Um Doce Amor escrita por Ray Shimizu


Capítulo 3
Jantar


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde!! E boa leitura! :)
Vejo vocês no final do capítulo!



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Marrie agarrou a mão de Mayume e a puxou até a cozinha. Estava ansiosa para apresentá-la aos seus pais.

— Papai, mamãe! Essa é minha amiga, Mayume Furukawa. Mas eu chamo ela de Mai! Mai, esses são meus pais, Helene e Klaus!

A japonesa ia fazer uma reverência, já que estava acostumada a se apresentar dessa maneira, mas foi interrompida pelo abraço de Helene, um abraço apertado, bem carinhoso. Logo em seguida, foi a vez de Klaus fazer o mesmo.

— Seja bem vinda, querida! Sinta-se à vontade!

— Obrigada, senhora Helene. E desculpe o incômodo. - a japonesa respondeu com um sorriso tímido.

— Não me chame de senhora, está bem? "Helene" ou "você" já está muito bom. E não é incômodo algum, pelo contrário, fico feliz que tenha vindo. Minha filha só fala de você desde ontem.

— Não exagera, mãe! - Marrie ficou embaraçada com o que Helene dissera. – E quando o jantar vai sair? Eu estou morrendo de fome! - para disfarçar a timidez, acabou por mudar de assunto.

— Daqui a pouco. Em trinta minutinhos as coisas devem estar prontas. Bom, eu vou tomar um banho rápido e já volto.

Helene foi até o fogão verificar o cozimento dos alimentos e abriu o forno para ver o ponto da carne.

— Querido, pode ficar de olho no fogão pra mim?

— Claro, pode ir tomar seu banho tranquila!

Klaus deu um beijo rápido nos lábios da esposa e ela logo se foi para tomar banho.

— Ah, é verdade! Papai, eu e a Mai fizemos um bolo de morango com chantilly e trouxemos para a sobremesa! - disse Marrie entusiasmada, enquanto estendia à caixa para o pai. Ela mal esperava a hora de experimentar aquele bolo.

— Que ótimo! Vamos guardar aqui na geladeira. - Klaus pegou a caixa com o bolo para guardar. – Vocês duas poderiam arrumar a mesa? Eu preciso ficar aqui e cuidar da comida.

— Claro, papai!

Quando as duas chegaram à sala de jantar, a loira se lembrou de algo que precisava fazer.

— Mai, você se importa de eu chamar meu maninho pra te ajudar com isso? Eu preciso falar com o Genzo. É rapidinho!

Sem esperar pela resposta de Mayume, Marrie saiu depressa para a sala de estar, deixando a japonesa sozinha ali.

—--//---

Um pouco antes, Karl e Genzo estiveram conversando na sala de estar.

Os dois eram amigos de longa data, Karl jogava na posição de artilheiro e Genzo de goleiro. Eles se conheceram quando o goleiro veio à Alemanha, ainda adolescente para treinar. Genzo queria ser o melhor goleiro do mundo. Ele entrou como goleiro reserva do time do colégio no qual passara a estudar. Ficou lá por três anos e, nesse período, conheceu Karl, o principal jogador de outra escola. Desde aquela época, eles se tornaram rivais. Karl treinava para furar a defesa de Genzo, enquanto Genzo treinava para não deixar Karl marcar gols. Há um bom tempo, Karl vinha convidando o japonês para entrar para seu time, pois conhecia o potencial dele, mas a resposta era sempre a mesma, até que um dia Genzo mudou de ideia.

— Você vai ver agora como é um time de verdade, Wakabayashi! - Karl estava convicto que iriam conquistar o campeonato nacional mais uma vez.

— O time seria muito melhor se não fosse aquele técnico imbecil!

— Você é muito cabeça quente! Mas eu também nunca gostei daquele técnico, ele não sabe aproveitar os jogadores que tem.

— Fala se não é pra perder a cabeça, Schneider! O cara faz um esquema tático nada a ver, e ainda teve coragem de substituir o melhor atacante pelo filho dele, que não sabe nem chutar uma bola! Quando ele fez aquilo eu não me controlei, saí voando no pescoço daquele infeliz!

Genzo sentia raiva só de se lembrar do ocorrido, não era segredo que o goleiro era pavio curto. Depois daquela briga, Genzo pediu as contas, porém foi convencido pelo treinador e pelo dono do time a dar mais uma chance. Continuou no clube, porém, começou a se arrepender logo nos primeiros dias de treino. Permaneceu no time por alguns meses, até que não aguentando mais a situação, resolveu sair. Foi convidado por outros grandes nomes do futebol, a Europa toda estava atrás do melhor goleiro do mundo, e acabou indo para o mesmo time de Karl.

