Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 80
Uma Luz na Escuridão | Saphira e Laryssa


Notas iniciais do capítulo

HOJE É QUINTA, HOJE É DIA DE RDC!
É isso mesmo que vocês estão vendo: aqui estou eu, na terceira semana seguida, postando um novo capítulo. Vocês não têm ideia da minha felicidade! Acho que a última vez que fiz isso foi em 2017! Milagres realmente acontecem.
Bom, antes de mais nada, tenho alguns avisos:
— Reformulei os capítulos 4 e 5. O capítulo quatro perdeu uma de suas narradoras (Wanessa) e ganhou alguns detalhes. Ao reler A Seleção, percebi que nunca escrevi direito sobre a experiência das Selecionadas como Selecionadas. Digo, essa coisa toda de entrevista, de ir até o palácio etc. Acho que a reescrita da parte da Kristal ficou muito interessante nesse sentido. O capítulo 5 teve algumas mudanças mínimas. Eu tirei algumas coisas meio malucas que escrevi aos 13 anos (vide príncipe se perguntando se poderia ter um harém) e coloquei alguns detalhes adicionais.
— A reescrita do prólogo vem, mas vai demorar um pouco mais. Esse capítulo precisa de MUITO carinho.
— Nas notas finais, teremos um formulário de votação! Não se esqueçam de participar!

Para esse capítulo, temos uma música (https://www.youtube.com/watch?v=Kpry0FB6fnQ). É uma canção tradicional de aniversário na Dinamarca (para minha surpresa, aparentemente eles não cantam o universal "Parabéns pra Você"). Esse vídeo em específico foi gravado para o aniversário de 80 anos da atual Rainha da Dinamarca, que foi em Abril desse ano. Como ela não pôde ter as comemorações previstas por conta do coronavírus, gravaram esse vídeo com várias pessoas desejando um feliz aniversário cantando. Achei muito fofo.

Espero que vocês gostem do capítulo!
Fiquem bem.

xoxo ♥ ACE



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O dia 6 de março tinha diferentes significados em diferentes anos. Nove anos antes, fora um dos dias mais difíceis da vida da Rainha Juliane. Depois de uma gravidez de risco, tivera seu trabalho de parto induzido no início do sétimo mês de gestação, trazendo uma Princesa frágil e doente ao mundo. Um ano depois, comemoraram o dia com preocupação, já que a menina acabara de receber alta. Assim, por anos, aquela data foi uma mistura de sentimentos. Por vezes, por mais que estivessem celebrando mais um ano das vitórias da pequena menina, os membros da Família Real se amontoavam, tristes, em um quarto apertado de hospital.  No ano anterior, ficara internada de fevereiro a abril, por conta de uma grave crise de sua doença, que a debilitara muito, sendo obrigada a passar seu oitavo aniversário com milhares de tubos em sua volta. Naquele ano, porém, Saphira estava bem e em casa. E, é claro, pronta para celebrar seu aniversário da melhor maneira possível.

Ao abrir os olhos naquela manhã fresca de final de inverno, Saphira sorriu e respirou fundo, deixando o ar fresco entrar em seu corpo. Era bom sentir a brisa suave que entrava pela janela e ouvir os passarinhos cantando depois de um longo período de frio rigoroso e de silêncio. Não via a hora de estar quente o suficiente para ir para o lado de fora e apreciar os jardins do Palácio. Sempre sonhara em ter seu aniversário em um dia quente agosto, assim como Alexander, e comemorar com um piquenique em um dos parques da cidade. Em sua cabeça, planejava todo o evento: as amigas da escola que convidaria, os primos distantes que há tanto não a visitavam, as duas avós, os pais e todos os seus irmãos comendo e se divertindo sentados em uma grande toalha de mesa vermelha. Mas, ao mesmo tempo que sonhava com uma festa no verão, sentia-se orgulhosa de ter nascido em março. Naquele mês, as folhas verdes e as flores começavam a voltar, tímidas, às ruas de Copenhague. Depois dos meses de inverno, as pessoas retornavam às ruas, felizes com a chegada iminente da primavera. Mesmo de dentro de um quarto do hospital, Saphira conseguia observar todas as mudanças na cidade. Era um período de recomeço, de renovação e, acima de tudo, de alegria.

