Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 22
Vinte - Matheus


Notas iniciais do capítulo

Não tenho nem palavras para expressar o quanto eu agradeço vocês pelas palavras lindas nos comentários. Sabe, eu amo tanto fazer isso. É nessas horas que vejo o porquê. Escrever TQENT é minha válvula de escape, minha fuga... Ou pelo menos começou dessa forma. Mas agora é uma das coisas mais fantásticas que já fiz. Independente de quem vocês sejam do outro lado dessa tela, eu agradeço e dou meu melhor abraço a vocês. Nunca duvidem que são incríveis, viu? Vocês SÃO. ♥

Bom, capítulo recheado de flerte (pra quem pediu hahaha) e cheio de perguntas doidas também. Sinceramente, acho que eu estava meio doida no dia que escrevi a primeira parte e isso se refletiu para os personagens hahaha

Boa leitura, gente! Espero que gostem



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D E S P E D I D A

 (s.f.  Ação de despedir; sinônimo de "conclusão" ou "acabamento"; momento antes de uma separação)

 

Uma das melhores sensações do mundo pra mim é colocar os pés descalços na areia macia. É um momento de alívio tipo foda-se o sistema  que me faz pensar e repensar sobre minhas atitudes tomadas até ali.

Dos meus lugares favoritos pra fazer isso a praia de Sonho Verde é o ideal, principalmente durante a semana quando não tem turistas e o lugar parece praticamente inabitado. Assim, depois da semana caótica que tivemos, trazer Anna pra cá foi uma das ideias mais loucas e boas que já tive.

— Ainda não acredito que você quer dançar aqui!—  Anna exclama ao se sentar na areia com os joelhos dobrados.

Ela ergue o olhar pra mim e eu sorrio para o jeito que ela toca na areia com as duas mãos, como se tivesse tocando algo inacreditavelmente novo.  Há quando tempo será que essa garota não vinha a praia?

— Por que não? - questiono, jogando a mochila ao seu lado e sentando-me com a caixa de madeira no meu colo - É até melhor, sabe? Aqui eu posso levantar você sem tanto medo de te deixar cair.

— Vai sonhando que eu vou te deixar me levantar, Stahelin.

Rio com sua fala, colocando a caixa de lado e tirando a camisa logo em seguida.  Observo com diversão o olhar de Anna passar do mar pra mim e se arregalar instantaneamente.

— O que você pensa que está fazendo?  - ela pergunta e eu sorrio para suas bochechas avermelhadas.

— Você já pode falar pro Ibi que  viu meu tanquinho agora - respondo, referindo-me há mais de um mês atrás quando tivemos nosso primeiro dia de trabalho comunitário - Foi assim que ele chamou, não foi?

— Foi, mas...

— Ah, vamos lá, Anna! A visão é muito boa, você pode até tocar se quiser. - complemento e rio do seu revirar de olhos - Aliás, eu trouxe uma coisa pra você também.

— Sua falta de modéstia é palpável,  Matheus - ela  responde irônica e se estica na areia, erguendo as sobrancelhas - Mas como assim você trouxe alguma coisa pra mim?

Abro a mochila e pego o short e a camiseta térmica que Leandra tinha colocado. Além disso, havia protetor, toalhas, água e alguns lanches caso sentíssemos fome.  Sorrio e faço uma nota mental pra me lembrar de agradecer minha prima depois.

— É da Leah - explico quando lhe entrego a roupa - Eu pensei em pedir pra ela trazer um biquíni, mas a probabilidade de você colocar ele aqui, mesmo com a praia deserta, seria mínima. Além disso, acho que não é tão higiênico.

— Realmenre não é - ela confirma e estica o short relativamente curto a sua frente - Quanto tempo Leah não usa essas roupas? Desde a puberdade?

— Provavelmente - respondo só pra ganhar um tapa no braço e rir de sua careta. - Ah, vamos lá, Branca! Amanhã as aulas recomeçam e  será um inferno aturar as fofocas da escola depois de tudo que aconteceu. Precisamos retomar as aulas de dança, sabe? Vamos receber os resultados das últimas provas em breve e, logo, tudo estará acabado.  Temos que aproveitar.

