Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 76
Memórias | Juliane


Notas iniciais do capítulo

HOJE É QUINTA, HOJE É DIA DE RDC!

Depois de quase 6 meses, aqui estou eu de volta com mais um capítulo. Uma eternidade, não? Lembro-me de 2014, quando eu postava toda semana (e às vezes até mais de uma vez por semana). Tinha 13 anos e minha vida acadêmica ainda não esmagava qualquer outra atividade. Depois disso, foi só ladeira abaixo. Em 2017 até tentei, foram vários capítulos com pequenas pausas entre eles. Mas 2018... Enfim, sou uma péssima escritora, por favor me desculpem.

Nessa que pode ser minha última nota inicial (já que o site novo não vai ter essa ferramenta — posso estar sumida de RDC mas sempre acompanho as novidades do Nyah) gostaria de agradecer a todo mundo que acompanha essa história, sendo presente nos comentários ou não. Sei que a fanfic tem vários erros, vários enredos confusos, muitos personagens que eu não exploro direito, mas saibam que eu escrevo com muito amor. Comecei com só 13 anos e agora, com 18 (quase 19 socorro), percebo o quanto cresci aqui. Já devo ter dito isso milhares de vezes, mas nunca é demais. Muito obrigada a todos e espero que possamos colocar um ponto final nessas história quilométrica juntos (EU JURO, TÁ QUASE TERMINADO!! FALTAM SÓ 6 CAPÍTULOS).

Sem mais delongas, vou deixar vocês com o capítulo da nossa querida Jujuba!

Até as notas finais!

xoxo



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Juliane lembrava exatamente como fora a primeira vez que entrara no suntuoso Palácio de Amalienborg. Naquela ocasião, ela trajava um vestido do mais suave tom de rosa estampado com grandes flores brancas, representando toda a pureza de sua juventude. Ela, no auge de seus dezenove anos, ainda era uma moça cheia de sonhos grandiosos e de expectativas para sua nova vida como Rainha da Dinamarca. Apesar da pouca idade e do medo que sentia dos centenários muros da Residência Real, ela andava com a cabeça erguida até o portão principal, sem demonstrar nenhuma fraqueza. Aquele fora o início de uma grande história.

Assim como na primeira vez que pisara em Copenhague, naquele dia, Juliane foi recebida com o mais belo pôr do sol, que pareciam coroá-la com seus encantadores tons dourados. Os raios refletiam na neve recém caída, transformando a paisagem da capital dinamarquesa em uma pintura. Um vento suave balançava as árvores sem folhas e a grande bandeira vermelha e branca — hasteada no topo do Palácio. A estátua de Frederick V, por mais que tenha testemunhado tantos momentos de tensão em suas centenas de anos de existência, ainda permanecia imponente no centro do pátio e também dava as boas-vindas aos recém chegados. E, ao olhar aquela paisagem — tão banal em outros tempos — o coração de Juliane se acalmava: ela estava finalmente em casa.

Embora o cenário parecesse tão pacífico à primeira vista, quanto mais o carro se aproximava da entrada, mais Juliane percebia as pequenas mudanças no local. Alguns batalhões de soldados rodeavam o pátio do Palácio, carregando armas pesadas. Do outro lado dos muros, centenas de pessoas com cartazes com diferentes mensagens protestavam contra a Guerra. De dentro do veículo, Juliane era capaz de ouvir os gritos — as palavras eram incompreensíveis, mas a indignação e a raiva eram claras. A verdade era que os confrontos armados já estavam se encerrando por conta da deposição de Luther, e muitas tropas que se antes aproximavam do território dinamarquês já começavam a recuar. A segurança e a paz estavam próximas, mas o povo ainda sentia — e sentiria por muito tempo — as mazelas do conflito, assim como a Família Real. A Rainha sabia que os efeitos causados pela Guerra, por mais sutis que fossem, cercariam todos por muito tempo.

Apesar de tudo que ocorrera nos últimos meses, porém, a estrutura física do local que os Schiønning chamavam de lar por gerações ainda parecia a mesma, intocada por todo o sofrimento da guerra. As grandiosas portas de metal ainda se postavam, fortes, em meio ao caos dos últimos meses. Elas, junto às corajosas colunas — que não se deixavam abalar nem pelos gritos furiosos da população — tinham o poder de proteger a história da Dinamarca e, o mais importante de tudo, a história da família de Juliane. Por mais que muitos tentassem destruí-lo das mais diversas maneiras através dos anos, o mais importante símbolo da monarquia Dinamarquesa não cairia tão facilmente.   

