Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 21
Dezenove - Anna


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! ♥ finalmente apareci!
Não vou divagar muito para não entediar ninguém, porém preciso pedir desculpas a todos, independe de quem comenta ou não, porque vocês são incríveis! Estou passando por uma fase ruim na minha vida que tava me deixando com uma auto-estima lá embaixo (estava e está, na verdade), então não estava achando nada bom o suficiente pra postar aqui. Na realidade, esse capítulo está entre uns que eu reli sempre querendo editar tudo e apagar. Eu sei, tava sendo uma chata hahaha
Enfim, só queria deixar meu abraço carinhoso á todos que sofrem de crise de ansiedade assim como eu. É horrível, mas vamos superar isso, povo! Together.

Capítulo completamente dedicado as lindas BellaZuuh e Daughter of Sun que comentaram no capítulo passado e SEMPRE me inspiram a produzir e continuar, independe do pensando ruim que passe pela minha cabeça. Valeu, meninas! Espero que estejam aí



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S O R O R I D A D E 

(s.f. é a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum.)

 

— Eu não quero falar sobre isso.

A voz murmurada ressoa pela sala quando finalmente Gisele fala alguma coisa. Encaro os olhos tristes da menina que, mesmo já tratada e acolhida em uma cama de hospital, ainda tenta se encolher, como se aquele fosse seu mecanismo de proteção. Em parte quero abraçá-la pra acalentar seu desânimo dolorido, mas sei que não é essa atitude que devo tomar. Não apenas isso, pelo menos.

Eu já tinha visto uma pessoa se encolher em sua dor antes e não deixaria outra garota fazer o mesmo. Não de novo. Não sem receber ajuda.

— Gisele, não iremos te forçar a nada, tudo bem? Você não precisa falar se não quiser - Angela responde quando se senta ao lado da garota na cama - Só queremos que você saiba que está segura agora, querida. Ninguém irá te julgar aqui, ninguém mesmo vai falar nada se você quiser, ok? Estamos aqui apenas pra fazer o melhor a fim de que você fique bem.

A garota assente, perdida. Desde que Matheus e eu chegamos ao hospital e verificamos se poderíamos enfim visitar Gisele, estávamos aqui. Era estranho, pois não tinha muita coisa para fazer em relação a ela, já que não forçaríamos uma confissão dos fatos e nem ela própria estava se dispondo a falar. Mas todos estávamos dispostos a ajudá-la de alguma maneira, mesmo não sabendo qual.

Sinto dedos quentes tocarem meu ombro com carinho e massagearem a pele levemente. Viro-me um pouco para fitar Matheus e seu sorriso de canto, uma linha fina que tem o objetivo de tranquilizar meu desespero aparente. Eu realmente queria que Gisele falasse. Depois de tudo que aconteceu com Helena, tenho medo de sair pela porta e não ter feito todo o possível para conversar com alguém antes de algum desastre acontecer.

A verdade é que nunca sabemos exatamente quando vai ser a última conversa que teremos com alguém. Por isso sempre é importante que todas as palavras sejam ditas, sendo elas dolorosas ou não.

— Eu posso falar com ela? - pergunto baixinho para Angela - A sós?

A psicóloga pondera por um instante e eu aperto a mão de Gisele que está ao meu lado.

— Podemos conversar,  Gisele? Nós duas?

Os olhos castanhos me analisam por um instante, antes de ela assentir com um aceno de cabeça. Olho pra mulher negra ao meu lado,  o rosto, geralmente bem maquiado de Angela, estava marcado com as marcas de quem ficou no hospital uma boa parte da noite. Angela confirma com a cabeça e sorri, antes de sair do quarto.

Depois de mais um aperto em meu ombro, Matheus também se vai, fechando a porta em seguida. Agora que estamos completamente sozinhas viro-me completamente pra ela e tento dar o meu melhor sorriso tranquilizador.

— Gisele, eu sei que a gente não se falou muito durante meu trabalho comunitário na instituição. Mas você me procurou naquele dia, lembra? Você pediu minha ajuda ali e eu ainda quero ajudar você, tudo bem? Você não precisa enfrentar nada sozinha.

Ela pisca e continua calada. Espero por um instante, antes de segurar sua mão com mais força e me inclinar pra mais perto.

