O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 28
A Garganta de Calypso


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer da música:

Main Theme - Assassin's Creed 3

Por Lorne Balfe ✔



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↓ Música ↓

Emma escolheu esperar do lado de fora, apoiada na proa do navio com Akwe em seu ombro enquanto Connor se reunia com os outros capitães, observando o armazém ao longe como se temesse que ele desaparecesse se ela olhasse para outro lado. Os homens de Connor haviam e juntado a ela nessa tarefa, e todos observavam o horizonte como se encarassem de perto os portões do inferno.

Correu os olhos para a pequena frota de navios ancorados à sua volta. Seria quase impossível vê-los se ela não soubesse que realmente estavam ali, pois havia sido dada a ordem de apagar toda fonte de luz que pudesse indicar sua presença, e as cantorias haviam parado alguns minutos atrás; pareciam até mesmo navios fantasmas.

A assassina estava tão distraída preocupando-se com o que aconteceria em seguida, que só notou que a reunião na cabine de Connor havia acabado quando o Aquila começou a se movimentar junto aos outros e Akwe alçou voo de seu ombro, seguindo-os pelo ar. Atravessou o convés com uma mão fechada em punho e a outra apertando o cabo da espada na cintura com força.

Tomou seu lugar a direita dele enquanto ele guiava o Aquila através das ondas, o Man O’ War e o forte se tornando cada vez mais próximos. Mais alguns metros e eles notariam a presença da frota, e o caos começaria. Emma viu pelo canto do olho Connor olhá-la rapidamente antes de voltar sua atenção para o mar.

— Pronta? — Perguntou.

Emma segurou-se com mais força à pequena amurada atrás do timão, tentando se equilibrar com a velocidade com que o Aquila deslizava sobre as ondas, e assentiu uma vez. Alcançaram as nuvens de chuva, e as gotas grossas começaram a atingir seu rosto coberto pelo capuz. Então, Connor berrou para sua tripulação:

— Preparem-se para a batalha, homens! — Todos no convés inferior ergueram os rifles para o ar e gritaram em resposta. — Todos aos canhões e morteiros!

Houveram ordens gritadas dos outros navios que seguiam ao Aquila, mas agora a tempestade estava alta o suficiente para que Emma não conseguisse distinguir as palavras. Imaginou que não seriam tão diferentes da de Connor. Agora já mais perto do forte, Emma viu o Man O’ War soltar as velas, e capturar o vento enquanto vinha em direção à frota.

— Eles nos viram! — Faulkner gritou do lado esquerdo de Connor. — Preparar fogo!

O som do Man O’ War abrindo fogo quase não pôde ser ouvido por causa da tempestade que agora castigava todos ali. No entanto, quando as balas atingiram a lateral do Aquila, Emma vacilou e teve de se segurar com as duas mãos para não cair. Seus ouvidos assoviavam e ela se abaixou para não ser atingida pelos pedaços de madeira que foram lançados.

— Fogo! — Connor ordenou, girando o leme para que o Aquila ficasse de lado para o Man O’ War.

Os canhões de todos os navios foram acesos quando os outros capitães ordenaram fogo, e a luz do disparo de todos ao mesmo tempo foi o suficiente para iluminar vários metros em volta da batalha, e Emma pôde ver os outros navios por aquele breve segundo. Estavam cercando o Man O’ War por todos os lados, tentando atingi-lo em todos os ângulos possíveis.

No entanto, O Aquila tomou uma posição em que a frente do navio de guerra inimigo estava bem em sua direção. Connor tentou girar o leme para que saíssem dali, mas o vento os estava atingindo bem pela frente, e movimentar o navio parecia impossível. O capuz já havia saído da cabeça de Emma, e sua trança havia sido desfeita, fazendo seus cabelos dançarem na ventania forte.

— Preparar para impacto! — Connor gritou quando o Man O’ War avançava rapidamente, visando atingi-los na lateral com sua proa. — Abaixem-se!

Todos obedeceram, e Emma se segurou com força na amurada. No entanto, a força com que o navio de guerra os acertara foi forte demais, e as mãos de Emma já escorregadias devido à chuva escaparam da amurada, e ela deslizou pelo convés superior até bater com as costas na balaustrada.

