Capítulo dezessete

Amigos

“O mundo não me permite ser criança para sempre
e eu não posso ficar chorando pelos cantos”

(Shikamaru Nara – Naruto)

— Quero muito ir no festival contigo. Vamos? — confessei, esquecendo por um momento o impacto de minhas palavras. Nem quando a colega fitava-me com os olhos arregalados, talvez pelo ato, mas meu extinto dizia que era por ter a interrompido.

Se notar o meu amado de infância com a algoz fez-me chorar, esconder, e querer ficar quieta, o mesmo ter ocorrido com meu novo amigo me deu uma reação diferente. E nunca entenderia o porquê, ainda mais percebendo-o mais chocado do que me sentia pela minha ousadia.

Depois de convidar de uma maneira descarada o Uchiha, minha vontade era de fugir. E a cada segundo de silêncio de sua parte mais queria sair dali e me esconder.

Eu sequer sabia se aquele ingresso era para mim!

Nem após daquele quase beijo em meu quarto tinha certeza.

Ele talvez tenha lido a minha mente, percebido minha expressão ou decifrado meu olhar, porém pegou em minha mão de forma desesperada, como se soubesse que poderia a qualquer instante, e fez-me um carinho que chegou a me acalmar. Fitou-me sem nem desviar e deu o seu costumeiro sorriso torto antes de me responder.

— O quê? — Apenas essas duas palavras foram o suficiente para acordar do transe e nos soltarmos.

O tom descrente tirou qualquer ponta de esperança. Meus olhos já estavam marejados, mas de vergonha. Tremelicando peguei os dois ingressos e estendi a ele com a intenção de devolver, podendo assim convidar quem realmente queria.

— Você esqueceu ontem. — Apontei para a garota que se encontrava do nosso lado, que sorriu com a minha fala. — Quem sabe assim pode enfim chama-la para sair.

Só que, ao contrário dela, encarava-me com seriedade.

— Por acaso nunca vai aprender? — Com o jeito Sasuke de ser.

— Seja mais claro. — Foi como uma provocação para ele.

— A ter mais autoestima, confiança e segurança? — olhos ferozes em cima de mim.

Não posso dizer que fiquei feliz com suas palavras, julgando-me sem nem sentir remorso. Isso foi o suficiente para me afastar e encostar na árvore mais próxima e cruzar os braços, apenas para perceber como os dois combinavam.

— Não é minha culpa ser assim. — Disse baixinho, observando a grama embaixo dos meus pés.

— É sim! — Chegou perto tão rápido que nem percebi, batendo com força no tronco que me encontrava, bem ao lado de meu rosto.

Tudo o que estava segurando desceu em forma de lágrimas, e o que menos queria agora era estar perto dele. Porém ele não tinha o mesmo desejo ao prender-me antes mesmo de conseguir me mexer.

— Ainda não terminei. — Nunca me acostumarei com seu lado aterrorizante, do qual foi o suficiente para paralisar-me. — Quem deveria te convidar era eu, mas você fez antes de mim, deixando-me bem orgulho e surpreso. Mas para que estragar o momento se precipitando e achando que o ingresso era para ela? — Cada parte de mim estava concentrada nele, seu olhar, expressão e boca.

A mente sussurrava coisas que terminavam em sair com ele para aquele festival, comer, assistir os fogos de artificio e divertir-me com a primeira pessoa que me fez sentir aceita e não ter medo de ser eu mesma. Só que não conseguia pronunciar nada, apenas ficava o observando.

— Se ela não quiser, estarei à disposição. — Interrompeu-nos a nossa colega de colégio.

O meu rosto, que com certeza estava vermelho, ficou mais ainda ao perceber que tínhamos telespectador.

— Saia! — Exclamou o moreno, espantando-o sem nem precisar dizer tanto.

E quando voltou a prestar atenção em mim, lembrei de algo.

— Gostaria muito de aceitar, mas vamos só nos dois? — Realmente nada daquela conversa me deixava tranquila, ao ponto de fechar as pálpebras quando a realidade dessa frase me atingiu.

