Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 17
Dezesseis - Narrador


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente bonita ♥ vim aqui toda calminha em pleno dia dos namorados (aliás, feliz dia pra vocês! hahaha não tenho namorado então tô aqui quietinha com meus livros, maas espero que todo mundo encontre sua Anna/Matheus) e percebo outra coisinha nova nas minhas notificações de uma pessoa MARAVILHOSA demais chamada Bella. Que recomendação INCRÍVEL foi aquela, garota? hahaha obrigada, Bella, sério! Já te agradeci, mas faço novamente. Agradeço pra sempre esse carinho todo que você e os outros leitores estão me dando nisso aqui. Essa história é feita com vocês e para vocês, sabiam? É muito lindo ver isso.

Peço desculpas pela minha ausência, mas esse capítulo foi complicado tanto pela narração, quanto por algumas cenas. Foi a minha primeira vez na terceira pessoa então espero realmente que tenha ficado bom (tô nervosa pra caramba com esse capítulo hahaha). Lá embaixo converso mais com vocês.


AVISO DE GATILHO:

# Esse capítulo contém cenas fortes que remetem a violência contra mulher e depressão/suicídio. Se alguém tem algum problema com esses temas sugiro que pulem as partes, parem a leitura e por favor procure ajuda. No Brasil, para a violência contra mulher há o disque-denúncia (só é ligar 180, moças!) e o CVV (Centro de Valorização da Vida) que realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio. Qualquer coisa, eu tô aqui pra cada um de vocês.


Espero que gostem e boa leitura! ♥




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/538186/chapter/17

 

 

A D E U S

(s.m. Indicação de despedida; sinal, palavra ou gesto que assinala a partida de alguém)

  

 

Ela tinha gosto de céu.

Caralho.

Foi exatamente isso que Matheus pensou enquanto beijava os lábios vermelhos de Anna Clara Bennet. Obviamente ele não sabia qual era o gosto do céu, mas passou tanto tempo comparando os olhos cinzentos da menina com uma tempestade que quando finalmente sentiu seu gosto foi instintivo pensar em nuvens e estrelas.

E aquele beijo só serviu pra confirmar um fato bastante evidente: ele estava louco por ela. Completamente insano. Já poderiam até chamar o manicômio se quisessem, pois ele, Matheus Stahelin, estava com uma paixão da porra por sua parceira de dança. E essa paixão havia começado há mais tempo do que ele tinha se dado conta.

Quando finalmente liberou os lábios de Anna, afastando-se o suficiente para encostar sua testa na dela e recuperar o oxigênio escasso, Matheus não pensou duas vezes antes de soltar um sorriso maroto e puxar a cintura da garota com as duas mãos pra perto de si. Em um instante ele sentiu suas costas baterem de forma dolorida na grama e o corpo de Anna cair junto com ele. Óbvio que ela soltou um gritinho e tratou de dar-lhe um tapa no ombro, mas ele apenas riu e se posicionou melhor para que seus braços aprisionassem o corpo de Branca em um abraço diferente do habitual.

Ele sentiu o ritmo do coração se estabilizar enquanto respirava fundo na curva do pescoço dela. Dane-se se aquilo era clichê e parecia um filme de romance brega, no caos que estava sua vida no momento, aquilo tinha sido realmente incrível.

Anna deixa o corpo cair de lado com uma risada e vira-se de barriga pra cima a fim de encarar o emaranhado de estrelas visíveis no céu. Seus pensamentos ainda estavam confusos pela sucessão de acontecimentos, mas ela, ainda sim, tentou encarar aquilo tudo com calmaria.

— E então? Pode admitir - Matheus diz com um nítido sorriso na voz - O beijo foi incrível, não foi?

Anna riu. Modéstia a gente se vê por aqui hein, Matheus.

Já experimentei melhores.

Ele se vira pra ela e ergue as sobrancelhas.

Como é que é?

Ela toca os lábios dele com a ponta do polegar e sorri.

— Pois é, pode abaixar a bola aí, Matheus. Seus lábios não são tudo isso.  - responde, dando de ombros - Eu daria um 6, talvez um 7 pelo entusiasmo.

Matheus ri da ousadia da garota, apoiando-se de lado para poder observá-la melhor.

— Teremos que praticar mais então - ressalta e lança-lhe uma piscadela - Pra você descobrir a verdadeira potência do meu beijo.

É a vez de Anna soltar uma risada irônica.

— E como se calcula essa potência, espertinho? Porque com certeza ela é negativa, considerando que eu não a vi em nenhum momento da nossa interação.

Cristo. Ela era inacreditável. Matheus pensou isso enquanto deslizava uma mão para ajeitar a franja bagunçada da garota, um sorriso se expandindo em seu rosto enquanto encarava os olhos cinzentos dela. Ele quase riu quando ela arregalou de leve as pupilas ao sentir a inclinação dele com quase metade do corpo encima dela.

— Matheus...

Ele sentiu a pele quente do seu pescoço com os lábios e respirou fundo de novo ali, enquanto beijava a garota naquele exato ponto entre o queixo e a clavícula. Subiu um pouco mais com o gesto ao ponto de chegar no canto de sua boca, não conseguindo segurar o riso quando ela suspirou baixinho.