Ficou atordoada por alguns segundos, e quando finalmente conseguiu abrir os olhos, viu que Connor agora virava o navio para a esquerda, desviando-se do navio e tentando dar a volta para que o resto da frota pudesse abrir fogo com segurança. Quando ele o fez, Emma escorregou de volta, mas como estavam muito inclinados para a esquerda, ela bateu na balaustrada e caiu por cima da mesma.

Emma sentiu a água do mar gelada em seus pés, mas conseguira se segurar na amurada para que não caísse no oceano. Antes que seus dedos pudessem se desprender da superfície de madeira polida, Connor endireitou o Aquila, direcionando-o para longe do Man O’ War, e um par de mãos agarrou os ombros de Emma e a puxou de volta.

— Vamos lá, garota! — Era Faulkner. — De volta aos seus pés!

Emma conseguiu correr de volta até sua posição anterior, e dali pôde ver que o convés inferior estava repleto de destroços e armas esquecidas por tripulantes já mortos. Não teve muito tempo para olhar em volta, para os outros navios, quando Connor deu outra ordem.

— Para baixo!

Novamente, todos obedeceram, e Emma praticamente abraçou a amurada com mais força. Quando ergueu a cabeça, viu que estavam bem ao lado do forte, recebendo seus disparos também. O Man O’ War agora lançava balas de corrente que se enrolavam nos mastros e os estava partindo. Lá em cima, em meio à tempestade, Emma viu um dos homens se agarrando em uma das vigas, tentando se salvar de uma queda mortal.

— O cordame se soltou lá em cima! — Faulkner também olhava, e apontou. — Estaremos mortos se as velas se soltarem! E Noel está caindo!

Novamente condenada por seus instintos, vendo que o Aquila agora atacava em linha reta, Emma se soltou da amurada e correu escada abaixo, pulando sobre corpos e destroços de madeira molhada.

— Emma! — Connor chamou em meio à tempestade, quase inaudível.

Emma chegou ao mastro principal e começou a escalá-lo com rapidez, agarrando-se às ligas de metal e às cordas trançadas para se impulsionar para cima. Quando chegou à viga onde o homem se agarrava, andou abaixada com os braços abertos, para maior equilíbrio em toda aquela oscilação. Quando Noel estava prestes a cair, Emma se jogou para frente, caindo de barriga na viga, e agarrou sua mão.

Cerrou os dentes com a força que usou para puxá-lo para cima, e ele conseguiu se agarrar ao cordame novamente, gritando agradecimentos para Emma. Ela se colocou abaixada novamente, voltando para o mastro principal e segurando-se ali.

— Prenda as velas novamente! — Gritou ela para Noel.

Ele assentiu várias vezes e recomeçou seu trabalho, aparentemente tomando mais cuidado desta vez. Emma estava prestes a descer novamente, mas seus olhos detectaram algo que a congelou onde estava, fazendo com que os cabelos soltos e as vestes se molhassem ainda mais.

Estavam perto o suficiente do forte para que Emma visse com clareza quem estava atrás das linhas de canhões inimigos, comandando os disparos. Phillips estava parado com os braços para trás, pomposo demais para fingir ligar para a tempestade que o atingia. Quando o Aquila passou à frente dele, seus olhos cruéis e cheios de ódio pararam na assassina nas vigas.

O rosto de Emma se contorceu com fúria e ela se soltou do mastro, correndo pela viga rápido demais para que pudesse cair, e sem pensar nas consequências ou nos avisos de Connor, enquanto os guardas de Phillips atiravam em sua direção com rifles, saltou do navio.

Apesar do surto de adrenalina que a dominava, Emma calculou mal a distância até a parede do forte. Mas, apesar de não conseguir agarrar muralha da linha de canhões agora destruídos, deslizando para baixo até se segurar na beirada de um dos muitos buracos causados pela artilharia que agora estraçalhava as paredes de pedra, a vantagem foi que não conseguiriam acertá-la com os rifles ali.

Pouco conseguia ver através de tanta chuva, mas Emma olhou para cima e viu Phillips e ele, antes furioso, agora parecia temer por sua vida. Assim que viu que Emma estava tão próxima dele, empurrou seus guardas para a beirada e saiu correndo.

