Solemnia Verba escrita por Blitzkrieg


Capítulo 7
Capítulo 6: Deja vú.


Notas iniciais do capítulo

Entre os humanos de Osaka, vagavam devatãs. Escondidos, ocultos nas sombras do segredo. Uma pessoa caminhava na rua, sem ter idéia da identidade daquela pessoa ao seu lado, poderia ser um devatã, talvez dos mais poderosos. Em qualquer lugar poderia ocorrer uma violação e uma batalha ocorrer, sem afetar o fluxo natural das coisas. E definitivamente, os humanos não sabiam que aquele ao lado poderia possuir uma identidade oculta e ironicamente, até mesmo alguns daqueles "humanos", não sabiam que aquela imagem no espelho, poderia não representar a natureza correta daquele ser vivo.



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Osaka, Colégio Higashi Osaka Chosen Chukyu Gakko, dia 10 de Novembro de 2007.


‘’Que chato! Dia chato!Tenho inveja dos pássaros sobre aquele tronco. Estão felizes, alegres...melhor ainda...estão livres. O que está acontecendo comigo? Acho que hoje vai ser mais um daqueles dias em que não consigo sentir o vento em meu rosto. Não, não pode ser apenas depressão. Deve ser apenas...apenas tédio mesmo...isto! Passa!...o tédio passa. Simples assim, simplesmente passa. Não posso ficar assim...isto é ruim...definitivamente ruim...Vamos! Fique feliz! Fui o primeiro da classe mais uma vez! Sorria! ....grande coisa......’’




– Hiro-san! O que tem lá fora? – indagou Hikari, chamando a atenção do menino que olhava pela janela da sala, distraidamente.





– Várias coisas. – sorriu, ajeitando os óculos. – Parece que o intervalo já está prestes a terminar. – logo após tal comentário, o sinal soou como dito.





– Nossa! Você acertou na mosca. – disse a garota, sorrindo para seu amigo. – Que pena, a aula vai começar. Eu gostaria de te convidar para ir comigo, com o Yuki, a Kaoru e o Toya na nova sorveteria que vai ser inaugurada este final de semana. Você vai querer ir com a gente?





– Claro! - respondeu o garoto. – Que dia vocês vão? – indagou, desviando o olhar para a porta da sala que estava distante alguns metros da garota e com isto notou que o professor havia chegado.





– Sábado á tarde. – respondeu Hikari, virando-se por ter ouvido a voz do professor. – Depois vou te contar aonde vamos nos encontrar para irmos até a sorveteria. – após dizer isto, a garota se sentou na cadeira e se acomodou puxando a mesinha para si.





– Está bem.





Após se ajeitar em seu lugar, Hiro tratou de prestar atenção na aula. Ao longo do tempo, o garoto continuou sentindo um tédio inexplicável e começou a indagar sobre a origem do mesmo. Analisou o ambiente, como se tentasse compreender o que lhe fez sentir-se diferente em um dia como aquele que aparentava ser tão comum. Não percebeu nada de mais. O professor pressionou o giz contra o quadro, pronunciou as palavras pausadamente algumas vezes e elevou o tom de sua voz simultaneamente. Hiro ajeitou seus óculos e decidiu esvaziar sua mente de pensamentos inúteis para o momento, procurou focar-se no que estava sendo explicado.





Era um aluno aplicado, estava no colegial. Possuía 16 anos, e não se incomodava com o fato de estar um ano mais novo do que a maioria dos alunos de sua sala. Seus olhos eram castanhos e seus cabelos eram negros e curtos, mas não tão curtos como de alguns de seus colegas que usavam um corte semelhante ao de um soldado de exército. Tinha pele caucasiana características comum entre os orientais. Não gostava muito de sair de casa, preferia ler um bom livro quando não possuía compromisso algum e adorava refletir sobre suas metas. Procurava manter um relacionamento social estável com seus colegas e gostava de ter amigos que pudessem fazê-lo fugir um pouco da seriedade que a vida cobrava. Costumava sempre ser elogiado pelos mesmos, por ter sempre um plano B em alguma situação e por analisar todas as possibilidades antes de tomar alguma atitude.