— Você é um cretino - ela sussurrou.

— Um cretino com uma potência de beijo negativa? - murmurou ele de volta, afastando-se o suficiente pra observar os olhos dela e vê-la assentir - Uau e por que será que você parece tão ansiosa para que meus lábios  voltem a sua boca, garota inocente?

Nos  olhos dela ele viu o momento em que Anna ligou o foda-se, o brilho de divertimento dando lugar para a determinação. Mais uma faceta da Anna misteriosa que ele estava passando a conhecer.

— Porque, Stahelin - ela sussurrou passando os braços por seu pescoço e deslizando os dedos pela sua nuca, estremecendo-o - A potência do meu beijo é positiva o suficiente para compensar a sua.

A risada dele foi interrompida pelos lábios dela. E, mesmo assim, ele sorriu durante o beijo,  adorando aquela garota que se apoderou dela. A ousadia e liberdade com que ela comandou o beijo, fazendo o próprio Matheus suspirar com a pequena mordida no lábio inferior, a qual finalizou o momento.

Jesus. - ele deitou novamente do lado dela, uma sobrancelha erguida - Onde você aprendeu a beijar assim?

Ela riu e se sentou na grama, abraçando os joelhos para que a saia do vestido não levantasse.

— Tem certeza que quer saber disso?

Ele olhou para o rosto vermelho dela, sorrindo para o fato que, mesmo sendo ela a tomar a atitude do beijo, as bochechas coradas denunciavam seu constrangimento. Como alguém conseguia ser tímida e ousada ao mesmo tempo? Segredos de Anna Clara Bennet.

Talvez - respondeu Matheus, apoiando-se nos cotovelos para ficar mais próximo dela. - Mas você não precisa me contar se não quiser.

Anna sorriu e encarou a praça na qual eles estavam dispostos. Já era tarde o suficiente pra não ter crianças brincando, mas ao longe ela podia ver um grupo de amigos conversando, um casal mais velho perto das árvores e duas garotas abraçadas perto do pequeno lago. Todos eles afastados do playground o sufiente para não notarem Matheus e Anna ali.

Eles haviam se beijado. Meu Deus.

Mesmo que fosse óbvio, o acontecimento ainda se repetia na cabeça dela, fazendo-a se demorar a dar uma resposta para o seu parceiro de dança.

— Eu não sou tão anti-social ao ponto de esse ser meu primeiro beijo, Matheus - ela riu com ele, ficando séria gradativamente depois- Já notou como nas histórias sempre tem um estereótipo fixo de garota? Uma menina nerd é sempre a que tira notas altas, sempre a mais feia ou a esquisita, a que sofre bullying e se autodeprecia e inesperadamente é anti-social ao ponto de, quando o galã aparece, é ele que dá o primeiro beijo na garota?

— Por favor, não faça uma comparação do que nós temos com isso - ele faz uma careta - Você é muito mais que isso.

Ela riu.

— Sim, mas... Bom, quando eu fui humilhada por Larissa e sua trupe no nono ano, eu fiquei mal o suficiente pra me autodepreciar - Anna diz baixinho - E foi necessário que algumas coisas ruins acontecessem  para que tudo melhorasse.

Matheus se senta também e ela sabe que ele está tentando lê-la com o olhar, como geralmente faz.

— Não me diga que isso tem a ver com o seu primeiro beijo.

Ela ri.

— Ah, caramba! Claro que não - dá de ombros - O meu primeiro beijo foi muito bom,  na verdade. Só estou querendo dizer que essas coisas ruins, quando superadas, me levaram a me desprender  dessas amarras sociais. Eu ainda estava de luto, mas eu compreendi que era mais do que um estereótipo. E bem, aí eu beijei garotos.

— Garotos? - ela riu ainda mais quando ele fez outra careta pro plural - Ok, talvez eu não queira ouvir como você aprendeu a beijar daquele jeito através de suas experiências.

— Por que não? Você perguntou. - Anna desdenha. - Essas coisas se aprendem na prática.

— Porque isso é muito estranho, Branca - responde Matheus, um pouco impaciente. E ela ri da chateação dele. - Porém, muito melhor do que ouvir sobre essa aprendizagem, é praticar o produto dessas experiências com você mais uma vez.

Ele tenta pressionar os lábios no dela, mas é afastado por dois dedos em sua boca. Ele franze a testa e ela desce o polegar para pressionar carinhosamente sua bochecha.

— Você sabe que ainda é um idiota, não é? E que temos coisas maiores do que isso pra resolver?

Os dedos dele apertam um pouco mais a cintura de Anna, o sorriso se abrindo novamente nos lábios de Matheus, agora com resquícios de vermelho do batom dela.

— Não sei se você lembra, milady. Mas a proposta de  beijar  esse idiota venho da senhorita - fala cordialmente, controlando a malícia na voz.

Ela sorri também, já não ligando mais pra confusão de sentimentos que aquele momento entre os dois lhe daria depois.

— Que eu me lembre bem, milorde. Você também gostou consideravelmente da proposta.

— Eu nunca neguei isso, Anna.

