Quando a mão foi posta pela primeira vez na urna, misturando freneticamente os papeis contidos ali, Juliane não aquentava mais. Desde o princípio não aprovara a ideia de oferecer seu filho primogênito, sua maior joia, para uma simples plebeia. Mesmo sabendo que era para o bem e para a sobrevivência de sua família, não conseguia aceitar.

— Scarlet Herth Mouvins, de Glostrup — anunciou a voz estridente da apresentadora do programa, ao ler o primeiro papel retirado da urna.

A partir deste momento, não teria mais volta.

Com o nome, uma foto instantaneamente surgiu na tela à frente deles, revelando a face da primeira garota. Seus cabelos eram negros e na foto, estavam soltos emoldurando seu rosto. Sua pele tinha um tom moreno, que era, aos olhos de Juliane, demasiado escuro. Os olhos eram concentrados de beleza, com sua cor de café. Tudo isso encaixado em um rosto com feições delicadas como uma boneca.

“Parece fraca, essa menina”, pensou Juliane, “espero que as outras tenham uma aparência mais condizente a de uma verdadeira Rainha”.

— Laryssa Rockwell Mercer, de Odense — a mulher tirara mais um papel sem sequer a Rainha notar, revelando o nome da segunda selecionada.

Desta vez, a figura revelada tinha longos e cacheados cabelos ruivos. A face toda era perfeita de mais: nariz delicado, lábios cor de framboesa e pele branca sem imperfeições. Mas os olhos... Os olhos chamaram a atenção de Juliane. Eles eram grandes e azuis, lindos e hipnotizantes, que fariam o filho ficar encantado, com certeza.

— Layla Sophie Foester, de Haslev.

Evidentemente, essa menina era conhecida. Juliane não conseguia lembrar como, mas tinha certeza que já a vira antes. Ela tinha um ar de elegância. Seus cabelos eram escuros e ondulados e se encaixavam perfeitamente a sua face. Acompanhados de seus lábios rosados e seus olhos azuis como o mar, formavam um rosto perfeito e belo. Para a Rainha, porém, o único aspecto que a diferia das duas outras meninas perfeitas era o fato de ser, inexplicavelmente, familiar.

— Emery Kansas, de Holstebro — a voz, que já estava irritando a nobre loira, se pronunciou mais uma vez.

A garota da vez também tinha cabelos negros, que, diferente das demais, estavam presos. Alguns fios caíam rebeldes sobre sua pele alva, cobrindo parte seus magníficos olhos verdes, que deixaram até a própria Rainha sem palavras. Pareciam duas joias expostas em uma vitrine vazia, chamando toda a atenção do local para elas.

“Cabelos negros são moda agora?”, questionou-se a Soberana. Ela, que odiava tendências, começou a ficar irritada ao perceber que todas as meninas eram parecidas. “Tem olhos estranhos... Lembram os do meu pai, quando ele estava velho...”  

“Essas meninas são muito sem graça, todas iguais”, concluiu, observando os últimos segundos da foto da menina do Nordeste do país, esperando que a mesma logo fosse trocada pela pretendente seguinte.

— Kristal O'Mally, de Copenhague.

Quando a imagem da futura competidora apareceu no telão, Juliane pôde ouvir os risinhos baixos das filhas gêmeas. Ingrid, sendo a mais discreta, escondia a risada com a mão, porém o som alto da de Isabella era evidente. A Rainha não deixaria as filhas sujarem mais a imagem da família. Ainda mais por causa de uma mera plebeia — mesmo que fosse uma famosa, o que, provavelmente era, apenas pela reação das duas princesas.

— Ingrid e Isabella,quietas — repreendeu, baixo, inclinando-se para elas com um olhar reprovador.

As duas meninas logo entristeceram as expressões, deixando Juliane observar a Selecionada com mais concentração. O que mais chamou a atenção, desta vez, foram os cabelos, que também eram escuros, porém tinham pontas loiras muito peculiares. Essa menina parecia mais forte, percebeu a rainha, ao olhar o semblante determinado de seus olhos e boca. Ao menos essa carregava uma beleza — ainda que minimamente — diferente.

— Mabelle Dumont, de Aarhus.

A primeira característica que Juliane percebeu foi a testa, onde estavam as sobrancelhas grossas e castanhas muito incomuns para alguém da idade dela, já que a maioria preferia afiná-las na juventude. Diferente das outras, que já tinham um ar adulto em suas expressões, essa garota era apenas neutra, ou até, se observada por mais tempo, meiga. Seus cabelos estavam presos em dois rabos-de-cavalo, com fitas rosa os prendendo, o que a rainha achou ridículo. Os olhos, também castanhos, brilhavam, porém o brilho não era de determinação, como Juliane gostava, era de inocência.

“Pela aparência, não serve para o cargo...”, pensou a rainha, com certo desprezo, massageando as têmporas lentamente, como se estivesse com uma forte dor de cabeça.

— Mayrelles Alice Williams, de Kolding.

A menina — a sexta delas — portava fios ondulados longos cor de caramelo com algumas mechas loiras, que naquela foto estavam presos delicadamente em uma trança um pouco solta. A Soberana analisou rapidamente os olhos amendoados da moça e percebeu a cor escura, quase negra, que se destacava na pele pálida. A menina não tinha a beleza de uma miss, mas talvez trouxesse herdeiros muito belas para a família.

“Mas ainda sim preciso de meninas menos perfeitas...”, refletiu a mulher, observando a tela se transformar novamente para a apresentação de mais uma Selecionada.