Por muitos anos, a Rainha passara por aquela estrutura sem notar sua magnificência. Ali, ela vivera momentos de alegria e de tristeza durante mais de vinte anos. Aquelas paredes centenárias a viram crescer como pessoa, como Rainha. Ela se tornara parte da história de Amalienborg — talvez até mais do que ele era parte da história dela. Ela o modelara para ser seu lar, assim como muitos outros reis o fizeram. Nos infinitos corredores, ela adicionara pinturas, que se misturavam as que seus ancestrais haviam colocado muitos anos antes. Ela vivera ali, mesclando a trajetória de sua família a de tantas outras que vieram antes dela. Ela era parte do Palácio. Entretanto, só agora, tendo a oportunidade de pisar ali mais uma vez depois de tanta dor, ela percebia, com clareza, tudo que o lugar significava para ela.

Quando o carro estacionou próximo à entrada principal, Juliane abriu a porta, apressada, sem ao menos esperar por toda a cerimônia de recepção preparada pelos militares. A urgência de entrar novamente em sua casa sobrepunha o dever de uma Rainha e fazia sobressair-se os desejos de uma mulher, de uma mãe. Assim, ao pisar pela primeira vez em tantos meses no chão de granito da entrada do Palácio, todas as lembranças apareceram, de súbito, em sua mente. Ao andar pelos corredores, ela podia, no fundo de sua memória, escutar as risadas de Isabella e Ingrid enquanto elas corriam — sempre sendo repreendidas por algum adulto. Mais para frente, quando passou em uma das salas íntimas das famílias, podia também ver os sorrisos sinceros de Saphira e Alexander brincando depois de mais uma das longas internações da caçula. Na ala do quarto das crianças, podia apreciar o silêncio de Henrik escrevendo. Logo depois, na biblioteca, podia sentir o calor que vinha da lareira enquanto ela e Christian liam com tranquilidade.

As paredes grandiosas do Palácio, por mais que parecessem tão frias de fora, guardavam as memórias mais preciosas de Juliane. Fora naquele local que seus cinco filhos deram os primeiros passos e proferiram as primeiras palavras. Fora ali que ela vira todos eles crescerem, ano após ano, tornando-se as pessoas que a surpreendiam diariamente das mais diferentes formas. Era seu lar. E como era bom estar de volta.

 

 ***

 

A reunião com o Primeiro-Ministro parecia nunca acabar. Há horas, ele e o Rei falavam sobre todos os aspectos da guerra, desde os mais técnicos como movimentação de tropas até os mais sociais como o envio de suprimentos para as áreas mais afetadas. Juliane, já com as pálpebras pesando de cansaço, pouco contribuía para a discussão, sendo apenas um peso morto naquela grande sala.

Mesmo tendo a família Real retornado a Copenhague havia apenas alguns dias, já era a décima primeira vez que os soberanos encontravam-se com o chefe do governo dinamarquês. E as conversas demoravam horas e mais horas, cobrindo os mais diversos assuntos. Juliane, por mais que não quisesse admitir em voz alta — em respeito a seu marido —, não aguentava mais. Não era seu dever estar ali, já que suas obrigações como consorte eram apenas representativas. Porém, desde o início de seu reinado, ela optara acompanhar todas as reuniões, sem exceções. Ela fazia questão de ser uma Rainha presente, que se envolvia, mesmo que com limitações, na política, não se limitando a apenas aparecer na sacada do Palácio para abanar para seu povo de tempos em tempos. Fora ela que escolhera aquilo e, depois de tantos anos, não iria abandonar o marido naquele que era o momento mais crítico de seu reinado.

Por não ter mais paciência para assimilar tudo que o marido e seu Primeiro-Ministro falavam, ela apenas conseguiu gravar que não havia mais riscos em Copenhague — pelo menos não para a população em geral. Com a deposição de Luther, as tropas germânicas se retiraram dos arredores da capital dinamarquesa, assim como a de outros países inimigos. Dessa forma, tudo estava mais calmo, e  a cidade estava pronta para retornar a sua rotina. As feiras matinais retomaram suas atividades, as lojas reabriram, e pessoas voltaram a circular pelas ruas, tudo com a supervisão dos militares, pelo menos por ora. Segundo o Chefe de Governo, ninguém bombardearia a cidade como Juliane temia. A paz, aos poucos, estava voltando.

