For a second, I was in control

I had it once, I lost it though

Coldplay

Quem sabe a dor não seja o modo que nosso corpo encontrou de nos dizer que ainda estamos vivos.

Acho que tenho precisado desse lembrete. Tenho precisado da dor, mais do que nunca, para me lembrar de que ainda estou aqui, de que o mundo não acabou, de que ainda há um amanhã. Ou, ao menos, que é possível que exista um. A grande verdade é que somos tão frágil quanto nos sentimos. Tão facilmente derrotados. Em um segundo, uma vida pode acabar. Não deveria ser tão simples. Mas é.

As lágrimas têm um gosto diferente, agora. Não são só de tristeza, mas também de frustração e decepção. Não te vejo há meses, então por que ainda penso sobre você? Por que meu coração ainda bate por você? Por que minha alma se sente assim, tão incompleta? Por que não consigo apagar da minha memória a lembrança dos seus beijos? Dos seus toques? Das suas palavras, sussurradas em meu ouvido? Pergunto-me para onde foram essas palavras. Carregadas para longe, como o mar leva uma concha jogada na areia.

Estive pensando sobre os meus talvezes. À medida que o tempo passa, mais certa me sinto de que era você. Sempre foi você. Sempre será.

Talvez você seja minha alma gêmea.

Talvez nem sempre almas gêmeas tenham sido feitas para ficarem juntas.

Não me parece justo que eu precise da dor para me lembrar que estou viva. Não me parece justo que o vazio que sinto ainda seja tão grande, tão esmagador, que qualquer sentimento — até mesmo negativo — é bem vindo. O que isso significa? O que tudo significa? Acho que tenho andado meio perdida dentro de mim mesma. Acho que tenho esquecido que antes de você havia um eu, e que pode haver um depois, também. Só não é a maneira como me sinto. Entretanto, é o que meu lado racional diz. Acho que preciso me esforçar mais para ser racional. Para escutar a voz que tenho tentado ignorar nos últimos meses. A minha própria.

O problema é que hoje seria nosso aniversário, e essa onda de sentimentos toma conta de mim, e droga, é tão injusto!, porque eu estou tentando esquecer, tentando seguir em frente, tentando juntar os pedaços que você deixou espalhados por todos os cantos. Então há este dia. Este dia em que tudo se torna mais forte, mais intenso, e eu sinto como se fosse sufocar. Como se não houvesse ar o suficiente no mundo para me manter viva. Para me permitir continuar sobrevivendo.

Eu estive sobrevivendo. Com você, eu vivia.

E é engraçado, porque não é de você que sinto mais falta. Quando penso sobre o passado, sobre nós duas, sobre nosso amor — não penso nas coisas que deveria ter feito e não fiz, e nem nas que deram errado. Penso nas que eu gostaria de fazer novamente. Com você. E então, eu revivo os momentos em minha mente. Tento eternizá-los. Acontece que o momento já passou, e não importa quantas vezes eu me veja pensando sobre ele, a maneira como me senti quando ele estava acontecendo nunca vai voltar.

Você nunca vai voltar.

Não da mesma forma que antes. Talvez de forma alguma.

Será que é errado, mesmo assim, querer que você volte?

Eu não deveria ser tão dependente. Eu não deveria ter depositado em você toda a minha fé, minha esperança, meu futuro. Você desapareceu de minha vida há meses, mas o seu fantasma ainda me assombra. Ele está presente em cada sorriso que dou, quando olho para o lado e te procuro para compartilhá-lo com você. Ele está no seu lado vazio da cama, quando me deito para dormir. Ele está no silêncio da casa, agora que não tenho sua voz para preenchê-la. Está em todos os cantos, inclusive dentro de mim.

Acho que eu também sou um fantasma. Tenho me sentido invisível. Desaparecendo aos poucos, perdendo-me em meio à escuridão. Você foi minha estrela-guia, e agora não consigo encontrar outra luz para me guiar. No começo, eu ainda podia sentir seu calor, mantendo-me aquecida. Agora, ele se foi. Estou congelando. Quanto tempo até não restar nada? Quanto tempo até meus medos levarem o melhor de mim?

Por que palavras machucam tanto, Rachel? Logo elas, que podem ser tão sem significado. Logo elas, que não conseguem expressar como realmente nos sentimos. Logo elas, que são tão limitadas. Por que elas têm esse poder sobre nós? Esse poder de destruir algo tão puro e tão lindo? Por que palavras destruíram nosso amor? Por que palavras destruíram nossa relação? Por que nós as dissemos?

Sei que você deve estar tão magoada quanto eu. Sei que nós duas erramos, e agimos como crianças, e não tratamos da situação como deveríamos. Sei que tudo isso poderia ter dito um resultado diferente. Sei que se tivéssemos sido adultas, talvez tivéssemos encontrado uma solução. Talvez ainda estivéssemos juntas — e mesmo depois de tanto tempo, são os talvezes que ainda me quebram. Os talvezes, e as promessas não cumpridas, as palavras não mantidas, os sonhos não realizados.

É errado querer que isso volte? Querer que você volte? É errado eu querer alguém de volta em minha vida, mesmo que a pessoa tenha arrancado tudo o que me faz ser eu mesma? Ainda que a bagunça deixada dentro de mim seja quase irreparável? Será que é possível voltarmos a ser quem éramos? Ou usar a experiência e tentar ser melhores?

É errado querer você?

Porque eu ainda te quero, com tanta, ou até maior intensidade do que te queria antes. Ainda quero estar ao seu lado. Ainda quero passar o resto de minha vida com você. Ainda te quero como meu porto-seguro, como minha protetora, como minha protegida. Ainda te quero para amar e respeitar, para fazer rir e chorar, para dividir todos os momentos únicos, sejam eles tristes ou felizes.

Você ainda me ama? Porque eu ainda te amo. Exatamente da forma que o amor foi feito para ser sentido. Ainda sinto esse sentimento lá, dentro de minha alma despedaçada, esperando pelo momento em que você vai voltar e reconstruí-lo. Pelo momento em que você vai me reconstruir.

É errado pedir para que você me reconstrua? Mesmo depois de tudo o que passamos? Mesmo de toda a mágoa, rancor e dor? Mesmo de todos os caminhos incertos que trilhamos?

Se for, então eu estou errada. Mas ainda errada, eu quero isso.

Eu quero que você me reconstrua.

Por favor, Rachel.

Reconstrua-me.