— E eu também não estou arrependida disso - comunicou ela com um piscar de olhos sugestivo - Mas precisamos focar na situação, Matheus. Helena ainda precisa de ajuda, Theo ainda precisa ser detido, você ainda precisa passar no restante das provas finais e...

— E nós iremos fazer tudo isso, Branca. Eu só... Bem, eu gosto de você. - completou ele, olhando-a com sinceridade - Sei que com nosso histórico, a confiança ainda é uma questão difícil. Mas isso aconteceu. Eu comecei a gostar de uma garota misteriosa que gosta de me bater na maioria das vezes, me xingar nas outras e me faz ficar louco com sua teimosia. E eu não vou negar isso.

Os olhos cinzentos de Anna se arregalam, a intensidade dos sentimentos ali naquele espaço gramado se tornando palpáveis o suficiente para que ela ficasse sem palavras.

— Adoro essa expressão de surpresa que você está fazendo - Matheus comunica e sorri - Me faz querer desvendar todas as outras coisas que te surpreendem para poder fazer isso outra vez, sabia?

— Matheus? - ela chama baixo o bastante pra ele abaixar a cabeça e encarar o local em que Anna se enconstava em seu peito.

— Sim?

— Eu...Eu não... - Ele sorri para a tentativa dela e ela faz uma expressão frustrada quando suspira alto e coloca as mãos firmes em ambos os lados do queixo dele - Podemos discutir melhor  quando toda essa confusão acabar? Sabe, não especificar um nome a isso, pelo menos ainda?

Ele sabia que pra ela aquilo tudo era difícil. Pudera, ele mesmo sabia o quão sentimentos eram confusos, estranhos e enlouquecedores. Ele até podia negar, mas no fundo, sabia que aquilo que ele disse a ela estava guardado há mais de um ano ali dentro de si, desde que falou com Anna Clara pela primeira vez.

Ele não iria pressioná-la. Nunca. Mas, claro, ele ainda era Matheus Stahelin, o mesmo Matheus que assentiu levemente antes de se levantar junto com ela e a segurou perto de si o suficiente pra ele sentir o cheiro doce de sua pele fria.

— Com uma condição.

Ela sorriu como se já soubesse plenamente qual era o pedido.

— Diga.

— Os beijos continuarão. - falou ele quase como um decreto, uma parte de si temendo uma possível recusa.

Ela sorriu mais ainda. E, ah, quem quer que olhasse saberia o quão Matheus Stahelin gostava pra caralho de Anna Clara Bennet.

Será um prazer fornecer um pouco mais da minha potência de beijos pra você, Matheus Stahelin.

E ali, rindo feito um idiota, Matheus puxou mais uma vez a cintura de Anna pra si, roubando o fôlego da garota com o último beijo daquela noite. E, talvez, o melhor de todos eles.

***

Apenas um dia se passou para que todos eles se reunissem na sala de estar da casa de Matheus. Involuntariamente, ali havia se formado um grupo de investigações entre jovens que não mediriam esforços para desvendar o caso em questão, principalmente considerando que um deles poderia estar correndo algum tipo de risco.

O grupo Sherlock -proclamado assim por Gustavo, fã assíduo do detetive inglês - procurava com afinco o local do crime. Matheus e Gus estavam no computador, comparando imagens dos quartos de alguns motéis da cidade com as fotos perversas do estupro. Apesar de não ser tão provável encontrar o estabelecimento certo com tantos na cidade, eles pelo menos poderiam reduzir a investigação para que, a partir daí, Rodriguez averiguasse o resto do trabalho.

Do outro lado do aposento encontravam-se as garotas. Leah, sentada no sofá junto com uma Anna que tinha um notebook nas pernas. As duas com o trabalho de listar as possíveis pessoas que tinham algum tipo de ódio contra Helena e poderiam fotografar um ato horrendo como aquele.

— Considerando que a maioria das pessoas da vida de Helena são idiotas e preferem julgá-la do que acolhê-la, considero todos potencialmente suspeitos. - declara Anna com um suspiro - Pelo que eu me lembre as amigas mais próximas dela são Dora e Marina, ambas que seguem Larissa como se fossem zumbis desde o começo do ensino médio.

— E pra você todas que andam com a Lari são ruins? - Matheus questionou com a sobrancelha arqueada, levantando a cabeça da tela do computador e encarando a garota de olhos cinzentos. - Não podemos julgar todo mundo, Anna.

Lari?  O questionamento surgiu na cabeça de Anna quase que instaneamente.

— Eu não diria ruim, mas idiotas o bastante pra fazerem tudo que Larissa quer em prol de uma espécie de amizade. - dá de ombros - É a pirâmide alimentar do ensino médio, Matheus. É o sistema. Infelizmente ele existe e pra mim quem  segue aquela garota por livre e espontânea vontade pode ser considerado idiota. E adivinhe? A maioria cegue.

— Você parece uma especialista no assunto - alfinetou Matheus.

— Conheço o bastante pra odiar isso tudo. - responde ela, com um olhar recriminador pra ele. E suspirou, frustrada - O ruim é que não temos um parâmetro pra isso. Essa é apenas a minha opinião sendo dada.

