Capítulo dez

Um amor só se cura com outro

"Quando defendemos os nossos amigos, justificamos a nossa amizade."

(Marquês de Maricá)

“Hoje podemos lanchar juntas? – Tenten”

Fazer essa pergunta para mim e me deixar escolher é algo que nunca presenciei antes, ainda mais saber que alguém quer a minha companhia no intervalo.

Sendo que o Sasuke não conta.

“Com certeza amiga. – H.H”

Amiga. Amiga. Amiga.

Com todo o meu coração declaro que é maravilhoso chamar alguém assim. Poder saber que posso contar com a morena é fantástico. Apesar do pouco tempo que nos falamos já me sentia bem de estar ao seu lado.

“Trouxe muitas coisas gostosas hoje. – Tenten”

Será que vai ainda dividir a comida comigo? Sério?

A vontade de chorar de alegria que eu tinha só de saber que isso poderia ocorrer era enorme. Só que eu não poderia me permitir fazer algo assim no meio da aula, ainda mais na de química.

– Uzumaki? Responda a pergunta, por favor. – começou o professor.

Eu que estava olhando para o caderno levantei a cabeça no mesmo instante. Só de ouvir seu sobrenome eu prestava atenção novamente no que ocorria na sala.

Pare com isso Hinata!

Deveria era estar tentando esquecê-lo e não ficando cada vez mais abobada por ele. Aquele garoto nunca ia me amar, não quando quem está gostando é um alguém como a Sakura.

A popular e linda Haruno.

– Resguardo-me no direito de ficar calado. – provocou depois de um tempo.

– Até concordaria contigo, se aqui fosse a delegacia e não uma de sala de aula! E se não quer comparecer em uma é melhor começar a estudar, porque não é sempre que podemos contar com os amigos né? – levantando a sobrancelha a seguir.

Olhei para o loiro de maneira assustada pelas palavras que o homem usou, porém só o que vi foi o costumeiro sorriso estampado no rosto.

– Então não sei com quais pessoas teve amizade professor, pois, ao contrário do Senhor, os meus estão comigo quando eu preciso. – revidou.

Ele é tão... corajoso, determinado, simpático, belo e...

O que é isso? Uma bola de papel?

“Pare de fazer essa cara ridícula! – Tenten”

– Mais uma palavra e o lugar que estará não será nessa classe, todavia sim na diretoria. – declarou de maneira ríspida.

– E me tirar daqui? Justo eu que estou deixando essa aula chata ter alguma graça? – respondeu com escarnio no tom de voz.

Na verdade eu não gostei tanto assim do que disse agora.

Será que isso significa que estou me desapaixonando pelo Naruto?

E novamente outro bilhete foi arremessado na minha carteira.

“Ainda está parecendo uma tola iludida. – Tenten”

– Sente-se agora, senão... – interromperam-no.

Não por alguém, no entanto foi pelo sinal do intervalo.

– Vamos? – questionou a morena de forma animada.

Seu semblante de que estava contente por saber que íamos lanchar juntas fez com que meus olhos lacrimejassem. Conheço que parece idiota ficar emocionada por conta disso, mas para quem desejou isso por muito tempo a sensação era esplendida.

– Claro. – murmurei rapidamente.

– Você é muito fofa sabia? – comentou do nada.

– Eu? – meu tom era de perplexidade.

– E com quem mais seria? Realmente é meiga, bonita e muito generosa. Mas isso não quer dizer que tem de mudar um pouco, porque não faz bem para ti ser pisada pelas outras por causa disso. – explicou.

– Obrigada. – a voz baixa e serena, mas ainda assim tinha prestado atenção no que dizia.

Como se aprende em biologia: “Só os fortes sobrevivem. Os fracos são extintos”. E nada melhor do que seguir a sabedoria do mundo animal e descobrir a maneira mais eficaz de me defender, antes que eu seja engolida e estapeada pela vida.

– Podemos ir para a cantina? – quis saber.

– S-sim. – gaguejei.

