mulher vindo em nossa direção. Seria uma ótima hora para fingir que nós nunca desconfiaríamos dos planos de Vera. —Me sinto enganada.

—É porque você FOI enganada. — Eu nunca pensei que a veria novamente. Seu poder e sua ligação com magia das trevas eram tão fortes que eu sentia como se meu poder estivesse sendo filtrado do me corpo. Meus joelhos tremeram, era difícil ficar perto dela com tanta magia forte pelo ar, mas me esforcei. — Marcus é ótimo. Até me sugeriu algumas coisas divertidas para fazer com vocês antes de matá-los.

Com um gemido pelo cansaço, Vinícius caiu de joelhos e me custava cada vez mais ficar em pé. Era como se cada vez que Vera precisasse respirar, ela me roubasse o oxigênio. Minha cabeça doía e minha visão embaçava enquanto ela conversava com alguém e depois de algum tempo caí também.

Eu mal conseguia pensar quando a dor se espalhava pelo meu corpo. Tudo era tão cansativo. Eu não sabia por que tinha continuado a busca. Depois, esqueci o que era essa busca. E não sabia mais onde estava. Aquele clima não me deixava pensar. Meu sangue pesava como chumbo, mas pude ouvir um feitiço ao longe.

Então quase acordei. Pude recobrar os sentidos o suficiente apenas para perceber que não era o poder de Vera que nos atingia, era uma maldição. Se eu conseguisse me lembrar qualquer contra feitiço, poderia parar aquilo, mas era quase impossível raciocinar. Ouvi passos ao longe e uma porta sendo fechada. Alguém saíra, mas não pude saber se mais alguém estava na sala comigo.

O colar da SSC me ajudaria se eu ainda tivesse forças para mover meus braços. Eu podia sentir milhares de agulhas entrando por cada poro de minha pele.

Nunca desejei tanto que pudesse morrer. Nunca pensei que chegaria ao ponto de preferir morrer a lutar. Afinal, eu jamais conseguiria lutar.

Eu nem ao menos sabia se a bolsa ainda estava comigo, mas tentava me lembrar do livro. Me esforçava para lembrar qualquer feitiço e me lembrei de Verse, um contra feitiço simples que não chegava a desfazer os nós dos meus cabelos, mas eu podia tentar.

Ver...se.— Minha voz saiu sussurrada e sofrida, mas consegui, finalmente, me livrar. Talvez Vera não esperasse que pudéssemos raciocinar o suficiente para pensar em um feitiço simples.

Ao meu lado, Vinícius parecia desmaiado, mas mesmo assim tentei acabar com o feitiço e rapidamente ele abriu os olhos. A dor não era demonstrada externamente e por um momento me permiti ficar feliz por não ter passado vergonha. Mas o trauma do feitiço ficava e a todo momento eu sentia cócegas estranhas subindo por mim, como se a dor fosse voltar.

Sentados, ambos cansados pela tortura, nenhum de nós arriscou uma palavra. Vinícius nem mesmo agradeceu, mas não o culpei. Ainda era difícil formar uma frase coerente. Tentei me levantar e minhas pernas tremeram, quase desabando, mas me mantive em pé. Vinícius também se levantou, mas tropeçou. Não foi de encontro ao chão, mas passou perto.

A sala onde estávamos era uma espécie de porão. Escadas nos levariam até uma porta por onde a luz tentava entrar, mas mal conseguia. A bolsa, por sorte, continuava conosco e dela peguei o relógio de pulso que havia guardado.

Três horas da tarde.

Arregalei os olhos. Tínhamos passado horas e horas sob o feitiço de Vera. Eu não poderia imaginar o que ela pretendia nos deixando assim por tanto tempo, então preferi perder meu tempo checando a bolsa e pensando no que estaria atrás da porta.

—Acho melhor subirmos. Precisamos encontrar aquilo e sair logo daqui.— A voz dele ainda saía tremida e assustada. Segundos depois eu descobriria que a minha não estava diferente.