— Verdade, mas depois que você saiu o técnico foi mandado embora.

— Foi sim. E pelo que eu fiquei sabendo, o novo técnico é bom, hein!

— Ah, mas meu pai é melhor! E não falo isso porque é meu pai. Ele sabe aproveitar o máximo de cada jogador e onde cada um se dá melhor, por isso ele está há tantos anos como técnico e treinador. - disse Karl convicto e orgulhoso, admirava muito o pai, que desde jovem estivera ligado ao futebol.

Klaus Schneider, o pai de Karl, entrou para a seleção alemã aos vinte anos. Foi artilheiro do Rotburg e só parou de jogar por causa de uma lesão séria nos joelhos que o impediu de continuar, assim acabou se tornando treinador e técnico. Estava satisfeito com a vida atual, pois continuava atuando no time que amava e seu filho se tornara um astro não só do time como da Alemanha.

— É, seu pai não dá moleza. Ele nem quis saber se o Henrique estava com dor de barriga, obrigou ele a fazer todos os exercícios! - Genzo deu um leve riso, achando cômico se lembrar do colega que pedia para que ir ao banheiro toda hora.

— O Henrique sempre tem dessas, ele é um ótimo jogador, mas não tem muito senso. Ele vai pra festas e baladas e volta tarde, depois não aguenta o treino, então meu pai é mais severo com ele. Mas se eu soubesse que ele ia comer todos os doces, eu teria guardado uns aqui em casa pra comer depois, estava muito bom!

— Você vai comer muito doce da Mai, fica tranquilo. - disse o japonês rindo, recordando a época em que Mayume cozinhava mal e ele tinha que servir de cobaia para os experimentos malucos dela.

— Ela é uma garota bem agitada. Hoje ela trombou comigo e saiu toda esbaforida pra algum lugar.

— Provavelmente ela só acordou atrasada para algum compromisso.

— Talvez um encontro? - perguntou curioso.

— Duvido! Se lá no Japão ela não paquerava ninguém, não ia ser vindo pra cá que ia ser diferente.

— E por que não? Ela é uma garota bonita. E pelo que sei vocês não se veem faz anos.

— Não tô dizendo que é feia, até porque ela tinha seus admiradores, mas a Mai ela nunca quis namorar. Não sei se ela ainda está traumatizada com o fora que levou de um moleque quando era adolescente.

— Que fora? - Karl perguntou interessado.

Genzo sabia que era um pouco traumático para Mayume, mas não sabia se ela ainda sentia-se mal por causa daquilo.

— Quando a gente ainda estudava na mesma escola, ela gostou de um garoto. Ele era terrível, meio mal educado, chato. Até hoje não sei por que aquela tonta foi gostar daquele asno, mas enfim...

O japonês tomou fôlego para continuar, tentando se lembrar como as coisas tinham acontecido, o que não foi difícil já que ele assistiu tudo de camarote, e depois ainda saiu de lá com um olho roxo e suspenso por uma semana da escola.

— A Mai fez uns chocolates praquele infeliz, para entregar no dia dos namorados. Mas naquela época, ela ainda cozinhava muito mal. No dia, ela entregou sem dizer nada, toda tímida. O imbecil abriu a caixa, comeu um dos chocolates e na mesma hora fez uma careta, então jogou a caixa de chocolates em cima dela e saiu falando um monte de besteira. Se eu fosse ela, teria enchido o cara de porrada até ele morrer! Ela podia não ter feito o melhor doce da face da Terra, mas o cara podia ter alguma consideração. Eu que era de zoar dela fiquei morrendo de dó. Ela saiu correndo chorando.

— O garoto nem pediu desculpas? - Karl indagou com um ar indignado.

— Não sei se ele pediu desculpas. Eu fiquei suspenso uma semana.

— Por quê?

— Quando eu vi aquela cena não me aguentei, e você sabe como sou nervoso, eu esmurrei o cara tanto que ele perdeu dois dentes. Mas a diretora veio e me deu suspensão. E aquele infeliz ainda conseguiu acertar o meu olho.

Karl acabou rindo. Sabia que o japonês era pavio curto, mas não o imaginava tão irado ao ponto de sair no braço com alguém. Talvez ele próprio tivesse uma atitude semelhante, podia ser que não chegasse a bater, mas faria o garoto pedir desculpas na marra.

O loiro ia falar alguma coisa quando Marrie apareceu ali na sala. Como sempre estava risonha e animada.

