Um Doce Amor escrita por Ray Shimizu


Capítulo 4
Problemas




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Mayume e Genzo caminhavam lado a lado. O goleiro estava em silêncio, esperando que a amiga falasse alguma coisa sobre Sayuri.

Mayume pensava em como poderia dizer o que Genzo queria saber. Ela prometera para Sayuri que não diria nada sobre o acidente, mas já estava prevendo que não iria conseguir manter aquela promessa.

− Minha casa fica ali. – eles já estavam na praça perto da casa da morena. – Sei que você quer saber da Sayuri, eu prometi pra ela que não falaria nada pra você, mas é o seguinte: Ela não está muito bem de saúde. Esteve internada, mas já deixou o hospital e agora está se recuperando em casa. Isso é tudo que eu posso dizer.

Mayume não queria prolongar aquele sofrimento, então foi logo pegando a chave de casa que estava em seu bolso e tratou de abrir a porta, mas antes que pudesse entrar o goleiro puxou-a pelo pulso.

− Escuta aqui, você vai me explicar o que aconteceu direito!

Genzo não queria agir daquela forma ríspida, mas a preocupação com Sayuri era tanta que ele não estava pensando direito.

— E pra que você quer saber? – Mayume puxou de volta o braço, fazendo o amigo soltá-la. – Eu realmente queria te contar o que aconteceu, mas eu fiz uma promessa, não posso simplesmente contar.

− Ela é minha amiga também. Eu tenho o direito de saber o que aconteceu, Mayume!

− Sei que você se importa com ela, na verdade, sei que você a ama. Mas você precisa entender que não é só porque você quer saber que eu posso sair contando!

− Vocês estão me excluindo da vida de vocês, só porque eu não moro mais no Japão, é isso? Ou eu fiz alguma coisa?

Num momento de exaltação, a voz do goleiro se elevou a ponto das poucas pessoas que estavam passando por ali começarem a prestar atenção neles.

— Fala baixo! – o que menos ela ia querer naquele momento era chamar atenção das outras pessoas. – Não é nada disso!

Mayume suspirou. Não estava vendo muita escapatória a não ser contar para Genzo o que havia acontecido. Só restava depois pedir desculpas para Sayuri. A garota ficou uns cinco minutos contando tudo o que havia acontecido, desde que ganhou o concurso até o momento do acidente. Mayume notava que a feição de horror do amigo, uma mistura de indignação e preocupação.

− A Sayuri quase morre e você não ia me falar nada? 

− Você foi embora e nem sequer se despediu dela! A Sayuri ficou magoada, ficou chorando semanas e você não telefonou nem mandou notícias. A única coisa que ela sabia sobre você, era o que passava na televisão.

Mayume começava a ficar impaciente e começou a subir um pouco o tom de voz. Ela não era de falar daquele jeito, mas sentia que devia dizer o que estava sentindo também. Sayuri e Mayume eram melhores amigas e ela não queria ver a amiga sofrer.

− Você não entende por que eu fui embora e não disse nada...

− Wakabayashi, e você? Pensou por um momento como a Sayuri se sentiu por você ter ido embora do jeito que foi? Se você tivesse ligado ou mesmo ido ver a Sayuri das vezes que você foi ao Japão. Talvez você soubesse mais das coisas. Essa não foi a primeira vez que ela se machucou. Para de pensar um pouco em você e pensa um pouco como ela tá se sentindo.

Mayume estava nervosa e acabou dizendo algumas coisas sem pensar, mas era verdade que sempre achou Genzo um pouco egoísta.

O goleiro ficou encarando a amiga e respondeu.

− A gente se vê outro dia... – ela deu uma última encarada no amigo antes de entrar em casa.

Assim que entrou em casa, tirou os sapatos de qualquer jeito e foi para o seu quarto, sem nem trocar de roupa se atirou na cama. Talvez tivesse falado demais. Apesar de ter dito tudo aquilo, ainda não era do seu feitio ficar dando sermão e acabou se sentindo um pouco culpada, talvez tivesse exagerado. Da próxima vez que visse o goleiro iria se desculpar com ele.

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O sermão de Mayume acabou mexendo com Genzo. Ele sabia que era verdade que quando decidira deixar o Japão, estava mais preocupado com o próprio sofrimento de ter que se despedir do que com os sentimentos de Sayuri.

Na realidade, ele quis chamá-la para ir com ele para a Alemanha, mas parecia que aquilo soava ainda mais egoísta, afinal de contas, ela tinha uma vida também, tinha sonhos que queria realizar e fazer aquele pedido a ela parecia totalmente sem cabimento. Além disso, ele não sabia se ela tinha algum sentimento por ele e, para terminar, eles eram muito jovens.

Assim que se estabeleceu na Alemanha, Genzo até pensou em entrar em contato com Sayuri, mas tinha medo de muitas coisas. Tinha medo da reação da amiga, ela poderia ter ficado extremamente indignada ou pouco se importar com o fato de ele ter ido. A segunda opção o deixava um pouco triste. Antes dos treinos, ele sempre pensava em ligar para ela, mas depois sentia-se tão exausto física e emocionalmente que acabava deixando a ideia de lado.