—Seria melhor se comêssemos. Você não acreditaria se eu lhe dissesse as horas.

E assim dividimos um pacote de frutas secas. Continuavam horríveis, mas tinham um gosto melhor que horas de tortura.

Mas, mesmo sabendo que deveria sair dali para acabar logo com tudo aquilo, eu sentia medo. E com medo me sentia quase inútil, mas ainda estava assustada. Aquilo era A Busca de verdade, não era brincar de acampamento. E eu pensava em desistir, voltar para a escola e esquecer tudo o que deveria fazer. Por mais que os eixo-nortistas estivessem dominando o lugar, era o melhor. Eu não precisava sentir mais dor. E o medo da dor me fazia não querer passar pela porta.

Vinícius jogou o pacote vazio na bolsa e começava a se levantar. Depois de pensar, eu tinha decidido que não precisava mais segurar as lágrimas. Eu não conseguiria, mesmo. Eu chorava baixinho, mas me preparava para subir. Ele percebeu, mas não falou nada.

As lágrimas começavam a cair cada vez mais rápido e quase atrapalhavam minha visão, me faziam sentir seu gosto salgado.

Abrir a porta não nos custou nenhum trabalho, apenas um feitiço simples e conseguimos sair daquele porão.

Depois de um longo corredor, eu podia ver os portões de ferro e a rua lá fora. Estávamos nos fundos da casa de Vera, perto da Única.

Se o sofrimento já tinha sido grande por causa de apenas uma réplica, eu imaginava como seria para as duas Coroas que ainda restavam. Esse pensamento, com certeza, não me fez chorar menos.

Lançando feitiços para descobrir portas ocultas, o garoto ia na frente liderando, até que finalmente uma escultura de uma mulher amaldiçoando um rapaz se abriu, revelando uma porta que não estava nem trancada. Dentro dela, uma redoma de vidro com a Única nos aguardava. Com um feitiço, o vidro desapareceu e pude pegá-la em mãos, parando de chorar e me permiti sorrir. Sorriso que se desfez quando senti aquela aura novamente. Vera.

—Como acabaram com meus feitiços?—Ninguém ousou responder. —Não estão desconfiando que essa Coroa está fácil de mais?

E assim, ela começou uma batalha de feitiços. Vera, um homem muito parecido com ela, porém novo e uma moça contra duas crianças de treze anos. Com certeza, uma das batalhas mais justas que já participei.

Tanto que caí com um dos primeiros encantamentos, e fiz a bolsa nos acompanhar com um feitiço para não cair sobre ela de novo. Foi tudo tão rápido que mal percebi o leve amassado numa das pontas daquela Coroa.

Depois de algum tempo, um feitiço da moça desconhecida foi defendido por mim e voltou para ela, mas quase derrubei o objeto que eu levava. Eu nem ao menos queria soltá-la, sentia que seria útil.

Alguns feitiços depois Vinícius também foi derrubado, mas levantou-se rapidamente. Rápido o bastante para defender outro feitiço.

A batalha, dessa vez de dois contra dois, se estendeu pelo corredor até que perto dos portões conseguimos derrubar o provável filho da Nortista. Com isso, senti que poderíamos vencer aquilo facilmente, mas resolvi não confiar. Apelei para um feitiço da morte.

Desparlaex viveo!— O feitiço que atingiria nossa única inimiga foi defendido ao mesmo tempo que Vinícius lançou um feitiço para fazê-la desmaiar e conseguiu atingi-la, por estar distraída.

Mas eu nunca poderia ter tanta sorte de escapar de meu próprio feitiço. Sem tempo de reação, tentei inutilmente me defender com as mãos e esperar minha queda.

Queda que não aconteceu.

Senti a Única se desintegrar em minhas mãos. No meio das cinzas, um único papel com duas palavras.

“A Poderosa”.


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Notas finais do capítulo

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