Os guardas puxaram suas armas, mas Emma já se apressava para entrar através do buraco enquanto mais balas de canhões acertavam os homens acima e pontos perigosamente próximos a ela. Disparou através de um corredor estreito, acelerando mais quando viu que eram barris de pólvora que já começavam a explodir devido ao fogo vindo dos navios.

Havia uma pequena escada que levava ao nível superior do forte, e Emma se agarrou a ela quando o fogo finalmente a alcançou. Mesmo tentando subir três degraus de uma vez, o impulso da explosão a arremessou para fora e ela rolou por alguns metros.

Levemente tonta, ergueu os olhos a tempo de ver Phillips correndo através do longo pátio que ficava à frente dos grandes portões do armazém, os únicos locais onde Connor e os outros não estavam mirando seus disparos. O lugar era mal iluminado, e o que permitia Emma a enxergar eram as explosões e os relâmpagos. No entanto, destroços voavam para todos os lados, o que tornava a escapada do capitão um pouco mais complicada.

Emma levantou-se sem querer perder nenhum segundo e começou a atravessar o pátio atrás dele. O som da tempestade somado aos dos canhões eram ensurdecedores, mas apesar da velocidade em que corria, Emma notou que os disparos agora vinha apenas da frota de navios; o forte estava completamente desabilitado. Os marinheiros haviam invadido as estruturas e agora cruzavam espadas com os casacas-vermelhas, disputando pela posse do forte e do armazém.

Não perdendo Phillips de vista, Emma o viu virar à esquerda para subir correndo uma escadaria que levava às construções superiores do forte. Ela agarrou um rolo grosso de corda de cima de um barril e pulou o corrimão da escadaria para subir atrás dele. Uma bala de canhão atingiu a escada abaixo de seus pés bem a tempo de ela pular para fora dela.

O espaço superior era consideravelmente menor, e Emma soube que Phillips não conseguiria correr por muito tempo. No entanto, essa não parecia ser sua intenção. Alguns metros à frente, ela viu duas portas abertas que davam ao que parecia ser um escritório bem iluminado, e era possível que ele se trancasse ali. Então, ela forçou suas pernas a irem mais rápido enquanto removia a adaga de sua lâmina oculta e a amarrava na ponta da corda.

Faltando alguns metros para Phillips chegar à sala, Emma ficou aflita, imaginando que não conseguiria alcança-lo a tempo. No entanto, Akwe mergulhou até eles, vinda da tempestade, e começou a arranhar o rosto de Phillips com suas enormes garras, fazendo-o parar e colocar os braços em frente à cabeça, gritando xingamentos.

Akwe alçou voo novamente e Emma, que ainda corria, e girou a ponta da corda com a lâmina e a lançou para frente. Quando Phillips se virou para encarar Emma, em pânico e com o rosto sangrando, a corda o acertou, dando várias voltas no pescoço do homem. Emma freou seus pés onde estava, ofegante e quase caindo com a parada abrupta, e puxou a corda.

Phillips se engasgou e gemeu, caindo no chão empoçado e enlameado, seu chapéu caindo para fora de sua cabeça. Nesse momento, tanto os soldados inimigos quanto os marujos pararam de lutar para observar aquela cena; todos os disparos de canhão haviam cessado, mas a tempestade rugia acima deles. Emma andou lentamente até a beirada sem cercas do pátio, que terminava em uma queda alta até as ondas que quebravam nas pedras lá embaixo, e puxou novamente a corda.

O capitão do forte se engasgou ainda mais e gemeu, lutando para tirar a corda de seu pescoço, mas quanto mais Emma puxava, mais apertada ela ficava. Seu rosto por onde a chuva deslizava estava vermelho devido à pressão na garganta. Quando finalmente Emma o puxou até seus pés, perto da queda, ela colocou a sola de sua bota no rosto de Phillips.

— Qual o problema? — Emma murmurou, olhando-o de cima, apertando sua bochecha com o pé. — Não se sente tão superior agora?

