Teous! escrita por Mariez, Mariesz


Capítulo 30
A Praça da Presidência Mágica


Notas iniciais do capítulo

Esse será o último capítulo postado no horário de terça e quinta. Agora, eles vão sair de terça e sexta, assim eu posso ter mais tempo para escrever e deixar os capítulos melhores!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/546167/chapter/30

Sabendo que Vera acordaria logo pelo feitiço ser fraco, saímos o mais rápido que conseguimos. Vinícius foi para o primeiro lugar que conseguiu pensar, pelo que pude perceber. Eu não reconhecia a rua. Era movimentada e vários bruxos e bruxas passavam conversando alegremente sobre coisas que eu jamais conseguiria entender. O lugar tinha cheiro de frituras, pipoca doce e açúcar enfeitiçado, uma versão muito mais legal que o algodão doce Comum, pois era feito com feitiços e tinha formato de animais que faziam barulho. Quando pequena eu costumava pegar os em formato de cachorro, mas eles ficavam latindo para o parque todo ouvir.

Vendedores passavam com seus pássaros de madeira que cantavam e voavam livremente, suas bonecas de plástico que andavam pelo paralelepípedo e acenavam para as crianças e suas bolas coloridas que quicavam sozinhas atrás do seu dono. Barraquinhas de comidas Comuns como pastéis e cachorros quentes enfeitavam os cantos das ruas com seus toldos em diferentes cores vibrantes. Algumas delas pareciam preparadas para fechar, mas mesmo assim continuavam cheias. Nelas, adultos conversavam e nem viam quando as crianças enfeitiçavam seus refrigerantes, mudando-os de cor. Um pouco depois, brinquedos iguais aos de praças Comuns, porém em perfeito estado, divertiam várias crianças menores.

Eu fiquei impressionada com o lugar. Era como uma praça enorme no meio de uma avenida onde passavam pessoas a pé e algumas delas surgiam de portais ou do meio do nada, afinal bruxos não precisavam de carros. Do outro lado da rua, era possível ver várias lojas de moda bruxa com músicas conhecidas tocando, papelarias vendendo cadernos com estampas que se mexiam, livrarias lotadas com tijolos feitos de livros grossos e enormes e uma loja de doces colorida com bonecos de madeira na frente, que cumprimentavam as pessoas e dançavam de vez em quando.

Era um lugar bem parecido com o centro de Cerejeira, mas eu conhecia aquele lugar como a palma da minha mão e sabia que não era nem perto do centro.

Enquanto isso, Vinícius parecia ter saudades daquele lugar. Ou melhor, se aceita um conselho, case com alguém que olhe pra você do jeito que Vinícius estava olhando para aquela praça.

—Ah, que saudades desse lugar!— Ele abriu um sorriso enorme. Pensei que nunca mais poderíamos sorrir depois do que aconteceu naquele porão, mas o clima ali era realmente bom.

—Onde estamos, afinal?

—Aqui é a Praça da Presidência Mágica, eixo Sul. Eu costumava vir aqui todo final de semana com a minha avó. Bem naquela parte dos brinquedos. — Ele apontou para os balanços—Depois eu pedia pra ela comprar sorvete, antes de ir embora. A gente ia a pé mesmo, a casa dela não é muito longe daqui. Pena que não podemos visitar ela durante a busca. E também não foi a melhor ideia do mundo vir até aqui, que não tem lugar para acampar, mas eu apenas segui o nome que me veio na cabeça.

—Bem que nós poderíamos ficar um pouco aqui, eu preciso mesmo descansar um pouco de tudo isso.

E assim decidimos comprar sorvetes, que custaram um TriLio cada um, o que equivale a um real, e assistir as crianças num carrossel de madeira que parecia girar sozinho e talvez realmente girasse, afinal o Sul era completamente mágico e esse tipo de coisa era possível.

Eu queria conversar com ele sobre o que aconteceu na casa de Vera, mas ninguém parecia em condições de lembrar daquilo tão cedo. Enquanto eu observava meu picolé de morango que nunca derretia e decorava onde cada pedaço de fruta estava, Vinícius parecia um pouco menos animado com a ideia de ficar na praça, mas eu sabia que ele não ia desistir tão cedo.

Porque durante esse tempo eu pude conhecer ele melhor, mesmo que nunca falasse com ele antes eu consegui me dar bem com a ideia. Ainda era meio difícil pensar em duas pessoas de gênio forte se dando tão bem diante do que acontecia. E de tanto viver com ele nesses meses eu podia apostar que ele queria ir até a casa da avó, mas tinha consciência de que ela poderia ser perseguida, porque era o que eu pensava.

