Capítulo nove

Uma mocinha em pele de vilã

“É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.”

(Guimarães Rosa)

O que estava escrito na camiseta? Nada menos que o seu nome, “Sasuke Uchiha”. A primeira coisa que as mães faziam quando compravam o conjunto escolar era marcar isso em algum local com caneta permanente na roupa do filho. Eu sabia disso porque a minha também fazia quando era criança.

“Por acaso quer ser morta? – Tenten”

Eu definitivamente não tinha me lembrado que algo assim poderia acontecer. Quando ele colocou a blusa em cima de mim a última coisa que entrou pela minha mente é que descobririam logo que era dele.

“Não tinha percebido. – H.H”

Tirei ela no mesmo instante, porém notei que a Karin tinha visto e vinha em minha direção com rapidez. A Sakura e a Ino não estavam com ela, mas em nada diminuía meu medo pelo que ocorreria.

– O que está fazendo com essa roupa? – o tom irritado.

– E-eu não estou mais usando. – gaguejei pelo horror que sentia.

– A vadia então resolveu dar em cima do Sasuke? E ainda pediu a camisa dele? Isso sim que é ter ousadia Hinata, mas isso não é nada bom. Nada ótimo mesmo. – ameaçou.

Olhei para a morena que sentava na minha frente, no entanto não mexia um músculo. Ao me ignorar lembrei do que tinha falado pela manhã.

“Mesmo que eu tenha dito aquilo estou irritada por não reagir. Se não sempre vão achar que é delinquente ou drogada.”

– Eu não sou vagabunda! É tudo um mal entendido. – respondi ao fita-la com determinação.

– É? E para que vestiu esse uniforme curto? – ao aproximar-se de mim, fazendo com que eu ficasse escondida por ser mais baixa que ela.

– P-para... – minha boca se calou na mesma hora.

Naruto tinha entrado na sala e sentado perto da gente, depois disso deu-me um sorriso de galanteador. Aquilo fez meu coração saltar pela boca, assim como minhas bochechas que pareciam estar queimando com o seu ato.

– O rato comeu sua língua? – gritou quando o silêncio se tornou perturbador para ela.

– Não seria pato? – entrou na conversa o loiro.

Já eu ainda estava petrificada como uma boba apaixonada que era.

– É gato. – respondeu o moreno com seu ar de superior ao se posicionar em seu lugar de direito.

– Não é necessário discutir sobre quem tenha sido, se o culpado é o urso ou um coelho, o que importa é que temos uma conversa a continuar, não é Hyuuga?

O segundo sinal bateu e a professora entrou para dar a aula. Fui salva pelo gongo, literalmente. Se não fosse por isso eu teria de dar alguma desculpa a força, mesmo que ainda não tivesse algo em mente.

A loira e a rosada chegaram um pouco atrasada, mas puderam entrar por estarem na enfermaria. Percebi que a mão da Haruno estava enfaixada, assim como tinha um band-aid em sua bochecha.

– Quem fez isso contigo Sakurinha? – esse era o Uzumaki falando.

– Não quero falar. – balbuciou.

Até eu fiquei surpresa. Quem será que a machucou?

– Se não dizer eu descobrirei, e farei o favor de dar tanta surra na pessoa que ela não vai poder andar por uma semana. – exclamou com fúria.

Ela ficou olhando para o Sasuke com um olhar que dava pena, mas ele nem sequer a fitava. A educadora então se levantou com a omissão da garota e deu passos até chegar a carteira dela.

– Até eu desejo saber quem teve a coragem de te ferir, e pode ter certeza que farei o possível que o responsável tenha o castigo que merece. – declarou.

– Vai contar ao diretor também? – quis saber.

– Com certeza. – confirmou.

– Então eu revelo. Foi a... Hinata. – esclareceu.

Minha boca se abriu em descrença. Como assim ela fala que fui eu? Nem sequer toquei um dedo nela. Só que parecia que acreditavam nela, já que a que nos ensinava me olhou em repreensão.

