Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 40
Enquanto isso no Império Soviético | Lara


Notas iniciais do capítulo

Oioi, gente!! Hoje é quinta, hoje é dia de RDC! Vamos aplaudir porque hoje é realmente quinta e eu estou postando!! [mãozinhas batendo palma]
Bom, esse foi o maior capítulo que já escrevi sozinha (porque uma vez isso aconteceu, mas era uma fic em parceria) na minha vida. Aproximadamente 3.500 palavras! A Lara realmente tem muita história para contar...
Isso mesmo: a Lara. A "amiga" do Henrik!
O que será que está acontecendo no distante e frio Império Soviético?
PS: Não escrevi muito nas notas porque minha cota de palavras foi gasta com o capítulo. hahaha (deve ter sido por causa do block do Whats hoje, haha, mentira, não sou tão viciada)
Espero que gostem!
xoxo ACE



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As paredes do majestoso Palácio de Amalienborg pareciam se estender eternamente para a garotinha de seis anos recém-completos. Para ela, era como estar envolta por um conto de fadas — mesmo que já conhecesse bem todos os luxos da realeza. Seus olhinhos azuis observavam todo o local com atenção, desde as belas tapeçarias em tons de vermelho que se estendiam pelo chão do Salão de Entrada até as grandes janelas, que faziam com que o ambiente, planejado para ser escuro, fosse iluminado pelo sol.

Aquele lugar era tão diferente das residências reais do Império Soviético, onde tudo era frio, impessoal. Ali, apesar do clima igualmente quase glaciar de fevereiro, havia uma sensação de calor, que tinha o poder de envolver qualquer um. A pequena menina sentia, de maneira que não conseguia explicar, como se estivesse em seu lar, mesmo estando a 2.256,3 km de sua efetiva casa.

— Apresento Vossas Majestades Imperiais o Imperador Yuri e a Imperatriz Sasha do Império Soviético e Vossas Altezas Imperiais as Princesas Victoria e Lara do Império Soviético — anunciou um guarda do Palácio, logo depois de tocar sua irritante corneta, que fez com que todos os outros fizessem posição de sentido.

Os dois soberanos soviéticos tomavam a frente da pequena fila formada por sua família. A Imperatriz, bela como sempre, arrastava seu mais novo casaco de pele, que se encontrava aberto para exibir sua gravidez há pouco descoberta. Seus cabelos louro-avermelhados desciam por suas costas com ondas, estando decorado por belas flores. Suas mãos delicadas se entrelaçavam às do marido, que olhava fixamente para frente.

Logo atrás, vinha a garotinha maravilhada, que não conseguia se manter centrada como o pai. Ela olhava para todos os lados, sob o olhar repreensivo de Victoria, a irmã maior de oito anos — mas que se considerava muito mais velha que isso, por ser a herdeira. As duas na andavam de mãos dadas, relutantes, vestidas com casacos verdes idênticos. Era sempre assim, uma convivência forçada que causava discórdias.

— Você não consegue ficar quieta, garota? — questionou a mais velha, com a voz baixa, porém ainda com a irritação presente. — Não sei como somos irmãs.

Antes de a pequena ter a oportunidade de retrucar e começar uma briga, porém, a família chegou ao fim do salão, onde seis figuras os esperavam. Um homem, uma mulher grávida, meninas gêmeas e dois garotinhos, um dos quais aparentemente com a mesma idade que Lara. Era a Família Real Dinamarquesa.

— É um prazer tê-los aqui — disse o homem, provavelmente o Rei, aproximando-se dos convidados. — Espero que sua visita seja proveitosa.

— Tenho certeza que será — respondeu o líder soviético, sorrindo para o colega enquanto apertava sua mão. —Vir à Dinamarca depois de tanto tempo é muito de nosso agrado.

