O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 24
Conforto




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Quando Emma finalmente viu os tijolos da Casa Grande através da mata, ela soltou um suspiro aliviado que se transformou em vapor devido ao clima frio. Seus ferimentos reabertos ainda a incomodavam, e ela tentava lentamente limpar seu rosto do sangue do animal que a atacara, mas parecia estar apenas piorando a situação.

A mulher e a garota haviam seguido Emma em silêncio durante a maioria do percurso, mas Emma foi surpreendida novamente quando ouviu o som de algo caindo na neve, e a garotinha exclamou alguma coisa.

Emma se virou rapidamente, para ver a mulher caída no chão, desmaiada, enquanto sua filha tentava acordá-la, ajoelhada ao seu lado. A assassina correu até ela, abaixando-se também, e segurou seu rosto entre as mãos enluvadas. Seu rosto acobreado parecia mais pálido, e Emma notou que seu ferimento continuava a sangrar.

A garotinha murmurou mais alguma coisa, e seus olhinhos escuros começaram a ficar molhados, mas Emma se apressou a dizer:

— Não se preocupe, vamos leva-la para dentro.

Emma, juntando qualquer força que ainda restava em si e esforçando seus músculos além do limite, ergueu a mulher do chão e a colocou sobre seu ombro que já havia visto dias melhores. Emma parou, tomando um segundo para respirar fundo, e então começou a andar.

 

Ofegante, e com os olhos cor-de-mel quase lacrimejando de exaustão, Emma parou no começo da escadaria que se estendia em frente à porta de entrada da casa grande. A garotinha segurou a barra de seus robes, e Emma tentou chamar por alguém, mas nenhuma palavra saía em meio à sua respiração dificultada.

No entanto, a janela do escritório de Achilles dava justamente para onde Emma se encontrava, e após provavelmente tê-la visto de lá, Connor e James escancararam a porta da frente, correndo até ela.

James a encarou enquanto Connor tirava a mulher dos ombros de Emma, provavelmente estupefato em vê-la toda coberta de sangue e com uma garotinha atrás de si. Sem dúvida parecia uma imagem e tanto.

— Por todos os diabos... Emma! – James a pegou pela cintura quando as pernas de Emma vacilaram em sua tentativa de subir a escadaria, e a colocou sentada nos degraus de cimento. – Você é um imã para problemas. Vá com calma, garota, não percebeu que ainda não recuperou todas suas forças? O que é todo esse sangue, pelo amor de deus?

— Lobos – Emma tentou explicar, apoiando-se para trás nos cotovelos e tentando voltar sua respiração ao ritmo normal. – Foram atacadas por lobos.

James suspirou, como se não acreditasse na má sorte da assassina sentada em frente a ele. Olhou então para a garotinha, que correu para sentar-se ao lado de Emma, e encolheu-se ali. Emma moveu-se devagar para acariciar de leve os cabelos da menina.

— Sua mãe vai ficar bem – tentou encorajá-la, embora soubesse que ela não conseguia entende-la.

A porta da frente se abriu novamente, e James e Emma viraram-se para ver uma Diana desesperada correr escadaria abaixo segurando o vestido nas mãos. Sua expressão piorou quando viu Emma sentada ali, no estado em que se encontrava. A ruiva parou, e após um suspiro longo, colocou a mão sobre os olhos verdes.

— Ah, deus, tenha misericórdia – murmurou, e então passou por eles, correndo em direção ao vilarejo, provavelmente para chamar Dr. Lyle, e claramente nem querendo saber o que havia acontecido.

Emma copiou-a, também suspirando profundamente, mas não conseguiu deixar de dar um sorriso fraco e sarcástico. Aquele era o ultimato: sua vida realmente era uma desgraça.

— Posso saber o motivo desse sorriso? – James cruzou os braços.

— Esqueça – Emma levantou-se devagar, olhando à sua volta. Sombra ainda estava nos estábulos, mas Akwe não. Provavelmente estava caçando, ou algo assim. A carroça de Achilles também não estava ali, então deduziu que ele ainda não havia retornado.

Devagar, Emma começou a subir as escadas, com a menina ao seu lado, e James a seguindo por trás como uma sombra irritante, provavelmente temendo que ela simplesmente caísse para trás como uma fruta madura. Connor havia sumido para dentro da casa com a mulher, e ela desejava saber quem ela era; o fato de ele demonstrar tanto interesse nela a incomodou; ele não dirigira nenhuma palavra a ela. Emma tentou, sem muito sucesso, espantar aquele sentimento estúpido.