— Maninho, você pode ir lá ajudar a Mai a por à mesa? O papai tá olhando o fogão e eu queria conversar com o Genzo um minuto, posso?

— Claro. Mas o que você quer falar com o Wakabayashi?

— Não te falei ontem que vou de atacante pra goleira? Já que ele tá aqui, queria aproveitar para pedir umas dicas. O treino começa amanhã!

— Tá bom, então. Acho que ele é a melhor pessoa pra te dar dicas mesmo. E eu acho que o seu técnico tá louco trocando você de posição desse jeito.

—--//---

Ao entrar na sala de jantar, Karl notou que Mayume se encolheu um pouco com sua chegada.

— Vou te ajudar com isso.

A japonesa apenas assentiu. Enquanto Karl pegava os pratos e talheres dentro de um armário que ficava ao lado da ampla mesa, Mayume distribuía os objetos.

O loiro olhava discreto para a jovem. O que Genzo havia contado o deixara um pouco triste por ela, mas não sabia se devia tocar no assunto, não era da conta dele, e eles mal se conheciam, talvez fosse atrevimento falar sobre aquilo.

— Onde você estava indo com tanta pressa hoje de manhã? - ele resolveu puxar assunto, vendo que a japonesa não abria a boca.

— Eu estava indo pra faculdade e acordei atrasada - respondeu encabulada. – Me desculpe mesmo!

— Você pode parar de pedir desculpas por isso.

Karl achava engraçado, ela estava morrendo de vergonha, foi só um esbarrão, não era motivo para ficar daquela maneira.

— Em que time joga? - Mayume perguntou, achando melhor falar de outras coisas.

— Jogo no Rotburg*. Você conhece?

Mayume não soube porque tinha perguntado aquilo já que não entendia muito de futebol.

Não sabia em qual time o Genzo jogava. O que dizer então de Karl?

— Não conheço. Na verdade, conheço muito pouco sobre futebol.

— Não gosta?

— Não é que eu não goste, mas acho que a bolada que o Genzo me deu no nariz uma vez me fez querer ficar bem longe do futebol. - disse ela, massageando o nariz, como se lembrar fizesse a dor retornar. – A Mary disse que você joga muito bem e que, graças a você, hoje ela dá um baile nas meninas da escola dela.

— Não é querendo me gabar não, mas sou considerado um dos melhores jogadores da atualidade. Mas sei que existem jogadores tão bons e melhores que eu.

— Acho que sei como se sente...

A japonesa sabia como era ser boa, mas sempre estar competindo para ter lugar entre os melhores. Mas Karl era considerado um dos melhores, enquanto ela não era considerada nada, era só uma aprendiz de pâtissier. Por isso Mayume queria tanto ganhar aquele concurso e teria que se dedicar ao máximo para conseguir esse feito. Apesar de toda sua insegurança e frustração, não podia perder. Prometera à Sayuri que iria conseguir. E também por ela mesma, tinha que provar que era capaz. O problema era conseguir fazer um doce que a deixasse satisfeita. Sentia que para fazer algo mais bonito e mais gostoso precisaria de uma inspiração e pensar nisso a deixava angustiada.

Karl ficou apenas olhando para Mayume, sem entender porque ela ficara tão quieta, então comentou simplesmente.

— De repente minha irmã te convence que futebol é legal.

Mayume sorriu a ele e assentiu.

—--//---

— Quer dizer que a senhorita é a artilheira e vai ficar de goleira? Por quê?

Genzo não entendia o porquê daquela mudança de posição, não fazia muito sentido. Pelo que sabia Marrie era uma das melhores atacantes da escola.

— É que a nossa goleira brigou com todo mundo e agora ela não quer participar. E a gente não tem mais gente pra colocar no lugar. Eu sou a que fico melhor na posição. - explicou Marrie. - Melhor fazer poucos gols do que tomar vários, né?

— Vendo pelo seu ponto de vista...

Genzo tinha que concordar que era uma situação complicada, mas pelo que pôde entender, elas não tinham jogadoras reservas, o que era um problema.

— Não tem muitas meninas interessadas no futebol, a maioria quer ir pro vôlei. - ela disse indignada, como se lesse os pensamentos do japonês. – Se a Mai tivesse minha idade, e estudasse comigo, eu ia pedir pra ela jogar com a gente!

— Acho que seria melhor se vocês ficassem com uma jogadora a menos do que chamar a Mai.

Só Genzo sabia o quanto a amiga era perna de pau e ele preferia que ela continuasse bem longe de uma bola de futebol.