O outro sorriu, começando uma conversa animada, porém digna de reis, sobre assuntos políticos que Lara pouco entendia. A Rainha dinamarquesa logo se aproximou dos recém-chegados, deixando os quatro filhos para trás. Logo, um diálogo em francês se instalava entre as duas soberanas, provavelmente falando sobre os filhos que estavam a caminho. A pequena princesa nem se deu o trabalho de entender a conversa, apenas o que fez foi continuar observando, curiosa, o local.

— E essa aqui é Lara, que acabou de completar seis anos — falou a mãe, apontando para a filha mais nova. — Conversamos sobre ela previamente, recorda?

— Claro que sim — confirmou a outra, sorrindo. — Venha aqui, querida. Henrik também.

Ao mesmo tempo, as duas crianças com aproximadamente a mesma idade deram alguns passos até onde as mães se encontravam, ambos não entendendo o motivo. Quase que inconscientemente, ela encarou o garotinho, observando suas características físicas. Ele possuía cabelos castanhos levemente ondulados, olhos castanhos expressivos, porém um tanto tristes demais para alguém de sua idade, e um sorriso contido. Ao parar ao seu lado, a princesa pôde perceber que ele também era alto, passando sua cabeça em quase dois palmos. Sem dúvidas, muitos podiam dizer que ele quebraria corações em tempos futuros.

— Lara, esse é Henrik, ele também tem seis anos — disse a mãe do garoto em francês, passando a mão pelos cabelos dele. — Og det er Lara fra det Sovjetiske Imperium. *¹

— Prazer em conhecê-la — falou ele, em inglês, estendendo a mão para princesa com timidez.

A soviética apenas sorriu para ele, não sabendo o que dizer em seu limitado vocabulário na língua inglesa. Em qualquer outra situação entre crianças, os dois correriam pelos vastos corredores que se prologavam até o infinito depois das portas de carvalho em suas costas, como se fossem melhores amigos. Mas, mesmo com a pouca idade eles sabiam que um Palácio não era uma escola. Ali, eles tinham de fingir idades que não tinham, tinham de fazer jus a seus importantes títulos.

— Filho, quem sabe você não leva Lara para dar uma volta? — sugeriu a Rainha, na língua que ambos jovens nobres entendiam — Ela pareceu bastante interessada.

Sem dizer mais nada, o garotinho entrelaçou os pequenos e magros dedos aos da garotinha com muita naturalidade. Dando um sorriso tímido para as duas mães, ele saiu andando, em direção às partes mais secretas do palácio. Passaram por belas obras de arte que, em alguns anos, o tempo apagara. Um aspecto daquela tarde, porém, nem um século poderia apagar: os primeiros momentos com seu melhor amigo.

— Lara? Lara? — chamou uma voz distante. — Está me ouvindo?

A princesa sentiu seu corpo sendo chacoalhada violentamente, trazendo-a de volta para a realidade. Ela não estava no Palácio de Amalienborg; estava no grande refeitório verde e cinza do colégio. Os olhos que a encaravam não eram os castanhos de Henrik, e sim os grandes azuis de Ivanna, que eram acompanhados por uma face pálida cheia de sardas e por um sorriso malicioso.

— É oficial, ela está apaixonada — concluiu a garota, afastando-se da loira e olhando para as outras garotas da mesa. — Nunca pensei que fosse dizer isso.

— Não estou não! — retrucou ela, batendo de leve no braço da amiga. — Vocês que estão inventando coisas.

Todas as garotas da mesa riram, sabendo da mentira da amiga. Há dias ela falava sobre aquele príncipe dinamarquês — ela sempre falava, na verdade, mas nos últimos tempos os comentários sobre ele estavam mais frequentes. Ela já contara todas as vezes que o encontrara, geralmente em encontros diplomáticos entre as famílias, quando a presença dele era sua única alegria. Já recitara suas cartas — quase semanais — mil vezes. Carregava a foto dele em seu bolso, junto à da sua família... Se não estivesse apaixonada por ele, o mundo do amor não faria sentido.

