Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 77
União | Laryssa


Notas iniciais do capítulo

HOJE É QUINTA, HOJE É DIA DE RDC!

Por um milagre, estou aqui mais uma vez depois de menos de um mês! Muito orgulhosa de mim mesma hahaha E ainda consegui postar antes do fim das notas do capítulo (eternamente triste pela morte dessa ferramenta perfeita).
Enfim, faltando alguns dias para o aniversário de 5 anos da fanfic (CINCO ANOS, VOCÊS ACREDITAM? EU NÃO ACREDITO), aqui estou eu. Como não sei se vou conseguir postar algo dia 24, queria aproveitar para agradecer a todos que acompanham essa história e me apoiam nessa aventura. Escrevo essa fanfic desde os 13 anos e ela faz parte da minha vida de uma maneira que vocês não devem nem imaginar. Assim, ao mesmo tempo que quero terminá-la logo, sinto um aperto no coração quando penso que faltam pouquíssimos capítulos para chegarmos ao fim dessa saga. Sei que, com todo esse tempo que estou demorando para terminar, muitos me abandonaram. Mas, ei, você que ainda está aí: fique até o final, tá bom? Vai deixar uma autora muito feliz.

Bom, vou deixar vocês com o capítulo (que tem o maior número de lágrimas derramadas da história dessa fanfic!)
xoxo ♥ ACE

MÚSICA PARA PARTE 2: https://www.youtube.com/watch?v=88hBhotjxvg
PS: Eu ia agendar o capítulo, mas aí não conseguiria postar hoje (QUINTA, DIA DE RDC). Então apreciem aí os horários estranhos de postagem hahaha



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Queridos Papai, Mamãe e Tia Christine,

Há tanta coisa que eu gostaria de contar a vocês. Tantas novidades. Tantas descobertas. Tantos sentimentos. Contar apenas no papel, porém, parece não ser certo. Não consigo passar todo o carinho que vocês merecem e compartilhar tudo que há dentro de mim nesse momento apenas escrevendo. Preciso olhar nos seus olhos e sentir o seu toque. Preciso do contato que a uma carta, lamentavelmente, não pode transmitir.

Infelizmente, ir até Odense agora não é uma opção, apesar da saudade que sinto de vocês. Como vocês já devem ter visto nos jornais, há poucas semanas voltamos a Copenhague. Apesar de o período em Skagen ter sido mágico Tia Christine, tenho certeza que você amaria a residência onde ficamos hospedados: a vista era para a água mais azul que já vi em minha vida , estar de volta é bom. O Palácio de Amalienborg parece muito amedrontador pela televisão, mas estando aqui há um tempo, percebo que ele é um lar assim como o nosso. Há amor e memórias aqui, apesar do que é documentado pela mídia.

No momento, entretanto, não há alegria aqui. Para o Príncipe e a sua família, o retorno não tão fácil, e é nítida a tristeza que eles sentiram ao pisar novamente nas dependências do Palácio. Com a morte da Princesa Isabella, tudo aqui parece ter se tornado cinza, como se toda a cor tivesse partido com ela. Ela era uma menina adorável, brincalhona e muito humana, contrariando completamente a visão que eu tinha dela antes de chegar aqui. Tê-la por perto —  mesmo que em raros momentos — era uma bênção, e lamento todos os dias seu trágico destino. Semana passada seria seu aniversário de 17 anos. Nada foi feito em comemoração, nem mesmo a Princesa Ingrid, sua gêmea, não voltou para casa da Noruega. Apenas fiquei sabendo porque Saphira, a Princesa mais nova, comentou casualmente enquanto a ajudava em uma lição de dinamarquês. No início, achei estranho, pensei que fariam alguma homenagem, mas foi somente um dia silencioso, cinza como todos os outros que sucederam a tragédia. Acredito que os Reis não conseguiriam suportar a dor. Ainda é muito recente. 

É difícil ver a Família Real assim. Mesmo com pouco tempo de convivência, já sinto um carinho enorme por eles e gostaria de ser capaz de diminuir um pouco seu sofrimento. Todos eles sentiram muito a partida de Isabella, principalmente os Reis — imagino que enterrar um filho deve ser a experiência mais dolorosa de todas. Sobretudo percebo a tristeza constante de Alexander, por mais que ele tente esconder. É nítido que o Príncipe ama muito todos os irmãos mais novos, cada um a seu modo, especialmente as três meninas, que são suas joias. Perder Isabella, a meu ver, o fez perceber que era incapaz de protegê-las, de cuidar delas para sempre. Ele sente-se frustrado, irritado e até mesmo se culpa pelo ocorrido. E penso que consigo compreender essa reação.