— Eu lembro... Lembro que teve um dia, no começo do trabalho comunitário que estávamos todos no círculo terapêutico e eu confessei que achava difícil confiar em alguém que me magoou. Você me respondeu. Você falou de um jeito que pareceu que tinha passado por algo semelhante. Alguém tinha magoado profundamente você e...

Seus dedos se soltam dos meus.

— Não é a mesma coisa - ela sussurra, os olhos brilhantes com lágrimas contidas - Ele não é como o Matheus é pra você. Por toda a minha vida achei que... Que ele fosse a pessoa certa, mas eu não consigo... Não consigo entender...

Uma lágrima cai. A gotícula salgada escorre lentamente pela sua bochecha direita.

— O que você não consegue entender, Gisele? - murmuro.

Ela abaixa o olhar e dá de ombros.

— Porque eu acho que a pessoa certa não deveria me tratar como ele me trata - conclui baixinho - Ele diz que me ama e que me protege, mas se eu faço algo errado... Se eu falo, se eu visto ou uso o que ele não quer... Ele... Ele me bate. Ele me cala. E eu quase nunca sei o que de errado eu fiz.

Um soluço audível ecoa no quarto e eu puxo sua cabeça pra perto de mim, abraçando-a com o mínimo de força  por causa dos seus ferimentos, porém com o máximo de carinho que posso passar. 

— Então - ela murmura baixinho perto do meu ouvido - Se ele realmente for, eu acho... Acho que não quero mais a pessoa certa. Não quero mais isso, Anna. Ele diz que tem amor, mas eu n-não quero... Não aguento mais.

— Ele não é - respondo, alisando seus cachos loiros e ouvindo finalmente seu choro. Um choro de libertação há muito tempo contido - Ele não é a pessoa certa, Gisele.  Antes de qualquer relacionamento, nós temos que aprender que nós mesmos somos as pessoas certas, sabe? Somos incríveis sozinhas e um relacionamento não vem pra preencher algo que falta, mas apenas complementar - sussurro - E esse amor que ele diz sentir, Gisele. Não é amor de verdade. Amor verdadeiro não agride você e nem faz você se sentir inferior. É totalmente ao contrário.

Sinto seus braços se prenderem aos meus e os soluços ficarem mais baixos. Abraço seu corpo como minha mãe fazia comigo nos diversos momentos em que eu passava a noite com ela no hospital. Momentos em que um abraço de força e fé se tornava extremamente necessário, principalmente quando eu me desesperava com o avanço do câncer.

— Sabe, eu não sou religiosa. Não sei nem se você é, mas... Bom, na minha família minha mãe era uma das pessoas que mais tinha fé. Ela não ia a igreja todos os domingos, nem se confessava com frequência, porém ela gostava de Jesus e da imagem de um Deus bondoso, um exemplo de caráter que se se tornou raridade de encontrar. - divago um pouco ao lembrar do riso fácil da mulher que me gerou. Da sua fé e caráter exemplares. A saudade aperta meu peito - E tem um trecho da Bíblia que era o favorito dela. Ela lia tanto pra mim que eu acabei memorizando aos poucos. Coríntios 13:4-7. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Nós ficamos um momento em silêncio. Refletindo sobre as palavras escritas no livro religioso.

— Então o que você tinha não era realmente amor, Gisele. Amor é isso. E sabe, não precisa ser apenas com alguém. O amor de verdade começa por si mesma. Ele está aí dentro de você e é um dos mais bonitos de todos. Eu sei que as vezes é difícil, mas é preciso saber enxergar isso, sabe? É uma preciosidade nos dias de hoje.

— Obrigada, Anna - ela murmura de volta e respira fundo - Muito obrigada. Por aquele dia e por agora. Deus, eu fui uma idiota, não fui? Muito burra! Eu...

— Não, não - interrompo, afastando-me dela o suficiente para encarar seus olhos - Ele é o errado aqui. Ele que é um idiota! Ele merece ser preso, Gisele. Violência contra mulher é crime e o relacionamento que você estava era abusivo. Ninguém aqui está te culpando, ok? O que esse cara fez... Jesus, a polícia precisa prendê-lo para que não volte a fazer isso com uma garota de novo.

— Não... Ele não...

