Teous! escrita por Mariez, Mariesz


Capítulo 28
Liz, a formiga


Notas iniciais do capítulo

Pois é, pessoal, finalmente voltei ao Nyah!
Peço desculpas por ter passado tanto tempo nesse bloqueio criativo, mas agora vou voltar a postar a história nos dias certos.
Agora, vamos ao capítulo.



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Me transportei para o lugar mais longe que consegui, levando Vinícius e Marcus comigo. Dessa vez, estávamos em uma rua sem saída com um caminho de terra no fundo que levava até algo depois de altos muros sem reboque.

—O que te dá o direito de apagar a memória das pessoas na rua? Aquele lugar pode ter câmeras! —Vinícius estava praticamente gritando comigo.

—Ah, desculpa, da próxima vez eu espero vir alguém pra levar a gente pra delegacia, aí vai ser bem mais legal. A gente aproveita e estraga toda a nossa busca!

—É, e se você tivesse se preocupado em aprender a fazer os feitiços direito, eles não teriam nos visto.

—O feitiço parou de funcionar de manhã, não seja idiota! Você levou a gente pra um lugar onde passavam pessoas o dia todo, e a noite ninguém nos viu. Só começou a falhar quando você desfez o feitiço na barraca. Acho que a culpa não é minha.

—Ah, claro, super inteligente da minha parte, desfazer os feitiços por pura diversão!

—Não importa de quem é a culpa— Marcus interferiu—, apenas refaçam tudo na grama perto do caminho de terra e comecem a pensar em planos, por favor?

—Refaçam, nada. Quem vai fazer os feitiços por aqui é o Vinícius, por ele é o novo deus da sabedoria.

—Melhor eu começar a fazer tudo mesmo, porque nem todos os escolhidos são competentes.

Depois disso, eu não falei mais com Vinícius pelo resto do dia. Apenas via ele tentando anotar alguma coisa com o lápis, o mapa e a folha que ele conjurou enquanto eu me preocupava com a comida. Fiz a conta de quantos dias ainda tínhamos antes de precisar de mais coisas para comer e quanto teríamos que regular de água. Tentei treinar alguns feitiços de proteção, com raiva e adotei uma formiga de estimação para tentar testar os feitiços. Pelo menos ela não morreu. Marcus, que estava acompanhando meu progresso com a formiga, decidiu ajudar Vinícius em seus caminhos. Eu não sabia o que ele estava fingindo planejar, e isso tinha atrapalhado minha conta de suprimentos. Eu não ia saber quando ele pretendia sair, ou se ele iria esperar Marcus nos entregar ficando vários dias no mesmo lugar. Mas o orgulho não me deixava falar com ele. Tive o pensamento infantil de mostrar a formiga protegida e feliz nas minhas barreiras mágicas, mas ri de como aquilo seria inútil.

Vi a noite cair rapidamente e começava a ficar cada vez mais frio. Mas minha blusa estava na bolsa, e a bolsa estava com Vinícius. Então eu percebi que minha única refeição do dia tinha sido de manhã. Não me permiti comer durante a minha contagem. E ninguém mais tinha comido. Eu deveria ter me preocupado mais com isso porque estragaria a minha contagem. Agora tínhamos comida sobrando comparada ao horário e eu teria que contar tudo de novo.

Usei o feitiço de banho instantâneo que eu tinha aprendido e mesmo que a sensação fosse um pouco estranha, ainda era boa. Eu não tinha outro jeito de tomar banho, mesmo. Depois, vi que já eram dez horas da noite. Vinícius e Marcus ainda anotavam coisas sobre o mapa, sob a luz de um feitiço.

—Vocês comeram alguma coisa?— Eu disse, me aproximando.

—Ainda não. —Marcus respondeu, mas Vinícius nem ao menos olhou pra mim.

—Já está tarde. Na verdade, é hora de dormir. Vocês deveriam comer e escolher quem vai fazer guarda comigo hoje.

—Eu fico. —Vinícius finalmente falou, seco. Abriu a bolsa e pegou um pacote de biscoitos recheados. —Pega um biscoito. —Ele me ofereceu e eu peguei dois. O gosto do recheio era artificial, mas doce.

Marcus se despediu e saiu, indo para dentro da barraca.

—Desculpa por ter te culpado—Ele começou—, eu descobri o que aconteceu. Marcus desfez os feitiços de propósito, ele pretendia nos entregar hoje.

—Como você sabe?

—Ele recebeu uma carta hoje, mas eu peguei enquanto vocês cuidavam da sua formiga inútil. Era uma resposta de Vera. Tirar a memória das pessoas e fugir atrapalhou os planos deles. Ela disse pra ele tentar de novo amanhã.

—Então você devolveu a carta pra ele.

—Sem ele perceber que eu tinha pego.

—Me desculpe também, afinal eu também de culpei.

—Bom, estamos quites agora. Mas precisamos descansar, amanhã vamos gastar muita energia.

—Talvez até a nossa vida.

Depois disso, nos concordamos em ir dormir e eu finalmente consegui me deitar tranquilamente. Eu achei estranho me sentir com sono tão rápido. Mas, afinal, eu não estava indo ter um sonho.