— Saphira, está na hora de levantar. — Uma voz surgiu no quarto, fazendo com que Saphira fechasse novamente os olhos. — Não tente me enganar, eu sei que você está acordada.

— Só mais um pouquinho, Ophelia — ela pediu, virando-se para a babá. — Sou a aniversariante, mereço alguns minutos extras.

— É justamente porque você é a aniversariante que deve sair dessa cama agora — afirmou a mais velha, descobrindo a pequena. — Quer perder a surpresa que estão preparando para você?

Ao ouvir a palavra mágica, a menina arregalou os olhos. Ophelia achou graça da reação da menina, pegando-a no colo e tirando-a da cama com delicadeza — como só ela sabia fazer. Nos meses em que a Família Real fixara residência em Skagen, Saphira fora cuidada por algumas enfermeiras, que eram responsável por seu bem-estar físico. Somente Ophelia, porém, sabia como cuidar dela integralmente. Phinny não poderia ter ficado mais feliz quando, em meados de janeiro, a jovem ibérica voltou a Amalienborg para ficar. Para a pequena Princesa, que tivera tantas perdas nos últimos meses, poder celebrar seu aniversário com sua babá preferida era uma alegria imensa.

— O que você quer usar hoje? — perguntou Ophelia, abrindo o armário do quarto ainda com Saphira no colo. — Temos vários vestidos bonitos aqui.

A menina observou suas opções por alguns segundos. Logo esticando o braço para tocar em um vestido cor de creme com flores bordô, acompanhado de um bolero da mesma cor. Feita a decisão, a pequena pulou do colo da mais velha, que a ajudou a tirar o pijama. Em alguns instantes, ela já estava usando o traje escolhido, e seu cabelo já estava preso em um coque alto elegante, a pedido da Princesa. Olhando-se no espelho, ela se sentia uma verdadeira dama.

— Pronta? — A mais velha estendeu o braço para Phinny, que logo segurou a mão dela. 

As duas seguiram juntas escadaria abaixo. A Princesa saltitava nos degraus, fazendo com que Ophelia a segurasse cada vez mais forte, temendo uma queda. A verdade era que Saphira não conseguia controlar a felicidade. Finalmente, poderia comemorar seu aniversário com sua família, em casa e ainda teria uma surpresa! Que garotinha de oito, ou melhor, nove anos não ficaria radiante?

Ao chegar à Sala de Jantar — onde a Família Real costumava ter suas refeições especiais — porém, toda sua alegria se foi. O local estava vazio, as luzes estavam desligadas, e a mesa estava limpa, sem os usuais enfeites comemorativos. Lágrimas começaram a se formar nos olhos da Princesa. Seu coração começou a apertar. Como poderiam ter se esquecido dela? Ophelia não dissera que eles tinham uma surpresa? Onde estavam todos?

I dag er det Saphiras fødselsdag

Hurra, hurra, hurra!

hun sikkert sig en gave får

som hun har ønsket sig i år

med dejlig chokolade og kager til

Antes que começasse verdadeiramente a chorar, as luzes se acenderam, revelando oito pessoas escondidas na escuridão do outro extremo do Salão. Em uníssono, elas cantavam uma das músicas dinamarquesas mais tradicionais de aniversário. À frente do grupo vinha Elisabeth, a prima germânica da aniversariante, que usava um belo vestido azul claro, trazendo um grande bolo cor de rosa com nove velas. Mesmo não falando dinamarquês, ela se esforçava para acompanhar o resto do grupo. Quando não sabia alguma palavra, apenas sorria para Phinny, que retribuía o gesto.