— Ela é tão ruim assim? - Marrie perguntou curiosa, não poderia ser possível que ela jogasse tão mal.

— Pinóquio que tem perna de pau joga melhor que essa aí! - ele disse descontraído. – Mas ela cozinha bem, não dá pra ser bom em tudo.

Marrie ia responder ao comentário de Genzo, mas um barulho vindo da escada chamou sua atenção. Era a mãe dela descendo.

— Vocês devem estar roxos de fome! Vou ver se está tudo pronto e chamo vocês.

Helene sorriu e seguiu em direção da cozinha. No caminho, ela entrou na sala de jantar e viu Karl e Mayume conversando enquanto arrumavam a mesa. Ela parou uns instantes ali na porta e ficou olhando os dois. Fazia tempo que uma garota com a mesma idade de seu filho viera à sua casa. Ela não sabia muito da vida de Karl fora de casa, mas ele não era de sair muito. Do treino, ele costumava vir direto para casa. Tudo bem que tinha as viagens para outros lugares para os jogos. Karl já tinha estado no Japão para o Mundial de Juniores, e pelo andar das coisas, no próximo ano, iria para o Brasil, participar da Copa do Mundo, na seleção principal. Tirando a vida de jogador de futebol, Helene poderia contar nos dedos das mãos as vezes que Karl saíra com os amigos só para se divertir. Ele dizia que quando saía, voltava mais cansado e estressado e por isso preferia ficar em casa.

Com um ar pensativo, ela retomou o caminho para a cozinha.

— Querido, está tudo pronto?

— Ah sim! A carne está no ponto!

Klaus realmente ficou vigiando o fogão. Toda hora ascendia a luz do forno para ver se estava assado ou se não estava queimando e enquanto vigiava, aproveitou os intervalos para preparar a salada.

— Ótimo! Vamos levar tudo pra mesa!

Helene pegou uma das panelas e já foi levando até a sala de jantar. Klaus pegou a carne do forno e seguiu a esposa.

Karl reparou em toda aquela comida sendo posta na mesa e exclamou:

— Nossa, hoje vai ser um banquete!

Helene sempre caprichava na comida, mas daquela vez parecia que havia feito ainda mais comida, provavelmente por causa das visitas.

— Não exagere, filho! - Helene sorriu sem jeito. – Só espero que esteja gostoso. É a primeira vez que faço Saurbraten*.

— Oh! Eu comi uma vez em um restaurante alemão lá no Japão! - comentou Mayume, que adorava a gastronomia estrangeira, sempre que podia ia nesses restaurantes de comidas internacionais.

— E o que achou? Gostou? - Helene havia esquecido que como ela era japonesa, talvez não gostasse da comida típica alemã.

— Como eu adoro carne, gostei bastante! Terei a oportunidade agora de comer aqui na Alemanha!

— Agora você vai poder comer sempre que quiser, Mai! - comentou Marrie, que chegava à sala naquele instante, pressupondo que a comida já estava sendo posta, atrás dela veio Genzo.

— Verdade, querida. Você sempre será bem vinda a esta casa. - ela olhou para Mayume e depois para o japonês. – E você também Genzo. Venham sempre que quiserem.

Helene e Klaus eram pessoas simpáticas e receptivas. Adoravam receber visita em casa, ainda mais os amigos de seus filhos. Era bom saber com quem eles andavam, apesar de que Karl só levava os seus colegas de time. Marrie tinha o costume de levar as amigas da escola. Mayume era a única que saiu do padrão.

— Já que estamos todos aqui, vamos sentar e comer? Estou morrendo de fome! - Klaus não esperou pela resposta de ninguém e já sentou em seu lugar, na ponta da mesa.

Logo todos se sentaram. Helene serviu todos da mesa, como havia muita comida os pratos de todos ficaram cheios. Havia batata, duas fatias da carne, salada de beterraba e salada com folhas de alface, tomate, palmito e vagem, além do famoso chucrute*.

— Mãe, como vamos comer tudo isso? - Marrie ficou assustada com o próprio prato. – E ainda tem bolo de sobremesa!

— Filha, você sempre repete. Vai entrar... - Klaus conhecia Marrie muito bem, era pequena e magrinha, mas comida tanto quanto ele e o Karl.

Marrie riu, acabou colocando a ponta da língua para fora e colocando a mão atrás da nuca, era verdade que comia bem.

— Bom, então vamos comer! - a loira foi a primeira a colocar o garfo na boca, e logo começou a elogiar. – Mãe, tá uma delícia!

