Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 9
Boas-Vindas Oficiais | Isabella


Notas iniciais do capítulo

Oi queridas! Tenho algo para dizer (não tem muito a ver com a fic, mas mesmo assim) : Amanhã é meu aniversário!! Uhuuuul (dia 10/10 porque sou especial). Esse capítulo é meu presente de aniversário aqui no Nyah, porque amo escrever RDC.
Um aviso breve: as informações sobre a Academia Militar desse capítulo podem não estar coerentes à realidade, mas levem em conta que esta é uma história de ficção, que pode ou não se assemelhar à vida real.
Espero que gostem!!


[CAPÍTULO ATUALIZADO 06/06/2020 - LEIAM AS NOTAS FINAIS]



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Isabella lembrava-se bem de seu primeiro dia de aula na Academia Real Militar de Copenhague. Ela tinha apenas sete anos de idade e trajava uma versão drasticamente menor de suas fardas, que cobria seu corpo magro da forma mais humilhante possível —  em sua humilde opinião. A escola parecia gigante, com os enormes muros amarelos e o extenso gramado, e isso a deixara mais nervosa. Lembrava-se de ter apertado as mãos de sua irmã gêmea e de seu irmão mais velho, então um glorioso aluno quarto ano, como nunca antes. Nas noites anteriores, a mãe a assustara com a ideia de que todos naquela escola eram sérios, que ela nunca mais poderia rir e que, se saísse da linha, seria expulsa e mandada para uma escola interna na Germânia. As Selecionadas de Alexander, agora paradas na frente de todo o corpo estudantil da Academia, não tinham todos esses medos infantis, mas, com certeza, estavam tão nervosas quanto Isabella estava em seu primeiro dia de aula. Afinal, elas estavam sendo apresentadas pela primeira vez à sociedade. 

Bella conseguia imaginar o quão amedrontadora era a cena que aquelas simples garotas presenciavam no momento. No pátio da grande construção de paredes amarelas do antigo Palácio de Frederiksberg, as batidas dos pés dos alunos da ARM estavam em perfeita sincronia. Enfileirados, eles traziam posturas rígidas e frias, tentando não demonstrar nenhuma emoção. Instrutores guiavam suas turmas pelo grande pátio no centro da instituição, dando ordens ríspidas que não condiziam com a idade de seus pupilos. Em escolas dinamarquesas comuns — com as quais as Selecionadas estavam acostumadas — toda aquela formalidade e aquela disciplina não eram presentes. Em outros locais, diferente dali, crianças eram crianças, e a ideia de colocá-las em um ambiente tão cheio de regras deveria amedrontar as garotas, que até algumas semanas antes sequer sabiam da existência da Academia.

Essa porém, era a vida comum da Princesa Isabella. Entre os centenas de alunos da Academia enfileirados, ela  marchava com seriedade, como mandavam os padrões da escola,  contrariando sua verdadeira identidade. Seus belos cabelos castanho-claros estavam presos em um coque, meticulosamente feito por uma das criadas do Palácio. Seus olhos, diferente do habitual, não brilhavam e seu sorriso, sempre tão presente, era escondido por uma expressão fechada. Como aprendera em seus quase nove anos de estudo, risadas e conversas não eram permitidas, mesmo ela sendo Nada de risadas e filha do comandante supremo do país. Ali, todos eram iguais. Não existiam Príncipes ou Princesas, ricos ou pobres. E, com certeza, não existiam Selecionadas, mesmo que elas estivessem sendo recepcionadas de maneira tão especial.

Bella desviou o olhar da nuca do colega em sua frente por alguns instantes, a fim de observar as pretendentes de seu irmão. Todas as 35 garotas, tão sorridentes na recepção algumas horas antes, naquele momento estavam apavoradas. A Princesa conseguiu avistar apenas um sorriso, de uma garota que, se não lhe faltava a memória, era major da Aeronáutica do país. As demais, simplesmente largadas à própria sorte em um ambiente tão hostil, de nenhuma maneira conseguiam se encaixar ali. Coincidentemente, o local onde as competidoras se encontravam era chamado, entre os alunos de Sten af usikre,  ou Pedras dos Inseguros. Todos os anos, os mais jovens alunos da instituição ali se amontoavam desajeitadamente, assim como as Selecionadas, sendo encarados de maneira intrigante pelos mais velhos.

— Atenção! — falou, ou melhor, gritou o chefe da turma de Isabella, Magnus.