Ele a encarou com medo e ódio enquanto ela amarrava o resto da corda na base de um pesado morteiro de cobre que se encontrava ali. Assim que deu o último nó, pisou brutalmente no braço esquerdo do capitão, e se abaixou para agarrar a gola de sua farda enquanto ele gritava com a dor de um osso quebrado.

— De pé — ela murmurou para ele, puxando-o para cima.

Quase sem forças para ficar em pé, Phillips ficou parado em frente a Emma, olhando-a com uma expressão de ódio. Ela o segurava perto de seu rosto, e quando baixou o olhar, viu o típico broche da cruz templária presa em seu peito. Arrancou-o, enfiando em um dos bolsos de suas vestes.

— Eu a encontrarei novamente no inferno — Phillips forçou as palavras abafadas para fora de sua garganta, e atirou a cabeça para frente, acertando Emma em cheio no nariz.

Emma grunhiu, sangue escorrendo junto com as gotas de chuva até seus lábios, mas eles sorriram. Ela ergueu o rosto novamente, os olhos âmbar brilhando com chamas de fúria. Virou o rosto para um dos marujos que a olhava de perto do escritório, e apontou para o chapéu de Phillips que jazia no chão.

— Me dê o chapéu dele — murmurou.

O marujo pegou o aparato e correu até Emma, entregando-o a ela. Ela ergueu-o e o colocou com um cuidado cínico em sua cabeça, escondendo o rosto arranhado do homem sob a sombra da aba. Então, agarrou sua gola novamente e o puxou para mais perto.

— Dê lembranças ao diabo por mim — sussurrou. — Capitão.

Emma pegou sua adaga, tirando-a da corda no pescoço de Phillips, e a enfiou sem misericórdia na garganta do capitão. Seus olhos se arregalaram, e o sangue escorreu quando ela puxou a lâmina de volta, e então deu um passo para trás para chutá-lo nas costelas, lançando-o para a queda, para seu fim.

Ofegante, e com a fadiga finalmente chegando a ela, a assassina observou o corpo de Phillips pendendo, morto, da parede do forte. A lembrava de quando vira os cidadãos de Nova York pendurando o corpo de Rufus na igreja da cidade. Os olhos cansados depois se ergueram para o céu, deixando as gotas de água geladas tocarem seu rosto, para o que parecia um milagre; a chuva estava ficando mais leve, e os relâmpagos lentamente cessavam.

Emma virou a cabeça, para olhar por cima do ombro as pessoas que a observavam; os marinheiros, com admiração, e os soldados, com medo. Os casacas-vermelhas se apressaram a largar os rifles e ergueram as mãos no ar o mais alto possível, rendendo-se. O único som era o dos trovões remanescentes.

Tomou um segundo para observar seus arredores. A batalha havia acabado, e quase todas as estruturas do forte — com exceção do armazém — estavam em ruínas. No entanto, nenhum incêndio queimava, e quando Emma olhou para a baía lá embaixo, o Man O’ War que deveria ter defendido o forte gradualmente afundava no oceano. Nunca teria conseguido sobreviver ao fogo direto de cinco navios, especialmente estando o Mockingjay entre eles. Alguns dos tripulantes da frota escoltavam os casacas-vermelhas, provavelmente levando-os para alguma prisão.

Passos apressados ecoaram pelo pátio, esmagando as poças d’água sobre vários pares de pés. Emma virou-se para olhar quem se aproximava. Travis, Maurice e Gilbert gritavam junto com suas tripulações em vitória, apontando as espadas para o céu. No entanto, Connor e James andavam com passos largos até ela.

— Você nunca escuta, não é mesmo? — James parecia mais irritado que o normal, especialmente para alguém que tinha concluído seus objetivos daquela noite. — Quando dissemos nada de imprudências, era exatamente disso que estávamos falando! Poderíamos ter te acertado sem querer!

Emma revirou os olhos, e se sentou em cima de um dos canhões, baixando o capuz e suspirando, encarando suas mãos trêmulas e cheias de sangue. Tirou suas luvas e guardou-as nos bolsos internos das vestes. Seus pulmões doíam com a fadiga, e respirar era doloroso; havia tempos que ela não corria daquela forma. Riu internamente, imaginando como seria hilário se ela morresse por cansaço ali mesmo.