— Hum! Verdade! Está delicioso! - a japonesa exclamou, fazia um tempo que não comia uma comida caseira tão saborosa.

— Vindo de uma cheff como você, eu fico lisonjeada.

— Não é bem assim, meu forte são doces, mas realmente está tudo uma delícia!

— É por causa da comida da mamãe que meu maninho é forte e bonito! - exclamou Marrie, orgulhosa. Ela admirava muito Karl e realmente o achava lindo.

— Não exagera, Marrie! - Karl ficou sem jeito. Marrie sempre o elogiava, mas na frente de visitas ele se sentia um pouco envergonhado.

— Não é exagero nenhum! Mai, você não acha meu maninho muito lindo?

A pergunta da loira saiu de maneira natural, como se fosse qualquer pergunta, mas a japonesa encarou a loira meio espantada. Por que aquela pergunta foi justo para ela? Mayume não sabia o que responder. Era verdade que Karl era um rapaz bonito, estaria mentindo se dissesse ao contrário, mas mesmo uma resposta óbvia como aquela, parecia difícil de responder.

— Ele é sim... - por fim ela respondeu, com o rosto vermelho. Não era natural dela ficar elogiando rapazes.

Marrie percebeu como a japonesa ficou encabulada e achou até graça. Mayume era uma garota meiga, assim pensava a loira.

— Mai, não precisa ficar com vergonha. Você é muito bonita também! Não é, maninho?

Mayume ficou encarando Marrie. A pequena só poderia estar ficando maluca. O que poderia estar passando na cabeça dela? Por outro lado, Marrie não parecia nada incomodada, aliás, parecia muito feliz.

— Sim, Marrie, a Furukawa é uma garota muito bonita. - Karl respondeu sem grandes dificuldades, era a opinião sincera dele.

— Maninho, chama ela de Mai e pronto! Quanta formalidade...

Marrie nunca se prendeu em relação à intimidade, sempre fora muito carinhosa e amiga, então não tinha o costume de chamar ninguém pelo sobrenome, mesmo aqueles que acabara de conhecer.

Helene ficou observando o comportamento de sua filha, parecia que aquelas perguntas eram mais uma indireta para os dois. Pensou por alguns segundos, Marrie não parava de falar da Mayume, sempre a elogiando, era motivo para qualquer assunto. Ela então se perguntou se talvez a pequena quisesse juntar os dois. Logo deu um pequeno riso, pensando na ideia maluca da filha, que nem era assim tão ruim.

Karl não era o tipo de pessoa que se envolvia com uma garota facilmente e arranjar uma namorada o faria relaxar um pouco. Ele era um rapaz tranquilo e educado, porém desde criança seu foco sempre fora o futebol, teve alguns romances que duraram pouco. Ela não sabia se era porque não era a garota certa ou se era por causa da idade, já que na época ele tinha apenas quinze anos. Não faltavam pretendentes, mas Helene não conhecia nenhuma daquelas garotas, totalmente desconhecidas. Ela não era boba, seu filho era considerado o melhor jogador da atualidade na Alemanha. Muitas queriam uma vida fácil e status. Pensando melhor, mesmo que Mayume parecesse uma boa garota, não podia aceitar a ideia de sua filha tão bem. O coração de mãe estava dividido, por um lado gostou da japonesa e seria bom para Karl deixar de pensar somente no futebol, mas em contrapartida, não conhecia muito bem Mayume. E também tinha o próprio filho, não era porque a Marrie estava praticamente empurrando a amiga para Karl que ele iria se apaixonar por ela. Ao pensar nisso, Helene achou melhor deixar as coisas fluírem. Quando ela acordou de seus pensamentos, a conversa já tinha mudado de rumo.

— A gente podia pegar uns dias para passear e mostrar para eles a cidade, não é papai? - Marrie como sempre se mostrava animada.

— É um crime vir para Munique e não ir passear nenhuma vez! - Klaus parecia animado com a ideia da filha de ir passear, fazia algum tempo em que não saía com a família para se divertirem. – A Mayume eu até entendo que não tenha conhecido nada, porque chegou faz pouco tempo, mas você, Genzo, como não foi pra nenhum lugar anda? Você já mora na Alemanha há uns cinco anos! - comentou indignado, afinal a cidade de Munique era um lugar lindo, cheio de pontos turísticos, ricos em parques e museus.

— O senhor sabe que eu treino muito. Chego em casa tão cansado que não arranjo tempo pra sair. - Genzo se defendeu, era verdade que assim como Karl ele se dedicava quase cem por cento ao futebol. Não conquistara o título de melhor goleiro do mundo facilmente. – Mas já fui em um ponto turístico daqui!