Ela franze a testa e tira o cabelo do rosto enquanto me analisa atentamente.

— Você está tão dramático hoje, sabia?

Sorrio, pois sei que ela vai aceitar e tiro a caixinha de som de dentro da mochila junto com meu celular. Anna levanta da areia e olha para os dois lados da praia deserta por um momento.

— Não vai aparecer ninguém - falo, tentando tranquilizá-la.

Ela me dá um sorriso torto e prende o cabelo novamente em um coque alto, penteado que eu havia desmanchado durante nossa viagem até aqui.

— Na verdade,  estou mais preocupada com você do que com os outros.

— Prometo que não vou olhar - digo rindo, abaixando meu olhar para a playlist de músicas na tela do celular - Confie, Branca.

Ouço  seus movimentos atrás de mim enquanto ela troca a calça jeans pelo short e a camisa preta pela térmica. Passam-se alguns minutos e eu seleciono algumas músicas até erguer as sobrancelhas para sua demora.

— Anna?

— Sabe, é uma pena. Eu nunca disse que não queria que você olhasse.

Levanto a cabeça imediatamente e giro meu corpo para ouvir sua gargalhada alta a minha frente. Meus olhos passam pelos pés descalços  (já que ela havia deixado os tênis no carro), subindo pelas suas pernas moldadas no short curto e enfim a camisa térmica de um tom azul-escuro.   Os olhos cinzentos com traços azulados se refletem mais ainda por causa do mar atrás dela e por um momento penso que seus olhos são mesmo uma parte do mar.

Ali sentado naquela areia branca penso se ela realmente não teria saído  dali. Alguma rainha, sereia ou algo semelhante.

Porra, Anna.

Você é um mistério que sempre tem mais a desvendar.

O riso dela se perde ao som das ondas e aos poucos surge apenas um sorriso sutil no canto da sua boca que me faz querer puxá-la pra mais perto de mim. Ela ergue as sobrancelhas e coloca as mãos na cintura,  fitando-me com diversão.

— O que foi, Matheus?

Mordo o lábio e sorrio para sua confusão.

— Nada, só achei você bonita - levanto-me e tiro a areia das mãos - Mas isso não é novidade, eu sempre acho isso.

Ela cora, revira os olhos e se vira para o mar. Talvez esse seja mais um fato de Anna Clara Bennet pra eu colocar na minha lista:

Ela não sabe reagir bem a elogios. E só por isso, eu sempre continuarei dizendo eles.

Aperto o play da playlist que escolhi e logo a batida leve da melodia soa ao nosso redor. Fico ao lado dela de frente pro mar e me aproximo um pouco mais para dentro da água. A maré está secando, então as ondas não estão tão grandes agora.

Viro-me e estendo a mão, vendo sua pele se arrepiar no braço  (provavelmente de frio ou de outra coisa) e seu sorriso hesitante.

—  Você está com um nadador profissional ao seu lado, Anna Clara Bennet. Não tem porquê ter medo.

Só percebo que  a hesitação do seu sorriso não tem absolutamente nada semelhante a medo quando sinto suas duas mãos empurrarem meu peito para água ao dizer:

— Ninguém está com medo aqui, Stahelin.

Caio na água e mergulho, mesmo não estando em uma parte com profundidade boa pra isso. Na realidade, acabo caindo com tudo com as costas e o traseiro no chão, soltando um palavrão mentalmente no processo.

Espertinha.

— Ah, mas você vai pagar por isso! - falo rindo enquanto tiro a água do olho e a puxo pra dentro do mar junto comigo. Ela solta um grito e ri antes de eu segurar suas pernas e jogar seu corpo para dentro d'água.

— Meu Deus, Matheus! - ela cospe água e sorri ao se afastar de mim, nadando. - Não íamos dançar?

