Magnólia. X791.

Se arrependimento matasse, ele tinha plena certeza que não teria acordado naquele dia. Mas de fato não tinha acordado, porque sequer tinha dormido pensando na estupidez que tinha cometido.

Levantou-se rapidamente, estranhando o fato do Happy não estar em casa e decidiu ir para a guilda, talvez tivesse sorte de encontrar a Lucy por lá e pedir desculpas como ela merecia.

Não custou muito tempo, ou energia, para chegar lá e logo que o fez já abriu a porta perguntando a Mira se a Lucy tinha chegado. Nesse exato instante, uma Erza Scarlet possessa entrou na guilda, dando rápidas e ferozes passadas em direção ao rosado, levantando-o pelo cachecol e gritando para quem queria ouvir:

– COMO VOCÊ SE ATREVE? - ela falou de modo pausado e mortal, fazendo o Dragon Slayer engolir em seco. Estava abrindo a boca para perguntar o que tinha acontecido quando a ruiva continuou - Dragneel, se não fosse eu ter prometido a Lucy que não faria isso, arrancaria sua pele aqui mesmo! Como você ousa dizer algo daquele naipe a ela? COMO VOCÊ OUSA IGNORÁ-LA?

– E-Eu... - tentou falar, mas não conseguiu, sendo interrompido pela Titânia novamente.

– Não argumente comigo, Dragneel! Só não apareça aqui de novo sem ter conseguido o perdão da Lucy - jogou-o com força na parede, causando um estardalhaço e uma mossa na parede. Se havia alguém na guilda que não tivesse visto o ocorrido, certamente que agora saberia de toda maneira. Dolorido pela pancada, o garoto saiu em direção a casa de sua nakama, desejando que ela fosse capaz de perdoá-lo.

"Eu não devia ter dito aquilo" pensou, enquanto caminhava "E agora? O que eu falo pra minha Luce?"

Colocou as mãos detrás da cabeça, erguendo os braços numa postura que parecia despreocupada, mas por dentro estava tenso. Tinha tanto a explicar a ela... Tanta coisa que não sabia dar nome, a começar pelas sensações estranhas que sentia perto dela, o fato de tê-la marcado como sua parceira. Então lembrou-se da frase de Igneel:

"Uma pessoa amiga, companheira, confiável e, não importa onde esteja, você sempre irá querer estar ao lado dela"

Aquilo era tão vago em sua opinião. Ele tinha várias pessoas daquele modo, mas havia algo de diferente na maga estelar. Ele não só a queria por perto todo o tempo, ele a queria como sua... Queria que aquele sorriso doce e meigo fosse somente seu e que quando ela caísse fosse ele a estar do lado. Queria compartilhar daquele laço que a Biska e o Alzack tinham com a Lucy e nem sequer conseguia imaginar a si mesmo pensando naquilo...

Sacudiu a cabeça veementemente, não podia querer aquilo. A Lucy era sua melhor amiga afinal, somente sua melhor amiga.

Parou a frente do apartamento da loira e decidiu - sem saber exatamente o porquê - que não entraria pela janela. Dessa vez, ela merecia que ele batesse.

Falou com a dona da pensão e depois de uma breve explicação subiu as escadas para o primeiro andar de dois em dois degraus e estava prestes a bater na porta quando ouviu o choro baixo que vinha do outro lado. E não só isso...

– Por que eu tinha que gostar justo dele? Por quê? - a voz da maga estelar quebrava a cada palavra, destruindo um pouco do Dragon Slayer do lado de fora a cada suspiro - É essa maldita marca! Esse maldito dragão no meu pescoço, me confundindo o tempo todo! Bem que o Gajeel me disse que isso não era coisa boa... - ouviu-se mais prantos, então a voz baixinha da Heartfilia saiu como quase um sussurro para si mesma, não fosse a aguçada audição que o Dragneel possuía, jamais teria escutado - Eu preferia ter morrido naquele dia...

Ele não suportou aquilo, não mais. Era para ela xingá-lo, dizer que era um idiota, mas não estar tão... frágil e quebrantada daquele modo. Notou que deu sorte ao girar a maçaneta e ver a porta aberta ela o olhou, levantando a cabeça de suas mãos. As orbes achocolatadas se perdendo em meio a olhos vermelhos e inchados. Antes, entretanto, que ela falasse qualquer coisa, ele se agachou a sua frente e a abraçou, tão forte que teve a impressão de que seus corações batiam em uníssono.

A cabeça dela repousou em seu ombro e ele afundou o rosto em seu cabelo, sentindo aquele aroma que tanto gostava e sussurrando pausadamente, sabendo que ela ouviria cada palavra.

– Nunca... Nunca mais... - as lágrimas escapavam por seus olhos. Não acreditava que chorava também, mas pensar naquela garota morta arrancava um pedaço de si, feria-lhe mais que qualquer golpe. Ele engoliu em seco, respirando fundo ao erguer os olhos da maga em direção aos seus e tentou novamente - Nunca mais diga uma coisa dessas, Luce.

Os olhos dela o fitaram de um jeito surpreso, tristonho e de outro modo que não havia explicação. Era como se uma nova chama acendesse em ambos.

– P-por quê? - perguntou ela, sem tirar os olhos dos negros que a fitavam com tamanha intensidade que ela tinha a certeza que enxergava até seu coração.