– Quando isso? – questionou.

– Antes da aula começar, aqui na sala. – declarou.

– Sabe por qual motivo? – continuou as perguntas.

Estava sem reação, até para negar o que estava ouvindo.

– Por inveja, claro. Ela até tentou usar uma roupa curta como a nossa, mas ao ver que eu ainda continuava mais linda foi para cima de mim. Minhas amigas tentarem me acudir, mas na hora fui empurrada e cai no chão. Por isso que minha mão e a bochecha estão com esparadrapos. – respondeu.

– Isso é verdade? – mirava a Yamanaka e a ruiva.

– Uma delinquente dessa não se enxerga professora. É um perigo para todos nós, por nem sei como está nessa escola ainda. – essa foi a Karin.

– Porque ela não tinha feito de errado para isso.

– Aqui dentro né? Pois fora do colégio ela compra briga com qualquer um que esbarre nela. Até líder de uma gangue é. – declarou.

O silêncio se fez presente novamente quando um tal de Kiba levantou-se de onde estava e bateu com o punho em cima da mesa. Parecia tão irritado que uma veia saltava de sua testa.

– Qual grupo por acaso? – perguntou com ira.

– O-o vermelho. – gaguejou.

– Elas não são divididas por cor Sakura, mas sim por vilas, como a da folha, grama, névoa. – repreendeu.

– Como vou saber quais são? não sou metida com eles para isso.

– É? Então eu que conheço tenho certeza que a Hina não participa de nenhum. Você é que a mentirosa aqui e o que está fazendo com ela é, no mínimo, ridículo. – retrucou.

– Mas isso não retira o que disse de ter me batido! – gritou.

A próxima a sair do seu lugar para entrar no meio da discussão foi a Tenten. Logo estava na frente da garota enquanto a olhava com raiva.

– Eu estava aqui no começo da aula e sei que ao contrário do que falaram a Hinata que foi machucada pela Karin. E se queria tanto ferir a mão era só me pedir, porque eu teria um prazer imenso de fazer um estrago maior que esse. – ameaçou de maneira direta.

– Então tira a faixa da minha mão se acha que estou fingindo algo.

Ao fazer isso vi que um local estava inchado e vermelho, o deixou-me assustada. Aquilo era mais que o suficiente para provar que estava falando a verdade, mas não sobre o culpado.

– Não fiz isso. Por favor, acreditem em mim. – murmurei.

– Hinata, sinto muito, mas você tem de ir na diretoria agora. – mandou a educadora.

– Eu também irei. – disse a morena que se encontrava perto de mim agora, a de dois coques na cabeça.

Concordou com a cabeça em relação a me acompanhar, mas não consegui nem sequer me mover. É como se a ficha não tivesse caído de que ia falar com o que cuidava do colégio, ainda mais por saber que ia receber uma advertência ou algo pior.

– Não se preocupe, vai dar tudo certo. – balbuciou baixinho para mim a guria.

Percebi-a puxando-me e fechei os olhos, mas não antes de ver o Naruto fitando-me de maneira chateada. Ele achava que eu era a culpada de bater na Haruno? E isso significava que minhas chances de ficar com o loiro tinham diminuído.

Eu tinha virado era a vilã.

– Não posso acreditar que escutei aquilo sair da boca daquela puta magricela. Espero que ela tenha muita sorte, pois quando tiver a oportunidade de ficar sozinha com essa garota não é só a mão dela que doerá. – esbravejou enquanto caminhávamos pelo corredor.

– P-por que será que me acusou? – a voz embargada pela vontade de chorar.

E isso se realizou quando no momento seguinte lágrimas estavam correndo por entre meu rosto. Tenten pareceu ver o que estava acontecendo, já que me abraçou. Chorei tanto que quando me desprendi de seu perto a camisa dela estava um pouco ensopada.