— Eu acho que você deveria conversar com seu pai sobre a festa — sugeriu outra garota, Olga, que se sentava do outro lado da mesa. — Afinal, se você não contar, nunca terá a chance de ganhar um ‘sim’.

As outras cinco meninas concordaram, balançando as cabeças firme e positivamente em direção à Lara. Porém a princesa não tinha tanta certeza assim. Seus dedos finos se enroscavam à casimira preta de sua saia de uniforme, e seus olhos corriam de maneira nervosa pelo refeitório, onde várias meninas vestidas de forma semelhante conversavam e sorriam. Naquele momento, ela queria apenas poder trocar de lugar com uma delas, com uma plebeia. Se fosse assim, poderia ir e vir pelos países sem nenhuma barreira diplomática... E o mais importante, sem a inflexibilidade do imperador sobre ela.

— Ele nunca irá ceder — disse ela, jogando a cabeça para trás. — Ainda mais com a guerra, é muito perigoso para nós.... Corremos o risco de perdermos o soberano e sua herdeira.

— Que deixem Victoria em casa, então! — exclamou Marie, sacudindo sua grande cabeleira avermelhada. — Você é uma princesa, pode tudo! Esse é seu conto de fadas. Em algum filme você já viu a mocinha desistir de seu amor?

— Henrik não é meu amor, é só meu amigo! — insistiu ela, escondendo o rosto entre as mãos e os cabelos dourados. — E, mesmo se fosse, nossa história não seria um conto de fadas. A vida real é cheia de intrigas, cheia de problemas.

Por um momento, o grupo de adolescentes ficou em silêncio, apenas ouvindo a fala das mesas ao lado. As amigas plebeias queriam auxiliar, porém simplesmente não tinham ideia de como fazer isso. Lara não as julgava, pois sabia que seu mundo era muito diferente do delas. Elas com certeza a ajudariam se ela estivesse apaixonada por alguém da escola de garotos ao lado, um romance comum para as garotas daquela instituição. Mas o mundo nunca facilitava as coisas.

Quebrando o silêncio, então, Ivanna se levantou, indo em direção à nobre, se ajoelhando na frente dela, envolvendo uma de suas mãos com as sardentas dela. Seus olhos azuis como diamante brilhavam de afeto.

— Quando chegar em casa hoje, você irá direto ao escritório do seu pai e explicará toda a situação — mandou ela, olhando fixamente para a amiga — Se ele disser não, sinto muito, mas, se ele disser sim, você irá para a Dinamarca, o que não vai acontecer se você não perguntar. Não tenha medo. Entendido?

Lara fez que sim com a cabeça.

— Agora vamos. Não quero ver a treinadora zangada por causa de mais um atraso nosso — disse a morena, levantando-se, puxando a princesa junto.

As 7 meninas, por fim, saíram do refeitório de braços dados. Suas saias pretas até o joelho praticamente se fundiam, de tão próximas que estavam, assim como os blusões verdes de lã. Seus sapatinhos de boneca negros faziam barulhos suaves no piso laminado. Os rabos de cavalo dos mais diferentes tons balançavam em suas costas, com exceção dos cabelos rebeldes de Marie, que balançavam soltos.

Elas eram as meninas esportivas que estavam sempre unidas, que se apoiavam e davam conselhos umas às outras. E Lara, sem dúvidas, tinha muita sorte por tê-las ao seu lado.

***

Às cinco horas e quinze minutos, quando o sol começava a se preparar para descer, o sino da Escola Internacional para Garotas tocou, anunciando o final das extraclasses do turno da tarde. Logo após o fim do estridente som, as grandes portas de metal do prédio foram abertas, revelando um mar de blusões verdes, que se moviam em sincronia.

Logo atrás do grande amontoado de alunas, estava um pequeno grupo, com aproximadamente vinte pessoas. Essas, diferentemente das outras, não estavam arrumadas. Suas regatas brancas, como sempre, perderam suas cores naturais, tornando-se uma mistura suja de marrom e cinza. Seus cabelos, antes tão arrumados, se banhavam de suor. Isso porque o padrão rígido da instituição não importava depois de um intenso treino.

