Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 57
Especial | Um Natal na Germânia


Notas iniciais do capítulo

FELIZ NATAL!!
Depois do especial de Natal na Dinamarca em 2014 e o queridíssimo especial de Ano-Novo em 2015, aqui estou eu trazendo esse especial na polêmica Germânia, alguns anos antes dos acontecimentos atuais da fanfic.
Para melhor aproveitar esse capítulo com tema festivo, ouçam a playlist que fiz, com músicas principalmente em alemão, mas também em holandês e húngaro (outras línguas nativas dos países que formam a Germânia). Tem um certo momento que a música Stille Nacht é citada, então sugiro que a ouçam, pois fica mais interessante (é a segunda da playlist).
Espero que vocês aproveitem esse especial que fiz com tanto carinho e também que suas festas sejam boas, que vocês possam aproveitar bem os momentos com sua família, independente das brigas ou qualquer coisa do tipo e de que tipo de presente ganharam — ou que não ganharam. Que o amor sempre prevaleça!
Feliz Natal!
xoxo ♥ ACE



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As inúmeras luzes iluminavam todos os prédios do antigo centro de Viena, tornando animado o ambiente que costumava ser triste e monótono naquela época do ano. Os enfeites, pendurados por toda a parte, subiam pelas paredes até um ponto que a visão não alcançava. Até mesmo o branco da neve que cobria as folhas das árvores parecia colorido com todo aquele ambiente. As crianças — e até mesmo os adultos —, que passavam em multidões por lá, não sabiam para onde direcionar seu olhar com toda aquela decoração, ficando distraídos por sua beleza a cada vez que dobravam uma das esquinas do mercado de Natal.

No meio de tudo aquilo, três figuras, assim como todas as outras, tentavam se movimentar, com a única diferença de terem seis seguranças vestidos de preto a sua volta. Duas menininhas, uma loira e uma ruiva — com não muito mais que 11 anos de idade —, com casacos de casimira caminhavam coladas a um homem grande, com a aparência imponente. Não era difícil, como um verdadeiro germânico, não perceber quem eles eram. Sendo assim, a medida que avançavam pelas diversas barracas douradas, mais e mais pessoas os reconheciam. Os comerciantes vestidos com roupas medievais gritavam mais alto, anunciando seus produtos. Pessoas comuns tentavam se aproximar para pedir a benção real, sendo respondidos apenas por aceno de cabeça por parte do mais velho.

Esse era o preço de tentar visitar locais comuns sendo um nobre. Nunca era possível ficar tranquilo, sem ser assediado por ninguém. Elisabeth, porém, já estava acostumada com isso. Desde os 6 anos, quando se mudara para Viena, ela aparecia no local com seu tio. Era algo que, mesmo com toda a confusão que causava, trazia um sorriso ao rosto sempre tão abatido da garotinha órfã. Fazia-a lembrar de quando ainda vivia na pequena cidade de Erbach an der Donau com seus pais, já que eles amavam o mercado de Natal, o qual era, obviamente, muito menor e menos pomposo que o da capital. Logo, assim que se mudou, ela tentou de tudo para convencer seu tio a comparecer, pelo menos uma vez, ao evento.

O Rei, que sempre era visto como uma figura rígida e sem sentimentos, aceitou, deixando toda a corte espantada. A menininha, na época, pensou que a resposta positiva do homem mais importante do país se dera por conta do seu grande amor por ela. Isso, porém, não era verdade. O soberano apenas uniu o útil ao agradável, aproveitando para fazer alguns serviços sociais e garantir que seu povo não perdesse a confiança nele. E era por isso, que, naquele ano específico, ele e as duas se aproximavam de um pequeno palco todo decorado, sendo recepcionados por uma freira, com os cabelos grisalhos envolvendo seu rosto sorridente.

— É um prazer tê-lo aqui, Majestade — disse ela, se curvando em uma reverência. — Nossa instituição fica muito feliz com sua presença. As crianças estão muito animadas.

— É sempre bom apreciar o seu trabalho — respondeu Luther, apertando a mão dela.