– Elas não são boas como você, nem tem a sua beleza. Sabem que está se aproximando do Sasuke e sentem ódio de ti por isso, pois não admitem que é a única, que não as três, que tem chance de namorá-lo. – respondeu a minha pergunta.

– Mas eu amo o Naruto. – comentei entre soluços.

– Só que ninguém sabe, nem ele. – sussurrou enquanto afagava meu cabelo.

– E ele me detesta agora também.

Ao falar essa frase o choro aumentou, assim como a dor sentida em meu peito. Vê-lo me mirar de maneira decepcionada era pior que os dias em que não trocamos uma misera palavra.

– É porque está cego de paixão pela Sakura, mas sei que logo perceberá o que está perdendo em não ficar contigo.

– Obrigada, só você mesmo para me apoiar, mais do que a mim mesma. Eu sou uma pessoa fraca e muito calada para me notar. – a baixa autoestima novamente liderando o meu ser.

– Da onde que é frágil? Enfrentar a Karin e dizer que não era vagabunda provou justamente o contrário, tanto que me surpreendeu. Tenho certeza de que é melhor do que acha Hinata, apenas não descobriu isso ainda.

– Graças a você por ter me dito para me defender e reagir. Estou muito feliz por ter falado comigo aquela vez, assim como por me ajudar.

E então continuei a chorar, mas agora de felicidade. Ela sorriu em minha direção e se posicionou em frente a uma porta de maneira.

– Vamos falar com o diretor então? – declarou.

Limpei os resquícios de lágrimas antes de concordar em silêncio e de entramos naquela sala escura, que logo ficou clara por terem acendido a lâmpada. O homem se virou e percebi que usava uma gravata preta, assim como o terno. Dava a impressão de ser exigente só de olhá-lo, imagina ao falar?

– Que ocorreu meninas? – a calma com que perguntou me fez pensar que estava errada.

– Eu... é... – respondi nada com nada, chegando a lugar nenhum.

– Sinceramente? Nem sei por ela está aqui e...

O telefone tocou e ele atendeu rapidamente, não esperando a outra dizer por mim o que aconteceu. Notei que acenava com a cabeça em alguns momentos, não declarando nada sobre o que era o telefonema. Desligou rapidamente e olhou para nós de maneira reprovadora.

Mexeu no computador por um instante e pareceu não crer no que estava vendo.

– É a sua primeira vez por aqui Hyuuga? – questionou.

– Sim. – disse.

– Tudo bem, a professora acabou de relatar o ocorrido. Por conta de nunca ter brigado na escola apenas darei uma advertência, porém espero que isso não se repita tudo bem?

– Mas... – essa era a minha colega falando.

– Estão liberadas, ou quer receber uma também Srta. Tenten?

– Não. – disse com agilidade e me pegou pelo braço.

Apressei o passo e tentei chegar a sala antes dela. Não queria que continuasse a andar comigo e se metesse em confusão, tanto que por minha causa quase recebeu um aviso do diretor. Só que no meio do caminho me alcançou, para depois virar-me para que eu ficasse de frente para si.

– O que está acontecendo? Não gostou por tê-lo retrucado? É, sou meio mal educada as vezes. – parecia arrependida do que tinha feito.

– Não posso mais falar contigo. – devolvi.

– Só por causa do que fiz?

– É que por minha culpa quase ia ser castigada também. Não quero que tenha problemas ao me defender, e algo pior pode acontecer se continuar a me acompanhar.

– Para que acha que servem os amigos? Não é só para os momentos bons, mas os ruins também. – declarou.

Não aguentei e dei um sorriso.

– Quer dizer que... – não me permiti completar por conta da emoção.

– Sim, somos amigas Hinata. – respondeu por mim.

Cheguei perto dela ao ouvi-la e abracei-a com força, relaxando ao ter correspondido o ato. Ficamos pelo corredor nessa posição e a vontade de chorar novamente vinha. E depois de uma lágrima se lançar por entre minha bochecha eu respondi:

– Obrigada... amiga.