Passava uma impressão intelectual por causa de seu cabelo pouco chamativo e discreto, porém com uma porção de fios arrepiados sobre a testa, além de seu porte físico, sua pele e seus óculos. Como passava a maioria do tempo no colégio, também passava a maior parte do dia vestido com o uniforme masculino obrigatório, que se tratava de um conjunto de roupas negras: uma camisa de pequenos botões que tinham que permanecer abotoados até o colarinho, calça e sapatos de mesmos pigmentos. As meninas usavam o típico uniforme escolar feminino, com camisa branca e saia negra. Quando Hiro não estava no colégio, costumava vestir roupas condizentes com a sua idade: camisetas com estampas, calça jeans, mas não tinha o hábito de usar roupas de cores claras.





Já Hikari, possuía um estilo diferente, começando por seu cabelo, curto, liso e salpicado para o lado direito. Tinha um corpo magro, porém com proporções de uma jovem de 17 anos e tratava-se de uma menina energética, com um olhar prateado de vitalidade e verdes esmeralda. Dentro de seu grupo de amigos, do qual Hiro fazia parte, tinha o hábito de sempre tomar a iniciativa na preparação de algum novo programa. Contava sempre com a sua amiga Kaoru, uma menina baixinha com cabelos longos e negros, sempre sorridente e compreensiva, para lhe ajudar a convencer os outros garotos a se divertirem um pouco com suas idéias inusitadas. Hikari era aplicada nos estudos, porém muitas vezes sentia dificuldades e recorria ao Hiro para apoiá-la em situações constrangedoras, como o risco de tirar uma nota ruim em uma prova que estava por vir, por exemplo. A garota tinha a pele pálida como a maioria dos alunos de sua sala e possuía uma paixão por sorvetes. Por ser um pouco inocente, não percebia que muitos garotos suspiravam por seu jeito meigo e espontâneo.





Após o término da aula, Hiro decidiu retornar para casa, sozinho. Despediu-se de seus amigos e tentou fornecer uma explicação convincente para impedi-los de lhe acompanhar. O garoto tomou tal atitude, pois preferiu ter um tempo para refletir sobre a sua indisposição durante o dia. Enquanto caminhava, admirou o pôr-do-sol que surgiu no horizonte na direção das pontes que separavam a cidade de Osaka da cidade de Kobe. Durante alguns instantes, sentiu-se bem e decidiu ir até uma porção mais movimentada da cidade. Decidiu andar um pouco, e pensou em ignorar os horários marcados, pois queria apenas deixar o fluxo da vida guiá-lo. No fundo, sentiu-se mal por saber que sua mãe iria se preocupar, mas logo este sentimento passou por deduzir que ela acreditaria em qualquer explicação simples, por ter boa confiança em seu filho. Vagando por uma rua próxima ao Hotel Ramada, decidiu comprar algo para comer, sentia um pouco de fome e a caminhada até a sua casa demoraria um pouco. Entrou em uma loja de conveniências e procurou algo interessante, apenas um pacote de salgadinhos era o suficiente para segurar a fome até chegar em casa. Após pagar pelo produto, se retirou da loja pela porta automática. Depois de caminhar alguns passos, deparou-se com uma pessoa deitada no chão, que vestia roupas sujas, amarrotadas e negras, um traje bastante incomum para uma pessoa em tais condições. Olhou o indivíduo curiosamente e este abriu os olhos encarando-o com um olhar escarlate.





– O que foi garoto? – indagou o estranho, erguendo-se para apoiar suas costas na parede. – Algum problema?





– Gomenasai. – se desculpou o garoto, distanciando-se um pouco.





" Hum...havia me esquecido..."