Só de pensar em ir naquele lugar cheio de pessoas, dentre elas os mais descolados, jogadores de futebol, basquete e muitas outras que me deixavam nervosas apenas por entender que ficarei na mesma área que eles.

Isso incluía a Karin, Ino e Sakura.

– Elas não vão fazer nada. – tentou me tranquilizar.

Acompanhei-a até aquele lugar que desconhecia há algum tempo e notei que cada grupo se posicionava em um local do pátio. Seja nos bancos ou no chão mesmo. Já eu fiquei encantada por uma árvore desocupada.

– Perfeito. – balbuciei.

– O quê? – perguntou em confusão.

Só que eu nem sequer respondi e me apressei em ir até aquele canto antes que alguém chegue. Ela me seguiu por um tempo, só que rapidamente percebi que tinha parado.

– Onde vai? – o tom aterrorizado.

– Escorar-me naquele tronco ali.

– Não pode! – exclamou.

– Por quê?

E então assentei na raiz e comecei a abrir minha mochila para pegar o lanche, enquanto ela continuava ainda estática. Tão parada que realmente me deixou preocupada. O que será que aconteceu?

– Não vê? Esse lugar é as-

Sabe o que ocorreu? Desequilibrei-me e cai com o rosto na lama. Por sorte o alimento não tinha caído na terra. É ótimo poder ter algo ainda para comer.

– Sombrado. – completou.

– Está tudo bem comigo. – devolvi.

Apesar de que tinha a certeza que o meu rosto estava todo sujo, tanto que o que mais enxergava era o preto, sentia que seria quase impossível que minha felicidade fosse estragada.

Até por que eu tenho uma amiga não?

– Não queria falar nada, mas a última coisa que as pessoas pensam é que está ótima. Na verdade, acharam até engraçado. – confessou.

Como se tivesse caído a ficha o que escutei foram gargalhas. Eu não poderia ver, mas se eu chorasse a minha situação ia piorar. A lama ia entrar no meu olho e ia começar a arder.

É... melhor mesmo esquecer o que eu tinha dito sobre nada arruinar o meu contentamento.

– Tinha razão em não querer vir. – sussurrei apenas para ela.

Então senti algo ser passado em meu rosto, para depois novamente enxergar a grama embaixo de mim e as pessoas, que realmente estavam zombando de mim. O pano da morena ficou todo encharcado com o marrom, porém nem sequer consegui pronunciar uma palavra em agradecimento.

E um toque foi anunciado para salvar a vontade que crescia novamente de choramingar. Procurei por todo o lugar da minha pasta para achar o celular, mas ao encontrar fui em direção as mensagens.

“Por que não está aqui?” – Sasuke.

Mirei o meu lado e fiquei aliviada pela Tenten não estar vendo. Era como se entendesse quando queremos privacidade.

“Estou com minha AMIGA.” – Hinata.

Coloquei em caixa alta a última frase para evidenciar.

Só o que eu percebi foi a morena posicionada na outra raiz, para depois gritar algo do qual me deixou muito surpresa – e admirada ao mesmo tempo.

– Vocês não têm mais algo mais importante para fazer? Por que não continuam a pintar a unha, paquerar e fazer outras coisas fúteis? Aqui não é amaldiçoado e queremos lanchar, então façam o favor de nos dar licença?

A reação deles? Obedeceram-na prontamente.

– Agradeço muito por não ter rido de mim, defender-me e continuar comigo. – finalmente abri a boca.

Ela me deu um abraço em resposta e finalizou com um grande sorriso.

– Quando eu disse que ia ser sua amiga não era brincadeira. – respondeu.

“Como assim? Só espero que isso não seja outra desculpa sua! Se eu souber que está fugindo de mim de novo pode esquecer a ajuda com o Naruto.” – Sasuke.

Tenho é de ficar cada vez mais longe dele. Não é pelo meu bem, mas também pelo dele. Ficar comigo não é o melhor para a sua imagem. Nunca foi. Só eu que fui muito burra por pensar que pudéssemos ser amigos.