Sorrio também enquanto tento me aproximar,  mas ela se afasta pro lado.

— Íamos,  senhorita. Se você não tivesse me jogado na água.

Ela se levanta e caminha pra trás, fazendo-me notar o modo como a camisa térmica grudou em seu corpo e delineou a marca do sutiã que ela estava usando por baixo. A verdade era que eu nunca fui nenhum santo e aos poucos, mesmo tentando não querer, meus olhos deslizam por todas as curvas que a roupa justa conseguia marcar. Deus do céu.

Foco, Matheus! Foco!

— Que drama, senhor Stahelin! Um nadador profissional não aguenta um mero empurrãozinho?

Reviro os olhos para o tom divertido que ela deu ao "nadador profissional"  e dou impulso para poder chegar mais perto e puxar sua cintura pra junto de mim.

— Eu adoro empurrar, se é que me entende - murmuro em seu ouvido. Querendo rir das suas bochechas vermelhas por causa da piadinha maliciosa e ao mesmo tempo me sentindo meio idiota por ter dito isso -  Mas posso me contentar com seu empurrão também.

Ela se afasta um pouco dos meus braços, mas eu continuo segurando sua cintura. Dou uma olhada nas nossas coisas por precaução e noto que a próxima música já começou a tocar. Dessa vez, prefiri selecionar só melodias instrumentais e a batida de Chantaje da Shakira entra em meus ouvidos.

— Você sente falta disso?

Ergo as sobrancelhas para a pergunta e coloco uma das mãos em seu quadril, enquanto com a outra tento posicionar suas próprias mãos em meus ombros.

— De quê? - pergunto.

— De sexo.

Meus olhos, que antes estavam direcionados ao mar entre nós dois, arregalam-se um pouco com a palavra dita. Tento conter meu ímpeto de sorrir, mas falho um pouco porque mesmo assim meus lábios me entregam.

— De onde surgiu isso? - questiono.

Balanço um pouco seu corpo e o meu, tentando ajustar o ritmo da música com o ritmo das ondas.

— No dia que você estava machucado e Gustavo estava louco procurando por você, ele acabou mencionando que... Bom, que você não saia com uma garota desde o incêndio na biblioteca. E eu imaginei que... - ela balança a cabeça, as bochechas ficando ainda mais rubras - Imaginei que você estava sem fazer sexo por todo esse tempo. Mas pensando bem, você não precisa sair com alguém pra transar, não é?

Ela divaga um pouco com as palavras e meu sorriso se abre ainda mais.

— Anna...

— Realmente, que pergunta idiota eu fiz! O sexo casual é mega comum hoje em dia e você não precisa necessariamente sair com alguém pra transar e...

As vezes eu não sei até onde vai os limites da sua inocência.

—  Na verdade, faz um bom tempo que eu não pratico o ato - respondo, interrompendo sua fala e encarando seu olhar meio cinzento - E eu não sinto realmente tanta falta assim. Eu não sou um viciado em sexo ou algo do tipo e nem sou como esses  caras que não conseguem passar uma semana sem ter alguém na  cama. Isso aí é desespero e bom, desespero não é geralmente bem apreciado nessas horas.

Ela ergue as sobrancelhas e dá um sorriso malicioso.

— Então você não é desses que curte sexo selvagem?

O quê?

— Eu nunca disse isso - falo rapidamente e percebo que estamos apenas balançando, o ritmo da música já se perdeu há muito tempo -  Eu só gosto de ter tempo o bastante pra fazer isso direito. Principalmente se eu estiver desejando essa pessoa há muito tempo.

Sei que essa conversa já passou dos limites quando percebo o que falei. Merda. Eu realmente estou desejando Anna há muito tempo. Seus olhos me fitam com um misto de curiosidade e diversão e ela passa os braços por meu pescoço, fazendo-me deslizar as mãos pela sua cintura até chegar ao seu quadril.

— O que estamos dançando hoje?  - ela murmura.