— Pensei que a Tenten iria também.

“Tem de ser ousada, aproveitar os momentos, como eu. Quem sabe assim até poderia ir com o Sasuke no festival, igual irei com quem gosto.”

O nervosismo aumentou com essa lembrança, pois tudo significa que ficaríamos sozinhos nesse evento. E é claro que surgiria mais mal entendidos, como o fato que pareceremos um casal.

— Irá com o namorado. — Essa foi informação foi dada de maneira lenta e a contragosto, porém finalmente tive coragem para fita-lo.

Aproximou-se, deixando seu lado sombrio ao não desgrudar seu olhar do meu, lançando o seu sorriso torto enquanto parava bem perto. Meu coração bateu mais forte quando me abraçou, sendo o contrário do relaxamento sentido ao sentir seu corpo descarregando toda a tremedeira anterior.

— Pare de se preocupar, esse será o melhor encontro entre amigos de sua vida. — O seu jeito “modesto” lembrou do que disse ao me ver defender aquele gato, como se só o fizesse para ser salva por ele.

Escutar a palavra amigos me incomodava de uma maneira que mal compreendia, como se não fosse o certo. Será que é por que preferia que tivesse um melhor na frente?

— Obrigada, ficarei te devendo. — Era por ter me protegido tantas vezes.

— Por que diz isso? Não fiz nenhum favor. — Afastei-me ao perceber quanto tempo continuávamos tendo o calor do outro, podendo vê-lo por completo e não apenas aquela garota sumindo de vez.

— Você cumpriu sua parte do acordo e escondeu o segredo do Naruto, de que o amo, mas nem sequer te ajudei a espantar as suas admiradoras. — Declarei.

— E o que fez agora não conta? — Aquele sorriso não saia de sua face, talvez nem da minha, mesmo que seja mais contido e envergonhado.

— Tem razão.

Em todos os meus dezesseis anos de vida nunca pensaria que ia poder ir ao festival com alguém, ainda mais Sasuke Uchiha. Jamais imaginaria, nem em meus melhores sonhos, que caminharíamos até a sala como se fossemos amigos de infância. E, claro, que seria abraçada e me sentido tão especial quanto hoje.

— Pelo jeito ainda gosta do idiota. — O que disse foi quando estávamos perto da janela da enfermaria.

— Disse para não chama-lo assim! — Uzumaki é corajoso, simpático, sorridente, algo que em nada combinava com alguém babaca.

— Ele é por ainda não perceber o óbvio.

— Nem eu sei do que está falando. — Ele teve a coragem de rir da minha burrice, para depois pegar em meu queixo e levantar meu rosto.

Fui tocada tantas vezes por ele que nem conto mais.

— A sorte que teria se te namorasse. — A seriedade não o fez hesitar ou mostrar que era mentira. Só que por tudo que eu sou, o que vinha mais em pensamento era que estava tentando apenas me animar.

— Isso não é verdade, mas o que é de certeza é que muitos brigariam para sair contigo no evento. — Mudei de assunto.

Seu semblante se fechou igual um dia em que começou a chover de repente.

— Acha que sou de brincar, Hinata?

— Não quero falar sobre ele, porque lembro do beijo que deu na Sakura. — Mais sincera que isso é impossível.

— Espero que assim aquela guria me esqueça! — Levantou as mãos aos céus, para depois entrelaçar nas minhas e me empurrar em direção ao pátio. Assim soube que respeitou meu pedido.

Nem sequer me importei por seu gesto, se não fosse por sua parada inesperada.

— Que houve?

— Por acaso não foi você que disse sobre não sermos vistos? É melhor ir primeiro. — Sussurrou, fazendo-me sorrir de uma maneira discreta, sem nem me mexer ou me soltar dele.

— Tinha medo que sua imagem fosse arruinada estando comigo, até porque gosto muito de ficar do seu lado. — Lembrei-o.

Se fosse para vê-lo ficar um pouco corado e não esconder sua felicidade, teria falado isso há tempos. Na verdade estaria junto a ele todo o tempo, apenas para seguir mais uma vez essa expressão.

