– Então... como funciona o treinamento jedi? – Lena perguntou. Estavam num carro dirigindo em LA, para levá-la para casa.

– Treinamento o quê? – Coulson ficou confuso.

– Nada. Como é o treinamento?- ela tornou a perguntar.

– Bom, é muito simples. Ela vai testar seus reflexos, sentidos, vai te ensinar a lutar, a atirar, sobreviver, e por aí vai. - Coulson explicou.

– Quanta coisa! Peraí que eu vou anotar... - Lena pegou seu celular.

– E quanto ao dom que você tem, vamos aprimorá-lo. Assim, aprenderá quando usá-lo. E também, a dominar seus medos. - Coulson continuou.

– Meus medos? Não vai me dar aula no topo do Empire State, né? - Lena riu.

– Se necessário... - Coulson dobrou a esquina.

Lena olhou ao redor. Sentia-se desconfortável com o silêncio quase gelado do homem no volante. Logo um assunto recente lhe voltou a cabeça, e ela sorriu, por finalmente ter algo para conversar.

– A ruiva lá.... - ela começou, com um sorriso no rosto - Meio esquentadinha, né?

– Não acho. Só não está acostumada a lidar com adolescentes, principalmente aqueles que podem olhá-la e dizer até a marca do creme dental que ela usou pela manhã. - Coulson disse, fazendo Lena rir. - Você tem um dom, garota. Por isso está aqui.

– Será que esse Fury vai cumprir minhas exigências? - Lena olhou no celular, lendo outra vez a última mensagem que Ben lhe mandara, horas atrás.

– Vai descobrir sozinha... - Coulson suspirou - Agente.

Lena olhou pela janela. Agora a coisa tá séria. Pensou consigo mesma se não estava se metendo em roubada, e confirmou com certeza que estava. Mas apesar disso, era uma roubada que ela queria se meter. E isso ela não podia negar.

– Onde quer que eu a deixe? - Coulson perguntou, de repente.

– Na quadra de trás. Se o dani me ver saindo de carro de estranhos, vai deixar escapar para mamãe, e não quero mais problemas do que já tenho. - Lena falou, convicta.

Coulson estacionou o carro no local solicitado. Mas Lena não saiu.

– Agente Carter, tudo bem? - ele perguntou.

– Sei lá... De manhã, tudo o que eu queria era terminar meu teste de ciências e comer tacos com meus amigos, mas agora, eu tenho um emprego que meio que salva o mundo. - Lena suspirou - De repente, eu só penso se isso não foi uma escolha errada...

– Agente Carter, - Coulson disse, da maneira mais reconfortante que ele conseguia - sabe, a vida é como um combate corpo à corpo. Cansa, e sua mente entra em conflito, porque você nunca sabe o golpe que seu adversário vai dar.

– Bonito. - ela falou, vendo um leve sorriso se formar no rosto dele - Mas como isso me ajuda mesmo?

– Bom, você nunca entrou em uma briga que não soubesse vencer. - Coulson falou - Se você não soubesse que conseguiria, não teria aceitado.

Lena olhou no rosto dele. De repente, achou que estava começando a entender.

– Ah, e mais uma coisa! - Coulson se curvou para trás, puxando uma pequena maleta prateada do banco de trás.

Ele entregou para ela, que abriu. Tinha uma carteira de couro preta, onde havia um distintivo que era o símbolo da SHIELD: uma águia em um círculo de metal; e um crachá com uma faixa amarela, nele tinha uma foto dela, o nome completo, e a sua colocação na agência, que a revoltou.

– "Aprendiz"?! Não tem "mascotinho" ou "bebê de fraldas"?! - ela esbravejou.

Coulson riu. Também tinha um protetor auricular preto, comunicador. Mas estava desativado, e travado.

– Não ganho arma? - Lena lamentou.

– Sabe usar? - Coulson arqueou a sombracelha.

– Não.

– Então não né. - Coulson disse, inclinando-se e abrindo a porta dela, para que saísse.

– Espera, mas e meu treinamento? - Lena perguntou.

– Eu entro em contato.

Lena desceu do carro, e Coulson arrancou. Ela guardou a carteira e o comunicador no bolso interior do casaco. Ela caminhou lentamente, dobrando a esquina. E a cada passo que dava, uma frase se pronunciava em sua mente, bem nítida:

O que diabos eu fiz?????????????????

Nem Freud explica o que se passava na mente dela neste momento. E se esse trabalho prejudicasse sua vida, ou pior, sua família? E se alguém se ferisse por causa dela?

– Lena!!!!!! - uma voz doce e alegre a arrancou de seus pensamentos.

Ela se sentiu abraçada, e olhou para baixo, vendo uma dourada e brilhante cabeleira lisa e bracinhos curtos a apertarem.

– Oi querido!!!! - ela o abraçou também. - Como foi o passeio?