O estudante fitou o rapaz seriamente, tentando reconhecer a língua que o mesmo havia pronunciado. Reconheceu o inglês britânico, porém teve dificuldades em assimilar as palavras, devido á velocidade de pronúncia.





– Konban wa. Doo desu ka ? – indagou o estranho, notando o rosto familiar do menino, e com suas palavras o fez alterar sua fisionomia, relaxando os músculos da face.





– Estou bem e você? Qual seu nome? – indagou o estudante, sorrindo para o rapaz. -




Meu nome... – houve uma pausa e uma dúvida momentânea. – Meu nome é Vlad...me chame de Vlad.




– Apenas Vrado? – indagou o garoto, tendo dificuldades em pronunciar o nome.





O rapaz de cabelos prateados riu do garoto. Não achou graça em nada, na verdade, riu por tristeza e por sentir inveja da inocência do ser humano que indagava.





– O que foi? Do que você está rindo?





– Nada. Desculpe. – Vlad se levantou. – Preciso ir, me diga seu nome antes de eu ir embora.





– Meu nome é Daisuke Hiro.





– Foi bom te conhecer, Hiro. Espero lhe encontrar novamente. E que estranho... – O Chernobog se afastou do garoto e caminhou virando-se de costas para o mesmo. – Você é muito parecido com um antigo conhecido meu. – de costas para o garoto, serrou os dentes e apertou seu punho por a imagem de Hiero Krypsimo ter surgido em sua mente.





– Espera! – exclamou o estudante, fazendo o devatã, de cabelos prateados, parar. – Você deve estar com fome. Tome isto aqui. Pode ficar com tudo. – disse, oferecendo seu saco de salgadinhos. - Você parece mesmo estar com fome, percebi isto na sua dificuldade em se levantar e sei que você não está bêbado, pois você não está cheirando á sakê e conseguiu pronunciar palavras em outra língua e quando uma pessoa está sobre domínio do álcool tem dificuldades na fala, ainda mais uma língua ocidental como esta que você pronunciou agora a pouco.





– Hum... – resmungou, virando-se. – Menino inteligente...





Vlad se dirigiu ao garoto e refletiu se deveria aceitar o presente. Sentiu-se envergonhado por um simples garoto humano e comum ter razão. Durante várias horas não comeu nada e praticamente passou a tarde inteira dormindo sobre a calçada. Decidiu então pegar o pacote de salgadinhos e agradeceu o garoto gentilmente. Despediu-se mais uma vez e aconselhou Hiro a ir para casa, pois já era noite e um garoto como ele não podia ficar vagando pelas ruas naquele horário, pois era perigoso.





Por alguma razão, Hiro não conseguiu seguir o conselho do misterioso mendigo resolvendo segui-lo. Alguns minutos depois, Vlad lhe chamou a atenção mais uma vez e lhe pediu para ir embora. Novamente o alertou sobre o perigo das ruas de Osaka á noite e lhe pediu para deixar de lhe seguir.





– Quem é você? Você não é um mendigo, suas roupas não são parecidas com as de um mendigo.





O Chernobog virou-se encarando o menino que o olhava com um olhar de ansiedade. Aproximando-se lhe dirigiu a palavra.





– Por favor, vá embora. Não faça mais perguntas, não terá as respostas que deseja. Você é um menino inteligente, então creio que você não irá se atrever a me seguir novamente, pois para você eu sou um desconhecido e existe a possibilidade de eu lhe machucar simplesmente por isto.





Hiro sentiu um calafrio com tais palavras e após refletir um pouco, concordou em deixar o misterioso indivíduo de cabelos prateados em paz.





– Está bem. Vou embora. Desculpe o incômodo. – após dizer isto, seguiu caminho em direção contrária a Vlad. Este, antes de prosseguir, observou a figura do garoto desaparecendo na declividade da rua em que se encontravam. Rua esta que estava silenciosa e pouco movimentada.