– Por que o quê? - rebateu, incapaz de desviar-se da Heartfilia.

– Por que... - começou, piscando por um segundo e continuando pausadamente - veio atrás de mim? Por que está me dizendo isso como se... se importasse? - ela tentou disfarçar, mas a mágoa era tão grande que chegava a ser palpável.

– Porque... - ele não soube responder. Não sabia responder a si mesmo, só sabia que a queria. Sim, desejava-a de tantas maneiras que era impossível se conter. Tomou coragem, poderia perder a amizade, mas tinha que falar antes que explodisse, lembrou-se do dia que a Strauss mais nova tinha ido em sua casa e a conversa distraída que tinham tido.

–x-

– ..lembra do tempo que dizíamos que íamos nos casar? - ela perguntou, rindo enquanto servia o jantar na mesa.

Ele ficou sem graça, como sempre ficava. Não conseguia imaginar a Lisanna como sua esposa... Já certa loira...

– Era engraçado não era? Éramos tão novos! - exclamou a albina de modo sonhador.

– Onde quer chegar, Lisanna? - perguntou desconfiado.

– Em canto nenhum, Nat-kun. Só acho que aquele tempo é muito diferente de hoje e que fizemos promessas muito bobas... Eu vejo o jeito que você olha pra Lucy... Por que não diz logo que a ama? - perguntou.

– E-eu a-amar a Lu-Luce? D-De o-onde tirou isso? - gaguejou, completamente nervoso, sentindo-se corar.

– Não ama? Você a salvou com aquela marca... Sabe que ela é destinada só a parceira do Dragon Slayer, né? Eu vi o mestre comentando isso com a Mira... - perguntou sorrindo, sentando-se junto ao rosado - Sabe, algum tempo atrás eu queria que fosse eu a escolhida, mas ficarei feliz se você estiver feliz. E a Lucy é uma ótima pessoa! Uma maga excepcional! E...

– Eu não amo a Luce! - afirmou interrompendo a albina, cruzando os braços a frente do corpo, contrariado. A Strauss arqueou uma sobrancelha e falou:

– Ah, não? E se ela fosse sequestrada agora?

– Eu salvava ela.

– Se ela estivesse com outro cara?

– Ela não ficaria com outro cara - rebateu.

– E se ficasse? - repetiu a Strauss.

– Eu não ia deixar - cruzou os braços contrariado.

– E daqui há... não sei, cinco anos, com quem você quer estar?

– Com a Luce! - exclamou sem pensar e quando se deu conta, viu o sorriso malicioso de Lisanna nos lábios.

– Natsu! Você está completamente apaixonado por ela! - exclamou rindo - só acho bom se declarar logo viu? Uma garota não pode esperar pra sempre...

– Eu n-não estou a-apaixonado!

– Você não está SÓ apaixonado! Você a ama!

–x-

Ele realmente amava a Lucy? Olhou para a maga que esperava uma resposta e ao vê-la fazer menção de se levantar a segurou novamente, não podia deixá-la escapar assim...

– Porque... eu... eu gosto muito de você - falou, sem saber se era capaz de se declarar assim. Aquilo não era dele.

– Eu também gosto de você, Natsu - a loira falou se levantando e se soltando do abraço do mago - Mas você ultimamente me magoou muito...

– Eu sei, mas por favor, por favor, Lucy... Me perdoa? - pediu, surpreendendo-a.

Ele se levantou, fitando novamente a garota que estava perplexa, e antes que ela desse uma resposta, a puxou para perto de si e sussurrou em seu ouvido.

– Lucy, eu te amo.

E para ela, o tempo poderia parar naquele exato momento, enquanto seus olhos encontravam os dele e uma mistura de sentimentos lhe invadia o peito.

Ele a amava? Uma parte de si ficava trêmula com aquilo e essa parte estava atingindo suas pernas naquele instante. Ele a amava. Natsu Dragneel a amava. Não tinha como ficar mais feliz não é?

Bem, errado.

Porque enquanto os olhos de ambos se estudavam de um modo único, ele a puxou para perto, admirando o rosto da maga, ela estava tomada pela surpresa, pelas lágrimas, por tudo. Era demais para digerir em um único dia, então uma lágrima escapou de seus olhos e ele a apanhou com o polegar, parecendo tão sério que era surpreendente, quando sua mão tocou o rosto dela, ela fechou os olhos, entreabrindo suavemente os lábios, concentrada no toque suave e morno dele em seu rosto.

Ele não sabia o que fazer, só sentia cada parte de si querendo beijá-la, mas não sabia como. Então, pouco a pouco, em uma lentidão que era mistura de deleite com tortura, se aproximou dos lábios da garota, sentindo o gosto de sua boca misturado com as lágrimas que até muito pouco atrás ela derramava. Pensou que poderia ficar uma eternidade aproveitando a maciez presente naquela boca e quando estavam prestes a aprofundar o beijo, uma trupe invadiu o quarto da maga estelar, fazendo com que os dois se separassem corados.

Então o silêncio de Erza, Gray, Juvia e Levy foi quebrado pela exclamação do exceed azul:

– ELES SE GOOOOXXXXTAM!

Ninguém era capaz de dizer que ele estava errado, não é?