Logo após meu acidente, eu notava a culpa que vocês carregavam, por mais que as ações de vocês em nada tivessem influenciado o ocorrido. Eu via a tristeza e a frustração em seus olhos ao perceberem que nada que vocês fizessem mudaria minha situação: é exatamente assim que Alexander se sente. Nada vai trazer Isabella de volta, assim como nada iria apagar aquele momento de minha história. Não gosto muito de falar sobre isso, vocês sabem, mas as experiências que estou tendo no Palácio me fizeram pensar muito. Sobre a vida, sobre o destino… É claro que nunca irei aceitar aquela maldade como algo normal — ninguém deveria —, mas acho que agora estou pronta para aceitar isso como parte de minha história, algo que realmente me marcou, mesmo que de forma negativa. E eu agradeço a vocês por sempre estarem a meu lado, me apoiando até nos momentos mais sombrios e me ajudaram a seguir em frente. Espero que, mesmo não tendo uma relação tão forte quanto vocês têm comigo, eu possa ajudar Alexander e sua família da mesma forma.

 Desculpem-me se escrevi muito, mas há tanto mais que eu gostaria de contar. Como já disse, gostaria de estar falando tudo isso olhando em seus olhos, deixando todas as minhas emoções se libertarem e ouvindo os comentários encorajadores de tia Christine, ou sentindo o carinho de Papai em meu braço ou até mesmo o toque delicado de mamãe em meus cabelos. Sinto muito sua falta. 

Espero que possamos nos reencontrar logo.

Antes mesmo de escrever a última palavra de sua carta, lágrimas já escorriam pelas bochechas de Laryssa. Nos meses que esteve fora de casa, a saudade parecia apertar seu coração cada dia mais. Não havia nada no mundo que ela amasse mais que seus pais e sua tia, e ficar longe deles por tanto tempo era mais desafiador do que ela imaginara, ainda mais estando em uma situação tão delicada — da qual eles não faziam ideia. Desde que descobrira a gravidez, desejava revelá-la para a família, esperando que eles fizessem tudo ficar mais fácil. Desejava, todos os dias, que eles estivessem ali, apoiando-a e preparando-a para a chegada daquela criança e, o mais importante de tudo, amando-a assim como Laryssa a amava. Mas, por enquanto, aquela pequena criatura deveria ser mantida em segredo, pelo seu bem e pelo bem de toda a Família Real.

Nas cartas que escrevia quase que semanalmente, tomava cuidado para nunca mencionar seu filho, por mais que quisesse muito, por mais que ele ou ela já ocupasse uma parte importante em sua vida. Além do medo dos Reis quanto à reação do povo, a própria Laryssa tinha receio da resposta que sua família daria ao fato. Como médicos, seu pai e sua tia fizeram  de tudo para certificar-se de que sua saúde estava perfeita após o acidente, de que ela poderia voltar a ter uma vida normal. Porém a gravidez passara despercebida. Agora, ela temia que eles — pensando nos traumas de sua menininha — quisessem tirar a criança dela. Ela não sabia se eles conseguiriam entender que o amor que sentia por aquela criatura que crescia em seu ventre era maior que todas as suas dores. Ela era seu reinício.

Ao pensar em seu filho ou filha, Laryssa começou a soluçar, deixando todas seus sentimentos se soltarem de seu corpo. Provavelmente eram os hormônios da gravidez, que a deixavam cada vez mais emotiva — e a faziam derramar lágrimas por motivos que nem ela entendia bem. Dias antes, ela chorara ao conversar com a Rainha sobre o futuro e ao receber um abraço carinhoso do Rei. Em ambas as vezes, tentou com todas as suas forças controlar-se, a fim de não deixar uma má impressão a seus futuros sogros, que estavam se esforçando para acolhê-la em sua família. Dessa vez, porém, ela deixou suas emoções tomarem o controle.

Em meio a esse momento de extrema vulnerabilidade, ela sentiu uma mão tocar levemente em seu ombro. Ela virou-se lentamente, tentando segurar as lágrimas por alguns instantes. Seus olhos azuis profundos, então, se encontraram com os castanhos afetuosos de Alexander. O rapaz, que se encontrava logo atrás de sua cadeira, trazia um semblante preocupado. Antes que ele pudesse perguntar o que ocorrera, Laryssa já o abraçou, molhando um dos ombros de sua camisa perfeitamente engomada. Ele apenas a abraçou de volta, passando as mãos carinhosamente por suas costas, sem dizer uma palavra. Mesmo com a blusa encharcada, não se afastou. E isso a fez perceber: ele também estava ali para ela, na alegria e na tristeza.