Ela, sem desfazer a expressão alegre, então, os guiou até a frente do palco. No caminho, andando sobre um tapete vermelho que costeava as fileiras de cadeiras, as dezenas de pessoas que ali estavam para assistir ao espetáculo também levantaram — protocolo sempre seguido na presença do Chefe de Estado. Elisabeth, mesmo sabendo que não era nada para ela, sorria para todos, por vezes até abanando, diferente de sua prima e tio, que permaneciam sérios. Diferente deles, a pequena loira não crescera no meio Real, e nunca conseguia se acostumar com aquilo, principalmente com o fato de não precisar agradecer pela gentileza e cordialidade dos plebeus.

No fim do corredor improvisado, havia duas freiras e uma pequena menina morena, vestida com as mesmas roupas que os comerciantes e segurando flores vermelhas típicas de Natal. Ela parecia lisonjeada por ter de desempenhar um trabalho tão importante, pois não tirava os olhos das três figuras que se aproximavam dela, segurando o buquê com muita força.

— Esse é um presente para Sua Alteza — disse a menina assim que os nobres ficaram cara a cara com ela, virada para Elisabeth e entregando as flores para a mesma.

Lisa sorriu sem deixar, porém, de ficar apreensiva. De canto de olho, observou a reação da prima logo ao lado. Sua face estava quase da mesma cor que seus cabelos e que a decoração do local. Helga sempre fora muito obsessiva no que se tratava de seu título, muitas vezes até humilhando a colega de casa mais nova porque a mesma não possuía nenhum. Mas aquele não era um acontecimento inédito. O fato era que a loira ia muito mais para fora dos muros do grande Palácio, vivia mais nas ruas, pois frequentava uma escola na cidade, fazia partes de grupos e muito mais. O povo só tinha o luxo de ver a Herdeira ao Trono no Natal, na Páscoa e no Dia da Germânia, quando tinha serviços oficiais.

— Na verdade — disse a nobre, fazendo com que a menininha plebeia se virasse para ela, assustada, provavelmente por conta da expressão furiosa que a maior portava — eu sou a Princesa. Não é de bom tom confundir.

— Foi um engano, Helga — disse o Rei, sem sorrisos, colocando a mão no ombro da filha. — Entregue as flores para ela, Elisabeth. Assim tudo estará resolvido.

Sem palavras, a outra entregou o buquê para a ruiva. Ela não gostaria de se estressar com a prima logo em seu dia favorito do ano. Em todas as outras datas e ocasiões, ela não se importava, pois sabia o quão difícil era o temperamento da garota. Elas brigavam muito, quase o tempo todo, pelos motivos mais bestas, pois Helga sentia que Elisabeth roubara seu lugar no coração de Luther. Tendo feito isso ou não, o Natal continuava sendo sagrado para a mais nova. Era o momento, quando seus pais ainda estavam vivos, que ela podia aproveitar com a família, sentir o amor de perto. E, desde que chegara na capital, tentava manter isso a todo custo.

Por isso, ela nem prestou atenção nos movimentos seguintes da outra garota, apenas seguiu seu caminho e se sentou ao lado do tio na primeira fileira de cadeiras. O palco estava tão decorado quanto o resto da feira. Luzes de todas as cores iluminando tudo. Enfeites das mais diversas formas pendurados nas cortinas e nas paredes. Elisabeth se sentia totalmente envolvida pelo espírito natalino ali. Seus olhinhos azuis, porém, brilharam ainda mais quando as músicas começaram, cantadas por um coral formado apenas de pequenos meninos e meninas, com melodias suaves que faziam qualquer um viajar por seus sonhos infantis.

A história que contavam, mesmo já sendo muito conhecida pela garota de 11 anos, ainda a fazia ficar fascinada. Ainda mais quando interpretado de forma tão pura pelas crianças da comunidade. Cada cena, cada movimento que Lisa pensava conhecer tão bem se tornava diferente. Mas não um diferente que arruinava a história, muito pelo contrário, a tornava ainda mais rica. Era uma maneira distinta de ver os acontecimentos, na visão de alguém que conhecia pouco da vida, assim como Jesus quando chegara ao mundo naquela mesma data milhares de anos antes. Era a fé cristã que se mantinha viva, era o amor que Deus depositara naquele menino que enviou à Terra que passava de geração em geração. E, por isso, os olhos da garota não conseguiam desviar, em nem um momento, do palco, fazendo com que ela apreciasse cada instante.