— Ok, entendido - Leah comenta com um franzir de sobrancelhas - Todos daquela bendita escola que julgam Helena são suspeitos desse crime.  Mas alguém pode me explicar por que diabos vocês estão discutindo?

Anna bufou, ajeitando-se no sofá.

— Não estamos discutindo.

— Ah, claro que não - Leah diz irônica  - Eu com certeza estava vendo coisas.

Gus levanta os olhos da tela do computador e sorri para a garota loira ao lado de Anna.

— Com certeza você não foi a única que viu.

— Que tal discutirmos uma coisa bem mais visível? - pergunta Matheus com um sorriso ousado - Como essa queda que vocês nutrem um pelo outro.

— Matheus... - Leah franze a testa com a mudança de assunto. Ninguém além dele sabia das dificuldades da menina com relacionamentos. Ainda por cima esse em questão.

— No caso do Gustavo,  está mais pra um penhasco - Anna conclui rindo, não notando a troca de olhares entre os primos.

O garoto de cabelos castanhos faz uma careta, as bochechas ficando levemente ruborizadas.

— Obrigada, Anna! - exclamou com ironia, fazendo Anna sorrir.

— Pensei que estávamos falando sobre coisas visíveis - ela dá de ombros.

No mesmo momento, Matheus se inclina para mais perto da tela do computador. A expressão concentrada nas duas fotos expostas na tela, uma delas de um dos quartos de um motel. Não são todos os motéis que tinham sites na internet, mas conhecendo Gonzalez e seu gosto por algo mais fino, ele constatou que o idiota, se estivesse certo, escolhera um dos mais requintados da cidade.

— Motel Feitiche — lê em voz alta - Situado nos limites da cidade, elegante e discreto. Pelos quartos, acho que é esse.

As meninas se levantam para olhar a tela. E Matheus escreve o nome do estabelecimento na tabela de investigações feita por Anna.

— Sinceramente ainda não consigo imaginar como tudo isso foi feito. Mesmo que Helena tenha entrado espontâneamente com Theo no motel, ela ainda é menor de idade. Eles não exigem identidade ou algo do tipo? Não perceberam que a menina estava claramente desconfortável com a situação? - Anna questiona.

— Eles deveriam exigir identidade, realmente - constata Matheus se afastando um pouco para que ela se inclinasse em direção a tela, a mão esquerda tocando sutilmente a cintura da garota -  Porém, no Brasil existem muitas coisas que deveriam ser feitas, mas não são. Principalmente quando se tem dinheiro envolvido. A família Gonzalez é muito conhecida na cidade pelo elevado fundo monetário.

— E pela sujeira que esse dinheiro tem - responde Leah, contendo um sorriso ao olhar com atenção os dedos do primo tocarem a pele de Anna - O pai pode ser tão escroto quanto o filho.

— Se a família inteira não for - complementa Gustavo.

As quatro pessoas se entreolharam com determinação e Gustavo, percebendo o tom mais sério do assunto, pega na mochila um caderno de anotações juntamente com um livro de Direito. O menino nutria uma paixão peculiar pela execução das leis e, mesmo que quase ninguém soubesse, absorvera muito mais sobre a Constituição do que muitos brasileiros por aí.

— Estive dando uma olhada nas leis que penalizam a prática do estupro. Como Theo já é maior de idade, isso facilita um pouco a penalização dele. Porém, a acusação em si depende da Helena. Mesmo que consigamos mais provas do que as fotos ou o quarto de motel, ela é a única além dele que sabe como tudo  realmente aconteceu.

— E, voilá, voltamos a Helena! - conclui Leandra com um suspiro resignado.  Batucando na mesa do computador enquanto pensa, Leah encara os dois meninos presentes - Vocês me disseram que Theo já era um escroto antes mesmo do caso Helena, existe chances de ele ter feito isso com outras garotas, não é? Mais vítimas, mais acusações.

— Conhecendo Theo como, infelizmente, eu conheço é bastante provável - responde Matheus com um dar de ombros - Mesmo que ele não tenha efetuado o ato e se vangloriado como com a Helena, ele é machista e babaca ao ponto de assediar e tentar isso com outras meninas.

— Sobre o assédio tem muitas vítimas - comenta Anna com uma careta - Já ouvi falar que ele vive dando uma passada no vestiário feminino com intenções vulgares, passando a mão na bunda das meninas e tentando se beneficiar delas.

Matheus assente de leve para a garota, lembrando o modo como Theo sempre incentivou os outros caras a assediarem garotas como se esse fosse o melhor jeito de ser machão e se sentir desejado. Cristo. A coisa toda só piora.

— Vou passar a informação do motel para o Rodriguez e iremos especular sobre essas outras vítimas. Em casos dentro do colégio podemos contar com a colaboração do diretor e se for coisas ainda mais graves...

— Polícia - Gustavo completa, um sorriso ameaçando despontar dos seus lábios  - Rodriguez entra com mais uma acusação.

Leah ri da clara animação dele. Os olhos esverdeados lançando um olhar entendedor para o melhor amigo de Matheus.

— Você está adorando esse grupo de investigações, não é? Está se sentindo o próprio Sherlock.

Gustavo ri enquanto dá de ombros.