— Calma - respondo - Isso é pra quando você estiver pronta. Não quero te forçar a nada. Eu só... Desculpe, só estou com raiva por ele ter feito isso com você.

Ela fecha os olhos, respirando fundo. O rosto ainda marcado por lágrimas e as bochechas avermelhadas. Aperto sua mão com força, antes de me afastar devagar para minha posição original ao seu lado.

— Se... - ela começa a falar, mas se interrompe quando abre os olhos e me encara.

— Se...?

— Se eu contar tudo que aconteceu, você me ajuda? Eu tenho medo que... Que ele...

— Ele não vai mais te tocar - garanto com convicção - Não irei sair do seu lado se você quiser. E todo mundo aqui vai ajudar você, Gisele. Você não está sozinha. Estamos aqui, ok? E vamos continuar aqui.

Depois de secarmos juntas suas lágrimas e eu surrupiar algumas gelatinas com as enfermeias que me conheciam, Gisele finalmente me conta o que aconteceu. Sua história completa.

A.J.

Essa foi a abreviação que ela deu para o namorado abusivo. Era um dos cabeças da comunidade que, ao meu ver, se achava o rei da cocada preta. Eles se conheceram oficialmente em uma festa, em que A.J., segundo ele, se apaixonou perdidamente pela garota loira. Ela, mais nova, ele, seis anos mais velho. Ele deu encima dela e ela não deu muita bola,  até saber que A.J. havia proibido com ameaça de bala qualquer sem-vergonha que se aproximasse dela. Resumidamente: um verdadeiro idiota.

— Na época eu era muito nova. Minha irmã mais velha já havia feito de tudo, mas eu mal havia beijado dois garotos na vida. Eu não gostei do que ele fez,  mas ele começou a me provocar. E as garotas que andavam comigo diziam que eu deveria deixar ele me comer logo. Então ele dizia que eu era a musa dele e me trazia coisas, aproximando-se e me cercando cada vez mais. Eu já estava começando a me iludir quando minha irmã foi presa com drogas e tudo desandou.

— Qual era o nome dela? - pergunto baixinho  por curiosidade.

Gisele sorri tristemente

— Isabele. Todos a chamavam de Isa. Éramos só nós duas. Ela era cinco anos mais velha e sempre cuidou de mim, então quando descobri da prisão fiquei desesperada. Procurei ajuda dele e ele deu um jeito, mas eu sabia que pediria algo em troca - ela ri ironicamente - Quando Isa descobriu ficou puta por eu ter feito. Ela não gostava dele, nunca gostou.

Entendo completamente ela.

— Enfim - continua - Na época eu fiquei bastante grata pelo que ele fez e me apaixonei. Mesmo com os avisos da Isa, me aproximei ainda mais e ainda sinto... Ainda sinto que ele tem tanto poder sobre mimEle me dominou, Anna. Totalmente. Foi nesse tempo também que minha irmã entrou de cabeça no vício. E eu também. Vários tipos de drogas até parar no crack.  Nós mal nos víamos mais, eu vivia na casa dele... Ela vivia na rua. Então eu comecei a ficar mais sóbria algumas vezes e aí... Aí um dia encontraram o corpo dela. Baleado.

Prendo a respiração e ergo as sobrancelhas.

—  Pensei que tinha sido overdose. - sussurro.

Ela dá de ombros.

— Ela ia acabar tendo uma dessas no final, provavelmente. Mas foi bala. Eu nunca... Nunca tinha tinha me ligado na real situação que ela se encontrava. Eu fiquei louca, completamente revoltada. Ele falou que ela era uma vagabunda, eu gritei, ele gritou, eu levantei a mão e ele me deu minha maior surra. Só que o A.J. fazia alguma coisa, que eu sempre me sentia culpada. Era um ciclo: eu estava marcada, surrada e ele me pedia desculpas e eu apenas aceitava.  Só que dessa vez foi diferente, talvez por causa da morte da minha irmã, talvez porque eu estava um pouco mais sóbria.  E também porque eu descobri a verdade.

Ela pausa o relato e respira fundo.

— Sabe,  ele faz parte do tráfico. Estava subindo rapidamente nessa vida, era assim que eu conseguia facilmente as drogas. Eu sabia que provavelmente minha irmã arrumava as delas com o pessoal dele, mas não sabia...

— Não sabia...? - murmuro.