Hvor smiler hun hvor er hun glad

Hurra, hurra, hurra!

men denne dag er også rar

for hjemme venter mor og far

med dejlig chokolade og kager til

Logo atrás de Lisa estavam as duas gregas, que também não falavam dinamarquês. Desajeitada e alegremente, as duas balançavam chocalhos sob o comando de Hannah, que trazia consigo um tambor de brinquedo. A tia, sempre tão divertida, cantava e acompanhava o ritmo da música em seu instrumento ao mesmo tempo, em nenhum momento deixando de sorrir.  

Og når hun hjem fra skole går

Hurra, hurra, hurra!

så skal hun hjem og holde fest

og dem, som kommer med som gæst

får dejlig chokolade og kager til

Em seguida, Saphira pôde ver Alexander e Laryssa vindo até ela de braços dados. Estando a futura Princesa em seu nono mês de gravidez, sua barriga estava enorme, e ela reclamava constantemente de dores nos pés e na coluna. Mesmo assim, trajando um vestido roxo largo, ela cantava e sorria para Phinny enquanto acompanhava o resto do grupo pelo salão. Alexei, por sua vez, sempre muito preocupado, apesar de também cantar, tinha os olhos fixos na futura esposa, certificando-se de que ela estava conseguindo se locomover bem. Por mais que quisesse todas as atenções para ela, Saphira não ficava com ciúmes. Pelo contrário, achava o cuidado do irmão por Laryssa muito fofo.

Til slut vi råber højt i kor:

Hurra, hurra, hurra!

Gid Saphira længe leve må

og sine ønsker opfyldt få

med dejlig chokolade og kager til

Por fim, Saphira avistou seus pais, também andando de braços dados. Pela primeira vez após a morte de Bella, os dois sorriam verdadeiramente. Ao se aproximarem da filha mais nova, eles a abraçaram com muito carinho. Naquele momento, Phinny se sentiu mais amada do que nunca. 

— Feliz aniversário, Saphira! — disseram todos juntos, em dinamarquês. — Hurra, hurra, hurra!

Christian pegou a caçula no colo, para que ela pudesse ficar na altura de seu bolo  — o qual Elisabeth ainda segurava. A pequena, então, assoprou as nove velas ao som dos aplausos dos demais presentes. Com os olhos fechados, desejou que sua família pudesse ficar feliz assim para sempre, mesmo depois de perder um membro tão importante. Imaginou todos os seus irmãos rindo juntos novamente em uma tarde quente de verão. Imaginou seus passeios com Alexander e as gêmeas pela orla do rio. Desejou que tudo aquilo pudesse voltar, pelo menos em memória, e que a família pudesse finalmente se curar da dor que era perder Isabella. E, claro, desejou também que o bebê de Alexei e Laryssa fosse uma menina. 

Assim que as velas se apagaram, a família se sentou à mesa, todos conversando paralelamente com muita alegria. Como era de costume para o aniversariante, Saphira ficou com a cadeira bem à ponta ao lado dos pais, tendo, dali, uma visão privilegiada de sua família. Para sua decepção, a mãe insistira que eles só poderiam comer  bolo à tarde, após o almoço, já que, segundo ela, não era apropriado ou saudável comê-lo pela manhã. Apesar de ter ficado claramente chateada Phinny — já que sempre esperava, ansiosa, pelos aniversários da família para comer algumas fatias de bolo —se contentou com as diversas tortas trazidas pelos serventes, que também arrumavam a mesa para a celebração. Rapidamente, toda a mesa estava decorada em tons de rosa, com diversas flores e corações de papel espalhados pelo carvalho. Tudo estava perfeito, e Phinny não poderia estar mais feliz.