Hiro caminhando, tentou supor quem era o estranho, pois ainda estava impressionado pelo mesmo ter conhecimento de uma língua estrangeira, usar roupas diferentes e mesmo assim estar jogado na calçada como um mendigo qualquer. Deduziu após montar um emaranhado de hipóteses que esta pessoa poderia ter perdido a memória ou algo assim. Voltou atrás em seus pensamentos, pois se lembrou que a pessoa havia lhe dito para não fazer mais perguntas e que não teria as respostas que desejava, com isto deduziu que esta pessoa não havia perdido a memória, pois se recordava das respostas para tais possíveis perguntas que ele próprio faria. Ou, talvez, seria um incômodo revelar a amnésia, além disto se recordava perfeitamente do próprio nome. De certa forma, o garoto balançou o rosto com uma intenção de esvaziar a mente, parecia que aquilo tudo estava complicado demais. Lembrou-se que devido às condições do momento, não teve chance de lhe perguntar novamente sobre seu sobrenome, que provavelmente também seria estrangeiro, pois Vlad não respondeu de imediato, sendo que isto era comum naquele país.





Por se entreter em demasia com seus pensamentos, não percebeu que dois estranhos estavam lhe seguindo. E alguns instantes depois, o garoto foi surpreendido por estas pessoas que se tratavam dos marginais que o próprio mendigo misterioso se referira indiretamente.





– Ei! Moleque! – gritou um deles.





– Aonde você pensa que vai? – indagou o outro.





O primeiro era magro e tinha cabelos em estilo punk tingidos de loiro. Tinha piercings no nariz e na boca. Já o segundo, era mais robusto e tinha cabelos curtos, tingidos na região da nuca, com uma coloração castanho-avermelhado. Usava uma jaqueta preta de couro como seu colega e também vestia uma camiseta vermelha com uma estampa. Ambos usavam calças pretas com correntes. Um deles, o mais magro, segurava um bastão de beisebol. Chegava a ser curioso como ambos pareciam-se muito com os famosos skinheads. Poderia ser uma variação do grupo no Japão.





Hiro virou-se com o coração disparado. Procurou manter-se calmo. Observou os dois. Um sentimento de arrependimento lhe dominou subitamente. Sabia que não tinha como escapar, sair correndo não iria adiantar nada, talvez até piorasse a situação fazendo isto. Sendo assim, decidiu dialogar com os dois, na esperança de pelo menos amenizar o nível das ações que os dois iriam praticar.





– Estou indo para casa.





Os dois marginais se entreolharam e soltaram gargalhadas intensas logo depois.





" Acho que não vou conseguir me livrar dessa. Isto não vai ser tão simples. "





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Instintivamente recuou um pouco, mas logo parou e aguardou os dois marginais. Decidiu não fugir, preferiu lutar. Não sabia como, mas desejava vencer a todo custo. Se propôs a utilizar qualquer artifício para isto. Apesar de sentir uma fisgada de medo, não deixou a covardia lhe dominar. Sentiu o palpitar do coração em seu peito, pedindo, implorando desesperadamente para se retirar dali. Por um momento, desejava que se por ventura não conseguisse revidar que pelo menos morresse sem dor, seria praticamente um milagre se isto acontecesse. Além do mais, sabia que suas últimas palavras tinham lhe retirado este privilégio, de morrer sem dor. O medo se misturava ao ódio, e a tensão fez pesar a esperança de fuga.




Aquele de posse do bastão, se aproximou, preparando-se para realizar o golpe, porém ouviu uma voz.


– Então era isso. – exclamou Vlad, caminhando em direção aos criminosos, logo depois parou a uma certa distância.

– Ahm? Quem é você!? – perguntou, olhando o devatã de cabelos prateados por cima dos ombros.

– Quer dizer que eram vocês que estavam me seguindo? – indagou, caminhando em direção aos dois, com as mãos nos bolsos. – São patéticos.


Próximo capítulo: Renascimento.






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Notas finais do capítulo

Comentem, por favor. Desculpe a demora em postar os capítulos, eu estou estudando muito e quase não tenho tempo de frequentar o nyah.