 

***

 

O som suave do piano ecoava pelos corredores do palácio, alegrando uma manhã cinza de final de outono. Apesar do frio e da neve que caía do lado de fora, a música tema de Lago dos Cisnes aquecia o corpo das duas meninas em frente ao piano. A pequena Saphira se esforçava para acompanhar a melodia com seus dedos pouco habilidosos, enquanto Laryssa conduzia a mão esquerda com maestria. As duas sorriam, envolvidas pela atmosfera mágica da melodia. Elas, em suas imaginações férteis, conseguiam imaginar que as bailarinas ali dançavam, realizando piruetas e grand jetés com graciosidade. Por alguns momentos, aquele pequeno recinto transformou-se no grande Teatro Bolshoi. 

Nem mesmo o ranger leve da porta conseguiu atrapalhar a música. De tão encantadas com sua arte, a Princesa e a Selecionada nem sequer notaram a chegada da Rainha, continuando a tocar. Juliane, também envolvida pela suavidade do tema de seu balé favorito, não teve coragem de interromper. Em silêncio, cumprimentou a enfermeira responsável pela filha caçula e sentou-se em uma poltrona próxima à janela. Ela não se atreveu a interromper a música até que essa chegasse a seu acorde final.

— Estava apenas passando para checar como você estava, querida — a Rainha disse com a voz suave, como se não quisesse atrapalhar a melodia que ainda ecoava em sua mente.

— Quer tocar conosco, mamãe?  — a pequena Princesa perguntou, virando-se de leve para observar a mãe, que já se levantara.

— Obrigada pelo convite, querida, mas prefiro apenas ouvir — ela disse, aproximando-se do piano e passando a mão nos cabelos de Saphira, logo olhando para a outra garota. — Você toca muito bem, Laryssa. Aprendeu em casa?

Laryssa pensou antes de responder. Não tinha certeza de quanto poderia compartilhar com sua futura sogra, apesar de saber de sua vontade de saber mais sobre a jovem. Na conversa que as tiveram alguns dias antes, a monarca confessou que, depois de perder uma filha tão precocemente, estava aberta para acolher uma nora e de fazê-la parte da família. E Lary sabia que, para isso, ela deveria confiar nela, assim como passara a confiar em Alexander.

— Aprendi em uma escola de música na cidade mesmo, mas em casa recebia muito incentivo. Lembro dos momentos em que meu pai chegava em casa e eu estava praticando piano, logo quando aprendi a tocar. Eu ainda não sabia tocar direito, mas meu pai sempre sentava ao meu lado, em uma grande poltrona ao lado do piano lendo um livro ou jornal. — A moça sorriu antes de continuar. — Era um momento de calmaria. Nas épocas mais sombrias da minha vida, saía do quarto apenas para tocar piano. Meu pai sabia que eu estava muito sensível, então preferia não se aproximar para não me deixar desconfortável. Ele estar ali, mesmo que de longe, me fazia amar ainda mais a música e o instrumento.

— E sua mãe? — questionou a mais nova, parecendo ignorar a parte triste da história que acabara de ouvir.

— Ela não tinha paciência para isso. — Lary riu de leve, lembrando-se da personalidade agitada da mãe — Ela me apoiava, claro, mas sempre estava fazendo outra coisa, resolvendo algo em casa ou no trabalho. Nunca conseguia parar para me ouvir. Ela é extremamente o oposto de meu pai.

— Até parece mamãe e papai, não é mesmo? — Laryssa soltou uma risada discreta enquanto Juliane lançava um olhar de reprovação à filha caçula.

— Adoraríamos conhecê-los, Laryssa — a  mais velha, então, declarou.

— Poderíamos trazê-los aqui! Eles poderiam até passar o Natal conosco daqui a um mês! Não seria ótimo, mamãe? — Saphira disse, recebendo como resposta da mãe um aceno positivo de cabeça. — Aposto que você sente muita saudade de sua família. 

Para não chorar como fizera poucas horas antes, Laryssa apenas concordou em silêncio, sorrindo. A Princesa mais nova, desde o início, acolhera a Escolhida de seu irmão mais velho, quase que sem esforço. Era como se, para ela, Lary sempre fizesse parte de sua vida desde sempre. Apesar do esforço para controlar seus sentimentos, a moça, já tão abalada pelos hormônios da gravidez, não conseguiu segurar algumas lágrimas de gratidão escorrerem pelo seu rosto. Por mais que estivesse longe de sua família de sangue, ela tinha uma nova família, que estava se esforçando muito para amá-la também.