— Ficamos muito felizes com as notícias, Ingolf. O senhor está fazendo um ótimo trabalho ao conduzir nosso país com maestria em um período tão conturbado. — Ao ouvir as palavras do marido, Juliane levantou o olhar, subitamente interessada na conversa, esperando que aquele fosse seu fim. — Visto que a paz já está de volta às ruas de nossa cidade, quando o senhor acharia propício anunciar a vencedora da Seleção e o consequente casamento de Alexander para o povo?

A Rainha suspirou. Aquela discussão ainda se estenderia por mais tempo do que ela desejava.

— Bom, Majestade.  — O Primeiro-Ministro pensou por alguns segundos antes de responder. — Apesar de ser uma notícia que distrairia o povo revoltado com nossas recentes campanhas bélicas, creio que agora ainda não seja o momento propício, dado que algumas tropas germânicas ainda se encontram em território dinamarquês. Não seria seguro para sua família. Aconselho que vocês aguardem um pouco. Ainda mais com a condição da menina…

— Acredito que seja melhor esperar o nascimento da criança — Juliane finalmente se pronunciou, com os olhos azuis fixos no marido. —  Não podemos anunciar o casamento de nosso filho com uma moça grávida, mesmo sendo o caso dela um grande infortúnio. Por mais que expliquemos a situação, o povo, já tão irritado com a guerra, não irá compreender. Com a criança aqui, eles se sensibilizarão com a história de Laryssa, e isso só nos beneficiará.

— Bem colocado, Majestade. — Ingolf balançou a cabeça positivamente. — A história da futura Princesa é comovente, mas no momento só causará mais confusão. Temos que explicá-la ao público com calma, para não abrirmos espaço para especulações. 

— Serão meses até a criança nascer — Christian exclamou, ainda mantendo seu tom de voz calmo. — Não podemos segurar a Seleção por tanto tempo, o povo não acreditará e perderemos ainda mais sua confiança.

— Minha sugestão é que a imprensa seja afastada nesses momentos. A população comum não saberá o que acontece aqui se nada for reportado. Para eles, o Príncipe ainda está escolhendo uma noiva digna do trono. — O homem analisou alguns papeis dispostos sobre sua mesa e, então, voltou seu olhar novamente aos Soberanos. — Os dinamarqueses, em geral, têm acompanhado a Seleção com muito entusiasmo, fato que é facilmente percebido ao lermos os jornais e revistas dos últimos meses. Sendo assim, não podemos deixá-los completamente no escuro sobre os acontecimentos, porém, podemos, sim, filtrar o que chega a eles. 

— Podemos chamar algumas Selecionadas para passar o Natal conosco, assim já aproveitamos e fazemos algumas fotos oficiais — a Rainha sugeriu.

Apesar de todas as recomendações e propostas do Primeiro-Ministro e de sua esposa, o Rei ainda não parecia convencido. Juliane conseguia entender a reação do marido. Ele passara a vida toda sob o olhar do público. Qualquer erro que cometesse — desde quando era jovem demais para discernir o certo do errado —  era condenado por milhões de dinamarqueses. Desde muito jovem, sofria ao ler as matérias que insultavam sua família das piores maneiras possíveis. Agora, ao ter de tomar uma decisão que poderia definir o futuro da vida pública de seu filho primogênito, era compreensível sua angústia. Um passo equivocado poderia mudar todo o cenário político do país.

— Não podemos mentir desse jeito para o povo. — Ele suspirou, olhando para suas mãos cruzadas sobre a mesa. — Concordamos em casar nosso filho, o futuro Rei, com uma pebleia justamente para acalmar os ânimos do povo, que pensavam que estávamos apenas roubando seu dinheiro.

— Querido. — Ela tocou a mão do marido com leveza. — Essa é a melhor maneira de proteger nossa família, principalmente Alexander. Não podemos deixar que a vida pública dele se prejudique por um mal-entendido em um período conturbado. 

— A Rainha tem razão, Majestade — Ingolf entrou novamente na conversa. — Tudo o que queremos é proteger seu filho, e toda a Casa Real, na verdade, de um problema que seria muito maior do que o que nos levou a criar a Seleção. Nossos atos podem parecer desonestos no momento, mas posso afirmar com absoluta certeza que eles terão um efeito positivo.

Christian passou a mão nos cabelos antes de responder.

— Tudo bem. Se vocês acham que isso é o melhor a ser feito, é o que faremos.



***

 

Assim que a reunião com o Primeiro-Ministro terminou, Juliane sentiu a necessidade de caminhar. Passara horas sentada ouvindo conversas tediosas e até um tanto tensas, logo, precisava de alguns momentos para relaxar sua mente. Com pouco tempo de caminhada, sem ao menos perceber, Juliane chegou ao corredor das selecionadas, que estava estranhamente silencioso. 