—Larissa, finalmente consegui fazer uma ligação por sonho!— Era Marília. — A Única está na casa de Vera, num quarto velho nos fundos. Vocês precisam ir rápido até lá.

—Estamos sendo rastreados por Marcus, aquele loiro do segundo ano— Eu consegui responder, mas temia que eu pudesse falar enquanto dormia.— Ele vai nos entregar amanhã e vamos conseguir chegar no eixo Norte.

—Tomem cuidado.

A ligação por sonho foi interrompida e eu acordei. Eu vi a luz entrar fraca pela barraca e deduzi que estava amanhecendo. Marcus já estava acordado e olhava o sol subir tranquilamente, com meu livro aberto na parte de contra-feitiços.

Corri para acordar Vinícius, torcendo para que Marcus não percebesse que eu estava acordada.

—Acorda, Vinícius, a gente precisa arrumar tudo logo!

—O que?— Ele ainda estava lento por causa do sono.

—Marcus está lá fora, começando a desfazer os feitiços. —Vinícius levantou rapidamente e eu comecei a guardar tudo em silêncio.

Quando tudo já estava pronto, Vinícius foi checar a bolsa.

—Marcus está com o livro?— Eu fiz que sim com a cabeça. —Então precisamos pegar ele de volta. Vamos aparecer lá como se nada tivesse acontecido e pegar o livro. Deixe a bolsa aberta, eu sei guardar a barraca enquanto ele estiver tentando nos transportar. Depois disso, vamos precisar de sorte.

—Marília também falou com você?

—Não. Como você falou com ela?

—Ela fez uma conexão por sonho e me disse que a Única está num quarto dos fundos da casa de Vera. Eu não perguntei como ela sabe disso, mas eu preferi confiar.

Vinícius assentiu e saímos para falar com Marcus.

—Pega alguma coisa pra comer, Larissa. —Eu apenas obedeci. Enquanto eles comiam as horríveis frutas secas eu consegui pegar o livro escondido. Me senti roubando algo meu.

Olhando mais a frente, observei Liz, a formiga, ainda sob os meus feitiços. Ela tentava sair de todas as formas mas sempre ficava presa. Decidi olhar por ela como estavam os feitiços pela barraca. A névoa que a faria ficar invisível desapareceu. Eu a via desde o começo por ter feito o feitiço eu mesma, mas agora todos que quisessem poderiam vê-la. Naquele momento, estávamos na mesma condição de Liz.

A tensão era grande. Eu imaginava que a qualquer momento alguém poderia nos ver e meu coração batia como se quisesse sair de mim. Meus olhos arderam. Eu estava com medo do que viria acontecer na casa de Vera Nortista.

Mais uma das camadas foi desfeita e Liz pode avançar alguns passos de formiga. Resolvi lançar um feitiço para aumentar o volume daquele espaço pra mim. Assim, quando o feitiço silenciador parasse, eu poderia ouvir os passos dela na grama.

Vinícius parecia descontraído, mas estava tenso. Ele tamborilava os dedos na grama de modo irritante, o que costumava fazer quando estava ansioso. De repente, parei de ouvir a conversa dos meninos e os dedos de Vinícius contra a grama e comecei a ouvir um som horrível de vários passos pela grama. Era Liz. Silenciei meu feitiço e percebi que qualquer um na rua poderia nos ouvir agora. Olhei para os garotos e o moreno parecia estar esperando algum sinal. Assobiei acompanhando um pássaro que cantava ao longe e obtive a resposta no mesmo tom e Vinícius provavelmente entendeu o sinal.

A última camada nos impedia de nos transportar e receber feitiços ofensivos. Tentei então transportar Liz uma vez, sem sucesso. Suspirei.

—Você está quieta, Larissa. — Marcus finalmente percebeu que eu não participava da conversa.

—Só estou um pouco lenta de sono, Marcus, não me faça pensar ainda.

O outro escolhido trocou comigo um olhar de aprovação. Finalmente eu tinha representado o papel de maneira certa, mas talvez isso nunca mais chegasse a acontecer.

Tentei novamente transportar Liz para cima de Vinícius. Se o feitiço funcionasse, talvez ele captasse a mensagem. Em segundos, vi a formiga sobre o joelho dele.

—Olha, a Liz subiu em você! — Dei o sorriso menos assustado que consegui. — Engraçado, não me lembro de ter libertado ela dos meus feitiços.

Ele arregalou os olhos rapidamente e se levantou, preparado para um possível ataque. Marcus riu, pensando que a formiga teria causado o susto no outro garoto. Rapidamente, me lembrei de abrir a bolsa. Senti que partiríamos logo.

—Que isso, cara. — Marcus se levantou, me ajudando a me levantar. Mas ele não soltou minha mão. —Você não precisa ter medo da formiga. —Ele segurou a mão de Vinícius antes de continuar a frase. —Você precisa ter medo de mim.

E eu vi rapidamente a barraca voando para dentro da bolsa, enquanto tudo rodava em volta.

Estávamos nos transportando. Indo para a casa de Vera.


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Notas finais do capítulo

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