Magnólia. X791.

O sol bateu em seu rosto e quando ela tentou escapar, ele continuou lhe perseguindo, até que por fim a maga decidiu se levantar. Foi nesse exato instante que notou que tinha demorado demais. Feito louca, arrumou-se em pouquíssimos minutos e saiu correndo em direção à guilda. Torcendo para não ter deixado a maga da água esperando - muito.

Praticamente arrombou a porta da guilda e logo notou que não era tão tarde assim, quase ninguém estava por lá. Respirou pesadamente, apoiando as mãos no joelho e recuperando o fôlego e então caminhou até a moça de cabelos brancos e olhos gentis que atendia a todos e era sempre a primeira a chegar.

– Mira, você viu a Juvia por aqui? - perguntou a loira, sem notar que a azulada tinha acabado de chegar assim como ela e já estava no quadro de missões, lendo rapidamente as várias descrições e recompensas - Olha ela ali, Lucy! - exclamou a platinada sorrindo como sempre e apontando para a Lockser.

– Ah, Obrigada! - a loira agradeceu e então caminhou em direção a outra maga com um genuíno sorriso no rosto - Então, já escolheu? - perguntou assim que estava do lado da azulada.

– Juvia queria pegar essa - apontou ela para um panfleto onde lia-se:

"Missão para recuperar uma joia de família muitíssimo importante. Recompensa: 500.000 Jewels"

Os olhos da maga estelar saltaram, completamente surpresa. Era uma recompensa mais que farta para um trabalho tão simples. Parecendo pensar o mesmo, a maga da água verbalizou:

– Mas Juvia acha estranho a recompensa tão alta para uma tarefa tão simples... - começou, porém antes que dissesse qualquer outra coisa, a Heartfilia arrancou o panfleto da parede, exclamando empolgada:

– É nosso dia de sorte, vamos nessa, Juvia! Mira, carimba pra mim, por favor! - pediu à Strauss, já no balcão em um pulo.

– Vai em uma missão com a Juvia? - a platinada soltou a pergunta, realmente surpresa com aquilo.

– Vou sim... É que... - a loira não sabia o que falar para explicar que não faria a missão com seu time habitual e, por sorte, a ex-Phantom se pronunciou:

– Juvia vai ajudar Lucy com a magia que ela ganhou do rei dos Espíritos. Vamos fazer a missão e treinar por uns dias! - a azulada piscou para a loira que piscou mais ainda pela surpresa. Quando aquela garota tinha ficado desse jeito com ela? Mirajane estava atordoada, porém compreendeu e carimbou a missão e somente quando as duas estavam na porta da guilda foi que o pensamento lhe veio:

"Desde quando Juvia não chama mais a Lucy de 'rival do amor'?"

Porém ela não soube de mais nada quando um mago extremamente forte, loiro e com uma hipnotizante cicatriz ficou esbarrando "acidentalmente" em seu corpo pelo resto do dia. Ele queria mesmo tirá-la do sério... Pobre Laxus, talvez mais tarde aprendesse que não se brinca com o "demônio" Mirajane.

–x-

No mesmo dia, as garotas já estavam numa cidade pequena e litorânea chamada Vina¹ no endereço que correspondia à missão. Na opinião de Lucy a viagem tinha sido estranha, um silêncio esquisito que ela não sabia transpassar, até que por fim, ao descerem do trem e estarem atravessando a deserta via principal da cidade ouviu Juvia exclamar:

– Juvia vai acreditar que a Lucy não é mais rival do amor da Juvia, mas a Lucy vai ter que provar que não gosta do Gray-sama!

– Achei que tínhamos superado isso... - murmurou a Lucy baixinho, mais para si que para a outra, e suspirando; mas antes que fosse capaz de perguntar como faria aquilo, viu um imenso portão e por imenso entenda-se: na altura de um prédio de três andares. Se não tivesse vivido praticamente sua vida inteira atrás de um semelhante, teria ficado chocada (e a azulada ao seu lado estava - a sua maneira - desse modo) porém ela checou o endereço no panfleto da missão e falou apenas - Chegamos.

As duas magas entraram na casa, ou melhor, no terreno, admirando a ampla (e extravagante) decoração. Logo no jardim, havia uma fonte com cupidos semi-nus jorrando água e várias plantas com flores que elas jamais tinham visto, então depois de um longo caminho de pedras - que vinha do portão - havia uma imponente escada de mármore, com corrimãos tão bem entalhados que dava inveja apenas de olhar. A Heartfilia levantou a mão para bater, porém antes que o fizesse as portas de madeira se abriram, mostrando um magro rapazote de cabelos castanhos e olhos violeta vestido em um terno requintado.

– Oi, vocês devem ser as magas que aceitaram o pedido da Violet-sensei, por favor esperem na sala que vou chamá-la - falou com uma mesura tão profunda que Lucy achou que o nariz dele ia tocar o chão, e saiu.