“Não posso conversar contigo agora.” – Hinata.

Eu sei. Eu tenho a maior certeza que posso estar sendo tola por estar mentindo para ele. Por jogar o nosso acordo para o alto. De que eu tinha de defende-lo de outras gurias em troca de me dar dicas para conquistar o loiro.

Só que até hoje em nada tive de evolução em relação ao meu amado.

– Não sei o que vê no Uzumaki. – quis saber a morena.

– Ele é maravilhoso. Admiro-o muito por sempre andar com um sorriso no rosto, por ter me ajudado quando ninguém quis. Por brincar e muitas vezes parecer estar se divertindo, mesmo tendo perdido os pais. – expliquei sem esforço.

– Uma dica: o melhor para ti é esquecê-lo. Ele ama a Sakura desde criança e vai demorar para por outra no seu lugar. – aconselhou-me.

– E eu? Ele é meu primeiro amor há tanto tempo que eu nem sei mais como é viver sem imaginá-lo comigo há todo o momento, cuidar dele em segredo, observá-lo... – fui cortada.

– Qual o significado de “ajuda-lo em sigilo”? – parecia curiosa.

– É que... é... sou a garota que deixa pomadas para ele. – respondi em meio ao constrangimento.

– Isso é sério? E eu achando que essa história não era verdadeira, uma lenda. – mesmo que não tenha considerado uma piada quando eu cai, agora só faltava perder o ar de tanto que pensou ser hilária esta situação.

– Não consigo vê-lo machucado sem fazer nada.

– Fazer algo assim é muito você Hinata, mas ele tem de saber disso. – disse ao colocar um polvo de salsicha do meu pote na cavidade bucal.

Notei também que tinha acabado o seu lanche.

– Que foi? É maldade deixar essa comida ai toda estragar. – respondeu quando a olhei.

– Se quiser pode pegar mais. – murmurei.

Eu tinha colocado em maior quantidade em minha tigela por causa do Sasuke Uchiha mesmo, porém saber que minha amiga é parecida com ele nesse ponto me deixou perplexa.

– Obrigada. – disse com a boca cheia.

O recreio terminou, as aulas passaram, e o moreno “bad boy” ficou me fitando de maneira indiscreta. Já eu dava umas espiadas no Naruto, enquanto ele só mirava a rosada.

“A manhã está finalizando e ela continua fazendo a mesma cara de sempre! – Tenten”

Tem total razão.

“Se eu pudesse não o amaria mais, porém isso não ocorre da noite para o dia, ok? – H.H”

E agora mais um par de olhos me encaram, só que agora da professora.

– Já foi uma aluna melhor Hyuuga. – declarou.

– Desculpe-me Senhora. – sussurrei.

E quando continuou a dar aula um papel foi colocado em minha mesa.

“Vejo que está se defendendo mais, até está me respondendo. E mais uma coisa, querer não lembrar mais dele já é um grande passo, agora só falta encontrar um novo amor. – Tenten”

O quê? Outra pessoa para eu me apaixonar?

“Da onde tirou isso de novo amor? – H.H”

E o bilhete veio rápido.

“Não sabia que uma paixão se cura com um alguém diferente? – Tenten”

E sofrer? Sentir-me tola novamente?

“Acho que não é uma boa id-”

E a minha escrita foi arruinada pela frase que escutei a seguir.

– Posso ir ao banheiro? – essa era a Haruno.

– Sim, mas volte rápido.

Só que depois de um tempo uma outra voz fora ouvida por mim.

– Eu me lembrei que o diretor quer falar comigo, professora. Deixa-me ir lá agora? Pode ser urgente. – parecia desesperado o loiro.

– Claro. – confirmou a educadora.

E aquilo fez-me mudar tudo o que estava imaginando antes. Porque se eu não queria passar por essa sensação de novo, o que seria melhor era não gostar mais do Uzumaki.

“Essa foi a melhor ideia que já me deram! – H.H”

Agora só falta saber com quem.