James passou à frente de Emma, abrindo a porta para ela e deixando-a passar junto com a menina. A assassina a guiou até a cozinha, e indicou o banco de madeira na mesa no centro, e instruiu para que ficasse ali. Dado ao silêncio, e ao suspiro daquela garotinha mínima, ela pareceu compreender.

Ainda em um passo lento, Emma entrou na sala de estar, onde viu que Connor ou Diana haviam coberto a mesa com um pano bege, e a mulher se encontrava ali, ainda desmaiada. Detectou Connor no canto da sala, com os braços cruzados e olhos vigilantes que seguiram Emma quando ela entrou.

Emma desviou o olhar, e dirigiu-se para o sofá, encolhendo-se em um dos cantos, agradecida por estar bem mais quente e confortável ali dentro. Ao mesmo tempo que notou que a lareira ainda estava apagada, notou que sua carta amassada não estava mais ali. Emma era perspicaz o suficiente para saber quem a havia pegado e porque, e suas suspeitas se confirmaram quando ela ouviu Connor se aproximando e se sentando ao seu lado.

— Perdoe minha curiosidade – pediu, entregando a ela os papéis, ainda amassados, mas abertos para possibilitar a leitura. – Eu sinto muito por seu pai.

A respiração de Emma começou a tremular quando ela, devagar, tirou os papéis da mão estendida de Connor, e apenas então, seus olhos começaram a se umedecer, sua garganta se fechou, e o peito se apertou. Ela ergueu o olhar para Connor, que ainda a observava em silêncio. Sem ser permitida pensar muito em sua dor, ela lentamente se aproximou dele, encontrando abrigo em seu peito, abraçando-o.

Emma pôde sentir que ele se surpreendeu a princípio, mas logo a envolveu de volta, provavelmente sentindo-a tremer e ouvindo sua respiração pesada. Ambos ficaram parados ali, no sofá, e o único som presente era do farfalhar dos galhos nus das árvores lá fora. Emma sentiu, então, a mão de Connor deslizar por seu cabelo novamente solto e bagunçado, e apesar de seu sofrimento, ela conseguiu sorrir.

Pela terceira vez, a porta da frente se abriu com um baque, e Emma se distanciou de Connor para olhar quem entrava, e ele fez o mesmo. Era uma Diana prestes a chorar de nervosismo, e ela segurava a porta aberta para o médico da fazenda.

— Mal posso esperar para o dia em que esses assassinos se aposentem – Dr. Lyle reclamou em alto e bom som, colocando sua maleta em cima da mesa onde se encontrava a mulher nativa. – Só então terei algum sossego.

Emma piscou, e fungou, virando-se de costas para a entrada e para Connor, tentando esconder seu rosto de choro. Ele se levantou, e ela o olhou de baixo. O assassino pousou sua mão na bochecha de Emma por dois ou três segundos, e então deu a volta no sofá, indo até o médico.

Emma agarrou uma das almofadas de Achilles e a abraçou, encolhendo-se novamente no canto do sofá. Quando fechou os olhos, uma lágrima solitária escapou, e Emma segurou as cartas junto ao peito, sem conseguir parar de pensar em seu pai, e em como ele estaria naquele exato momento. Logo, mesmo em meio às conversas de Connor, Diana e Lyle, Emma conseguiu pegar no sono ali, no canto mais afastado da sala.

 

Emma aparentemente estava mais cansada do que aparentava, e quando acordou com um movimento em seu rosto, a primeira coisa que notou é que o sol já estava mais fraco, e provavelmente logo se esconderia atrás da floresta. A lareira havia sido acesa, e o calor a envolvia como um enorme cobertor.

A assassina se colocou sentada num átimo, e instintivamente segurou a mão que tocava seu rosto e a acordara, assustando Diana que se encontrava sentada à sua frente. A pobre mulher pulou para trás, e em sua mão havia um pano sujo de vermelho do rosto de Emma. Ela colocou a mão livre sobre o coração.

— Não me assuste assim, querida – pediu, sorrindo gentilmente.

— Me desculpe, Diana – Emma suspirou, e Diana continuou a trabalhar no rosto de Emma com o pano úmido. – Força do hábito.