A turma parou, todos com as pernas levemente separadas e com as mãos para trás. Alguns tentavam visualizar as trinta e cinco meninas por cima do ombro do colega da frente, eufóricos. Pelo que observara na Academia nos dias que sucederam o sorteio, os jovens dinamarqueses apenas conseguiam falar das Selecionadas. Quem acharam mais bela? Quem acharam mais feia? O que pensaram das entrevistas? Qual era sua favorita? Assim, naquele momento,  todos queriam ter a oportunidade de julgar de perto aquelas garotas e ver de primeira mão aquela que, um dia, se tornaria a Rainha da Dinamarca — mesmo que não soubessem quem ela seria. E, para a surpresa de Isabella, Ingrid, estudante da turma ao lado, imitava seus parceiros plebeus, ficando na ponta dos pés para poder ver as futuras cunhadas.

— Grid, você já as viu, por que quer vê-las novamente? — sussurrou Isabella com discrição, sem olhar para a irmã gêmea. – Se um dos Monitores a vir assim, sendo idiota e descuidada, com certeza a punirá.

— Não sou idiota, Bella. E estou tomando cuidado, sim. Eu sei lidar muito bem com os Monitores, obrigada — a outra retrucou, ainda se esticando para ver o que acontecia mais a frente. – Só quero ver nossas cunhadinhas de fardas militares. Está muito engraçado, tenho certeza que você iria amar.

Isabella revirou os olhos, mesmo sabendo que a outra não veria. Não acreditava que a gêmea,  sempre tão centrada, estava agindo como Saphira naquele momento, toda empolgada para ver as futuras esposas de Alexander. De fato, ela parecia ser uma  uma menininha de oito anos.

— Anunciamos a chegada das Selecionadas da Dinamarca, pretendentes em potencial do Príncipe Herdeiro Alexander. — Bella conseguiu distinguir a voz do Alto Comandante da Academia, entretanto não podia ver onde ele estava. — Essas trinta e cinco garotas permanecerão conosco durante uma semana, para que possam se adaptar à vida da realeza. Elas terão aulas especiais e se juntarão a todos vocês em atividades como as instruções cívicas.

Bobagem. Isabella sempre foi contra essa semana de adaptação, pois a futura esposa do irmão nunca teria de estudar naquele lugar. A vida escolar da Escolhida seria baseada em aulas de línguas estrangeiras e de boas maneiras, e ela jamais utilizaria os conhecimentos obtidos naqueles cinco dias de instrução na Academia. Entretanto quando, em uma reunião familiar, Bella sugeriu que as garotas apenas fossem treinadas em Amalienborg durante o tempo que lá permanecessem, foi completamente ignorada. Elas precisam se habituar à rigidez da vida na realeza, afirmou a Rainha naquela ocasião, precisam ver como vocês foram educados. Apesar de ter escolhido se calar, a fim de não gerar conflitos com a mãe, discordou completamente, até estudar na Academia não era uma tradição na Família Real. Antes dela e de seus irmãos, apenas seu tio Frederick e sua tia Tyra estudaram ali. Ah, como ela desejava ser como suas antecessoras  — inclusive sua tia Agnes, a qual Bella nunca tivera a oportunidade de conhecer, já que morrera no parto de seu filho, Augusto — e ter sido educada em casa... 

— Chamamos à frente agora Vossas Altezas Reais as Princesas Ingrid, Isabella e Saphira e o Príncipe Henrik, o Marechal Michaelssen e a Major Solkan para fazerem a recepção oficial — convocou o Alto Comandante, mais uma vez gritando de um local desconhecido.

Isabella respirou fundo ao ouvir seu nome. Por mais que estivesse acostumada a ser o centro das atenções nos dezenas de eventos dos quais participava, era impossível não ficar nervosa naquele momento. Na Academia, ela era apenas Isabella, uma menina travessa qualquer entre tantos outros. Ali, a não ser que fosse destaque em uma das disciplinas acadêmicas, nunca era chamada à frente. Aquele seria o primeiro momento em que ela seria vista por dezenas de pessoas vestidas elegantemente de azul-marinho e branco e, ainda por cima, estaria no mesmo nível hierárquico que um Major e um Marechal. Assim, deveria incorporar a Princesa que era obrigada a ser fora dos portões de Frederiksberg.Teria de ter a compostura de uma  dama, portando-se bem naquela ocasião. Deveria mostrar, principalmente para a mãe, que poderia ser séria e bem-educada.

Olhou de relance para a irmã, que já abria caminho entre os outros alunos. Assim, deu um passo a frente, com as pernas bambas. Ela ainda não conseguia ver as pretendentes do irmão, mas não eram elas que a julgariam pelo que ela fizesse. Seria o Alto Comandante, que encarava os três adolescentes que saíam do meio do corpo discente com um olhar quase que reprovador — que era comum para aquele grande e musculoso homem. Em segredo, todos irmãos reais, inclusive Saphira, sentiam muito medo dele.

As primeiras Selecionadas que Isabella conseguiu visualizar eram uma morena de lindos olhos azuis e uma loira. A primeira era a mesma que vira sorrir alguns minutos antes e estava muito à vontade com as fardas, que se ajustavam perfeitamente em seu corpo. Já a segunda se encolhia, tentando se esconder dos intimidadores olhares dos alunos. Essas duas chamaram muito a atenção de Bella e a princesa já sabia o que faria. Seriam suas primeiras vítimas.