— Onde você foi? - Klaus perguntou interessado.

— No Alianz Arena*.

— Ah, Genzo, esse não vale! É o estádio do Rotburg! - Marrie exclamou indignada, porém com bom humor. – Tudo bem que é um lugar lindo mesmo! A Mai tem que ir lá!

— Esse domingo não terá treino, então o que acham de irmos dar uma volta? - Klaus estava praticamente intimando aquele passeio. – Mayume, você vai estar ocupada? - assim como Marrie, ele não tinha o costume de chamar as pessoas pelo sobrenome.

— Domingo? - a garota pensou um pouco antes de responder. – Esse domingo eu não trabalho.

— Ótimo! Então nós seis iremos passar o dia fora no domingo.

— E vamos pra onde? - Helene gostou da ideia de sair, mas queria saber para onde.

— Essa cidade tem muitas coisas pra ver. Acho que podemos ir primeiro no centro da cidade e de lá a gente decide outros lugares. De qualquer maneira, não vai dá pra ver tudo em um dia - disse Karl.

Ele estava quieto até aquele momento, não gostava muito de sair, mas não iria ser estraga prazeres de não ir, era praticamente um passeio em família. E se até o Genzo que era outro que só vivia pelo futebol iria, seria estranho ele resolver ficar em casa.

— Ótima ideia, maninho! Mal posso esperar pelo domingo!

Marrie adorava sair. Como o pai e o irmão sempre estavam ocupados com o treinamento ou os próprios jogos, acabava que saía sempre ela e a mãe. Às vezes, ela saía com as amigas para o shopping ou para algum parque.

Mayume geralmente pegava as horas livres para fazer algum doce, talvez fosse bom sair e conhecer o local, assim poderia ter ideias. Uma vez ouviu dizer que as melhores ideias vinham enquanto se estava distraído.

Enquanto Helene e Marrie tiravam a mesa para poder por a sobremesa, Klaus ficou falando das coisas legais que tinha pela cidade, dos parques, museus, palácios, e da famosa festa da cerveja: A Oktoberfest*.

— Pena que Outubro ainda está longe!

Klaus adorava beber. Além disso, a Oktoberfest era um festival incrível, que durava duas semanas. Além da cerveja, havia outras atrações como dança típica, arco e flecha, etc.

— Espero que esse ano eu não tenha que carregar você - comentou Karl.

Ele acabou contando que no evento anterior o pai acabou bebendo além da conta e acabou dormindo por lá. Como ele não acordava de jeito algum Karl fora obrigado a voltar pra casa com o pai nos ombros. Eles tinham ido a festa de trem. E como no meio daquele evento, Karl acabou perdendo a carteira, a única forma que poderia pagar um taxi seria com o cartão do pai, mas como este estava impossibilitado de fazer qualquer coisa, até mesmo de falar, acabaram por ter de voltar a pé.

— Foi só aquela vez que eu exagerei, paguei mó papelão. - Klaus dizia rindo, não se importava muito, já que nem se lembrava do momento que acabou dormindo.

Enquanto Helene trazia a sobremesa, Marrie fora pegar a faca para cortar o bolo, pratinhos e garfos.

— No ano retrasado, você não dormiu, mas vomitou.

Karl fez questão de lembrar ao pai que todo ano passava vergonha por causa dele. Já que não poderia largar o pai sozinho bebendo, o acompanhava todos os anos.

— Nossa, que bolo bonito! - o pai resolveu mudar de assunto, antes que o filho desenterrasse os vexames de todos os eventos. – Você que fez esse bolo, Mayume?

— Não. Foi a Marrie que fez esse bolo. - a japonesa disse sorrindo. – Eu apenas a ajudei com algumas coisas.

— Espero que esteja pelo menos comível! - Marrie disse um pouco ansiosa, temia que o gosto do bolo não tivesse bom, mesmo com a ajuda de Mayume, poderia ter feito algo errado e estragado o bolo.

— Vai estar! Não se preocupe. - era a primeira vez que a japonesa dizia algo com convicção.

— Também acho que vai estar ótimo. - Karl, como sempre incentiva Marrie, e era por isso que ela gostava tanto do irmão, mesmo viajando muito por causa dos jogos, sempre tinha algum tempo para ela, era carinhoso e gentil.

— É, Marrie, não precisa ficar nervosa não. - Genzo também achou que seria bom incentivar.