— Fazer justiça é uma coisa que me anima, Leah. Por isso adoro tanto Sherlock - pisca pra ela, fazendo a garota erguer as sobrancelhas com a ousadia e com o olhar penetrante que ele lhe lançou  - Sou um grande fã de mistérios, principalmente os mais difíceis.

Levemente desconcertada, a garota loira se vira para Matheus e Anna, determinada a falar algo que desvie a atenção dos dois e mude o assunto da conversa. Porém, antes que ela abra a boca, a porta se escancara e Luíza Stahelin sorri ao lançar um olhar amoroso pro filho.

— Ah, ainda bem que estão aí! - fala colocando um balde de pipoca na mesa de centro e se virando para o grupo - Está animado para a competição, Matheus?

Matheus retira rapidamente a mão da cintura de Clara, sorrindo pra mãe e aproximando-se dela. Naquele dia haveria uma competição de natação, uma das últimas da liga estudantil que ele participaria.

— Não tanto quanto você - responde, surpreso - Não sabia que iria.

Luíza ri, ajeitando o jeans e a camisa azul e vermelha, cores da escola de Matheus.

— E perder mais uma competição do meu atleta favorito? Eu fui uma mãe ausente por muito tempo, Matt - dá uma piscadela pro filho - Preciso me tornar aquela mãe escandalosa que grita a cada fôlego seu na piscina, sabe? Esse é o meu momento.

Todos riem.

— Iremos todos gritar juntos,  tia Luiza. - responde Leah - Precisa nem se preocupar.  Eu adoro um escândalo, não é primo?

Matheus ri ainda mais da ousadia de Leandra puxando a conversa para os rumos da competição e animando-se para a tarde que se aproximava. Em alguns raros momentos, se você observasse bem, o olhar esverdeado encarava os olhos cinzentos da garota no outro canto da sala, relembrando a antiga vida de alguns meses atrás em que não havia uma Anna Clara Bennet, investigações ou mães escandalosas nas arquibancadas das competições.

Parecia que desde o dia da biblioteca havia se passada uma vida e não apenas um mês e alguns dias. O trabalho voluntário obrigatório tornara-se rotina pra ele e os estudos em troca de dança fora um dos melhores acordos que ele já fizera.

Era sua vida afinal e ela definitivamente mudara. Pra melhor.

Alguns momentos depois da reunião na sala, Matheus já estava diante do espelho do vestiário masculino. O roupão azul e vermelho cobrindo-lhe  os ombros e o torso, enquanto o cordão bem amarrado em sua cintura nublava a sunga preta para os outros olhares.

Como era uma competição da liga estudantil, os atletas competiam pela escola e na categoria dele apenas duas pessoas iriam competir pelo colégio. O próprio Matheus e Peter Sanchez, irmão de Helena.

Sorrindo em atencipação, Matheus encara a tela do celular, que está em suas mãos. O aplicativo de mensagens mostrando a notificação para a última mensagem que ele enviara.

Matheus: O que temos inclui beijos de boa sorte antes das competições?
Anna: hahaha acho que não, cara (;
Matheus: Podemos incluir essa cláusula?
Anna: Pensei que a gente não ia definir nada sobre isso que nós temos.
Matheus: É uma definição inocente, Branca. Vem cá.
Anna: Vou pensar no seu caso.

Ele ri da incerteza que ela deu, mesmo apostando tudo que ela viria. Não a beijava desde o dia anterior quando a proposta de beijo saiu da boca da menina naquela praça escura. Matheus ainda se lembrava da surpresa que reinou em sua mente, imediatamente substituída pelo desejo que se alastrou  quando os lábios dela tocaram os dele de forma suave, despertando-o para a sensação que ansiava.

Ali já percebera um fato: tornara-se um viciado nos beijos de Anna Clara Bennet. Mesmo com a tentativa de indiferença que eles fizeram hoje de manhã, seus dedos coçaram para segurar a cintura da garota e puxá-la pra si não só uma, mas várias e diversas vezes. Parabéns, Matt! Você está louco pela menina.

A droga é que além disso, o prazo de divulgar as fotos de Helena estava acabando e, mesmo com o avanço cada vez maior, ele ainda sentia que algo fora do controle dele iria se ruir. Merda.

— Nunca te vi com esse roupão -  a voz feminina diz ao se aproximar.

Distraído, Matheus ri ao se virar para a garota que está em pé perto da porta de madeira. O típico jeans emouldurava suas pernas e ele não pode deixar de sorrir para a camisa azul e vermelha do Capitão América que ela usava. Mesmo não sendo a camisa do colégio, eram as cores dele.

— Você nunca veio assistir uma competição?

Ela dá de ombros enquanto se aproxima.

— Sempre tive coisa melhor pra fazer - responde e pisca pra ele - Na verdade, consideravelmente hoje, eu acho que eu realmente tenho coisa melhor pra fazer, sabe?

Ele ri, enquanto desce o olhar novamente para o corpo da garota, em especial para o All-Star vermelho surrado que dá um passo de cada vez em sua direção.

— Ah, é? E o que seria? Estudar física na biblioteca? Assistir série no sofá da sua casa? Reler algum romance favorito?

— Propostas interessantes - constata ela.