No Japão, ele era considerado um gênio, mas quando chegou à Alemanha se deparou com jogadores melhores, então viu o quanto era prepotente e se sentiu um fracassado. Também não queria dizer para Sayuri que a vida ali estava difícil e quantas vezes ele não pensou em jogar tudo para o alto e voltar para o Japão. Depois que conseguiu vencer os primeiros obstáculos e até conseguiu vaga como goleiro titular, outro medo começou a invadir seu pensamento: o medo de Sayuri estar apaixonada por outro alguém. E pensar como ela poderia estar feliz com outro cara o deixava abalado. No final das contas, ele preferiu não vê-la mais a ter que voltar para o Japão e confirmar o que ele apenas suspeitava.

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Na manhã seguinte, Mayume procurava pelo seu broche, ela só percebeu que o havia perdido naquele momento e não saberia dizer onde poderia ter caído, talvez na rua enquanto corria, ou então na faculdade. Sem muito tempo para ficar pensando no assunto, ela pegou sua bolsa com seus materiais e saiu, depois procuraria com calma.  

A japonesa andava apressadamente, porém estava mais atenta, não queria passar a vergonha de esbarrar com alguém novamente. Para os japoneses aquilo era um pouco constrangedor, mas para os alemães não era um problema.

Apesar dos costumes diferentes, Mayume fizera vários amigos estrangeiros na universidade onde estava tendo aulas. Curiosamente tinha feito amizade com uma chinesa e um o outro amigo seu era um extrovertido francês.

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Karl estava no vestiário. Ele estava bem cansado, pois não havia dormido muito bem durante a noite. Marrie mais uma vez inventou de cozinhar de madrugada e ele, que tinha o sono muito leve, acabou acordando e demorou para conseguir dormir.

− Nossa, parece que você não dormiu nada. – Genzo entrou no vestuário e reparou na cara de zumbi do artilheiro.

− Não só parece, eu não dormi. – respondeu Karl. – A Marrie resolveu fazer uma torta de madrugada. − Mas você não tá muito diferente não. – Karl notou que o amigo também estava com cara de cansado.

− É... Para ser sincero, não dormi nada. Fiquei pensando em algumas coisas e quando notei já tava saindo Sol.

− Pensando? Não vai me dizer que é em alguma garota? – Karl brincou, mas pela cara de Genzo, parecia que havia acertado.

− Acontece que ontem, depois que eu e a Mayume fomos embora da sua casa...

− Você é a fim da Furukawa? – interrompeu Karl, curioso e até um pouco chocado.

− Não! Deixa eu terminar de falar! – Genzo disse sem paciência. – Acontece que nós temos uma amiga que mora no Japão, o nome dela é Sayuri, e ela sofreu um acidente, parece que já está se recuperando em casa. 

Karl ficou prestando atenção no que o amigo dizia e o que ele notou que havia algo mais.

− Tá, mas não é o acidente em si que te deixou sem dormir. Você tá pensando em outra coisa.

− É que a Mayume jogou umas verdades na minha cara, que eu ainda não digeri muito bem. Ontem, ela me chamou de egoísta, disse que só penso em mim mesmo. Eu entendo o que ela disse pra mim, porque eu fui embora do Japão e não me despedi de ninguém, na verdade, eu nem contei que eu vinha morar na Alemanha. E ela achou injusto eu ficar cobrando satisfações sendo que eu que abandonei a Sayuri.

− Mas telefonou? Mandou uma carta? Um e-mail, qualquer coisa do tipo?

− Não. Até ontem, eu estava sem falar com nenhuma das duas. – Genzo confessou.

− Não é a toa que ela te chamou de egoísta. – Karl concluiu.

− O problema é que eu penso nessa garota todo dia! Não é como se eu tivesse cortado contato porque eu queria. Eu tive que escolher entre o futebol e ficar no Japão, e eu fiz minha escolha.

− Então não reclama.

Karl não entendia o que o goleiro sentia, ele nunca havia ficado em dúvida entre o futebol e um amor. Sempre que o namoro começava a atrapalhar o desempenho no futebol, ele acabava terminando o namoro, mas ele não tivera muitas namoradas.

− Ah, deixa pra lá! Conversar com você está me deixando pior. – Genzo suspirou, e terminaram a conversa bem a tempo, logo em seguida começaram a chegar outras pessoas do time no vestuário.

—--xxx---

Quando o treino terminou, por volta das cinco horas da tarde, Karl resolveu passar em uma doceria que ficava no caminho, para tomar um chocolate quente. Era raro quando ele não voltava direto pra casa. Ele ficara pensativo sobre a conversa que teve com Genzo, podia não entender o que o amigo estava passando, mas ainda assim ficara preocupado, só que não sabia dar nenhum conselho a respeito.