Balanço a cabeça tentando (ao máximo) deixar o tópico da nossa última conversa pra lá e me concentro no toque que começou a soar. Agora o ritmo é mais rápido e a melodia instrumental de uma das músicas do Enrique Iglesias começa a tocar.

— Pensei em treinarmos uma música latina hoje - respondo, dando um sorriso de canto pra ela - É um tipo de música que balança muito o quadril e requer um pouco mais de proximidade.

— Uma coisa que você adora, com certeza - ela fala e eu concordo com um sorriso ainda maior.

— Exatamente.

Com minhas mãos tento guiar o ritmo do seu quadril com o da música. Ela ri um pouco quando eu a giro e a água respinga, mas fica mais séria quando eu puxo seu corpo pra perto de mim e depois a faço inclinar com o torso pra trás. Nesses momentos, quando ela fecha os olhos e a única coisa a segurando são meus braços em sua cintura, percebo a confiança que ela começou a depositar em mim novamente. Um grande passo depois de tudo que aconteceu.

Tento levantar seu corpo algumas vezes  entre risos e giros, mas ela interrompe o movimento e eu me contento na dança de chão em que posso aproximá-la cada vez mais de mim. O sorriso suave que ela  exibe no rosto é um reflexo do meu próprio e, então, percebo porque realmente vim até aqui.

Precisávamos disso.

Tem gente que fala muito da calmaria antes da tempestade. Mas ninguém pensa muito que, depois da tempestade, pode ter calmaria também. Logo, mesmo que o mar esteja diferente, mesmo que os destroços ainda estejam visíveis, dá pra reconstruir algo novo ali. Algo belo. É um pensamento bom a se ter.

Depois de um tempo de dança (uma dança que às vezes virava guerra de água e mergulhos inesperados), voltamos para a areia e estendemos uma manta que estava na mochila para sentarmos. Anna se enrola em uma das toalhas e eu lhe estendo um dos sanduíches que Leah preparou, enquanto pego outro pra mim.

Noto que o pôr do sol está quase acontecendo e, quando terminamos de comer, pego a caixa de madeira e a trago pra mais perto de mim. Noto os olhos da minha parceira de dança captarem meus movimentos e ela franze a testa para o objeto.

— O que é isso?

Respiro fundo e olho para o mar. A cor azulada se misturava com o tom esverdeado que brilhava por causa do reflexo dos raios solares. Era uma cor tão bonita que parecia uma pintura com um tipo de tinta que nunca sacaria, que pra sempre ficaria completamente nítida e brilhante na tela. Me lembrava Anna. E o céu que complementava a obra, de um azul mais claro ainda, me lembrava Helena.

Os olhos de Helena.

— Helena uma vez me disse, em uma aula sobre plantas feita com todo o ensino fundamental, que sua flor favorita era a margarida. Não sei o porquê, mas nunca me esqueci disso. Talvez pelo motivo da escolha: "elas são sempre corajosas, mesmo quando se fecham durante a noite, estão sempre dispostas a se abrirem quando sol nasce" —  falo olhando pra Anna e depois para a caixa - Na época eu era só um moleque que não entendia de nada, então apenas achei besteira o que a garotinha dois anos mais nova que eu falou. Na verdade, nem sei se eu sabia qual flor era a tal margarida.

Anna ri baixinho e eu a acompanho, ficando sério gradativamente depois.

— Quando eu penso em Helena, na garotinha que gostava de margaridas e na menina corajosa que enfrentou todo aquele inferno, não consigo imaginar uma despedida pior do que aquele velório. A hipocrisia e o julgamento social ali, as rosas murchas, a madeira escurecida... Tudo isso não fazia jus à verdadeira Helena que talvez, infelizmente, ninguém tenha conhecido de verdade.

Abro a caixa e visualizo as flores: o centro amarelado combinando com as pétalas brancas que as crianças geralmente brincam de bem-me-quer mal-me-quer.  Duas dezenas de margaridas.

— Vamos fazer uma despedida - Anna fala baixo e eu balanço a cabeça em concordância.

