Crónica da Boa Malandra escrita por MiSwan


Capítulo 11
Desabafo de uma universitária sem vontade de estudar




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Ai, veio o Natal, a Passagem de Ano, todos felizes! Não gosto do Natal, perdeu a magia, o interesse... É só uma altura em que tens que levar com mais família, tudo junto e tens sorte se sais desse convívio sem alguém te ter apontado o dedo por qualquer coisa, nem que seja a cor do verniz que estás a usar. Da Passagem de Ano já gosto mais, só por causa do fogo de artifício, a parte da família leva um idem, aspas.

O problema? Depois disso, e até mesmo durante as férias, os pobres coitados que estão na universidade têm exames e trabalhos. A vontade, a minha vontade de estudar deve ter ficado em 2014.

Na segunda tenho que entregar um trabalho, tenho 2 exames esta semana, na próxima tenho outros 2 exames e mais um trabalho para entregar. Hoje, ao jantar, disse que ia fazer noitada para acabar este trabalho. Prometi, vou cumprir, mas a minha vontade está a passear ou a dormir. Devia ser mais fácil...

No outro dia, em conversa que foi mais um sermão com o meu pai sobre o facto de eu não gostar do carro dele e consequentemente não conduzir, pensei que não era isto que eu sonhava para mim. Não era nada disto. A vida é mais complicada do que aquilo que nos vão dizendo enquanto crescemos. A vida não é tão divertida. Não era suposto eu estar numa residência, eu queria estar num apartamento como todos os meus amigos estão. Queria ter todas as cadeiras feitas, tudo bem que só há uma que está por fazer, feitas com uma média decente. Mas não, tenho média de 13 e a probabilidade de conseguir o meu emprego de sonho - ser editora - está cada vez mais longe. A ideia de viver sozinha ou dividir um apartamento também está a ir por água a baixo. E um carro? Oh, esse é que me parece longe. Mas hei de conseguir - espero eu.

Não era nada disto que sonhava para mim, queria namorar, ter mais tempo, ser mais feliz e, sim, ter mais dinheiro. Quem diz que dinheiro não é felicidade é parvo. Se eu tivesse mais dinheiro, não tinha que andar a contar trocos para o metro, para o autocarro... não demorava 3 anos a pagar a dentista, tinha um carro e havia de me preocupar menos quando viesse a casa aos fins de semana. Talvez não fosse ser totalmente feliz, é difícil chegar a esse estado, mas ajudava a aliviar, tanto a mim como aos meus pais. Discussões sobre dinheiro é o que não falta nesta casa. E depois ainda ter que ouvir o meu primo de 10 anos a mandar a boca de "não começas a trabalhar, prima?". A minha mãe fica tramada comigo quando, no fim de semana da Queima, fico mais tempo no Porto. Para arranjar trabalho tinha que arranjar forma de vir a casa e ter tempo e algum lugar onde lavar a roupa. É que chegar a casa tarde na sexta para ter roupa seca no domingo é complicado, quanto mais agora no inverno.

Pode ser que daqui a uns meses - sim, ainda estou a pensar positivo - eu consiga um emprego e um carro. Depois, com o carro tudo ia ficar mais fácil para mim... para eles... para todos.

O tempo passa rápido, agora, perto de fazer 21 anos, não sei se isso é bom ou mau. Queria mais tempo, sei que algum do meu tempo é desperdiçado na arte de não fazer nada, mas toda a gente deveria ter tempo de fazer isso: nada. Às vezes também é preciso.

E com isto, com toda esta diarreia verbal expelida através das pontas dos meus dedos, despeço-me e vou voltar para a companhia de Helena de Tróia, Páris, Ulisses e Penélope.


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