— Onde se encontra Saphira? — questionou  a Major Solkan ao ouvido de Isabella, sem seu tom natural de desprezo.

— Ainda está internada, Major — respondeu a Princesa, já se posicionando ao lado dos irmãos com uma expressão neutra. — A precisão é que fique por lá por mais alguns dias, infelizmente.

— Ouviremos agora o discurso de Sua Alteza Real, a Princesa Ingrid, aluna destaque da Academia Real Militar e irmã do Príncipe Alexander — anunciou o Alto Comandante, sorrindo orgulhoso de uma de suas alunas mais geniais. — Por favor, Vossa Alteza, tome a frente.

As gêmeas trocaram olhares cúmplices. Ingrid parecia nervosa, mas Bella sabia que só ela conseguia notar isso. Para o mundo exterior, ela era uma perfeita Princesa que sorria, triunfante, ao se aproximar do púlpito para discursar. Ninguém poderia notar que aquele era o primeiro discurso que dava, tamanha era sua elegância. Diferente de Isabella, ela sempre fora uma dama exemplar — apesar de ser muito brincalhona quando em família. Por mais que tivesse ficado magoada por não ter sido informada sobre o discurso, Bella não conseguia imaginar pessoa melhor para dirigir algumas palavras às pretendentes do irmão mais velho.  Afinal, sua irmã era brilhante.

— Boa tarde, queridas Selecionadas, boa tarde ao corpo docente e discente da Academia. Serei breve, já que outras autoridades precisam se pronunciar depois de mim, e não quero cansá-las. Primeiramente, gostaria de dizer, em meu nome e em nome dos meus irmãos aqui presentes, que estamos muito felizes com sua presença e que esperamos que vocês aproveitem sua estadia no Complexo Real. Sabemos que, para muitas de vocês, esta será uma oportunidade única e nos alegramos em poder proporcioná-la a vocês. — Ela fez uma pausa, seus olhos castanhos, uma das únicas feições que a diferenciavam de Isabella, brilhavam, indicando a autenticidade de suas palavras. — Essa é a primeira Seleção que a Dinamarca realiza. Pela experiência de outras localidades, porém, sabemos que é  uma disputa extremamente incerta e repleta de emoções imprevisíveis, pois não podemos controlar o coração de Alexander, meu querido irmão. Sei que, em certo ponto, a luta parecerá inútil, e vocês desejarão deixar a competição. Mas eu posso dizer para vocês que, se não acreditam em si próprias, que saiam agora, pois um sonho, para acontecer, precisa de alguém que creia nele. Gostaria que vocês soubessem que dentro de vocês existe uma força capaz de mudar suas vidas, basta que vocês lutem e aguardem um novo amanhecer. Todas vocês podem e, se não conseguirem, é porque há algo esperando por vocês em outro lugar. É essa mensagem que quero deixar, baseada no lema dessa centenária instituição de ensino: Acredite que você pode, assim você já está no meio do caminho. Obrigada pela atenção.

As palmas começaram instantaneamente. Algumas Selecionadas tinham lágrimas em seus olhos. Até a própria Isabella estava emocionada, pois não tinha noção da capacidade de Ingrid de motivar alguém que mal conhecia como fizera com as futuras cunhadas. Em sua vida privada, com sua tão amada família, sempre incentivava todos, principalmente a irmã gêmea, com sua calma e otimismo. Isabella se alegrava ao saber que a irmã conseguia traduzir toda aquela compaixão que demonstrava na vida privada em sua vida pública, fazendo o uso da palavra como uma verdadeira Rainha. A única palavra que era capaz de expressar seus sentimentos naquele momento era orgulho.

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Gostaram?
Teremos mais das "Boas-vindas oficiais" no próximo capítulo, porque a cerimônia ainda não acabou haha.
Até o próximo capítulo
PS1: Sei que não estpu respindendo muitos comentários. Mil desculpas!! Meu tempo anda curto ultimamente.
PS2: Para quem estiver se perguntando, amanhã estou fazendo... Ah, deixa para lá, ninguém deve estar se perguntando mesmo hahaha.

[ATUALIZAÇÃO 06/06/2020]
Esse capítulo foi escrito em outubro de 2014, quando eu ainda sonhava em estudar em uma escola militar. Agora, quase 6 anos depois, formada por um Colégio Militar, muitas das minhas ideias sobre esse tipo de instituição mudaram. Tentei incluir um pouco disso nessa versão revisada desse capítulo.
Em geral, ele não mudou muito. A nova versão só tem alguns detalhes extras. Qualquer erro, por favor, me avisem. Minha caixa de MP está sempre aberta para sugestões!
xoxo ♥ ACE