— Então me acompanhe. — Só tinha um detalhe que poderia causar uma grande confusão.

— As mãos. — Sussurrei, antes de afastar por conta própria.

Dessa vez andamos pelo lugar sem esconder, camuflar ou fingir que não éramos mais que conhecidos. A maioria pregava os olhos em nós, simplesmente pelo fato de estar com ele. Algumas me encaravam com raiva, porém eu já recebia antes mesmo disso.

— Viu? Nada demais. — Confirmei com a cabeça, assim continuando a andarmos.

Fiquei mirando tanto para sua cara que não vi onde nos encontrávamos, tanto que ao virar e me encontrar atrás dele ficou espantado.

— Sei que é muito irresistível andar comigo, mas quer me cercar até no banheiro masculino? — Riu depois de piscar de forma galanteadora.

— Não percebi, desculpa, Sr. Popular. — Terminei, deixando-o gargalhando, no entanto dessa vez foi pelo que comentei.

Sai correndo dali e tentei ir até sala o mais rápido possível. Sei que deveria ter superado o fato de que me olhavam de maneira maldosa, porém ainda não queria ter a certeza de que odiavam.

O ingresso encontrava-me em minha mão, enquanto o encarava, gravando o horário e dia na mente. Seria o primeiro encontro com amigos, tudo seria divertido e maravilhoso. Só que antes de guardar na mochila ao chegar na classe, alguém pegou o bilhete.

— Olha, Karin, então é verdade. — Essa era a voz de Ino.

— Então aquela vadia tinha razão. — A cada palavra o som era mais alto.

Senti um empurrão em meu peito, que não pude parar por estar fitando o chão. Logo estava entre a parede e eles, encarando cada uma com lágrimas nos olhos. Ia acontecer tudo de novo, eu sabia antes mesmo de chegar na sala, pois não tem como ser feliz daquele jeito sem algo ruim ocorrer depois.

— A verdadeira vagabunda aqui é ela, de querer roubar o que é nosso! Achar que pode ficar com o Sasuke, que apenas deve ter chamado por pena. — Sakura Haruno, que mesmo amando outro beija o cara mais maravilhoso que conheci.

— Devolve, por favor. — Implorei, pulando para tentar pegar aquele papel que me levaria para uma das melhores noites da minha vida.

— Você não entendeu que isso não te pertence mais? — O sorriso delas era de deboche e prazer, alegrando-se por me fazer sofrer.

— Por que simplesmente não o convidaram antes? Tenho certeza que aceitaria, mas ao invés disso preferem me perturbar. — Gritei com todas as minhas forças em resposta a loira, até por saber que se quisesse ir comigo, ter três por perto que são mais bonitas era mais satisfatório.

— Então a fracassada tem boca? Quer saber a verdade? É porque merece. — Ouvi um estalo, a ruiva tinha me dado um tapa que doeu até em minha alma. Não, o que me feriu foram suas palavras acidas, carregadas de um ódio que jamais compreenderia.

— Ia ficar com ele, mas por nos enfrentar, nem quero mais esse ingresso! — A cabeça dizia que talvez fossem me devolver e apenas era brincadeira, porém ainda não sentia o alivio chegar.

Olharam-se com cumplicidade.

— Que tesoura bonita. — declarou a de óculos.

Por que ninguém chega? Logo o sinal vai bater.

— Anda logo, alguém pode nos ver. — Pediu a pessoa que o Naruto se apaixonou.

— Faço tudo o que quiserem, só não cortem. — Meus olhos estavam arregalados ao ver o objeto perto daquele precioso papel. Todas as minhas possíveis lembranças estavam com ele, aquele dia no quarto, e as futuras.

— Não acreditamos na palavra de uma delinquente como você!

Então picotaram-no todo, para depois jogarem no lixo. Minhas lágrimas tinham saído há um tempo, porém em nada valia se não as fizessem parar.

— Boa sorte em achar outro bilhete, pois pelo que soube está esgotado. — A primeira a falar também foi a última, depois só o silêncio.