No final da peça, não foram precisos nem três acordes de Stille Nacht para que Elisabeth ficasse emocionada. A pequena Maria, o pequeno José e o boneco que representava Jesus estavam todos juntos, finalmente como uma família. As vozes suaves das crianças cantoras embalavam o momento, que era, com certeza, o mais significante para a menina Manteuffel. Ela sentia muito a falta dos pais, que davam a amor a ela assim como Maria e José davam a Jesus. Ella tinha saudades do Natal com eles, com a tranquilidade em Erbach. Sentia falta de ouvir aquela mesma história no frio Palácio de Dellmensingen na frente da lareira, abraçada a seu pai, que lia as palavras de forma doce, fazendo-a adormecer aos poucos. Ela, então, apoiou a cabeça no ombro do tio, que a envolveu com seu grande braço. Calmamente e quase que no ritmo da música, ela fechou os olhos, sendo envolvida por toda a paz que aquela data especial trazia. Ela poderia não ter mais sua família, mas ali, pelo menos, conseguia se sentir segura.

***

Queridos primos e tia Juliane,

Hoje é véspera de Natal e, como sempre, estou muito animada. Como vocês sabem, essa é a melhor data do ano para mim! Eu adoro todos os pratos que servem na grande ceia, como o Beigli e o Barszcz. É delicioso! Além de comer, também tenho a oportunidade de ver vários parentes. Meus outros primos são muito divertidos! Menos Helga, ela me irrita! Acho que ela tem inveja de mim, só não entendo o porquê.

Enfim, não começar a reclamar, porque logo tenho que sair do quarto para ir à Sala de Jantar e, depois disso, não terei mais tempo. Vocês sabem, sempre chego muito cansada da missa natalina à meia-noite. Só queria enviar essa pequena carta para desejar um ótimo e abençoado Natal! Que vocês se divirtam muito! Espero que ano que vem vocês finalmente possam passar essa data que tanto amo aqui em Viena.

Abraços,

Elisabeth

 

A menina de onze anos se sentava em frente à escrivaninha de seu quarto, muito concentrada ao escrever cartas a sua extensa família — por conta do grande número de irmãs de sua falecida mãe. Seus pés, envoltos por um pelo sapato dourado e por uma meia-calça branca grossa balançavam, a um fio de encostar no chão. A cada palavra delicadamente desenhada por suas mãos no papel, ela tirava um tempo para pensar. Suas mensagens nunca eram longas, mas, com certeza, eram de coração. O Natal, para ela era uma época sagrada, a qual deveria unir até mesmo seus parentes afastados por desentendimentos do passado. Tudo que escrevia ia para as mais diversas partes do mundo, onde aquela data era celebrada de maneiras totalmente diferentes e que, mesmo assim, eram iguais aos olhos ainda infantis da pequena loira.

Nos três anos que cuidara da menina — e, coincidentemente, três épocas natalinas —, Anna já sabia de cor seu discurso. Palavras de paz e de afeto que eram repetidas anualmente, sempre no dia 24 de dezembro, quando ela se vestia com o melhor de seus vestidos brancos. Era de cortar o coração ver alguém com quem a vida fora tão cruel tendo tanta esperança. Mas ela não conseguia não apoiá-la, não conseguia ignorar cada música festiva que ela cantava com alegria em todo o Advento e, principalmente, não era capaz de deixar um ser tão puro e amável ser corrompido pelo ambiente em que vivia no momento.

— Lisa, venha aqui, minha querida — chamou ela, sentando-se na grande cama e batendo no espaço ao seu lado para que a menina fizesse o mesmo.

Sem precisar ser mandada duas vezes, o vestido branco com dourado se moveu pelo quarto, saltitante. A trança que prendia seus belos e longos cabelos loiros balançava pelo ar, fazendo com que alguns fios se soltassem. O sorriso em seu rosto era o de sempre, animado com as festas e sem rancor, algo que provavelmente não existiria em alguns anos.

— Sinto muito por estar contando isso a você no seu dia favorito do ano, mas é necessário — a mais velha suspirou, passando as mãos pela cabeça da pequena a fim de arrumar seu penteado. — Infelizmente, tenho que voltar à França, pois minha família de mim. Eu poderia volta depois que todos os problemas forem resolvidos, porém sei que você está mais que pronta para viver sem mim.