— Sinto a falta deles todos os dias, mas agora tenho vocês para amenizar a dor — ela finalmente falou.

— Eu te amo, cunhada — a pequena declarou, abraçando a moça a seu lado, que deixou as lágrimas escorrerem por fim.

 

***

 

O novo quarto de Laryssa em Amalienborg era consideravelmente maior que o anterior. Suas paredes eram decoradas com um delicado papel de parede champanhe com pequenas flores douradas. Os móveis eram do mais delicado tom de amarelo e as cortinas, que balançavam com o vento, completavam a aparência angelical do recinto. Sobre a cama repleta de almofadas bege e amarelas, deitava-se Laryssa, trajando uma bata azul leve e calças cinza. Os raios de final de tarde batiam em seus cabelos ruivos, banhando-os com uma luz dourada que os fazia parecer ainda mais brilhantes. 

Cansada após uma tarde inteira de mudança, a moça lia um livro, tranquila. Todos os seus movimentos — toda inspiração, toda exalação, toda troca de página — eram conduzidos por uma música clássica, que tinha o poder de conduzir cada mínimo movimento, fazendo com que tudo se curvasse ao som de seus acordes. Depois de semanas agitadas, ela aproveitava aquele raro momento de paz, que parecia curar todas as suas feridas, desejando que ele nunca terminasse.

Após alguns minutos — que pareceram horas para Laryssa — um rapaz abriu a grande porta de madeira clara, entrando no recinto. Muito mais calmo que em outros momentos, Alexander trazia um semblante relaxado, que se encaixava completamente com a atmosfera tranquila do quarto. Laryssa sorriu ao vê-lo, desejando que ele se deitasse com ela e aproveitasse o silêncio e a calmaria. Ele, porém, apenas ficou parado ao pé da cama, encarando a futura noiva com ternura.

— Sinto muito atrapalhar a leitura,  mas sua presença é requisitada no primeiro andar — ele finalmente falou, quase sussurrando. — É importante.

Sem contestar, ela se levantou com a ajuda de Alexei. Sem trocar uma palavra, os dois se dirigiram ao andar inferior de mãos dadas. Apesar de não fazer ideia do que estava prestes a enfrentar, seu coração estava acelerado. Nunca sabia o que esperar da Família Real — para o bem e para o mal.

Quando chegou ao pé da escada, porém, todas os possíveis cenários que ela criara em sua mente desapareceram. Em sua frente estavam seus pais e sua tia Christine com os maiores sorrisos que ela já vira. Em choque, ela não conseguiu se mover, ficando parada no centro do grande salão de entrada apenas encarando sua família. Nesse momento, seu coração parecia querer fugir de seu peito. Suas mãos tremiam. Seu estômago revirava. Não sabia se estava sonhando ou se realmente via a família depois de tantos meses.

Felizmente, suas dúvidas logo foram sanadas quando os pais e tia correram até ela e a abraçaram. O abraço mais sincero que ela já recebera. Apenas com o toque daqueles que amavam, algo explodiu em seu peito, um misto de emoções que ela jamais seria capaz de explicar.  Lágrimas escorriam por suas bochechas, sem que ela ao menos tentasse controlá-las. Em meio aos soluços, sua mãe colocou a mão em seu rosto, e Laryssa simplesmente apoiou a cabeça na mão dela, sentindo todo o carinho naquele gesto.

— Eu senti tanto sua falta — ela disse, entre soluços. 

— Nós sabemos, querida. — O pai passou a mão nos cabelos da filha, sorrindo com ternura. — Mas agora estamos aqui. Para o que der e vier.

Os quatro se abraçaram mais uma vez. Olhando discretamente para o lado, Lary pôde ver Juliane sorrindo como há muito tempo não fazia.

 

***

 

— Skagen é incrível, Tine — Laryssa contou, suspirando ao lembrar-se de sua residência no norte da Dinamarca. — Todos os dias, eu acordava com a vista do mar. Parecia que tudo ficava mais leve apenas por causa disso, apesar de tudo que aconteceu…

Laryssa e Christine estavam deitadas lado a lado na cama. Já conversavam por horas apenas sobre os assuntos mais banais, como se ainda estivessem em Odense — antes da Seleção e até mesmo antes do trauma. Lary não conseguia parar de sorrir. Tê-la ali era como voltar para casa, uma sensação de familiaridade que aquecia seu coração. 