Eu também me animaria com a ideia de visitá-la, por ter tido pouco contato com a minha avó durante a vida. A mãe do meu pai era Comum, e eu nunca conheci, mas sabia que ela ainda estava viva, ligando nos aniversários do meu pai. E minha avó por parte de mãe não chegava a ser um exemplo a ser seguido, de acordo com a minha mãe. Me lembro de ter ido até a casa dela só duas vezes quando era pequena.

—Você sabe que a gente vai ter que falar sobre isso alguma hora, né? —Eu perguntei, e mordi minha língua por não ter me segurado.

—Mas eu não quero agora. O importante é que a primeira já foi destruída bem mais fácil do que eu pensava.

—Acho que você precisava rever seus conceitos sobre “fácil”. —Fiz uma careta de dor ao me lembrar da maldição, mas continuei tomando meu sorvete.

—Fácil pra mim é quando ninguém morre. —Ele deu de ombros e encarou seu sorvete de coco por um momento. —E espero que continue sendo fácil de acordo com o meu conceito.

Nem tive tempo de pensar sobre isso, porque logo uma criança caiu na minha frente me despertando do meu quase transe. Por sorte, nem o sorvete nem a criança saíram em condições ruins.

Aliás, eu já estava começando a estranhar um pouco. Porque, afinal, já fazia tanto tempo que eu estava com aquilo e não saía da metade. E também não derretia no sol, por causa dos feitiços. Olhando para o lado, percebi que o sorvete de Vinícius estava igual.

—Parece que esse negócio não acaba nunca!— O engraçado era que ele realmente parecia irritado com o picolé.

—Nossa, você leu meus pensamentos. Eu acho que eu vou jogar isso fora, não aguento mais tomar sorvete de morango.

Depois disso, passeamos pela praça e compramos mais água, dessa vez com feitiços para não esquentar, mas preferimos não gastar muito por não saber do que iríamos precisar. Claro que, além da minha bolsinha de Lios e da carteira de Vinícius, ainda tínhamos o pouco que Marília nos deu num saquinho para emergências, mas é sempre bom ter bastante dinheiro.

Assistimos a noite cair e a praça esvaziar aos poucos, enquanto o frio das noites do eixo Sul começava a invadir o ar. Pegamos nossas blusas, a minha roxa com zíper e o moletom azul de Vinícius, e começamos a andar, procurando um lugar para montar nosso “acampamento”. Passei as mãos por meus cabelos curtos e senti como se faltasse uma parte deles. Porque, afinal, realmente faltava. Mas isso ajudava muito nesses tempos.

A praça era logo ao lado do Palácio da Presidência Mágica, mas preferimos não passar na frente, pensando se poderia haver alguém ali, nos procurando. Por mais que não fosse fácil pensar que tínhamos ido para tão longe, Vera ainda estava nos procurando e poderia nos seguir.

Havia um terreno, já recortado, apenas esperando uma casa ser construída perto de uma esquina e decidimos ficar ali. Era realmente estranho existirem tantos terrenos vazios em bairros bruxos, mas eu sempre os via, desde antes de tudo isso começar.

E o sorvete só terminou quando terminamos de montar a barraca, porque eu tinha decidido não jogá-lo fora. E aquilo serviu como uma refeição. O bom era que não precisaríamos gastar mais comida.

Não era muito tarde quando fomos dormir, ás oito e meia, mas estávamos cansados por culpa dos encantamentos de Vera. E mesmo assim, eu acordava com pesadelos e mais pesadelos, me revirando a noite toda. Às duas da manhã, quando eu sonhava novamente com os eventos do porão, vi Vinícius sentado na outra cama e me perguntei se ele estava na mesma situação.

—Teve pesadelos até agora?

—Um depois do outro. — A voz dele saía meio falhada e ele parecia assustado. Pela meia luz que vinha da rua, pude perceber seus cabelos bagunçados, que não deveriam estar mais arrumados que os meus.

—Eu também, pelo visto não vou conseguir dormir desse jeito. Eu não estou sendo muito forte e também não me sinto muito segura sabendo que Vera pode estar nos seguindo.— Dizendo isso, me deitei para tentar dormir novamente.

Vinícius demorou pelo menos uns cinco minutos para dizer alguma coisa, como se pensasse muito no que ia dizer.

—Vou fazer uma coisa, e espero que você não se importe. —Rapidamente, eu ouvi o barulho das molas da cama rangendo e não entendi muita coisa.

Ouvi o barulho de novo, mas dessa vez vinha da minha cama. Senti um leve calor ao meu lado.

Vinícius se deitou ao meu lado e eu me encolhi para dar mais espaço.

Depois disso, dormi bem melhor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Teous!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.