Ouviu Connor se aproximando dela, mas apenas viu seu rosto quando ele se abaixou em frente a ela. Ainda usava suas vestes de capitão, e tirou o chapéu tricorne para observar Emma. Parecia menos irritado que James.

— Você está bem? — Murmurou, passando os dedos com delicadeza no rosto de Emma, provavelmente limpando o sangue de seu nariz ferido.

Ela deu um sorriso cansado, assentindo fracamente, e ficou observando-o, como se pedisse desculpas por ter pulado do navio daquela forma. Ele com certeza havia protestado quando viu, mas ela não ouvira devido à tempestade.

Agora que toda a tensão e adrenalina se fora, ela começava a sentir o frio devido à suas roupas encharcadas. Viu que Connor estava prestes a dizer algo, mas alguns marujos se aproximaram deles, interrompendo aquela conversa silenciosa.

— Capitão Connor, senhorita Emma — um deles chamou, fazendo os assassinos olharem, o rifle em mãos e o rosto sujo de lama por algum motivo. — Estamos vasculhando a sala do capitão do forte, e imagino que devam dar uma olhada no que encontramos até agora.

Emma franziu as sobrancelhas, e se levantou com dificuldade do canhão para caminhar pacientemente até a sala onde Phillips nunca conseguiu chegar. Era bem iluminada por vários archotes acesos, repleta de estantes cheias de livros, e um enorme baú trancado se encontrava no canto mais escuro, e é claro que foi até ele que James foi. Algumas tapeçarias antigas pendiam das paredes perto de uma lareira que ainda crepitava, mas os tripulantes do Mockingjay já se apressavam a tirá-los dali.

No entanto, Emma parou atrás da mesa no centro e observou os papéis para os quais o marujo apontava. Eram páginas arrancadas de um livro antigo, amareladas pelo tempo e devoradas por traças em alguns cantos. No entanto, a imagem ali, cercada por algumas anotações em tinta vermelha, mostrava claramente o Diamante de Kalista.

Emma engoliu em seco e correu os dedos por cima do desenho. As escrituras em volta eram em uma língua que ela desconhecia, algum dialeto antigo. Arrastou a página para o lado, desejando ver as outras, e a de baixo mostrava uma espécie de cajado de ouro, e na ponta do mesmo, estava o Diamante novamente.

— Era disto que Eberus falava — ela murmurou, mais para si mesma do que para os presentes, estudando a imagem com atenção. — O Cajado de Seth. Ele está atrás disto.

— Acha que ele teve acesso a esta informação? — Connor perguntou, parando ao lado de Emma e pegando os papéis.

Emma varreu a escrivaninha com os olhos, em busca de alguma evidência, e encontrou um envelope aberto e um pote de cera ao lado que ainda estava quente. Pegando o envelope em mãos e girando-o, viu que estava endereçado a Eberus.

— Não está lacrado — ela devolveu o envelope à mesa. — Acredito que Phillips estava prestes a enviar tudo a Eberus quando atacamos. Precisamos saber onde ele está, agora. Não há mais tempo a perder.

Emma virou-se quando ouviu James grunhindo, frustrado, e o viu ainda tentando abrir o baú de Phillips. Ela sacudiu a cabeça em desaprovação e abriu uma das gavetas da escrivaninha, fuçando por baixo de envelopes vazios e papéis em branco até encontrar um molho de chaves velho e enferrujado.

— Thatch — chamou ela, e James se virou a tempo de pegar as chaves que Emma jogou.

Andando para longe da mesa e deixando Connor investigar os papéis, a assassina leu com cuidado cada um dos títulos dos livros nas estantes enquanto os homens de James se apressavam em levar qualquer coisa dali que parecesse ter algum valor monetário. Todos os livros eram de estratégia naval, contos antigos, mitos nativos e armamento.

Não encontrando nada evidente ali, virou-se para a lareira atrás da mesa. Aproximou-se e viu que, em meio às cinzas e chamas, um pedaço de papel agora terminava de queimar. Antes que ele se destruisse por completo, Emma pôde ver o que parecia um pedaço do mapa da Inglaterra.

— Ele queimou o mapa que guardava aqui — ela se levantou novamente, suspirando com a frustração.