Com o fim informal da Seleção, o local parecia estranho e até, ela poderia se arriscar a dizer, triste. Aos poucos, ele ficava cada vazio. A cada semana, uma menina ia embora, simulando uma real eliminação. Agora, os quartos estavam vazios, e as portas, abertas, como se elas nunca tivessem passado por lá.  A Rainha tinha que admitir que, mesmo com a implicância inicial com as garotas — afinal, elas estavam ali para roubar seu filho — ela iria sentir falta da confusão que elas causavam. 

Por mais que, no início, Juliane julgasse que nenhuma das competidoras era digna de Alexander, com o tempo, descobrira que cada uma delas — principalmente as seis que acompanharam a Família Real até  Skagen — era especial a seu modo. Laryssa, sua futura nora, era delicada, e, ao mesmo tempo, forte. Mesmo com todas as adversidades, ela mantinha a calma, tendo uma capacidade imensa de tranquilizar seu futuro marido. Mabelle, sempre muito companheira, distribuía sorrisos por onde passava, assim como Mayrelles, que estava sempre pronta para ajudar qualquer pessoa no Palácio. Marzia inspirava todos com suas palavras e ideias. Já Emery, que se mostrara muito tímida nos primeiros dias, com o tempo se soltou, revelando uma garota divertida e muito carinhosa. Diferente de Kristal, a atriz, que desde o início era cheia de alegria e muito comunicativa. A Rainha as observara muito em Klitgården e aprendera a apreciá-las, cada uma a seu modo.

Por isso, passar por aquele corredor vazio trazia certa melancolia, uma saudade de um tempo que jamais voltaria. Sem as Selecionadas e Isabella, toda a cor parecia ter sido roubada de Amalienborg. Não se ouviam mais as risadas que ecoavam por diversos cômodos ou as conversas acima do volume — constantemente repreendidas pela Juliane —, o imenso local era preenchido apenas pelo silêncio. Os infinitos cômodos inabitados pareciam apagar a presença das poucas pessoas que ali viviam no momento. 

De um único quarto no fim do corredor, porém, ainda saía uma luz fraca, um último resquício da movimentação da Seleção. Ao se aproximar, a Rainha pôde ver os cabelos ruivos de Laryssa caindo sobre seus ombros enquanto ela, serena, lia em uma das poltronas. Agora, já era possível perceber a saliência em seu ventre coberto por um fino tecido de seda azul-marinho. A Soberana não sabia exatamente quando fora o evento que a deixara em tal condição, mas calculava que dentro de poucos meses uma criança alegraria o Palácio novamente. Logo, ela seria mudada de corredor, para não ficar sozinha e teria uma junta médica pronta para atendê-la. Logo, a vida naquele local mudaria drasticamente mais uma vez. E Juliane não sabia se estava preparada para isso.

Aquela menina de apenas dezesseis anos representava o futuro da Família Real. Depois de gerações de casamentos dentro da nobreza, ela seria a primeira pebleia a tornar-se uma Schiønning. A primeira Rainha a não ter nascido em berço de ouro. A primeira a ter uma história fora dos muros de um Palácio. A primeira. Ela seria um símbolo para todos os dinamarqueses, alguém com quem eles poderiam se identificar. Juliane poderia imaginar o quão difícil tudo isso seria para ela — ainda mais com um filho fora do casamento. Quando ela se casara com Christian, ainda jovem como Laryssa, a tarefa de ser Soberana de uma monarquia tão importante quase a sufocara. Ela viera de uma família com títulos e terras, mas, mesmo assim, Amalienborg e todo seu simbolismo a amedrontavam. Para a noiva de seu filho, tudo aquilo era novidade. Alguém precisava ajudá-la a navegar por aquele mundo de riquezas e responsabilidades.

E aquele alguém seria Juliane.

Ela, então, respirou fundo e bateu na porta de leve.

— Posso entrar?


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Nessa cena final, abrimos espaço para uma relação muito esperada (pelo menos por mim): Laryssa e Juliane. Será que essa dupla de sogra e nora vai se dar bem? Como será que vai ser quando o/a filho/a de Lary nascer? Será que Juliane vai desempenhar o papel de avó?

Descobriremos nos próximos capítulos!

Até lá!

xoxo ♥ ACE

PS: Prometo de pé junto que vou ser mais rápida. Juro, passei todos esses meses com esse capítulo no Google Docs, fazendo pequenas mudanças, colocando ideias, mas nunca terminando. Vou agilizar esse processo pro próximo capítulo haha!



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