Crónica da Boa Malandra escrita por MiSwan


Capítulo 12
Eu, ser feio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/542632/chapter/12

Preciso de desabafar, deixar um registo daquele erro gigantesco que eu sou. Tenho 23 anos. Gosto de ser feliz. A minha felicidade é simples, quase infantil. Houve uma altura em que quis crescer, meu Deus que erro!, crescer é dor, é ter que deixar a felicidade simples de uma criança.

Qual é o meu problema? Eu considero-me esperta, acho que sei os meus pontos fortes e o que acaba com qualquer possibilidade de eu ser bem sucedida. Um problema grande? Quando tenho confiança perco o filtro entre o que penso e o que digo. Muitos já desistiram de mim, sério, não os posso culpar. Eu não presto. Devia proteger o meu primo, 10 anos mais novo, e o que faço? O que eu penso que ele fez, é logo o que eu digo.

Eu sou um erro, uma lembrança desagradável da minha avó paterna que a minha mãe odiou, ou acho que odiou, afinal são raras as vezes que me fala bem dela. Eu sou a junção das piores coisas para a minha mãe. Não cresci, gosto de ser feliz e viver, de falar e sorrir. Mas só faço burradas. Destruo quem me toca, sou tóxica. No fundo, um erro. Ela tem razão em estar zangada comigo, em desejar que eu fosse diferente.

Ter uma licenciatura e estar perto de concluir um mestrado não é nada. Nada se eu não me tornar uma maldita autómata que faz as coisas de forma sistemática sem tecer comentários laterais. Eu devo transformar-me numa pessoa séria, personagem chata dos filmes que todos vêem, mas que ninguém se lembra. Como é que um dia se vão lembrar de mim? Ah, aquela gaja desbocada que se achava esperta e envergonhava todos. Sim, essa mesma. Essa mesma que nega o que dói, se fecha em volta de livros e quer acabar o dia sempre com algo bom, mesmo que adormeça a chorar. Aquela que aos 23 anos não é nada mais que uma estudante. Alguém que estuda e faz asneiras como uma criança pequena...

Meu Deus como eu abomino a ideia de me tornar uma adulta séria, cisuda. Triste. Para mim isso é tristeza. Gosto das coisas simples, de sorrir quando me apetece... Eu tenho noção dos momentos em que me falta o filtro, mas, lá está, o filtro desaparece e só depois do mal feito é que noto. É algo meu. Um maldito defeito que, ao fim de 23 anos, ainda não corrigi. De que me vale o curso e a imagem que transpareço se quem me tem que aturar a vida inteira não tem orgulho nisto? Serei eu uma idiota que tem orgulho em coisas que não prestam?

Quero ser feliz. Quero ser uma criança. Odeio ser adulta. Odeio ter que ser uma pessoa séria como tudo. Eu gosto das piadas. Gosto de quem sou (tem dias, não é? Hoje estou farta de mim)... mas não posso ser isto.

Não posso ser aquela pessoa que anda como se nada fosse, que não pensa nas consequências. Sou um erro. Um maldito erro que eu própria tenho que consertar. Doa o que doer...                                                                                                                                                                                        


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crónica da Boa Malandra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.