Emma observou à sua volta. Havia uma pequena bacia de madeira com água quente aos pés de Diana, e em outro recipiente, haviam várias bandagens velhas e frouxas. A princípio imaginou que Diana apenas estava limpando todo aquele sangue de seu rosto, mas aparentemente não era só aquilo. Todos os curativos de Emma haviam sido substituídos por outros novos e limpos.

— Obrigada – Emma murmurou, e sentiu algumas partes de sua pele ardendo. – O que... – ela acariciou de leve seu braço. – Algo me incomoda.

— Dr. Lyle colocou um unguento curativo para acelerar a recuperação desses machucados, e prevenir que infeccionem – Diana explicou, terminando o trabalho em seu rosto e tocando seu queixo com o indicador amorosamente antes de se levantar e levar as bandagens e o que restou da água quente. – Imagino que deva arder um pouco.

Emma olhou para o próprio corpo e, ao notar que estava sem seu robe, percebeu também que deveria ter dormido profundamente, para que Diana tirasse seus robes e trocasse os curativos sem que ela despertasse. Suspirou novamente, vendo que havia sido de volta à sua realidade, que desejava que fosse um pesadelo.

Levantou-se devagar, e observou a lareira por um segundo pensativo antes de se virar para a saída da sala. Notou imediatamente uma mudança no ambiente familiar; a mesa no centro havia sido voltada para seu lugar de origem, e não havia nenhuma mulher deitada inconsciente ali.

Diana estava prestes a sair da sala também, provavelmente havia parado para pegar alguma outra coisa, mas Emma chamou-a antes que ela pudesse ir.

— Diana, onde está a... mulher?

— Ah, Ko’kuo está no andar de cima, a colocamos em sua cama – Diana sorriu antes de sair, acenando adeus. – Cuide-se, Emma, por favor?

Emma piscou algumas vezes, atônita, parada no mesmo lugar, então bufou. É claro, o quarto dela; tinha de ser o dela. A assassina sacudiu a cabeça, e andou com passos pesados até o corredor, subindo as escadas da mesma forma. Além de Connor ter sua curiosidade e atenção atiçados por aquela mulher, ela ainda tinha de ocupar seu lugar no próprio aposento da assassina. Era inacreditável.

Assim que chegou a seu quarto, e abriu a porta, não gostou muito da cena que viu. James estava à janela, em silêncio, e virou-se para Emma quando a assassina abriu a porta, mas Connor estava sentado ao lado da mulher que dormia na cama de Emma, sob o filtro de sonhos que havia sido feito para ela.

Emma parou, e cruzou os braços, com uma expressão nada amigável em seu rosto. Quase se arrependia de ter salvo a mulher; ela não sabia de onde esses sentimentos infantis estavam saindo, mas era difícil lutar contra eles.

— Eu gostaria muito de saber o que está acontecendo – Emma murmurou para fora suas frustrações, e seus olhos desafiadores foram para Connor. – Quem é essa mulher?

— Fez bem em resgatá-la – Connor levantou-se e passou por Emma, segurando-a pelo ombro e guiando-a para fora do quarto. James os seguiu, e fechou a porta atrás deles.

— Estou começando a questionar isso – Ela sussurrou, na esperança de ninguém ter ouvido, enquanto desciam as escadas de volta ao escritório onde Connor observava os mapas mais cedo.

— Nós a colocamos em seu quarto para não perturbar seu sono – explicou James. – Você parecia extremamente cansada.

— E desde quando você se importa? – Emma virou-se para ele, deu-lhe um olhar fuzilante, mas depois simplesmente bufou e seguiu Connor que entrara no escritório de Achilles, não vendo a reação do capitão. – De qualquer forma, porque diz isso?

— Seu nome é Ko’kuo, ela é filha do chefe de uma das tribos nativas que vive ao norte daqui – Connor deu a volta na mesa e cruzou os braços enquanto observava os mapas ali. – É óbvio que já devem ter dado falta dela e sua filha. Ela acordou por um breve momento, disse que se perdeu na floresta e encontrou alguns guardas. Havia acabado de despistá-los quando você a encontrou, cercada por lobos.

Emma bufou, cruzando os braços, e encostou-se na escrivaninha de costas para ele. Na floresta, seus membros agiram quase por conta própria, ela quase não se lembra do pequeno confronto com os animais selvagens; fora praticamente instintivo. Alguém precisava de ajuda, e ela não hesitou. Mas ela ainda não entendia toda a atenção que Ko’kuo estava recebendo, tampouco gostava disso.