A Lockser e a Heartfilia ficaram então admirando os sofás brancos, as imensas pinturas de família - todas mostrando diversas gerações - e não foi de estranhar que, diante da mesma pose, a mulher sentada e mais velha dos retratos sempre exibia a mesma joia. Um brilhante colar púrpura, adornado com filigranas prateados e presos em uma grossa corrente. Até mesmo nos retratos parecia reluzir.

– Oh! Que bom que chegaram! Que bom que chegaram! - uma senhora veio descendo as escadas com tamanha energia que ao vê-la daquele modo alguém poderia pensar que tropeçaria em seu longo vestido e rolaria escada abaixo. Tinha estatura mediana, cabelos esverdeados e olhos tão roxos quanto a joia que insistentemente aparecia na sala. Vestia-se como uma dama da alta sociedade, ainda que seu sobrepeso parecesse destacado em meio a um espartilho que apertava demais sua cintura. Olhando-a frente a frente, Juvia notou que ela batia em seu ombro, ou talvez fosse mais baixa um ou dois dedos.

– Me chamo Violet Chamber! Fui eu que contratei vocês, garotas! Fizeram uma boa viagem? Espero que sim! Espero que sim! - a mulher de rosto redondo falava rápida demais e Juvia riu internamente com o modo dela repetir sempre a última frase de modo cantarolado, quase teatral.

– Er... Estamos aqui pra saber mais detalhes da missão que a senhora mandou.

– Ah, claro! Claro! Sentem-se! Sentem-se! - pediu, já se jogando em uma poltrona despreocupadamente.

– Desculpe, senhora Chamber, mas Juvia quer entender porque a senhora pediu para recuperarmos uma joia quando, claramente, poderia comprar outra por bem menos que o oferecido na missão - a azulada se pronunciou, ainda em sua tímida desconfiança.

– Porque, minha jovem, essa não é uma joia qualquer. É uma joia mágica! É uma joia mágica!

– Poderia nos dar mais informações? - pediu Lucy.

– Senhorita, ela foi presente para o tataravô de meu falecido esposo, quando ele ainda era um pirata a desbravar o mundo. Ela que nos garante nossa fortuna, sempre nos deu sorte nos negócios. Ela nos aponta o caminho que devemos seguir. Sem ela, tivemos que dispensar nossos empregados e até meu pobre Will está tendo que trabalhar de mordomo. É um absurdo! Um absurdo!

– Juvia queria saber se Violet-sama sabe onde está a joia.

– Ah, querida, está na nossa ilha particular, é aqui perto. Mas não podemos nos aproximar. Não podemos nos aproximar.

– Por quê? - Lucy perguntou curiosa.

– Desde que o colar sumiu, fantasmas dos nossos antepassados rondam furiosos. Eles não deixam ninguém se aproximar. Ninguém que não seja mago, então precisamos de magos. Precisamos de magos! - ela respirou profundamente e sorriu para as duas garotas - Mas agora é hora de descansar, pela manhã Will o levará o mais próximo da ilha que puder chegar. Mas agora vão dormir. Will lhes mostrará seus quartos. Espero que gostem! Espero que gostem!

As duas garotas se levantaram, sendo atendidas de prontidão pelo garoto que agora sabiam se chamar Will, passaram por muitos corredores até chegarem a duas portas que ficavam lado a lado. Ambas se instalaram, se alimentaram e já era noite quando Juvia entrou em seu próprio cômodo e se deparou com a Heartfilia nele.

– O que Lucy tá fazendo aqui? - perguntou, vendo a garota fazer anotações em uma espécie de caderno com as pernas cruzadas e bem sentada na cama da azulada.

– Desculpe, acho que peguei a mania da Erza, do Gray e do Natsu de invadir quartos... E só queria saber o que faremos amanhã - a loira parecia extremamente sem graça, sorrindo sem jeito para a maga da água.

– O Gray-sama invade seu quarto?! - foi a única parte que a Lockser ouviu e por isto esbravejou de modo estridente.

– Calma, Juvia - defendeu-se Lucy - eles sempre fazem isso... E ele nunca tá só, a Erza tá com ele.

– A Erza-san é rival do amor de Juvia? - a azulada perguntou chorosa - Por que a Erza-san invade o quarto de Lucy com o Gray-sama? - continuou choramingando, deixando a Heartfilia ainda mais sem jeito.

– Juvia, acho que já sei por onde começar pra você conquistar o Gray... - Lucy se arrependeu quando ouviu seu pensamento sair em voz alta, porém o olhar da outra maga lhe disse que agora que ela tinha começado, não era bom deixar sem terminar. Com um suspiro, a Heartfilia se aproximou vagarosamente da porta, enquanto exclamava - Deixe de ser tão ciumenta!

Então saiu do quarto da amiga e correu, trancando-se no seu quarto e torcendo para que a ex-Phantom não ficasse furiosa consigo.

Ela sabia, por experiência própria, que uma Juvia irritada nunca era bom.

E depois de muito tempo dormiu e não soube o porquê de na manhã seguinte ter encontrado água debaixo de sua porta.