Do meio delas saiu a menina loira, despedindo-se e usando suas últimas energias para correr com a mochila preta pendurada desleixadamente nas costas em direção no caminho contrário de suas amigas. Diferentemente das demais, ela não saia pelos imponentes portões da frente, andando até suas casas. Ela ia ao estacionamento, onde um luxuoso carro preto a esperava.

Como sempre, sua irmã mais nova, Natasha, já está lá, com os cabelos loiros característicos da família, caindo em perfeitas ondas por suas costas. Ela deu um sorriso tímido para a mais velha quando a mesma se sentou ao seu lado, fazendo com que o suor de suas pernas grudasse no banco de couro. As duas, porém, não tiveram nenhuma outra interação depois daquilo, fazendo com que Lara apenas encarasse a janela, de onde era possível ver o se rotineiro caminho por Moscou.

As ruas, já iluminadas pelas cores alaranjadas do pôr-do-sol, estavam cheias de carros coloridos. As calçadas cinzas estavam cobertas por pessoas encasacadas e por folhas que caíam das árvores dos inúmeros parques da cidade. No horizonte, belos prédios da época dos Grandes Czares eram vistos, com suas cúpulas douradas, pontas avermelhadas e formas estranhas. A arquitetura desses locais, na opinião de Lara, a maior maravilha da antiga Rússia. E ela inclusive, morava em uma delas. O majestoso Grande Palácio de Kremlin, que começava a mostrar suas belezas em sua vista.

A partir da Ponte Bolshoy Kamenny se alcançava uma vista representativa da residência real, dentro do conjunto do arquitetônico do Kremlin. Visto do exterior, o que mais chamava a atenção era sua coloração azul-esverdeadas, branca e dourada, que brilhava com a luz do sol. Duas filas sobrepostas de janelas arqueadas terminavam a suntuosidade do local, refletindo todas as luzes que ali batiam, tornando todo o visual mais mágico.

Assim que o carro estacionou na frente dos grandes portões dourados, Lara abriu a porta e saiu correndo, não se importando com as costumeiras formalidades. Sua corrida era tão rápida que chegou a confundir os guardas, que prestaram uma continência apressada e malfeita para a garota, já que estavam habituados com uma caminhada lenta do pátio até as grandes portas. Mas ela não se importava. Seu único objetivo era percorrer os imensos corredores de ouro até o local de trabalho do Imperador.

E esse era um longo caminho, que a fazia virar várias esquinas, subir alguns lances de escadas e abrir diversas portas. Como estava correndo, já na metade do caminho a sensação era que seus pulmões entrariam em colapso. A transição do mármore das salas comuns parecia nunca mudar para a madeira das privativas.... Por que o Palácio tinha de ser tão grande?

Finalmente, então, ela chegou em frente à porta envidraçada do pai. Dali, ela já conseguia ver a sombra do Imperador. Sua mão se moveu diretamente para a maçaneta, mas antes de girá-la, ela ouviu algo que a fez parar.

— Sasha, isso é muito arriscado — disse a voz do pai em um tom preocupado. — Pense em todos os aliados que iremos perder!

— É claro que eu penso nisso, Yuri. Entretanto não temos outra opção. O povo já está percebendo! Algumas de nossas províncias tiveram de se render à Turquia como subordinados para garantir alimentos — respondeu a voz da mãe da mesma maneira — Logo teremos, além de uma Guerra Mundial, uma guerra civil!

— Estou ciente disso — afirmou ele, suspirando.

— Nossas produções não são suficientes para alimentar todo um país — alegou ela. — Não somos nada sem o abastecimento da Germânia.

— Odeio ser tão vulnerável. Odeio me render àqueles germânicos mais uma vez. Você sabe o que aconteceu da última vez... — disse ele, diminuindo o volume da voz, pois, provavelmente, se jogara na poltrona. — Perdemos todos os territórios da Sibéria...