Emma grunhiu para si mesma.

— De qualquer forma – Suspirou, tentando se controlar. Sentia-se estúpida. – Porque isso é importante?

— Você nos deu a solução para um problema que Connor e eu encontramos quando estudávamos os mapas mais cedo – James passou por Emma, e apertou sua bochecha enquanto ele bebia de uma garrafa de rum.

Emma esguiou-se do toque dele, dando-lhe um tapa na mão, o que o fez rir enquanto pegava uma estatueta da estante de livros e a observava, provavelmente perguntando-se o quanto aquilo valia.

— E que problema seria esse? – Emma quis saber.

— Nós definimos uma rota até o depósito Templário – Connor manteve os braços cruzados, e Emma sentia seus olhos nela enquanto falava. – Thatch ofereceu chamar alguns de seus... amigos para...

— Amigos é uma palavra muito forte – James interrompeu, engolindo outro longo gole de rum. Connor lançou um olhar sério para ele, e ele ergueu as mãos. – Desculpe. Continue.

— ...para nos ajudar com mais poder de fogo se precisarmos – Connor continuou. – E para esta missão, todos nós precisaremos ir, sem exceções, o que deixaria a fazenda desprotegida e vulnerável a outro ataque. Estávamos tentando pensar em algo, quando... vi você pela janela.

Emma virou-se para olhá-lo melhor. Ele realmente a observava com cautela e ela, que mantivera uma expressão carrancuda até agora, amenizou um pouco o olhar. A maneira como ele a olhava... Ela conseguia ver a pena em seus olhos, e também preocupação. James provavelmente não conseguia notar isso, ou nem mesmo sequer estava prestando atenção; mas Emma aprendera a ler os olhos daquele homem tão estoico e misterioso.

— E como a garota pode nos ajudar? – Emma desencostou-se da mesa, e colocou uma mão na cintura e deixou a outra pender ao lado do corpo. – Vai chantagear as pessoas da tribo dela a nos ajudarem em troca por tê-la salvo? Teria prazer em... escoltá-la de volta para casa.

James deu uma risadinha de escárnio, e Connor olhou para baixo, provavelmente achando graça também. Ela cruzou os braços novamente, e olhou pela janela a neve que caía lá fora.

— Não sei o que acham tão engraçado – reclamou.

— Eu estava pensando em algo menos agressivo – Connor murmurou. – A tribo dela... provavelmente vai querer nos recompensar por tê-la trazida de volta, ilesa – Connor pareceu ressaltar aquela palavra. – E podemos pedir que eles cedam alguns de seus guerreiros para nos ajudar a proteger a fazenda enquanto estivermos fora.

— E se eles se recusarem? – Emma cogitou, e contemplou inocentemente suas lâminas presas em seus pulsos.

— Certo, já que ninguém vai falar, eu irei – James colocou a garrafa de rum com um pouco de força demais na mesa. – Você não pode matar a garota, Emma.

Emma fechou a cara, e desviou o olhar de James.

— Eu não disse nada disso – defendeu-se.

— Mas eu sei que estava pensando – James deu a volta na mesa, com um sorrisinho de vitória no rosto, apontando um dos dedos cheios de anéis para Emma.

— Calado, James. Como ousa? – Emma bufou. – E a garotinha? Onde ela está?

— Está lá em cima, dormindo com a mãe.

Emma franziu as sobrancelhas; não a havia notado.

— Podiam tê-la colocado no quarto de Achilles – sugeriu.

— O velho volta esta noite – Connor lembrou.

Emma ficou em silêncio.

— De qualquer forma – Connor continuou, e olhou para Emma novamente. – Emma, venha aqui.

A assassina mal-humorada andou até Connor, e parou ao seu lado na mesa, olhando os papéis que ele indicava. Sentiu o calor vindo de seu corpo, e percebeu que estava com um pouco de frio; ali no escritório não havia uma lareira, e ela não estava com seus robes.

— Dadas suas condições atuais, e por tudo que têm passado ultimamente – ele começou. – Eu havia cogitado a opção de pedir para você ficar aqui enquanto eu cuido disso – Emma, é claro, estava prestes a protestar, mas Connor tapou sua boca com sua mão massiva. – Mas lembrei-me de que é inútil lhe pedir para ficar fora de uma briga. Então, já que você irá conosco, vou lhe explicar o que iremos fazer, e você vai ouvir.