A pequena, então, observou os outros integrantes da mesa, alegrando-se ao vê-los se deliciando com as tortas. Ao desviar o olhar pa para sua futura cunhada, porém,  viu que a comida em seu prato permanecia intocada, e que ela trazia uma expressão estranha, como se estivesse com dor. Alexander, sempre tão cuidadoso, estava muito envolvido em uma conversa com Hannah para notar. Preocupada, Saphira tentou chamar a atenção da antiga Selecionada.

— Laryssa, está tudo bem? — questionou a pequena, franzindo as sobrancelhas.

Subitamente, todos olharam com aflição para a garota ruiva. Nas últimas semanas, todos os passos de Lary eram monitorados de perto por inúmeros funcionários do Palácio, que se certificavam diariamente do bem-estar dela e do bebê. Até mesmo Saphira, ainda tão jovem, fora orientada a manter-se atenta quando estivesse na companhia da futura cunhada. Naquele momento, porém, quando a Escolhida de fato apresentava um problema, todos, até mesmo Alexei, congelaram, sem saber o que fazer. Diante da inatividade dos nobres, Ophelia, que ainda estava no recinto, correu até a futura Princesa, logo checando seu estado físico. Ela passou uma das mãos pelas costas da ruiva com muito carinho, fazendo com que a outra garota olhasse para ela com desespero. As duas conversaram baixo, e lágrimas escorriam pelos olhos de Laryssa.  Por fim, a babá olhou para os reis.

— A bolsa dela estourou — anunciou a babá. — O bebê vai nascer.

Prontamente, Alexander pegou a futura esposa no colo, andando até a porta do Salão. Ophelia andava no encalço do Príncipe, sussurrando palavras de incentivo a outra garota. Por sua vez, os Reis, ambos um tanto tensos, se levantaram, pedindo a alguns guardas que chamassem a junta médica.

  E Saphira, ainda sentada à ponta da mesa, apenas sorriu. O dia 6 de março, agora mais do que nunca, seria um dia de alegria e renovação para sua família. 

***

Quando sua filha veio ao mundo, Laryssa não sabia o que sentir. Sentia as dores do parto, das horas que passara tendo uma contração atrás da outra até o empurrão final. Sentia alegria por ter sua pequena finalmente consigo depois de tantos meses esperando sua chegada. E, ao mesmo tempo, sentia medo. Deitada em uma grande cama do Palácio e segurando a criança em seus braços, temia por seu futuro. Ou melhor, pelo futuro das duas. Por mais que todos a sua volta afirmassem que aquela menina seria criada em um ambiente de bondade, por mais que o pai adotivo — um homem bom — estivesse a seu lado, ela temia pelas verdadeiras origens dela. Aquela tarde de verão em que sua filha fora concebida nunca sairia de sua mente como o momento mais traumático de sua vida, por mais que se esforçasse para esquecer. E tinha medo que ele não pudesse ser desvencilhado de sua garotinha, e que ela para sempre fosse a filha de um criminoso

Apesar de todo o sofrimento que a levara até aquele momento, até o dia que estava ali, com sua menina  em seus braços, ao olhar para ela, tudo parecia sumir. Todos os sofrimentos, todas as angústias e todas as dúvidas. Ela era perfeita. Laryssa não poderia imaginar um mundo em que tivesse decidido terminar sua gravidez, por mais que fosse seu direito. Sabia que, ainda que a criança fosse mudar sua vida completamente e que talvez não estivesse totalmente preparada para ser mãe em tão tenra idade, tudo valeria à pena. Ter aquele ser tão pequeno com o rosto amassado e inchado consigo era uma bênção, uma luz em meio a toda a escuridão que cercara sua vida nos últimos meses. Mesmo com tão poucas horas de vida, aquela garotinha a fazia compreender o amor de uma forma que jamais pensara que conseguiria antes. Ao admirar sua linda filha, Lary sentia que poderia tirar todo o mal daquele mundo cruel. O amor que sentia por ela lhe concedia toda a força que perdera no dia que fora violentada. Era um sentimento incrível que tinha o poder de ofuscar todos os outros, até mesmo os mais sombrios.