— Não sabia que tinha sido o pessoal dele que matou ela. Foi caso de dívida. Ela queria a droga, mas não tinha grana. Ele simplesmente mandou matá-la. Quando descobri isso, Anna... Eu tinha que sair dali. Isa... Ela não merecia morrer daquele jeito, nem eu merecia. Voltei ao local onde estava o corpo, me senti culpada e implorei pra minha irmã voltar pra mim... Eu precisava me acalmar de alguma maneira e usei a droga. Acordei um dia depois já na Terra da Sobriedade, depois descobri que fui acolhida por eles. A salvação da minha vida.

Mas então... Por que diabos você fugiu?

A pergunta paira nos meus pensamentos e vejo que ela compreende quando responde:

— Ele me encontrou, foi por isso que fugi. Eu fiquei com medo... Não sabia o que fazer e não sabia o que ele poderia fazer.

— Você fugiu para proteger os outros também - murmuro.

Ela confirma e as lágrimas voltam a cair.

— Não queria que acontecesse o mesmo que aconteceu com a Isa. Eu tentei fugir dele também, mas nas ruas... Ele me encontrou logo. Voltei pra comunidade, pensei que ele ia me matar.

— Ele te bateu. - complemento - Ele realmente quase te matou, Gisele.

Ela balança a cabeça.

— Poderia ter sido muito pior, mas eu... Eu consegui fugir de novo graças a um dos garotos de lá. Ele me ajudou e não sei o que vai acontecer com ele, mas... Mas eu...

— Vamos pensar em você primeiro agora, ok? - penso na conversa que tive com Rodriguez hoje de manhã e da sugestão de mandar alguém confiável da polícia - Tem uma pessoa que poderia falar com você sobre isso. Ela é ligada à polícia,  mas não vai fazer nada que você não queira. Ela quer apenas te ajudar.

Ela morde o lábio, apreensiva.

— Anna...

Aperto suas mãos de novo e sorrio.

— Eu juro, Gisele. Apenas descanse, se recupere e eu posso pedir pra essa pessoa falar com você quando você estiver melhor. O nome dela é Grazi.

Penso que ela vai negar,  mas ela confirma levemente com a cabeça. E então finalmente eu fico feliz,  não por tudo que aconteceu com ela, mas com a chance de poder ajudá-la de maneira apropriada.

Talvez, apenas talvez, as coisas estejam entrando no eixo novamente.

***


— Repita para onde vamos, por favor - peço ao me inclinar para a janela e observar a paisagem de mato e árvores que passam rapidamente. Sinto que estou sendo sequestrada.

Matheus ri no volante e batuca a música que toca no rádio, totalmente descontraído.

— Você não vai me fazer cair nessa, Branca - sorri para minha ausência de senso de localização e dá de ombros - É uma surpresa.

Ergo as sobrancelhas.

— Uma surpresa no meio do mato? - questiono - Devo ficar preocupada em você me matar e esconder o cadáver no meio do nada?

Ele aumenta o som da música, fazendo Coldplay soar ainda mais alto do que estava. Era uma clara tentativa de interromper a conversa.

— Matheus... - começo, mas ele me interrompe ao soltar o elástico do meu cabelo com uma mão e, logo em seguida, abrir ainda mais a minha janela através do botão de abre/fecha na sua porta.

— Você é irritante, mas eu gosto de você, Bennet - responde no momento de pausa entre uma música e outra - O que significa que você não vai morrer hoje. Logo, a senhorita poderia calar essa boca e curtir a viagem?

Abro a boca pra contestar, mas a música seguinte começa e os acordes de Paradise me fazem ficar calada por um tempo. A melodia em si me acalma e a sensação do vento no rosto balançando meu cabelo faz eu querer fechar os olhos e curtir a letra. Ironicamente eu não imaginei que o dia de hoje ia acabar desse jeito.

Assim que saí do quarto de Gisele, Matheus estava me esperando sentado em uma das cadeiras do corredor. Meus pensamentos ainda estavam na garota loira machucada e sua vida, então só notei que estávamos indo para outro lugar quando ele passou reto pela rua da minha casa e acelerou o carro rumo a um destino desconhecido.

Logicamente eu fiquei meio irritada por ele não me contar absolutamente nada na hora que questionei, porém agora... Bom, agora talvez realmente seja melhor eu permanecer com minha boca calada.