E ele, não aguentando mais a aproximação vagarosa, dá os passos finais para perto de Anna.

— Sério? Até mesmo estudar física na biblioteca você prefere ao invés de me assistir nadar, Branca?

A garota sorri, passando os braços pelo pescoço de Matheus.

— É que eu sou fã de exatas.

Ele balança a cabeça incrédulo e ainda sorrindo desce os lábios em sua direção, beijando o canto da boca de Anna e  soltando um suspiro pesado. Ela ri baixinho enquanto enconsta a cabeça perto dele, confusa e extasiada com o momento.

— Isso é tão estranho. - comenta.

— Me abraçar é estranho? - ele ri.

— Dá beijos de boa sorte em você - responde, afastando-se para encará-lo - Antes de tudo isso acontecer eu só te desejei azar, sabia? Por isso é estranho.

Surpreso, Matheus franze a testa para o comentário no exato momento em que ela o beija determinada. Fazendo-o ironicamente perder o fôlego por um instante e incitando-o a passar os braços apertados por sua cintura a fim de aproximá - la do seu corpo cada vez mais.

Cristo, Anna... - murmura entre um suspiro, querendo colocá-la em cima da pia de mármore e ao mesmo tempo tentando tornar o momento mais carinhoso do que quente. Coisa que claramente não estava dando certo.

— Caramba! - é a exclamação que vem de alguém na porta que os separa, ofegantes. Peter está parado na entrada do vestiário, a sobrancelha arqueada e um sorriso querendo aparecer em seus lábios. - Já faz um tempo que isso não acontece, Stahelin. Pensei que eu poderia parar de me preocupar com a pegação no vestiário, acho que me enganei.

Matheus franze a testa para o comentário incoveniente e se vira na direção do colega, escondendo parcialmente o rosto vermelho de Anna atrás de si.

— Peter, eu...

O garoto ri.

— Não se preocupe, digamos que eu não vi e nem ouvi nada - responde e depois encara a garota calada atrás de Matheus. - Estavam te procurando lá fora, Clara.

Anna assente com o comentário, lançando um olhar para Matheus.

— Cláusula cumprida - diz, fazendo-o sorrir enquanto ela caminha para fora do vestiário.

— Está na hora - declara Peter e se vira pra sair também.

— Espera, cara. - Matheus chama - Vamos continuar assim? Fingindo que eu não te conheço desde quando entramos juntos na natação? Peter...

— Desde aquele momento você fez muita besteira, Matheus.

— Eu sei disso.

— O caso da biblioteca com Theo. Você e o escroto do Theo...

Matheus faz uma careta, odiando o rumo dos pensamentos do outro garoto.

— Não estou do lado de Theo.

Peter grunhe e se exaspera.

— Só esqueça isso, ok? Vamos todos esquecer o que aconteceu, assim será melhor.

Enquanto ele sai pra caminhar até perto da piscina, Matheus segue atrás.

— Espera, você quer esquecer tudo? E o que aconteceu com Helena, cara? Não pode simplesmente esquecer isso.

— Isso não é da porra da sua conta, ok? - responde um Peter vermelho - A irmã é minha, deixe que eu decido o que fazer com isso. Por que você não usa seu precioso tempo para algo melhor? Já que nem para o caralho dos treinos você comparece!

— Você não pode está falando sério - Matheus diz, agora eles já haviam chegado aos seus respectivos locais de início da competição e se alongavam, preparando-se - Não pode simplesmente fechar os olhos para isso! Porra, Peter, Theo é um maníaco! E Helena...

— Helena está bem! - complementa o  outro - Ela vai superar isso. Com o tempo pode até esquecer e...

Cristo, você só pode estar louco. - comenta Matheus.

— Ela vai superar, Matt. - afirma convicto, como se sua irmã  tivesse sofrido um arranhão ao invés  de um trauma horrível - Ela até está aqui, sabia? Ela veio pra escola, veio para a competição. Está com as amigas.

Amigas? O termo parece falso para a frase. Aquelas meninas que julgaram Helena e disseram que que ela estava fazendo drama, não poderiam ser chamadas de amigas. Matheus olha a arquibancada em que um grupinho de meninas conversavam, Dora e Marina (as nomeadas "amigas") estão rindo para alguma piada interna. Mas Helena não está ali.

Erguendo as sobrancelhas, Matheus  passa o olhar para todo o público reunido, notando pessoas conhecidas e desconhecidas. Luiza Stahelin, Leah e Gustavo estão rindo em um canto perto da saída do ginásio. Anna também não está entre eles.

Quando finalmente o treinador chamado Greg, um senhor razinza que já fora um excelente nadador, vem cumprimentá-los o silêncio entre Peter e Matheus se tornara constante. Principalmente da parte de Matheus que ficara calado desde o comentário da presença de Helena, pensando nas razões da ausência da garota e de Anna.

Após um anúncio oficial, todos os competidores se posicionam em suas raias. A piscina, semelhante às piscinas olímpicas oficiais, media 50 x 22,8m e a prova seria a dos 100 metros livres, em que o nadador poderia escolher qualquer estilo de nado.