Para completar sua alegria, Alexander deitava-se a seu lado, envolvendo os ombros da futura esposa com os braços. Assim como ela, ele observava o pequeno bebê recém-nascido com muito afeto. Horas antes, quando ele segurou a criança pela primeira vez, Lary pôde ver lágrimas de emoção contornando suas bochechas. Desde então, ele não saíra de perto das duas, fazendo de tudo para que elas tivessem tudo o que precisavam. Meses antes, ela nunca conseguiria imaginar uma cena como aquela. Logo quando descobrira sobre a gravidez, no pequeno quarto de Ophelia no porão da Residência Real, Laryssa achara que Alexei nunca a aceitaria, que a mandaria embora no mesmo momento. Passara grande parte da Seleção com receio. Mas ele fora gentil e carinhoso, nunca a julgando por seu passado. Quem poderia imaginar, no começo da competição, que meses depois ela estaria no Palácio assim: com toda sua família em seus braços.

— Vossa Alteza, o senhor pode sair um pouco agora — disse uma voz feminina, fazendo com que Alexander desviasse o olhar do bebê. — Fui designada a ficar com elas, não se preocupe.

Ainda sem tirar os olhos da filha, Laryssa pôde ver de relance a expressão inquieta do futuro marido. Curiosa, ela virou levemente a cabeça para poder também observar a recém-chegada. Ophelia, com seu típico uniforme de babá, estava parada perto da porta. O olhar que trocava com Alexander era firme e sem emoção. Lary, porém, podia sentir a sutil tensão entre eles. 

— Eu estou tão orgulhoso de vocês. De vocês duas — afirmou o rapaz, beijando a têmpora da futura esposa antes de se levantar. — Vou ligar para seus pais avisando que ela nasceu. Já volto.

Laryssa sorriu e observou-o se afastar antes de voltar seu olhar para a criada. Como se não conhecesse o Príncipe, Ophelia fez uma breve reverência quando ele passou por ela, tentando a todo custo não olhar para seu rosto. Era uma situação um tanto desconfortável, principalmente pelo fato de os dois parecerem estar se evitando para conservar os sentimentos da mais nova mãe. O que não sabiam era que Lary tinha conhecimento de seu caso amoroso, é claro, fora capaz de juntar os fatos algum tempo antes. Entretanto, não sentia remorso. Lia fora boa com ela sem mesmo conhecê-la, ajudando-a em seus momentos mais difíceis no Palácio. Além do mais, Alexander podia sim ter uma vida antes de se casar, afinal, ele era um ser humano, tinha o direito de experimentar o amor. Assim como ele a aceitara com toda sua bagagem, ela deveria aceitá-lo também. E Lia era uma parte de sua história que não poderia ser apagada, nem que ele tentasse muito.

— Por um momento achei que você não viria — a antiga Selecionada disse, enquanto a outra garota sentava-se na poltrona ao lado da cama. — Ter você aqui significa muito para mim.

— Estive presente desde o início, não é mesmo? — Ophelia sorriu. — E nunca poderia perder a oportunidade de conhecer essa linda menina.

As duas olharam para a criança, que estava adormecida nos braços da mãe. 

— Sabe quem mais poderia estar aqui? — Lary questionou, fazendo com que Lia levantasse as sobrancelhas. — Esmeralda. Ela é irmã da minha filha, apesar de tudo.

— Como você… — Ela parecia chocada.

— Não sou boba, Ophelia. Você pode não ter falado explicitamente, mas consegui juntar dois com dois. Quando Alicia e Isabella se envolveram em meu caso, dizendo que ajudaram você quando quando estava grávida, soube que ela era filha de vocês dois. — A mais nova riu de leve da expressão da outra, logo completando. — Além do mais, Esmie é a cara de Alexei. 

— Você não ficou com ciúmes? — a criada perguntou, parecendo não saber muito o que comentar sobre o assunto.