Levanto-me e apoio a caixa em uma das mãos, estendendo a outra para Anna. Ela aceita depois de uma pausa e involuntariamente entrelaço os dedos nos dela, sentindo sua palma da mão na minha e seu apoio naquele momento.

Quando chegamos pra mais perto da água, tiro as flores da caixa e a deixo no chão, estendendo algumas margaridas para Anna e segurando algumas com uma das mãos. Assim que sinto meus pés se molharem por causa das ondas que chegam, viro-me para a garota ao meu lado. O queixo erguido, o olhar distante e o cabelo bagunçado por causa da brisa marinha.

O retrato de alguém preparada pra enfrentar e lutar por qualquer coisa. Por ela. Por Helena. Por ser mulher. Por ser humana.

E aí viro-me pra frente para pensar em Helena. Alguém que também estava disposta a lutar e, mesmo com tudo, ainda lutou por meio de um e-mail revelador e uma vontade enorme de proteger outras garotas. A menina que gostava de margaridas passa por mim, o sorriso inocente e o olhar astuto. Depois vem a garota líder de torcida, que, mesmo com o assédio, permaneceu firme no seu hobbie. E por fim, a mulher que eu vi na cabine de banheiro sangrando, que achava  que só daquele jeito encontraria a liberdade.

Não deveria ter sido assim.

A liberdade é nossa. Não deveria precisar ser encontrada, principalmente daquele jeito.

E então as flores caem das minhas mãos e das de Anna, as pétalas flutuando no mar azul e indo para cada vez mais longe.  As margaridas de Helena se fecharam ali naquela noite sem fim, mas gosto de pensar que elas se abririam para Helena quando o sol nascesse outra vez em um lugar distante e bem melhor do que aqui.

Noto o rosto molhado de Anna, provavelmente uma mistura do sal do mar com o salgado das lágrimas e puxo seu corpo para mais perto de mim, abraçando seus ombros e beijando sua testa no processo. Continuo a olhar as flores que se perdem entre as ondas e sorrio porque Helena poderia estar sorrindo também, onde quer que estivesse.

— Vamos? - pergunto para a garota em meus braços.

O pôr do sol está se acabando e ainda teríamos cerca de uma hora de viagem. Anna se solta de mim e sorri, um sorriso que se expande gradativamente quando ela toca o meu peito e desce os dedos frios pela minha pele, fazendo-me erguer as sobrancelhas para seu ato e o contorno que ela faz com as mãos.

Caralho.

Quando a ponta do seu polegar chega ao meu umbigo, minha pele já está arrepiada e o motivo não é de frio. Ergo o olhar para encará-la no momento que ela para o movimento. Seus lábios estão perto o suficiente dos meus para eu sentir o ar quente que ela solta ao respirar fundo, o toque leve quase como um selinho.

— Pronto - sussurra e dá de ombros ao se afastar  - Ibi me pediu para dar mais detalhes, sabe? Eu tinha que tocar.

Essa garota vai acabar com minha sanidade.

Ela dá outro sorriso, antes de se afastar totalmente  de mim e pegar a caixa na areia. Ainda fico atônito por um momento ao encarar o short curto e a camisa grudada no seu corpo, provavelmente o motivo de sua risada baixa.

— Agora podemos ir. - responde e eu balanço a cabeça, saindo do transe, antes de acompanhá-la. 

O resto da viagem passa rápido e antes do esperado eu já estou estacionando o carro na garagem de casa. Agradeço a Leah pelos preparativos e fico surpreso quando ela avisa que tem alguém me esperando no meu quarto.

Pergunto quem é, mas ela dá de ombros sem saber. Um gesto que me faz ficar desconfiado de quem possa ser. Suba as escadas, logo após estender as roupas molhadas que usei, e abro a porta. Primeiramente não vejo nada diferente... Até notar o corpo estendido na cama.

O vestido extremamente curto mostrava a calcinha preta que  ela usava. Larissa. Franzo a testa e ergo as sobrancelhas para sua expressão raivosa, que se contradizia com seu rosto belamente maquiado.