– Foi muito legal! - o menininho a soltou, e eles começaram a caminhar - Eu vi o leão, sabia? Ele faz assim ó!

E o menininho rugiu bem alto, abrindo a boca e fechando os olhinhos. Lena riu.

– Ah é? E o que mais? - Lena perguntou.

– Eu vi o macaco! Ele é muito engraçado! - e o menino segurou sua mochilinha do Capitão América.

– Sabe o que o macaco come, Dani? - Helena disse, eles já avistavam sua casa.

– Não, o quê? - ele perguntou.

– Frutas, e uma em especial. - Lena abriu a cerca de sua casa para que o menino passasse.

– Qual?

– Bananas, macacos adoram bananas. - ela abriu a porta de casa.

– Ecaaaa!!!! - o menino fez careta.

– Ah, Dani! Não menospreze a banana! Ela é amarelinha, que nem seu cabelo! - ela bagunçou os cabelos do irmão.

– O seu também é! - ele retrucou.

– Não é não! - ela falou.

– É sim! - o menininho cruzou os braços.

– Hum... Só um pouquinho... - ela fez um beicinho, e Dani beijou a bochecha dela. - Agora vai lá tirar esse uniforme pra gente lanchar!

E o menininho subiu as escadas correndo. Lena ria, ela amava esse irmãozinho. De repente, ouviu um estrondo lá fora, como de algo se quebrando.

– O vaso da vovó! - e ela correu.

Ao abrir a porta, viu Ben, tentando subir na varanda, só que pelo parapeito. O vaso da avó estava intacto, mas o copo de limonada que a mãe esquecera ali mais cedo estava destruído.

– Por que você não usa as escadas, igual uma pessoa normal? - Lena cruzou os braços, parando na porta.

– Porque eu não sou normal! - ele bufou, enquanto se esforçava para pular o parapeito. Mas desistiu, e acabou pegando as escadas mesmo.

– Não é normal mesmo! - Lena riu - Até a Gabi e a Chris conseguem pular esse negócio aí!

– É que eu estou de óculos, eles atrapalham um pouco, e também, tropecei na lama ali... - Ben tentou disfarçar. - No ambiente correto, eu teria conseguido sem problemas!

– Sei... e esse ambiente correto é no Halo, né? - Lena ironizou.

– Falando nisso, como foi lá na SHIE... - Ben começou.

Helena tapou a boca dele, quase sufocando-o.

– Idiota! O Dani não sabe! E nem é pra saber! - ela repreendeu. - Pare de ser tão incoveniete!

– Lena! Tá passando o desenho do Homem-Aranha! - Dani desceu as escadas e ligou a Tv, sentando no sofá.

Lena soltou um leve sorriso. Mal sabe ele que Helena conhecera aquele que era seu super-herói favorito no mundo... Mas ao olhar para Ben, lembrou-se do que ia fazer.

– Dani, eu vou pro meu quarto conversar com Ben, tá? Fique aqui e assista, hoje é dia de maratona. Se você se comportar, a gente vai tomar sorvete depois! - Lena disse, cruzando a sala, e arrastando o garoto de óculos pelo pulso.

– Ebaaaa! - Dani comemorou, mas logo começou a vinheta do programa, e ele começou a cantar, esquecendo-se completamente da irmã.

********

– E... é isso. Eu entrei. - Lena falou, enfim.

– Que incrível! Você entrou para a maior agência de espionagem do mundo! - Ben pulou, sentado na cama.

Lena riu, e leu a nova mensagem que seu celular indicava.

O treinamento é amanhã, 14:00hrs. Leve o Keys. Me encontrará na escola.

– E não fui só eu quem entrou! - ela riu.

– Quê? Como assim? - Ben perguntou.

– É que eu meio que disse que não entraria sem você... - Lena resmungou.

– E...? - Ben queria saber mais.

– ... E parece que eles aceitaram a condição. - Lena mostrou a mensagem para ele.

Ben leu, e ficou muito sério. Seu rosto ficou pálido. Ele suava frio. Parecia até tremer. Ok, talvez não tenha sido uma boa ideia.

– Ben... v..você tá legal? - Lena empurrrou-o levemente.

Ele não reagiu. Ela se desesperou, chacoalhando-o fortemente.

– Benjamin James Keys! Se não parar com essa besteira, te faço ter um troço de verdade! - ela berrou.

– Helena Carter... - ele sussurrou, olhando-a profundamente nos olhos - Minha heroína...

– Idiota! - Lena desferiu diversos tapas em seu pescoço e ombros, e ele se defendia, protegendo o rosto com os braços e rindo.

– Pare! Não se bate em alguém com óculos! - Ben implorou.

– Eu não uso óculos! - e ela continuou a bater.

– Esquece! - ele falou.

Lena parou de bater nele.

– Obrigado, Lena. - ele sorriu.

– Obrigado nada, quatro olhos! - Lena retrucou - Agora me deve duas!

– Do quê?