Depois que entrou e se sentou em uma mesa, para sua surpresa Mayume foi atendê-lo.

− Então você trabalha aqui. – Karl sorriu, era uma boa surpresa e também seria uma oportunidade conversar com ela sobre o Genzo.

− Ah sim... – Mayume respondeu um pouco encabulada.

Karl até achava engraçado, ela ficava sem graça muito facilmente. Segundo Genzo, ela sempre fora daquele jeito com garotos, e depois que levou o fora do garoto chato, ela ficou um pouco mais tímida. 

− Você pode me trazer um chocolate quente? – ele resolveu fazer o pedido logo.

− Claro! Eu já trago.

Karl notou que quando Mayume foi até o balcão entregar o pedido, Anny que estava no caixa a puxou de canto para perguntar se a japonesa o conhecia e Mayume fez sinal que não, meio que desesperadamente.

A última coisa que Mayume ia querer era que a garota começasse a fazer perguntas.

− Ele pareceu conhecer você, não minta pra mim.

− Eu só esbarrei com ele ontem, nada demais.

Mayume sabia que se ficasse mais uns minutos ali, Anny ia dar um jeito de arrancar-lhe a verdade, então apenas saiu rapidamente, ia atender outros clientes. Mas Anny sabia que a amiga estava escondendo alguma coisa e depois faria a amiga contar tudo.

Karl observava o local. Era a primeira vez que ele parava para tomar café ali, geralmente quando resolvia ir para algum lugar depois do treino era no centro da cidade. Evitava sair muito porque além de atrapalhar no treino, também era constantemente parado na rua para dar autógrafo. Seu olhar pousou onde Mayume estava, atendendo outras mesas, nisso lembrou que precisava devolver o broche dela, estava na sua bolsa de treino.

Enquanto esperava o pedido, Karl ficou pensando em várias coisas, no problema do Genzo, na sua próxima partida e acordou dos seus pensamentos com a voz da Mayume.

− Aqui está! - disse ela, colocando a xícara de chocolate quente na mesa.

− Obrigado. 

− Por nada. Qualquer coisa é só me chamar. – e, sem demora, ela saiu de perto da mesa e foi atender a um casal que acabara de chegar.

Karl ficou um bom tempo ali. Era uma doceria pequena, mas bem aconchegante, talvez voltasse ali mais vezes. Ficou pensando se esperava a japonesa sair do trabalho ou se ia para casa e conversava com ela outro dia. Por mais que ele não entendesse o problema amoroso do amigo ele queria ajudar. Optou então por esperar até porque a companhia dela não era ruim.

Depois de quase uma hora, Mayume tinha acabado seu expediente, ficariam na doceria apenas Anny e a Isabely.

Karl pagou a conta e deixou o local. Ele resolveu esperar Mayume do lado de fora. Não demorou mais do que dez minutos até a garota sair.

Mayume saiu tão distraída que nem viu que Karl estava esperando por ela, sentado em um banco que tinha por perto, e seguiu andando.

Percebendo que não havia sido notado, Karl foi depressa atrás dela.

− Não me viu, não? – Karl aproximou-se e falou de maneira descontraída.

Mayume deu um pulo e levou um tremendo de um susto, quando ela ficava compenetrada nos próprios pensamentos não prestava atenção em nada.

− Desculpa, eu tava distraída! – a garota colocou a mão no peito, para tentar fazer o coração se acalmar. – Você queria falar comigo?

— Você com muita pressa? – ele perguntou vendo que ela andava ainda um pouco apressada.

— Não. Se quiser falar comigo, tudo bem... – Mayume começou a andar mais devagar, e então esperou Karl falar alguma coisa.

− Por que não vem jantar na minha casa hoje? Tem um assunto que eu gostaria de conversar com você, só que é um pouco complicado. Lá a gente pode conversar melhor.

— Eu não quero incomodar sua família, já fui lá ontem.

Mayume não achava que seria uma boa ideia ir à casa dos Schneider por dois dias seguidos, julgava que estava sendo um incômodo.

− Quantas vezes vai ser preciso dizer que você não incomoda? - Karl encarava Mayume, quase que rindo. – Se você não quiser ir, aí é outra história.

− Não é isso, não. – ela sorriu timidamente. – Se está tudo bem, então eu aceito o convite.

— É assim que se fala!

Karl caminhava ao lado de Mayume. Ela realmente era uma garota que ele julgava diferente, não apenas pelos traços orientais e pelo seu jeitinho tímido, mas alguma coisa nela despertava o interesse dele.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

E ai pessoal! Mil perdões pelo sumiço! Estive em tempos sombrios quando o assunto era escrever esse capítulo! Mas graças as minhas salvadoras eu consegui escrever e atualizar!
Meu muito obrigada à Amanda Catarina, Neko Aoi ( Anny Heringer), e a Jessy Reader!
Não sei o que faria sem vocês!
E muito obrigada a todos os leitores! :3
Espero que tenham gostado! Até o próximo capítulo!