Como diabos essa garota entrou aqui?

— Maria me conhece do nosso tempo de namoro - ela responde minha pergunta mental, desenconstando-se da cama e cruzando os braços - Há quanto tempo, querido Matt!

Faço uma careta para o "querido" e me aproximo da cama, querendo acabar logo com aquela enrolação.

— O que você quer, Larissa?

Ela ergue o queixo e sorri, antes de se aproximar de mim e surpreendentemente dar um tapa em meu rosto.

— Saber o que porra tá acontecendo com você, idiota! -  ela ralha com raiva e eu contenho o próximo golpe segurando seu pulso - Está rolando um boato que você vai denunciar o Theo, Matheus. E você sabe que não deve envolver a polícia nisso.

Porra.

— Não envolver a polícia? Você ficou louca? - rebato, afastando-me dela - Se você veio me conter por causa disso, está perdendo tempo. Uma garota foi estuprada e se suicidou, Larissa. Se você não tem empatia para reconhecer o quão absurdo é isso acontecer, então foda-se. Eu não sei o que porra você veio fazer aqui! Theo merece ser preso!

Ela se levanta e balança a cabeça, como se não acreditasse no que estava vendo.

— Você vai arrastar muita gente pra essa merda se isso acontecer.

E então percebo. Ela está envolvida nisso.

— Você estava lá - afirmo.

Seus olhos se arregalam e ela dá de ombros, sorrindo.

— Eu estava viajando quando aconteceu, não tem como eu ter estado lá.

Dou um passo pra frente e toco seu queixo. Analisando o que eu tinha na cabeça no nono ano pra humilhar Anna em troca de uma transa com essa garota. Eu era mesmo um babaca.

— E como você sabe quando aconteceu, Larissa? Theo nunca disse.

Seu sorriso treme e eu ergo as sobrancelhas.

— Ele me disse. - responde.

— Você está mentindo.

Ela ri ironicamente.

— Você não me conhece de verdade pra saber quando estou mentindo - murmura - Pare de procurar coisa onde há nada, Matt.

Olho pra porta e depois pra ela.

— Vá embora, Larissa.

Ela ri ainda mais, enconstando-se em mim e inclinando a cabeça para enconstar a boca em meu ouvido.

— Quem diria, hein. Eu gostava mais do Matt que implorava para eu ficar na cama do que esse que se apressa pra me expulsar. Aquele me excitava - sussurra.

— Larissa...

— Você sabe que Theo vai escapar dessa e provavelmente vai acabar com você no processo. - murmura e se afasta com um bico nos lábios - Uma pena, pelo menos eu tentei colocar sanidade nessa sua cabeça oca. Boa sorte, Matt. Você vai precisar.


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Notas finais do capítulo

Larissa estava desaparecida da história e eu reencarnei a moça hahaha e nosso casal teve seu momento de paz e leveza, só que pena que foi bem breve... (sempre quis dar uma de malvada nas histórias hahaha mas tenho a alma boa demais)

Enfim, gente, é isso. Mais uma vez agradeço vocês (em especial as maravilhosas Dreamy, Geo e Sun ♥) por tudo! Estamos nessa juntas, tá bom? É uma honra ter essa parceria na história com vocês. Novamente também não vou especificar dia de postagem, o próximo está bem encaminhado... Mas ainda não tá pronto, então volto assim que tiver tudo certinho, tudo bem? Talvez até um pouquinho antes, como hoje.

PS: Não sou muito dada a expressar opinião política, aliás respeito qualquer opinião do tipo desde que não ofendam nenhum grupo social, porém precisava deixar meu pequeno protesto aqui:
A história gira em torno de um caso de estupro e relata a violência contra a mulher, logo o que mais faço aqui é criticar essa sociedade machista e retrógrada que vivemos então nada mais justo expor meio apoio ao movimento:
#ELENÃO #ELENUNCA

Beijão e até,



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