— Territórios que só nos trariam problemas agora — falou a mulher, com a determinação que Lara jamais teria. — Se terras são tão importantes assim para você, temos que nos aliar à Germânia, porque, ao contrário, perderemos ainda mais.

— Não podemos esquecer que ainda há a Grécia e seus aliados. Temos, sim, outras opções.

— A Grécia está mais perdida que nós. Ainda mais com aquele Rei incompetente...

— Mas não podemos negar que ele tem bons contatos, ligações de família. Dinamarca, Reino Ibérico e Reino Unido, sem dúvidas, juntarão suas forças com ele.

— O problema é a nossa relação com eles.... Principalmente com os escandinavos. Cortamos muitas relações com eles... Ainda mais depois do cancelamento do futuro casamento de Lara com o filho deles.

Ao ouvir seu nome, Lara se moveu, tentando achar uma posição mais adequada para ouvir a conversa. Com seu azar e com sua falta de habilidade no contorcionismo que era bisbilhotar sem ser vista, ela acabou indo para muito perto da porta. Ela verificou se nenhuma parte do seu corpo poderia ser vista através dos vidros e tudo estava certo. Até esse momento tudo bem.

Tentando achar uma posição confortável, ela mexia seus pés — que estavam em tênis especiais para gramado. O que não foi uma boa ideia. Com o movimento, ela acabou prendendo a sola do sapato em alguma fresta do chão antigo, escorregando. Como estava muito próxima da porta, bateu com a cabeça nela, ocasionando um barulho que se espalhou por todo o corredor.

De dentro da sala, ela ouviu os passos apressados dos pais, que logo abriram a porta, se deparando com a filha do meio no chão. A menina, então, se levantou, encarando os adultos, sem graça. A Imperatriz, com seu vestido azul-claro, lembrava um anjo para qualquer um que a olhasse, porém, naquele momento, tinha uma expressão tão séria que parecia prestes a matar alguém. Já o Imperador — que era severo por natureza — mantinha um olhar assustador na menina, muito zangado.

— Lara, você estava... — começou ele.

— Eu tenho uma solução para isso! — interrompeu ela, tirando a carta do bolso da frente de sua mochila.

***

As paredes folheadas a ouro brilhavam sob a luz dos grandes — e caríssimos — lustres de cristal. O teto em duas grandes cúpulas, igualmente douradas, exibia delicados desenhos, que foram feitos à mão no período da construção do palácio. A riqueza do salão se estendia até o chão, onde se encontrava uma decoração em mármore, que hipnotizava todos que olhavam, por causa de suas cores em contraste. Em cima disso estava uma longa mesa de cedro com aproximadamente trinta lugares, em volta da qual cinco figuras se sentavam, envoltos por fina prataria.

Para quem conhecia o Palácio em tempos de festa, aquela cena era um tanto deprimente. Geralmente, o Salão de Jantar era envolvida pelas mais diversas vozes e por vestidos coloridos e medalhas brilhantes. Nos últimos tempos, entretanto, tudo aquilo não acontecia mais. Apenas a Família Imperial se sentava em silêncio e o único som ouvido era o do metal dos talheres batendo na cerâmica dos pratos.

Mas uma característica dos tempos de alegria não era perdida nunca: a qualidade da comida servida. Mesmo em uma refeição familiar como aquela — que era o que mais acontecia nos últimos tempos — os cozinheiros tratavam de caprichar. Cada prato que serviam, sendo entrada, prato principal ou sobremesa, era feito com maestria e os que tinham o privilégio de provar se deleitavam.

Menos Lara.

A princesa não conseguia se focar apenas no ato de comer. Seus olhos azuis percorriam a mesa, alternado seu foco entre o pai — que se sentava à ponta da mesa — e Natasha. Estava muito inquieta para fazer como os demais e apenas encarar as obras de arte que lhe eram servidas. Nem mesmo os olhares repreensivos de Victoria — a única que percebera algo de diferente na irmã — a faziam se acalmar. Isso tudo por causa da notícia que estava prestes a receber, sendo ela boa ou ruim.

