Pode ser essa a causa, eu estar cansada das coisas que me faz querer desistir e desaparecer por um bocadinho. Gostava de me livrar de todas as coisas que me prendem!

Por vezes gostava de poder largar a faculdade só por um pouquinho. Deixar de ser a gaja do terceiro ano que ainda tem Latim II, cadeira de primeiro ano, por fazer. Imagina, poder largar tudo sem me prejudicar ou estragar as contas dos meus pais. É difícil, praticamente impossível.

"Sê aquele que me guia, não o que me prende", eu consigo fazer os dois a mim própria. Guio-me para lugares, depois prendo-me lá.

Gosto do meu curso, mas prende-me naquela visão de apenas literatura e um pouco de história. Vi o curso de Estudos Gerais, mas é em Lisboa, lugar praticamente impossível para mim. Caso a vida fosse mais fácil, acabava EPL, seguia para Estudos Gerais, quem sabe completando-o com um mestrado em algo que eu gostasse. Pode ser que um dia ainda consiga fazer Estudos Gerais, tenho 20 anos, não sei o que a vida me espera, neste momento, este sonho tem que ficar em segundo plano, em stand-by até a sorte mudar. Até eu a fazer mudar.

Queria procurar um emprego, mas o horário que tenho só me deixa os fins de semana livres e parte da tarde de sexta feira. Podia bem tentar alguma coisa na minha zona, mas ia querer um carro. Odeio o carro do meu pai pelo simples facto de ele ir abaixo em descidas. Tem 23 anos, já se justifica pelo uso, mas, pelo que os meus pais me dizem, o carro já era assim quando veio. Tenho medo de andar nele. Vá, eu tinha ideia de que os meus pais tinham feito alguma conta poupança para eu fazer faculdade, mas a verdade é que isso tinha sido uma ideia só minha. Não estamos a nadar em dinheiro, mas também não temos dívidas, mas, caso eles se tivessem prevenido, as coisas podiam ser diferentes para todos. É por isto que até foi melhor eu ser filha única, se houvessem mais filhos, os meus pais tinham a corda ao pescoço.

É uma merda, sabem? Eu cresci a tentar poupar dinheiro, uma boa parte da minha vida foi passada a ouvir falar da crise, a ver os meus pais a tentar poupar dinheiro. Contudo, apesar de terem sido avisados desde cedo que eu era uma boa aluna, nunca ponderaram assegurar o meu curso. Estou a fazê-lo, mas se não tivesse bolsa de estudos, nunca poderia fazer sequer um ano.

Nisso eu já sou bem diferente deles. Quero casar, nunca namorei, mas acho que o meu amor há de chegar. Mas, quando casar, quero o mínimo de ajuda monetária de outros. Se sou grande o suficiente para dizer que quero passar o resto da vida com uma pessoa, também tenho que o ser para os gastos. Logo, passando essa fase, quando for mãe, uma das primeiras coisas que vou fazer vai ser criar uma conta poupança em nome dos meus filhos. E ia pondo o que pudesse. Passando 18 anos a poupar e a vencer juros, havia de conseguir que os meus filhos passassem pela faculdade ou fizessem o que quisessem sem estourar dinheiro e sendo felizes. Era só isso que queria...

Não me interpretem mal, os meus pais são pessoas fantásticas, mas gostava que tivessem tido mais juízo nessas coisas. É difícil para mim porque sei quanto gastam comigo. Sou filha, mas eles não são um poço de dinheiro. Há mais gastos e menos dinheiro a entrar. Temos que mudar a cena... Tenho que mudar a cena...