A loira ficava feliz em ouvir aqueles comentários, porém, eles a deixaram ainda mais nervosa. Pensou que se tivesse ruim iria decepcionar a todos, já que tinham expectativas.

Todos foram servidos, dava para ver a expressão de nervosismo de Marrie, como se esperasse sua sentença em um tribunal.

A primeira a comer foi Mayume, queria livrar logo a expressão de nervosa da garota, e como já esperava o bolo estava muito gostoso.

— Uma delícia! - e por fim, disse sorrindo: – Parabéns, Mary!

— Mesmo? Está bom?

A pequena não acreditava no que ouvira, afinal, nunca conseguira fazer nada que ficasse bom. Ouvir aquilo parecia um sonho.

— Nossa, mas isso aqui tá muito bom! - Karl estava realmente surpreso, já que ele era a principal cobaia e cansou de ter dores no estômago.

Marrie foi elogiada por todos da mesa. A garota estava quase chorando emocionada, poderia parecer bobagem, mas ela se sentia tão feliz que havia feito um doce gostoso, achou que jamais iria conseguir tal feito.

— Obrigada, Mai! - e a loira abraçou a amiga que estava sentada ao seu lado.

Mayume sabia exatamente como era a sensação de finalmente ter acertado alguma receita depois de centenas que deram errado. Aquilo a fez lembrar que seu primeiro doce que havia dado certo fora um bolo de chocolate. E só acertou a receita porque decidiu fazer diferente das outras vezes que tentara. A japonesa tinha o mesmo problema de Marrie, era afobada e não prestava atenção no que estava fazendo. Então passou a separar todos os ingredientes e conferir se estava colocando as coisas certas nas medicas certas. Exatamente as mesmas dicas que deu para a loira.

Como o bolo não era muito grande, não sobrou um único pedaço. Mas deu para todos repetirem ao menos uma vez.

Karl reparou como Marrie estava feliz, um sorriso bobo nos lábios. Ele também ficava contente em ver a irmã daquele jeito, lembrava da expressão de decepção da garota a cada doce que dava errado.

Depois da sobremesa, Genzo e Mayume insistiram que queriam lavar a louça. Mesmo Helene mandando deixar tudo na pia, mas os dois insistiram tanto, que ela acabou deixando. Enquanto um lavava, o outro secava. Marrie e Karl também estavam na cozinha, ao menos para fazer companhia.

— Vocês não precisavam lavar a louça! - Marrie tentou mais uma vez tirar a dupla da pia.

— Nós viemos aqui e não fizemos nada até agora, é o mínimo que podemos fazer. - Genzo respondeu por si e pela amiga.

— Verdade! E não custa nada, não é mesmo?

Marrie ficou conversando com Mayume, perguntando sobre as aulas na faculdade; onde ela trabalhava? o que fazia além dos doces? Parecia mais uma entrevista do que uma conversa.

Genzo estava morrendo de vontade de perguntar sobre Sayuri, porém como Mayume mesmo havia dito, não era assunto para falar ali, teria de esperar mais um pouco, então ficou conversando com Karl sobre o de sempre: Futebol.

— O nosso primeiro jogo vai ser no sábado, deve ser por isso que seu pai quis marcar nosso passeio para domingo. Como vamos treinar até quinta, sexta, ele quer que os jogadores fiquem bem descansados para o jogo. Assim no domingo não vai ter treino e poderemos descansar. Eu particularmente odeio ficar parado.

Genzo realmente não gostava de ficar parado, achava que estava perdendo tempo, isso na época em que havia chegado na Alemanha, o treino era totalmente diferente do que ele tinha no Japão. E só notou a diferença, quando viu que o importante não era treinar muito e sim direito. Claro que o tempo contava, mas também não adiantava treinar de maneira exagerada, porque com os músculos sobrecarregados, era mais fácil de ocorrer lesões. Percebeu isso, depois que notou que se machucava mais que o natural.

Depois que os visitantes acabaram com a louça, resolveram ir embora. Já estava ficando tarde, eram quase onze horas da noite. Mayume e Genzo se despediram de Helene e Klaus, enquanto Marrie e Karl acompanharam Mayume e Genzo até a saída.

— Genzo, você vai acompanhar a Mai até em casa? Se o caminho for muito diferente, eu posso acompanha-la. - Karl não se importava de acompanhar a moça até em casa, mesmo pelo que Marrie disse ela morava perto dali, uma caminhada de menos de dez minutos.

— O caminho é um pouco diferente, mas não esquenta.

A verdade era que mesmo que Mayume morasse a quilômetros de distância, Genzo iria acompanhá-la, precisava fazer perguntas à moça. E precisaria mais do que dez minutos.