— Quem sou eu para julgar? — ela respondeu, dando de ombros e olhando para o bebê em seus braços, mesmo sabendo que as situações das duas eram situações completamente diferentes. — Ademais, Esmeralda é uma criança incrível. E suponho que Alexander não saiba da existência dela.

— Ele saberá… Logo. — Laryssa levantou a sobrancelha para a criada, não acreditando em suas palavras e fazendo com que a outra mordesse o lábio inferior, pensativa. — Eu prometo. Em breve Esmie e sua princesinha estarão correndo juntas pelos corredores desse palácio.

A antiga Selecionada sorriu,  feliz com a ideia de ter alguma alegria naquele palácio. Após o falecimento de Isabella, toda a luz parecia ter sumido do local. Mesmo depois que voltaram de Skagen com as energias renovadas, Amalienborg ainda parecia cinza e triste. Esperava que, com o nascimento de sua filha, a vivacidade de quando chegara ali voltasse, restaurando um pouco da felicidade há tanto roubada da Família Real. Sentia-se aliviada por poder trazer algum conforto para sua nova família. Antes que pudesse continuar a conversa com a outra garota — contando todos os seus planos para sua filha, de mãe para mãe —  porém, a porta se abriu. Para sua surpresa, não apenas uma, mas duas figuras adentraram o quarto

— Liguei para sua família. Logo eles estarão aqui — anunciou Alexander com as mãos nos ombros da irmã caçula. — E no caminho, encontrei essa senhorita. Tentei convencê-la de que vocês duas precisavam de um tempo para descansar antes de receber visitas, mas parece que a aniversariante não pode ser contrariada.

— Alexei me disse que era uma menina. — Saphira olhava para os pés, parecendo um tanto constrangida. — E eu queria tanto conhecê-la.

Laryssa apenas sorriu para a futura cunhada. Horas antes, quando entrara em trabalho de parto no meio da festa da garotinha, se sentira culpada, pensando que estragara seu aniversário. Afinal, que criança de oito — agora nove — anos gostaria de ter seu aniversário interrompido pelo nascimento de mais um membro da família. Mas, ao ver a animação dela, a preocupação de Laryssa se dissipou. Assim, ela fez sinal para que a mais nova se aproximasse. A passos lentos, Saphira andou até a cama, sentando-se no colo de Ophelia na poltrona. Laryssa percebeu que ela trocara de roupa, não mais usando o vestido festivo daquela manhã. Agora, trajava apenas um blusão azul escuro de gola de renda branca e uma saia pregada caqui simples. Ela não tirava os olhos do bebê, hipnotizada.

— Parece que sua sobrinha roubou todos os holofotes hoje, Phinny — Alexei disse, sentando-se na ponta da cama. — Seu aniversário nunca mais será o mesmo.

— Esse foi o melhor presente que eu poderia ganhar — a pequena afirmou, ainda encarando a recém-nascida, fazendo os outros três sorrirem. — Esse foi o melhor aniversário de todos.

— Você quer vê-la mais de perto? — questionou Laryssa, logo recebendo um balançar de cabeça afirmativo de cabeça como resposta. — Sente-se aqui, então.

Sem pensar duas vezes, Saphira pulou do colo de Ophelia. Rapidamente, ela se aconchegou ao lado da futura cunhada. 

— Ela é tão pequena — comentou a garotinha, colocando a cabeça no ombro de Laryssa e esticando o braço para tocar o corpinho do bebê. Depois olhou para Laryssa. — Qual é o nome dela?