Após um pensamento, Matheus levanta a cabeça instaneamente para o outro lado do pátio. Encarando os colegas de Theo e a ausência estranha do idiota no grupo. Com um murmúrio, sai da posição inicial, levantando-se rapidamente.

— O que diabos você está fazendo, Stahelin?

Com mais um olhar pela arquibancada a clara ausência de Helena, Theo e de Anna torna-se evidente. Ele se volta para o garoto ao seu lado.

— Você tem razão, Peter. Interessante, não é? Eu passei muito tempo faltando ao caralho do treino e você, sendo o atleta tão regular que é, merece ganhar a porra dessa competição estudantil.

— Matheus... - Peter chama chocado enquanto o outro pega o roupão e o veste rapidamente.

Murmúrios são soados e  Greg começa a ir na direção deles. Matheus faz um gesto para o juiz indicando sua saída e dá um sorriso forçado para Peter.

— Boa sorte, Peter. - finaliza e sai andando em direção ao vestiário. Ao anúncio rápido de sua desistência, o juiz apita para os nadadores começarem, o som da água sendo penetrada inunda todo o local. E ali no canto da equipe técnica Gregório de Sousa, o treinador de natação, observou incrédulo um dos seus maiores atletas sair da área da piscina.

***

Paralelamente à isso, Anna ainda ouvia a voz do cara que a interceptara no corredor dos vestuários. "Tem uma menina lá fora querendo falar com você ou com Matheus. Ela está ferida" disse Daniel, um dos alunos do segundo ano, antes de correr para dentro do ginásio lotado.

Ela está ferida. Porra. E você não pensou em chamar nenhum auxílio médico? Foi o imediato pensamento de Anna enquanto corria confusa em direção a porta de saída, esbarrando na multidão que entrava aos poucos para assistir a competição.

Passaram-se alguns minutos até que ela se espremesse pra fora do colégio, respirando fundo e ajeitando a franja que caía sobre seu rosto. Olhou para o lado direito primeiro, para onde ficavam os estacionamentos e depois para o esquerdo, que consistia em uma esquina que dava para outra rua.

Com um olhar atento para o lado direito em que o fluxo de pessoas estava maior, não notou nada de diferente. Erguendo as sobrancelhas viu outro grupo menor de pessoas saindo da esquina do lado esquerdo, também com aspecto normal.

Caminhou para o lado mais vazio com a sobrancelha franzida, perguntando-se quem seria a tal garota ou se aquilo era algum tipo de brincadeira. Virou novamente notando o garoto de cabelos verdes que estava na fila para entrada, reconhecendo-o como o amigo bartender de Matheus que conhecera no dia da boate.

— Tom? - chama. O garoto se vira pra ela abrindo um sorriso.

— A famosa Anna Clara! - dá de ombros pra fila e se aproxima - Pensei que você já estivesse lá dentro.

— Era pra eu estar - ri e morde o lábio ao encarar o lado esquerdo da rua - Estou procurando uma garota que me disseram que estava chamando por mim.

— Que estranho - comenta Tom.

— Pois é. - Ela faz um gesto apontando pra rua - Você poderia vim comigo olhar ali? Depois podemos entrar juntos...

Anna era orgulhosa,  fato. Mas não burra. Considerando tudo que estava acontecendo, mesmo sabendo muito bem defender a si própria, não iria se arriscar sair por aí em um beco escuro como se estivesse 100% segura.

— Claro, garota! - ele afirma, rindo - Precisava nem pedir, já estava indo com você.

Ela sorri e ambos caminham pela calçada para o lado esquerdo, acompanhando o muro da escola. Duas pessoas passaram por eles, ignorando o corpo encolhido no canto do muro como se não estivesse ali.
Anna olha pra Tom com cautela.

— É uma menina - constata ele com a testa franzida.

A menina, ao ouvir o som próximo, levanta a cabeça que estava abaixada. Os olhos brilhantes de lágrimas e os hematomas arroxeados cobrindo-lhe o rosto.

— Anna... - murmurou.

O cabelo loiro e longo estava sujo e bagunçado com sangue seco e marcas de lama. Mas só pelo olhar suplicante Anna reconheceu a garota.

— Ah, meu Deus... - sussurrou se aproximando e encarando o braço da menina, este que segurava firmemente o outro braço, provavelmente quebrado por causa do ângulo estranho em que se encontrava.Na rápida averiguação de Anna, aquela podia não ser a única fratura. - Precisamos de ajuda.

Precisamos de ajuda.

Médico.

Ajuda médica.

Os pensamentos rápidos se repetiam na cabeça de Anna tão frequentes quanto na de Matheus. Ajuda. Depois de correr como um louco perguntando por Helena, Anna ou até mesmo Theo, descobriu que o idiota estava viajando, Anna estava  há meia hora  em busca de uma garota e Helena havia desaparecido pelos corredores há ainda mais tempo.

Um pouco mais calmo, mas ainda preocupado, pressumiu que a garota que Anna foi em busca provavelmente era Helena. Em sua procura verificou todas as salas trancadas e banheiros, notando que as escadas para os laboratório estavam protegidas por um dos zeladores.

Voltou aos vestiários e trocou o roupão por roupas normais com rapidez, paralisando-se na saída ao notar a porta do vestiário feminino entreaberta. Isso deveria estar trancado.