James exclamou em vitória quando finalmente conseguiu abrir o baú e lá dentro encontrou centenas de sacos de moedas e caixas de jóias, mas pouco Emma conseguia se concentrar naquilo. Deixou sua mente trabalhar por alguns segundos, e então, uma ideia a atingiu. Piscou algumas vezes e começou a andar em circulos pela sala, olhando as paredes.

Connor a observava com cuidado e suspeita, enquanto James ordenava que seus homens carregassem o baú de riquezas para o Mockingjay e encarava Emma, que agora apalpava o gesso das paredes, como se de repente ela houvesse elouquecido totalmente.

— Ela perdeu a cabeça — murmurou Thatch, seguindo Emma com os olhos.

— O que procura? — Perguntou Connor, aparentemente entendendo o que Emma estava fazendo.

— Estes capitães da marinha têm costume de deixar mapas presos à parede — Emma respondeu. — Phillips deve tê-lo arrancado às presas quando viu que estávamos atacando, e jogou-o na lareira.

— Se o mapa está queimado, como achar onde ele estava poderá nos ajudar? — O assassino perguntou de volta.

A resposta veio assim que Emma encontrou o que estava procurando. No chão, perto do rodapé num espaço ao lado da porta, vários pinos de metal jaziam esquecidos ali. Aproximou-se para olhar mais perto, e quando ergueu os olhos viu o local onde eles haviam estado, quatro buracos pequeninos no gesso.

— Preciso de um mapa, intacto, de todo o oceano Atlântico — Emma virou-se rapidamente para James.

Thatch ordenou que seus homens fossem até o Mockingjay e pegassem o mapa que guardava em sua cabine. Enquanto esperava, Emma olhou de perto o espaço entre os quatro buracos, e viu linhas traçadas ali, feitas por alguém que desenhara no mapa enquanto ele ainda estava preso.

Quando o marujo voltou e entregou a Emma o mapa de James, ela o pegou rapidamente e agarrou uma pena qualquer na mesa de Phillips. Connor segurou o mapa na parede enquanto ela redesenhava os traçados, passando a ponta da pena pelos sulcos deixados na parede, refazendo com precisão as linhas que Phillips desenhara em seu mapa.

Assim que terminou, tirou o mapa dali e o estendeu sobre a mesa para que os dois capitães pudessem opinar, uma vez que nada ela entendia de navegação. Connor e James se abaixaram para ler, e viram várias rotas perfeitas traçadas sob o mapa, todas saindo de um mesmo ponto: da Garganta de Calypso.

— Esta é a rota paras as Índias Orientais — James correu o dedo cheio de novos anéis por uma das linhas pretas que Emma desenhara. — E esta leva até as colônias de Portugal no sul. Todas são rotas de comércio, exceto por... esta aqui.

Emma se enfiou no meio dos dois, querendo olhar. A rota que James indicava saia do armazém e seguia numa direção irregular para o Norte, e não cruzava com nenhuma outra linha. No entanto, ela não terminava em Boston ou Nova York; terminava bem longe disso, acima da fazenda, e entrando em territórios desconhecidos pelo menos por Emma.

— Termina no Norte — Connor murmurou. — Mas nesta direção não há nada, a não ser cavernas, geleiras e cemitérios de navios.

— Pode ser isso que querem que pensamos — Emma comentou, e James e Connor trocaram olhares. — Afastado da civilização, fora de qualquer rota oficial de comércio da Inglaterra ou qualquer outro lugar. Seria o lugar perfeito para um esconderijo templário. Precisamos perseguir isso, é a única coisa que temos.

— Se acalme, Emma — Connor colocou sua mão no ombro dela. — Todos estamos cansados, inclusive você. Logo iremos para casa, e refletiremos sobre tudo que conseguirmos aqui. 

Emma suspirou, mas assentiu. Não tinha forças para discutir. Puxou o capuz de volta para a cabeça e saiu da sala; James cuidaria da transferência dos mantimentos do armazém, e Connor provavelmente pegaria os papéis de Phillips. Deu uma última olhada para a corda de onde o capitão morto pendia, depois deu as costas para tudo ali; só queria voltar para o Aquila o mais rápido possível.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