– Uma pela briga de hoje de manhã, e outra por te colocar lá dentro na SHIELD! - Lena cruzou os braços.

– E se eu te pagar um sorvete por essa, e quanto à SHIELD, faço teus deveres de casa até o último ano da faculdade? - Ben falou.

– O sorvete só se for para o Dani também, e quanto ao dever de casa, não obrigada!

– Mas assim eu fico te devendo uma, e bem grande! - Ben reclamou.

– Exatamente... - Lena arqueou a sombracelha.

– Ai meu Deus, eu ainda nem acredito que você fez isso por mim, Lena! - Ben exultou - Eu podia te dar um beijo!

– Chegue perto de mim e você vai ver onde vão parar teus dentes! - Lena ameaçou, cerrando o punho.

– Maneira de falar... - Ben ergueu as mãos, se rendendo. - Fury disse quem vai te treinar?

– Uma ruivinha muito esquentada. Como é o nome mesmo? É alguma coisa, com sotaque russo... - Lena colocou a mão na cabeça.

– Romanoff???? - Ben chutou.

– Isso mesmo. - Lena confirmou, fazendo os olhos do menino brilharem.

– A ROMANOFF??????? VAI SER TREINADA PELA ROMANOFF???? - ele berrou, como uma tieti no show do Justin Bieber. - VOCÊ FAZ ALGUMA IDEIA DE QUEM É ESSA MULHER???

– Sim. - Lena respondeu calmamente - É a minha mentora. Eu acabei de dizer isso.

– NÃO, VOCÊ NÃO ENTENDEU!!! ELA É A VIÚVA NEGRA!!!! - Ben suspirou - E que gata... Deve ser mais bonita ainda pessoalmente...

– Como se você, um magrelo da informática, tivesse alguma chance! - Lena ironizou.

– Quem sabe... - Ben passou os dedos por seus cabelos negros - Em sua ficha, eu li que ela namorou um cientista jovem da SHIELD uma vez... Quem sabe ela ainda gosta desse tipo?

– Se eu fosse você, tirava o cavalinho da chuva, até porque já tem outro par de olhos azuis interessado nela. - Lena riu, meio maliciosa.

– Aposto que não é tão bonito quanto eu! - Ben beijou seu ombro.

– Bom, eu achei ele lindo. Alto, forte, loiro, olhos azuis, charmoso... - Lena dizia, fingindo achar mesmo tudo isso. E Ben corava de ódio - Foi ele quem levou ela para trabalhar na SHIELD, agora, COMO é outra história... Qual era mesmo o nome? Ah sim! Barton.

– O GAVIÃO ARQUEIRO?????? - Ben berrou outra vez.

– Grita mais alto! O pessoal da Jamaica ainda não te ouviu! - lena repreendeu.

– Foi mal, mas O Gavião Arqueiro? - Ben repetiu.

– Quem? - Lena perguntou.

– Ai minha santa! Eu vou ter que explicar tudo para você? - Ben reclamou - Gavião Arqueiro é o codinome do agente Barton, assim como Viúva Negra é o da agente Romanoff. São tipo nomes de guerra. Com sorte a gente consegue algum em, sei lá, 50 anos de agente.

– Bom, isso explica porque a Hill não ficou nada feliz quando soube que era você o hacker do sistema deles... Você é o maior Stalker! - Lena riu.

– FOI A HILL QUE ME DESCOBRIU???? Ah!!! Esse dia está ficando cada vez melhor! - Ben esfregou as mãos, quase como um cientista maluco. Mas só que ele não era cientista.

– Alegria, alegria, já entendi. Podemos tomar o sorvete agora? - Lena cruzou os braços.

– Tá, tá! - Ben se levantou. - Não vejo a hora de conhecer todo mundo. Se eu conseguir ver o Captão América, eu acho que vou morrer de infarto e vou para o céu dos nerds!

– Isso se eu não te matar primeiro! - Lena abriu a porta do quarto - E eu tô quase matando, você tá insuportável!

– Tá bom, vou tentar me controlar... - Ben disse, todo sério.

Lena caminhou até as escadas. Mas voltou, para chamar o idiota que ainda estava no seu quarto. Ela viu Ben fazendo uma dança maluca, balançando os pés e cantarolando Eu tô na Shield! Vou ser agente! Salvar o mundo! Namorar a Viúva negra! Estando na Shield! Sendo agente! Salvando o mundo! E dançava loucamente. Então ele caiu de joelhos com as mãos para os céus e berrou:

– Capitão América!!!!

– BENJAMIN!!! - Lena gritou.

Ele se levantou assustado e arrumou os óculos.

– Vamos, seu idiota! O Dani tá lá embaixo esperando. - e tomou a dianteira.

– Claro, claro! - Ben saiu do quarto. E fechou a porta, sussurrando e movendo os ombros - Eu tô na SHIELD... Vou ser agente...

– Ben! - Lena chamou.

E ele apertou o passo, descendo as escadas.