Emma assentiu, e Connor removeu a mão de sua boca, e os três voltaram a atenção para os mapas abertos sobre a mesa de madeira de cerejeira. O livro de contas de Achilles teve de ser movido para fazer caber tantos papéis.

— Nós iremos nos aproximar por aqui – Connor deslizou o dedo pelo mapa. – E, quando encontrarmos o depósito, não atacaremos no primeiro dia. Nós iremos observar de longe, e aprender mais sobre o território inimigo.

— A ilha onde o depósito fica é um pedaço grande de selva – James limpou a garganta. – E os arredores são conhecidos por constantes tempestades. Ou seja...

— Nada de imprudências – Connor olhou diretamente para Emma, como se a acusasse de algo silenciosamente. – Phillips provavelmente estará lá, e sei que você está ansiosa e quer eliminá-lo. Mas vamos agir com cautela, e ter certeza de que sempre teremos a vantagem na batalha. Nada de correr riscos desnecessários. Entendeu?

Emma sentiu-se levemente ofendida, mas deixou passar. Poderia estar errada, mas ela sentia que ele estava se preocupando com ela.

— Sim.

— Ótimo.

— Já que ocuparam minha cama – Emma viu pela janela que quase se escurecia novamente; aquele dia havia passado surrealmente rápido. – Onde irei dormir?

— Pode dormir comigo no Mockingjay, querida – James enrolou uma mecha do cabelo de Emma no dedo, e ela revirou os olhos, batendo em sua mão outra vez. Ele a tirava do sério.

— Guarde seus cortejos para suas mulheres, Thatch.

— Durma em meu quarto – Connor, que, de repente, ficara mais sério do que antes, murmurou enquanto enrolava os mapas de volta. – Eu darei um jeito.

— Connor...

— Não é uma sugestão – ele ergueu os olhos marrom café, e o assunto deu-se por encerrado.

Emma assentiu mais uma vez, e começou a dirigir-se para fora do escritório, e de volta para a sala e pegar seu robe. O lugar estava quente e aconchegante, mas seu estômago começava a protestar, e não parecia que teriam um jantar aquela noite. Vestiu-se, e James, encostado ao batente do portal do escritório, e Connor, que subia as escadas, seguiram-na com os olhos.

— Vai sair novamente? – foi Connor quem perguntou.

— Vou até a pousada de Corinne – contou, abrindo a porta. – Preciso de ar.

— Já é a segunda vez que fala isso hoje – James reparou. – Tente não voltar coberta de sangue desta vez.

Emma bateu a porta atrás de si, sem responde-lo, e puxou o capuz de sua vestimenta para cima de seu cabelo. De fato, as noites na colina Davenport eram frias e os ventos, fortes, mas Emma não se importou. Assim que passou pelos estábulos, Akwe alçou voo e pousou em seu ombro. Emma sorriu, acariciando a cabeça da ave.

 

A assassina não se demorou muito na pousada, uma vez que não estava cheia naquele começo de noite. Corinne caprichou em seu prato e fez questão de trazer junto alguns pedaços crus de bife para a águia que estava empoleirada na cadeira vazia ao lado de Emma.

No fundo, Emma queria pedir algumas canecas da famosa cerveja de Corinne, e beber até se sentir melhor. Mas sabia que aquilo não ajudaria; não faria seus ferimentos pararem de latejar, nem curaria as doenças de seu pai. Então manteve-se sentada ali, comendo em silêncio, apesar de sua mente gritar por dentro.

Seus pensamentos viajaram também para Connor, o que vinha acontecendo muito nos últimos dias. Sorriu. Ele havia mudado muito desde a noite em que haviam se conhecido; ela havia conquistado sua confiança, e ele a dela. Emma via nele, agora, mais do que apenas um companheiro da Ordem, mas uma fonte de conforto que ela havia desejado por muito tempo. Ela se via refletida nele de tantas formas e jeitos, e as vezes suspeitava que talvez esse fosse o motivo de que brigaram tanto quando se conheceram. Um encarava no outro os próprios defeitos, e talvez isso os fizera melhorar de alguma maneira.

Quando Emma dissipou seus devaneios, e subiu para a casa com Akwe após pagar Corinne, viu que a maioria das luzes do casarão já haviam se apagado, a não ser pelo quarto de Connor. Parou à porta antes de entrar, observando o céu escuro, e as nuvens que se formavam acima da copa das árvores. Uma tempestade se aproximava.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