— Suas cartas demonstravam bem isso, querida. Toda vez que eu as lia, e eu as lia mais de uma vez, tentava imaginar tudo que você estava vendo e vivendo. — Christine virou-se na cama, ficando de frente para a sobrinha. — É difícil acompanhar sua vida apenas por escritos, sabia? Não posso olhar nesses lindos olhos, que você herdou de sua avó, e descobrir tudo que você está sentindo. Preciso de um esforço extra, o que é difícil com todos os plantões que recebi durante a guerra.

— Falando nisso, como ficou Odense nesse período? Está tudo certo por lá? — Laryssa suspirou, lembrando-se de sua antiga casa. — Sinto tanta saudade de caminhar pelas ruas da cidade, de sentir o aroma da padaria da esquina, de tudo. Seria difícil voltar para lá e ver que está tudo diferente.

— A cidade em si está do jeitinho que estava quando você veio para Copenhague. Por causa da base militar, recebemos muitos feridos de guerra no hospital — a mais velha respondeu. — Mas não se preocupe, quando você voltar, vai reconhecer tudo e vai poder compartilhar as memórias de sua cidade natal com seu filho.

Laryssa ficou em silêncio. Ela sabia que, quando voltasse a Odense — e se voltasse algum dia — ela seria uma pessoa completamente diferente de quando deixara a cidade. Ela não era mais a menina assustada que saíra de casa meses depois de um acidente traumático. Não era mais a criança que brincava nas ruas de pedra com seus vizinhos. Ela seria uma Princesa, algo que nunca imaginara ser e, o mais importante de tudo, seria uma mãe. Ela poderia voltar para seu lar de infância, mas sabia que não sentiria mais o mesmo por ele.

 — Mas isso não é importante agora, quero saber sobre sua vida na realeza! — Christine sorriu, batendo de leve no braço de Lary. — Você falou muito bem da Rainha em suas cartas, mas eu a achei um tanto pretensiosa, se você me permite dizer. Não muito diferente do que ela aparenta ser na televisão.

— Você só teve contato com ela em um jantar, tia. Com o tempo, você vai ver que ela é apenas uma mãe preocupada, ela faz tudo pelos filhos e pelo marido. Ela é o coração desse palácio.

— Como sua mãe em nossa casa. Imagine seu filho ou filha tendo duas avós assim.

As duas olham para a barriga de Laryssa ao mesmo tempo, imaginando todas as possibilidades, todo o futuro que teriam com aquela criança. Apesar do que a jovem pensara, a família aceitara muito bem sua gravidez e estavam felizes por trazer mais um milagre ao mundo.  

— Você sabe que essa criança é filha daquele ordinário, não é mesmo? — A Selecionada mordeu o lábio inferior. — Vai para sempre ter o sangue de um criminoso.

A garota olhou para baixo, e Christine segurou sua mão com suavidade. Ela provavelmente já percebera o quão nervosa a sobrinha estava com aquilo. Toda vez que seu filho fora mencionado naquela noite, a jovem ficava em silêncio. Sabia que, por mais que tentasse esconder, ainda existiam muitos resquícios daquela tarde traumática e alguns deles se concentravam no feto que ela carregava em seu ventre.

— Essa criança é, acima de tudo, sua. Você vai criá-la, educá-la e ensiná-la tudo que sabe, principalmente a bondade. Eu sei que o que aconteceu te marcou muito e admiro a coragem que você tem de querer ficar com essa criança mesmo ela sendo fruto de algo tão terrível. É essa força, essa coragem, esse coração de ouro que essa criança vai herdar, não a maldade do pai biológico. — A tia colocou as duas mãos no rosto da sobrinha, desenhando seus traços com os dedos. — Eu sei que você ainda tem muitos receios sobre isso, mas sei também que você já reconhece que essa criança é seu recomeço. É uma nova vida, uma luz, que surge em meio a escuridão.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Eu estou simplesmente amando a Laryssa sendo integrada na Família Real! Os mais fofos da Dinamarca!
E a família da Lary chegando no palácio? O que acharam? Sinceramente, eu chorei hahaha Só consigo imaginar a saudade que nossa ruivinha deveria sentir dos pais e da tia, ainda mais com a descoberta da gravidez. E ainda bem que eles aceitaram bem essa história, né?
Essa criança vai ter duas famílias que amam muito! Sorte a dela!

Sobre a música que as meninas tocam e o vídeo que coloquei nas notas iniciais: usei apenas para me inspirar. Não acho que uma menina de 8 anos e uma de 16 teriam toda essa habilidade técnica.

Até a próxima (espero que seja logo!)

xoxo ♥ ACE



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