Era o dia da competição masculina, então todos os vestiários femininos que não seriam usados deveriam permanecer fechados nesses dias. E somente a direção e algumas meninas que participavam ativamente dos esportes possuem a chave. Mas que  merda está acontecendo?

Com a sobrancelha arqueada e olhando antes para os dois lados, Matheus abre a porta devagar, a mochila pendurada nas costas e os tênis fazendo  barulho contra  o chão.

— Ei, alguém está aí? - pergunta alto e paralisa para tentar ouvir algo - Bom, peço desculpas pela invasão, mas estou entrando.

Dá mais um passo e paralisa esperando resposta. Nada. O som de água pingando é  a única coisa que soa no vestiário vazio. As cabines sanitárias estão com  todas as portas abertas, as torneiras estão bem fechadas. Seguindo o som das gotas, Matheus adentra a parte dos chuveiros, onde mais cabines rabiscadas estão dispostas.

Apenas um chuveiro está pingando.

Jogando a mochila em um canto, Matheus caminha rapidamente em direção  a última cabine, onde por debaixo da porta um rastro de vermelho-escuro úmido e viscoso sai.

— Merda. - com olhos arregalados e rápido como um lobo a porta fechada é aberta com violência, o som agudo do ferrolho caindo ecoando no mesmo momento em que o nadador cai de joelhos na poça de sangue, procurando avidamente a origem da hemorragia.

Os cabelos cor de trigo da garota estão encostados na parede, o rosto sereno em contraste com o caos que que se apresentara para Matheus naquele cubículo.

Puta merda - os palavrões saíam de forma constante enquanto Matheus encontrava os cortes na perna da garota, milimetricamente feitos perto da virilha e que provavelmente atingiram alguma veia.

Ao tirar a camisa para fazer um torniquete na perna direita, local onde o corte era mais profundo, ele se inclina para verificar a pulsação da garota, pegando  o celular no bolso para chamar uma ambulância.

— Fique comigo - sussurra - Nunca estive em uma situação dessas só por favor.... Sobreviva.

Ele grita por socorro, alto o bastante para que um dos zeladores que passava por perto ouça o som desesperado. Com sangue nas mãos, sem camisa e tentando ao máximo trazer a garota de volta, Matheus Stahelin pede a segunda ambulância que viria pro colégio naquela tarde.

Ambos, Matheus e Anna estavam no mesmo momento com sangue nas mãos, ajoelhados perto de duas meninas, ambas vítimas da nossa sociedade doente. Lá fora, junto com Anna, as pessoas que antes ignoraram a garota machucada e encolhida na rua especulam curiosas e culpadas o choro contido da menina pobre e pálida que eles tornaram invisível socialmente. Lá dentro, junto com Matheus, os zeladores e a maioria dos alunos curiosos entraram no vestiário para ver a fofoca do dia: a menina que eles julgaram, agrediram verbalmente e negligenciaram jogada em um canto de uma cabine de banho, sentada em uma poça de sangue. Dentro desse grupo, um Peter Sanchez encarava incrédulo a cena a sua frente, chocado demais até mesmo pra se mover.

Pressionando firmemente os cortes, Matheus se vira para o colega nadador, tentando ao máximo conter a fúria e a frustração que sentia ao  dizer o fato óbvio:

— Tarde demais pra tentar esquecer, Peter.

 

 

 

 

 

 

Não julgue, acolha. Perceba os sinais e a dor do outro, saiba ouvir! Ligue 141 (CVV) ou entre no site do CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA (https://www.cvv.org.br/). SOMOS IMPORTANTES, VOCÊ É IMPORTANTE.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Primeiramente NUNCA tive e nunca terei intenção de romantizar casos como esse ou ainda incentivar alguém a fazer as atitudes aqui demonstradas. Pesquisei, li e ainda não estou cem por cento satisfeita com esse capítulo. A história ainda é um romance que fluí para fazer vocês rirem, suspirarem, mas também pra fazer vocês pensarem. Não consigo ignorar a sociedade doente em que vivemos, não consigo não mencionar e caracterizar isso. Sei também que alguns podem comparar a minha decisão com a Helena com a tomada pela Hannah de 13 Reasons Why. Não assisti a série, mas só porque no final a situação se tornou semelhante, não quer dizer que o contexto é o mesmo. Cada uma tem suas dores e seus motivos para o ato.


Enfim, capítulo pesado (mas necessário) para encerrar de vez nossa parte um dessa história. Ah, peço desculpas pelo tamanho dele também, agora vem a parte dois com muita animação (lalala alguns momentos tensos) e capítulos com tamanhos mais normalizados, estou ansiosa pra continuar isso aqui com vocês. Metade da história foi agora oficialmente concluída (amém!) e só tenho a agradecer a vocês, seus lindos, por tudo! Hoje em especial a Bella maravilhosa ♥


Vou me organizar pra postar mais rápido e regular novamente, mesmo sendo involuntário pra mim me sentir receosa com certos capítulos (é sério, esse aqui demorou semanas! Mesmo eu querendo muito postar)


Beijão com muito amor e até,



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tudo que ele não tem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.