Laryssa olhou para Alexander, receosa. Desde que voltaram de Skagen havia quase quatro meses, ela  sabia exatamente que nome gostaria de dar à sua filha. Na verdade, já a chamava assim mentalmente havia algum tempo, mesmo não sabendo que era uma menina. Entretanto, decidira não contar a ninguém, nem mesmo a sua tia Christine, sua maior confidente. Era como um segredo só das duas. Tinha medo de que, se todos começassem a chamá-la assim, a criança deixaria de ser dela e se transformaria em algo público, como boa parte de sua vida se tornara depois da escolha de Alexander. Depois que o nome fosse revelado ao mundo, sua pequena seria associada a muitas coisas, algumas talvez não tão boas. Apesar de estar certa de sua decisão — talvez a decisão mais correta que já fizera em toda sua vida — queria que a identidade de sua menina fosse só dela por mais alguns instantes.  

— Você quer ser a primeira a saber? — Laryssa perguntou, passando uma das mãos pelos cabelos da cunhada com carinho.

Os olhos da pequena brilharam e, com cuidado, ela se inclinou um pouco mais em direção à antiga Selecionada. Lary, então, certificando-se que ninguém mais poderia ouvir, sussurrou o nome da recém-nascida no ouvido da menina. Assim que ouviu aquelas duas palavras, surpreendentemente, a Princesa começou a chorar. Lágrimas se formaram discretamente nos olhos dela, molhando a camisola branca da ruiva de leve e chocando todos os presentes no recinto. Laryssa nunca vira a caçula da Família Real chorar, nem  mesmo no dia que a irmã mais velha morrera. Ela se mantera forte e positiva em todos os momentos, chegando até a consolar uma Ingrid desolada. Saphira era uma menina tão alegre e tranquila, que, apesar de todas as dificuldades, nunca se deixara abalar. Dessa forma, Lary não sabia como agir frente ao choro dela. Seria de alegria? De tristeza? Ou, pior ainda, de dor? 

— O que foi? — Alexander se aproximou das três, passando a mão nos cabelos da irmãzinha. Ele parecia preocupado. — Está tudo bem?

— Eu sempre disse que nossa irmã voltaria para nós, mesmo que de uma forma diferente — ela disse ao abraçar o irmão, deixando-o confuso. — É lindo, Alexei. Sua filha tem o nome mais lindo do mundo. 

Alexander olhou para Laryssa por cima do ombro de Saphira. A futura Princesa apenas sorriu, ficando em silêncio para apreciar a bela cena de amor fraterno. Contaria para ele mais tarde, é claro. Naquele momento, porém, queria deixar Saphira aproveitar sua emoção. Alexei logo teria seu momento. 

— Acho que precisamos deixar Laryssa e o bebê descansarem mais um pouco, não é mesmo Saphira? — Já de pé, Ophelia estendeu a mão para a jovem Princesa, que se soltara do irmão ainda com lágrimas nos olhos. — E você precisa dormir. Vamos?

Um tanto relutante, a menina levantou-se. Antes de se afastar da cunhada e da sobrinha, se curvando em direção à cama, passou a mão com muito cuidado pela cabecinha da recém nascida e sorriu para ela. Antes de se juntar à babá, recebeu um beijo na bochecha do irmão mais velho. 

Quando a Princesa e a criada saíram do quarto de mãos dadas — com a pequena tagarelando —  os novos pais estavam novamente sozinhos. Laryssa olhou para Alexander, que voltara a observar a filha com amor. Ela se inclinou um pouco, com cuidado para não sufocar o bebê em seu colo, e encostou seus lábios com os dele. Ele retribuiu o beijo com ternura, colocando uma das mãos no rosto dela.

— Muito obrigado. Por tudo — ele disse quando os dois se separaram. — No início, eu não queria que a Seleção ocorresse. Preferia me casar com uma dama distante qualquer e não ser obrigado a me apaixonar sob pressão. Mas não pude escapar. Eu nunca poderia imaginar, no começo da competição, que estaria aqui agora. Bom, também nunca imaginei que uma Guerra aconteceria, que Bella morreria… Apesar de tudo de ruim que aconteceu, eu encontrei você. E agora ela está aqui também. Não poderia estar mais grato. 

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, observando a paz do sono de seu bebê.