— Já tenho 11 anos, sou crescida o suficiente — ela sorriu, mas logo fechou a cara, percebendo que o assunto era sério e pensando um pouco.— Você realmente precisa ir?

— Preciso — Anna envolveu as duas mãos da criança em uma sua. — Mas se você precisar de mim, se seu tio fizer algo ruim, se qualquer coisa acontecer…

— O tio Luther me adora, ele nunca faria nenhum mal a mim, pode ter certeza — ela riu, encostando a cabeça na da mais velha, os fios loiros se misturando com os castanhos claros em perfeita harmonia, e continuou sussurrando. — Nem a chata da Helga me irrita quando ele está por perto.

— Um dia você vai entender, chérie. Só continue sendo essa menina esperta que é, não deixe que ninguém a corrompa — ela pegou um papel do bolso. — Esse é meu endereço, não mostre a ninguém, o guarde muito bem. Você saberá a hora de usá-lo.

3, Rue des Girondins, Saint-Émilion, Nouvelle-Aquitaine, França. Era o que dizia o papel que Elisabeth tinha em mãos e que segurava com muito cuidado. Ela encarou os escritos por alguns momentos, tentando decifrar algo escondido neles — coisa que sua babá adorava fazer. Mas não havia nada, era simplesmente um endereço. Ao perceber isso, ela abraçou a mais velha com força, ainda sentada.

— Mais uma coisa antes de você ir, pois sei que a senhorita estará praticamente dormindo quando voltar dos eventos de hoje à noite — disse Anna, afastando os braços finos da garota e tirando um colar prateado com um grande pingente retangular do bolso de seu uniforme. — É um presente de Natal, nada luxuoso como o do seu tio, mas é de coração.

A menininha, percebendo o propósito do grande pingente, o abriu, assim revelando três fotos, uma em cada parte do quadrado. A primeira era de seus pais ainda jovens, provavelmente logo depois de seu casamento. A segunda, era do irmão de Elisabeth, Andreas — o qual sofria de um problema de desenvolvimento mental —, ainda bem pequeno, olha do para o nada. A terceira era de uma família de sete pessoas, dois adultos e cinco crianças que sorriam para a câmera; sua família dinamarquesa, que sempre a acolhia tão bem. Ao ver aquilo, lágrimas se formaram em seus olhos, sendo logo secadas pela mais velha. Seus dedinhos passaram por cada imagem com carinho, como se, assim, ela pudesse acariciar cada pessoa ali representada.

— Isso serve para você lembrar da família fora desse Palácio, e dentro no caso do seu irmãozinho, que você ama e que a ama também, pessoas por quem sempre vale a pena lutar. — Elisabeth olhou para a criada. — Nunca se esqueça disso. Entendeu?

Ela fez que sim com a cabeça, mas ainda com os olhos fixos nos dois objetos que tinha em suas mãos.

— E, para ter você também nisso, posso colocar seu endereço atrás de uma das fotos — depois de ficar um longo tempo pensando, ela disse, retirando a foto dos escandinavos e colocando o papel ali.

— Ótima ideia, Lisa — a morena deu um beijo na bochecha da outra, depois colocando o colar em seu pescoço, tomando cuidado para que ele ficasse totalmente dentro do vestido, para que o Rei e os outros membros da família não o vissem. — Agora vá, a não ser que queira perder o tão precioso amor do seu tio.

A germânica deu um abraço apertado na babá, que colou a cabeça aos cabelos da menina, sentindo seu cheiro tão característico. As mãos finas e pequenas passaram pelas costas da francesa com muito carinho. E, por fim, ela disse no ouvido da maior:

— É o melhor presente de Natal de todos — ela se afastou e sorriu para Anna. — Obrigada.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Espero que sim. Muitos problemas que devem ser resolvidos nos tempos atuais da fanfic estão aí, como Helga e Luther (e até mesmo Elisabeth) (e a babá francesa, ela lembra alguém?), mas eu não vou falar deles agora. Vvou deixar vocês apenas com todo o espírito natalino que nossa querida Lisa tem.
Feliz Natal!
Esse provavelmente será o último capítulo de 2016, então já aproveito para desejar também um feliz Ano-Novo! E até 2017!



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