Uma hora de estrada passa rapidamente com a voz de Chris Martin soando entre nós. Acho que cochilo um pouco durante o caminho, pois só noto que o carro está parado quando uma mão toca meu ombro e uma voz sopra no meu ouvido:

— Chegamos, Branca de Neve. - o complemento do meu apelido sussurrado faz eu querer sorrir. E ele termina: - Você quer que esse belo príncipe te beije pra você acordar de vez?

Abro os olhos e sorrio para sua expressão de cafajeste.

— Não estou vendo nenhum belo príncipe por aqui.

Matheus ri, desprendendo o cinto e se inclinando um pouco mais em direção ao meu assento.

— Pois é, eu não posso ser da realeza. - seus dedos deslizam pela minha cintura e ele desprende com um click suave a tranca do meu cinto. Seus lábios tocam minha orelha de novo - Nunca fui muito adepto ao cavalheirismo. Prefiro mil vezes beijar sua boca ao invés de sua mão.

Encaro a cor esverdeada dos seus olhos e ele me beija rapidamente logo após o olhar malicioso. A boca tomando a minha de maneira brusca e me fazendo perder o fôlego ao agarrar os fios do seu cabelo para trazê-lo pra mais perto de mim. Sinto sua língua e um sabor características de halls de menta quando ele se afasta um pouco e tento não respirar fundo ao ver que seus lábios estão passeando pela pele do meu pescoço.

Mas que droga, ele está se vingando pelo beijo de mais cedo.

Um suspiro claramente audível passa por meus lábios e escuto uma risadinha quando ele sobe a boca pelo meu queixo, bochecha e, logo depois, ouvido novamente.

— Idiota - sussurro.

Sinto seu sorriso contra minha pele.

— Acordou? - ele murmura e eu dou um tapa leve no seu ombro pra ele se afastar, revirando os olhos para sua gargalhada exagerada.

Quando enfim olho ao meu redor, sou surpreendida pela areia branca e pela extensão enorme de mar azul se abrindo pra mim. O som audível das ondas, juntamente com a brisa marinha que balança meu cabelo me fazem querer voltar a fechar os olhos. Puta merda. Praia.

Acho que faz mais de três anos que eu não venho a esse lugar. E nem imaginei quando eu colocaria meus pés na areia novamente um dia.

Meu pai antigamente adorava a praia e já que moramos relativamente distante do mar, ele sempre marcava viagens curtas como essa pelo menos duas vezes no mês. Porém, como quase tudo da nossa rotina, após a doença esse tipo de programa se perdeu e ele mal pensa em ir à praia. Assim como eu.

De todos os os lugares...

Interrompo meus pensamentos e fito Matheus, o garoto da minha infância e o homem ao meu lado. Os olhos claros, o sorriso astuto e o cabelo castanho sempre bagunçado.

— Achei que, depois da semana conturbada que tivemos, merecíamos isso - ele fala com um dar de ombros e abre a porta do carro.

Saio de modo automático do meu assento e o vejo pegar uma caixa de madeira junto com uma mochila do banco de trás.  Depois ele contorna o veículo e  estende a mão pra mim.

— Venha dançar comigo, Anna Clara Bennet - murmura - Pois se vamos ter uma batalha judicial em breve, merecemos, pelo menos, uma dança adequada antes disso.




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Notas finais do capítulo

VAI TER PRAIA SIM!
Essa ideia se embolou em minha mente desde que eu assisti Dirty Dancing 2 (no ritmo de Cuba) e vi o casal principal dançando na praia ao ritmo das ondas. Foi uma inspiração total e o filme é lindão então eu recomendo demais ♥ então, me inspirando na ideia, resolvi levar nosso casal favorito pro mar também e fazer um capítulo bem fofo só para os meus leitores maravilhosos curtirem.
Na verdade, pra curtirem muito considerando que a coisa logo logo pode pegar fogo hahaha
O próximo tá praticamente pronto então é provável que eu volte em breve, porém pra não decepcionar ninguém não vou estipular uma data certinha (mesmo isso sendo chato).
Amo vocês e vou sair daqui porque sinto que eu tô meio doida voltando ao Nyah e quero pedir desculpas a Deus e o mundo pela demora hahaha.
Beijão,



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