— Eu também, Alexei — ela afirmou, passando uma das mãos pelos cabelos dele. — Eu estava no meu pior momento nos meses que antecederam a Seleção. Para mim, a competição era um recomeço depois de tudo que aconteceu comigo. E agora eu não poderia imaginar um recomeço melhor. Com nossa filha, você e, bom, sua família também.

— Você sabe que Phinny nunca mais vai desgrudar de você depois de hoje, não é mesmo? — ele perguntou, rindo. — Ainda mais porque agora as duas pequenas dividem o dia 6 de março.

— Saphira foi a pessoa de sua família que melhor me acolheu. Desde o início. Não me importo de tê-la por perto. — Laryssa sorriu com a ideia da pequena Princesa a seguindo por todos os lados nos próximos anos. — E nossa filha não poderia ter escolhido dia melhor para vir ao mundo. Não posso prever o futuro, mas sei que isso é um sinal que Saphira estará sempre aqui para proteger sua sobrinha. Isabella Aurora terá muita sorte de ter ela por perto. 

— Como? — questionou o Príncipe, atônito, percebendo o nome que a futura esposa dissera.

— Isabella Aurora — ela respondeu, olhando para a criança e desenhando seus traços com o dedo indicador. — Esse é o nome que eu quero dar a ela. Acho que sua irmã merece essa homenagem. Não precisamos chamá-la só de Isabella, sei que isso traz muitas memórias a todos vocês. Podemos chamá-la de Aurora. É o nascer do sol, o início de um novo dia. Um recomeço para todos nós.

Sem dizer nada, o Príncipe abraçou a futura esposa. Lágrimas escorriam por suas bochechas sem restrições. Laryssa também não conseguiu controlar o choro, emocionada com a reação tão genuína do futuro marido. Os dois permaneceram assim, abraçados como uma verdadeira família, por alguns instantes. Apenas se separaram quando Alexander deu um longo suspiro e se desvencilhou dos braços de Lary, secando as lágrimas.

— É perfeito. Tenho certeza que Bella se sentiria honrada — ele afirmou, sorrindo. — Eu amo vocês. Mais que tudo.

Ele não percebeu, mas era a primeira vez que falava aquelas três palavras que significavam um mundo para Laryssa. Ela  não poderia estar mais feliz.

Isabella Aurora era uma menina de sorte.


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Notas finais do capítulo

Isabella Aurora... O que vocês acharam desse nome? Para ser sincera, o processo para escolhe-lo foi bem longo. Para mim (e para Laryssa também), Isabella sempre foi claro. No início, o segundo nome seria Hope (Rosalie provavelmente não lembra, mas por volta de 2015 [talvez] mandei uma mensagem para ela sobre o nome que ela queria para a filha, e ela me respondeu com várias opções, incluindo Hope). Mas depois de alguns anos achei que não combinaria. Aurora surgiu ano passado, e, para mim, não poderia ser mais perfeito. Significa o nascer do sol, o raiar do dia, e é isso mesmo que ela é para essa família. É um sol iluminando suas vidas depois de uma longa noite.

Bom, estou muito animada por FINALMENTE ter essa lindinha conosco na fic. Esperei por anos, literalmente, para o momento de ela nascer (e admito, as circunstâncias de seu nascimento mudaram na minha cabeça muitas vezes). E fico muito feliz que Saphira e Isabella Aurora possam dividir o dia 6 de março. No Brasil, segundo Tom Jobim, seriam "as águas de março fechando o verão, é promessa divina no teu coração". Na Dinamarca, março está fechando o inverno, mas o sentimento de renovação e esperança é o mesmo.

E agora que nossa bebê já está aqui, podemos começar a planejar o casamento de Laryssa e Alexander! Criei um formulário com alguns vestidos que achei. Votem!
https://forms.gle/S2pkmvhCovwXaD1c6


Até a próxima!
xoxo ♥ ACE



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