Não fosse por isso, provavelmente que a japonesa iria preferir voltar sozinha, já que era um local tranquilo, não era um lugar onde ocorressem crimes, ela costumava voltar para casa depois de meia noite, sozinha.

Marrie despediu-se então dos amigos estrangeiros, abraçou Genzo e depois Mayume.

— Até mais!

A pequena estava realmente feliz, conheceu uma garota legal que compartilhava do mesmo sonho, e graças a ela havia feito um bolo delicioso! Enquanto abraçava a morena, sentia uma sensação boa. Seria bom se pudessem ser amigas para sempre, além de tudo poderiam conversar não só sobre culinária, mas assuntos cotidianos. Talvez o desejo de aproximar seu irmão de Mai era mais para que elas não perdessem contato.

Mayume havia dito a Marrie que não pensava em namorar tão cedo, pelo menos enquanto estivesse na Alemanha. Já que isso implicaria em ela ter de viver permanentemente no país ou seu namorado morar no Japão, ou ainda namorarem a distância. Mesmo a japonesa adorando estar em Munique, ainda pretendia voltar ao seu país de origem. Aquilo deixou a loira um pouco triste, mas teria tempo de fazer Mayume mudar de ideia.

— Bom, até mais então. - Karl despediu-se de Genzo com um abraço e um aperto de mão. – Nos vemos amanhã no treino.

— Até amanhã! - Genzo retribuiu da mesma forma.

— Hoje foi divertido. Espero te ver outra vez... - Karl disse à Mayume, e depois se despediu dela, abraçando-a de um modo gentil.

Apesar do acanhamento, quando ele se afastou, Mayume respondeu:

— Digo o mesmo... - e sorriu muito encabulada. – Até mais.

Ela ainda tentava se acostumar com o modo dos alemães de se cumprimentarem. Não se sentia mal, apenas era diferente para ela. Era até uma sensação aconchegante, acolhedora. Parando para pensar, tirando o próprio pai e o senhor Klaus, aquela tinha sido a primeira vez que ela abraçara um garoto. Mesmo conhecendo Genzo há anos, eles nunca tinham se abraçado.

Por fim, Genzo e Mayume seguiram seu caminho.

Depois que os dois irmãos entraram e fecharam a porta, Marrie ainda comentava o quanto havia gostado daquele dia e que mal via a hora do passeio pela cidade. Como ela ainda não tinha tomado banho, foi depressa fazer isso, já que precisava ir logo dormir, pois teria que acordar muito cedo no dia seguinte para ir à escola.

Karl também seguiu para seu quarto. Ele já havia tomado banho no vestuário do campo de treinamento, por isso apenas mudou de roupa, vestindo uma bermuda, e logo se deitou. Sentia-se exausto.

— Mayume Furukawa. É... até que ela parece ser uma garota legal.

Ele realmente havia simpatizado com Mayume, razão pela qual acabou esboçando um diminuto sorriso antes de cair no sono.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Vocabulário:

Rotburg - Na realidade assim como todos os times de Super Campeões foram usados nomes fictícios, mas todos são baseados em times que realmente existem! No caso, Rotburg é na realidade o Bayern de Munique, e é um dos times que possuem mais títulos. Só no Campeonato Alemão são 24! Já ganharam a Copa Internacional.

Saurbraten - É um típico prato alemão, carne assada com um molho especial, existem vários jeitos de fazer essa carne e seus acompanhamentos.

Chucrute - Repolho em conservada.

Allianz Arena - É o estádio oficial do Bayern de Munique e do Munique 1860, e também um ponto turístico! O legal é que o estádio muda de cor de acordo com o anfitrião. ( Bayern de Munique azul, Munique 1860 vermelho, e da seleção alemã branca. Também foi o estádio principal na copa de 2006).

Oktoberfest - Festa da cerveja da Alemanha, comemorado anualmente na cidade de Munique, além de cerveja, tem outras várias atrações! A Oktoberfest de Blumenau - Santa Catarina, é o segundo maior festival! ( Um dia irei lá visitar! *-*)

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Demorei um pouco para atualizar, né? Me perdoem! A verdade era que eu estava com sérias dificuldades em desenvolver esse capítulo e se não fosse pela Amanda Catarina, eu ainda estaria empacada lá! Obrigada pela ajuda e pela betagem! :D
Obrigada também a Neko- Aoi que sempre comenta aqui! Me incentiva muito!
Bem, acho que é isso, até mais! Espero que tenham curtido!