E hoje a noite não tem luar

E eu estou sem ela

Já não sei onde procurar

Não sei onde ela está

Legião Urbana

Há cerca de sete bilhões de pessoas no mundo.

São sete bilhões de pessoas respirando, vivendo, crescendo, amando, odiando, sofrendo. Isso significa que eu poderia ter me apaixonado por seis milhões, novecentos e noventa e nove mil pessoas diferentes. Pessoas que não fossem você. Quais as chances, realmente? Quais as chances de encontrarmos alguém a quem entregar o nosso coração, nesse mundo tão populoso? Como saber realmente se aquela pessoa é a certa para nós, quando há tantas outras por aí que poderiam ser, quem sabe, até melhores?

Por que de tanta gente, teve que ser você?

Algumas pessoas acreditam em destino. Não penso em mim mesma como sendo uma delas. Sempre imaginei que a vida que levamos é resultado das escolhas que fazemos — é por isso, por exemplo, que se nos esforçarmos muito, poderemos alcançar nossos sonhos. Porque trabalhamos pra isso. Não por causa do acaso. Não porque era o que estávamos destinados a fazer. Nós fazemos nossas oportunidades. Cabe a nós aproveitá-las ou não. Não me parece certo, ou justo, que nasçamos com um futuro definido, seja ele bom ou ruim. Parece-me mais razoável que tenhamos a chance de escolher.

E então, veio você.

Acho que te conhecer foi o que me fez perceber que eu estava errada, ao menos em parte. Ainda não sou uma pessoa que acredita em destino, mas, hoje, também sei que não são só as minhas escolhas que definem meu futuro. Injustamente, as decisões que outras pessoas tomam também me afetam. Como, por exemplo, em alguns estados americanos, onde eu não posso me casar com a pessoa que amo pelo simples fato de sermos do mesmo sexo. Eu não fiz essa escolha — ela foi feita por mim. Ainda assim, é algo que afeta diretamente a mim, e ao meu futuro. Então, você vê?, nossa vida pode mudar completamente pela escolha de pessoas que nem ao menos conhecemos.

Os meus antepassados vieram de lugares diferentes dos seus. Eles nunca se conheceram — mas escolheram vir para os Estados Unidos, optaram por uma cidade qualquer, e as gerações que vieram depois também escolheram seus percursos, e foram eles que nos trouxeram até Lima, Ohio, e até o William McKinley High School. Ascendentes que nunca conhecemos, de uma forma estranha, colocaram nós duas no mesmo caminho.

Fico me perguntando como teria sido se apenas algum deles tivesse tomado uma decisão diferente. Se meus bisavós tivesse escolhido outro país; se meus avós nunca tivessem se mudado para Lima; se meus pais nunca tivessem decidido me matricular naquele colégio — então tudo teria sido diferente. Não é destino. São escolhas. Elas mudam tudo. Elas sempre mudam tudo. Inclusive a nós mesmos.

Pergunto-me se suas escolhas te mudaram. Você não sabe disso, mas eu acompanho sua carreira pela internet. Eu vejo seu rosto em comerciais de televisão, escuto sua voz saindo pelo alto-falante do meu carro, e acompanho toda e qualquer entrevista na qual você aparece. O que é tão estranho. Eu que terminei com você — e eu o fiz porque senti que você não me amava mais. Porque estava assustada. Insegura. Porque senti que você estava me deixando de lado para perseguir seus sonhos, e, meu Deus, eu senti tanto medo! Senti tanto medo de te perder, de descobrir como seria minha vida sem você (ironicamente, eu o fiz, e por conta de minha própria insegurança), que todo esse sentimento negativo só acabou gerando brigas que resultaram em nossa separação.

Acho que, em parte, eu estava certa. Você estava colocando sua carreira em primeiro lugar, como você mesma admitiu. Você não ia parar, porque aquele era seu sonho, e você vinha lutando por isso desde que se entende por gente. Mas, você vê, eu também estava errada. Porque apesar de tudo, você nunca deixou de me amar. Nunca deixou de me respeitar, ou de se importar comigo, ou de tentar me fazer sentir bonita, especial e segura. Você nunca me deixou para trás, e eu fui idiota, e não percebi isso. Não até ser tarde demais.

Eu me pergunto, às vezes, se você também faz isso. Se você procura meu nome no Google para saber da minha vida, ou se pergunta sobre a mim a antigos conhecidos, como quem não quer nada. Só por curiosidade. Mas, no fundo, sendo mais do que isso. Talvez seja só uma fantasia da minha mente. A grande verdade é que você provavelmente já me esqueceu, e todas essas cartas que eu te escrevo, elas ficarão guardadas para sempre, sem nunca serem entregues. Então você não saberá. Não saberá quantas vezes ao longo dos últimos anos eu te quis, e precisei de você, e chorei por não te ter comigo.

Ou quem sabe um dia você saiba. Talvez um dia nos reencontremos, e eu te diga todas essas coisas. Talvez um dia você volte a fazer parte da minha vida, e nós fiquemos juntas novamente, como deveria ter sido. Ou, talvez, se realmente existe essa coisa de destino, então eu posso estar destinada a passar o resto de meus dias sofrendo por um amor do passado. Como isso pode ser justo? Para mim? Para você? Para a vida que eu poderia ter se você não tivesse criado raízes tão profundas dentro de mim? Por que você criou raízes tão profundas dentro de mim? Se estamos destinadas uma a outra, então por que tanta demora? Por que ainda não estamos juntas? Mas se a vida é mesmo feita apenas de escolhas, então por que não consigo escolher seguir em frente?

É tão frustrante viver assim, Rachel.

É tão decepcionante viver no presente, mas só pensar no passado. É tão terrível não ter muitas perspectivas de futuro. Eu tinha meus sonhos, também. Eu tinha desejos, e vontades, e esperanças. Para onde eles foram? Para onde eu fui? Será que minhas escolhas me mudaram? Será que deixei de ser uma pessoa que podia conquistar o mundo a uma pode apenas suportá-lo? Quando foi, então? Quando foi que decidi isso? Será que posso voltar no tempo e reescrever esse momento? Será que posso reescrevê-lo agora, ou é tarde demais?

Eu queria ser atriz. Queria ser reconhecida mundialmente por ser talentosa. Queria estar no palco do Oscar, um dia, recebendo o maior prêmio que um ator ou atriz pode receber. Gostaria de estar lá, dando um discurso motivador, e agradecendo, com lágrimas nos olhos, às pessoas que tornaram aquilo possível.

E o primeiro nome da lista seria o seu. Ainda que você não faça mais parte da minha vida. É engraçado, porque mesmo não estando mais aqui, você está. Talvez minhas decisões não tenham me mudado. Talvez tenham sido as suas. No momento em que você decidiu que não valíamos mais a pena. No momento em que você se cansou das nossas brigas, e aquele brilho que sempre amei desapareceu de seus olhos. E eu nunca suportei ver você infeliz, porque isso me fazia infeliz.

Sei que não acredito em destino, mas se ele existir, eu digo que você está destinada a coisas grandes. Você ainda terá muita fama e sucesso. Esse é só o começo para você, estou absolutamente certa disso.

Só espero que, quando estiver recebendo um prêmio importante, você se lembre de mim.

Assim como sempre me lembrarei de você.