Depois de lerem a carta, os pais ficaram de pensar e mandaram a filha para o quarto para tomar banho. A promessa era que o “sim” ou o “não” viria no jantar. A menina mal conseguiu se concentrar nas perguntas de suas criadas sobre seu dia, sua cabeça estava presa na esperança. Diferente dos demais dias, naquele ela estava ansiosa para descer as escadarias e participar do jantar monótono da família. O casal imperial, porém, decidiu prolongar sua espera.

O tão esperado ponto alto da noite só veio quando a sobremesa foi servida...

— Lara, minha filha, pensamos muito na proposta de Henrik. Como você bem sabe, não estamos em um momento de paz com a Dinamarca. Mas, depois de muita discussão, decidimos que este é um momento perfeito para acabar com as rivalidades, enquanto ainda há tempo de fazer isso com benefícios para nosso país — disse o Imperador, olhando apenas para a garota de 14 anos, mas depois levantando seus olhos para as outras mulheres do recinto. — Por isso, eu, Lara e Natasha estaremos saindo do país em dois dias.

Percebendo que seu nome não fora citado pelo pai, Victoria arregalou os olhos. Provavelmente, pensando no porquê de duas pirralhas poderem viajar e ela não. Afinal ela, como filha mais velha, supostamente deveria estar incluída em todos os eventos diplomáticos. Fazia muito tempo que seus cabelos loiros lisos — muito lisos — não eram vistos na comitiva imperial. Não era daquela vez que ela espalharia sua doçura e simpatia sem limites pelo mundo, o que tornava a viagem ainda melhor.

— Você é a herdeira, Vicky. Se levarmos você e seu pai para essa viagem, corremos o risco de perder os dois. E isso não pode acontecer — explicou a mãe, afagando a mão da filha — Eu vou ficar para controlar tudo, pois não se pode confiar em ninguém, ainda mais em tempos de guerra.

Mas Lara não se importava em quem confiar. Sua mente estava tomada de felicidade, pensando que estaria em Copenhague em poucos dias. Em qualquer outra ocasião, teria pulado na mesa e dançado, mas naquela não podia. Ainda mais nas frentes dos críticos pais.

Ela deveria guardar sua alegria só para si o que, por um lado, era até bom.

***

O ambiente do lado de fora do Palácio estava totalmente escuro, assim como todos os quartos. A janela de um, porém, brilhava. Dentro dele, uma garota estava deitada na cama, envolta por travesseiros de pluma roxa e inúmeros papeis e livros. Seus cabelos loiros se esparramavam pelos lençóis, formando uma auréola em volta do rosto delicado. Em suas mãos um aparelho telefônico preto, que ela encarava com seus belos olhos azuis.

Era a primeira vez em meses que tocava naquelas teclas macias com números. Odiava sua voz nas chamadas, ficava toda metálica e estranha. Mas, se enviasse uma carta, o que geralmente fazia, corria o risco de ela não chegar a tempo. Logo, a ligação era a única alternativa.

O som do começo da chamada — em um apito irritante— se propagou em seus ouvidos.

— Amalienborg Slot, bopæl af Schiønning familien *² — anunciou uma voz feminina, deixando Lara sem entender nada.

— Olá, aqui é a Princesa Lara do Império Soviético — respondeu a menina, um tanto insegura em inglês. — Eu gostaria de falar com o Príncipe Henrik.

*¹ E essa é Lara do Império Soviético

*² Palácio de Amalienborg, residência da família Schiønning


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Não tivemos muitas tretas (e ousadia [lua do whatsapp]) como no capítulo anterior, mas tivemos a oportunidade de conhecer novos personagens! :D
Eu tenho apenas uma coisa para dizer: #Larik!!
Que nós shippemos junt@s nos comentários!
xoxo



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