O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 20
Urgências




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Emma não tinha certeza de como voltara para casa.

O frio e o cansaço finalmente tomaram conta dela, e a corrida de volta à propriedade de Achilles foi feita enquanto ela estava inconsciente. Só conseguia lembrar vagamente do vento deslizando por entre os fios soltos de seus cabelos mas, ao mesmo tempo, algo quente envolvendo-a. Lembrava-se também de um som; batidas de coração aceleradas, como tambores reverberando por um campo de batalha.

Como era de se esperar, pesadelos atormentaram sua mente exausta durante toda a noite. Ela despertava em certos momentos, sem abrir os olhos, apenas sentindo braços segurando os dela, e alguém chamando-a na escuridão. Ela distinguiu o rosto de Connor uma vez, mas em poucos segundos ela estava dormindo novamente, sem ter certeza se o vislumbre dos olhos cor-de-café mergulhando nos dela fora apenas uma parte mais branda de seus devaneios.

No entanto, apesar de seus membros ainda precisarem de algumas horas para voltar às funções normais, foi a fome que acordou Emma de fato. Um cheiro delicioso de pães recém-assados flutuou até o nariz sensível da assassina, e seu estômago protestou. Ela, então, abriu os olhos sonolentos para a luz da manhã que invadia o quarto da mansão através das brechas das cortinas de veludo, revelando as cintilantes partículas de poeira que eram invisíveis a olho nu, e pairavam suavemente no ar. Um novo dia abraçava as colinas geladas da fazenda Davenport.

Em uma cadeira estofada do outro lado do quarto, ela viu seus pertences – seu robe e suas armas. Sem mudança alguma em seu comportamento inquieto, Emma puxou imediatamente as peles grossas e marrons que a cobriam, deixando o ar parado e frio do quarto envolver suas pernas, e tentou ficar em pé. Teve de se apoiar no poste de madeira que sustentava o dossel da cama, devido a um tremor e desequilíbrio que seus joelhos apresentaram no segundo em que apoiou seu peso neles. Mas engoliu a fraqueza, e impulsionada por seu orgulho, andou devagar até a cadeira.

Teve de se sentar para organizar tudo onde pertencia. Novas bandagens cobriam seus braços eternamente marcados, mas isto não a impediu. Vestiu o robe primeiro, abotoando os botões na frente, sentindo-se imediatamente mais confortável devido à pele que forrava a vestimenta. Prendeu as braçadeiras das lâminas ocultas, ajustando as pequenas fivelas prateadas com os dedos trêmulos. Em alguns minutos já se sentia uma assassina novamente.

Depois de sair de seu quarto, sem dar-se o trabalho de abrir as cortinas, Emma encontrou um desafio um pouco mais complicado; as escadas que levavam ao primeiro andar. A luz que entrava pelo vidro fosco da porta da frente incomodou os olhos de Emma que ainda estavam acostumados à escuridão do quarto, e ela cobriu-os com os dedos magros, mas logo depois estava tentando descer os degraus de carvalho cuidadosamente.

Quando estava quase no final de sua pequena jornada até o primeiro andar, alguém abriu a porta e a encontrou se apoiando debilmente contra o corrimão, descendo degrau por degrau como se pisasse na superfície congelada de um lago.

— Deveria estar descansando – era Connor. Emma o viu largando uma bolsa de tamanho médio feita de couro no canto ao lado da porta, junto com seu arco e apenas duas flechas na aljava. Claramente havia voltado de uma caçada. Suas botas estavam sujas de neve e terra.

— Estou bem – Emma desviou-se das mãos que vieram para ajuda-la, mas quando o fez, tropeçou nos próprios pés e teve que se apoiar novamente na parede. Suspirou, erguendo uma mão. Insistiu: – Estou bem.

Connor simplesmente a ignorou e empurrou o braço protestante erguido de Emma para o lado e passou o seu próprio por sua cintura

— Estou com muita fome – Emma correu os olhos pela cozinha enquanto Connor a colocava sentada na mesa comprida que se encontrava ali, procurando os pães. Os encontrou numa travessa de latão polido, sobre o fogão à lenha.

Emma se levantou assim que Connor tirou os braços dela, andando devagar até a comida. O ouviu suspirar e viu-o revirar os olhos. A assassina apoiou-se sobre a argila morna que compunha o forno, aproveitando o calor enquanto pegava o primeiro pão e o devorava em poucos minutos. Fechou os olhos, deliciando-se no sabor salgado e temperado com algumas ervas desconhecidas. Imediatamente sentiu-se mais disposta. No fim do quarto pão já sentia que poderia desafiar Connor para uma luta.

Lembrando-se de que o assassino estava presente, virou-se para ele, ainda mastigando a massa crocante. Ele a observava do outro lado do aposento, encostado nos tijolos da parede e de braços cruzados. Nada em seu rosto misterioso revelava o que se passava dentro de sua cabeça.

— O que é? – Emma arriscou a pergunta.

Ele limitou-se a dar de ombros.

— Admiro sua força – disse, simplesmente.

Emma bufou em resposta, e pegou as migalhas de pão que restaram na bandeja prateada. Conseguia ver seu reflexo no metal; definitivamente havia uma cor voltando a seu rosto, e os hematomas, agora algumas manchas roxas distintas em pontos de seu rosto, logo se tornariam apenas memórias. Mas, ainda assim, não parecia ou se sentia um exemplo de força.

— Falo sério – reforçou ele.

— Claro que sim.

Antes que pudessem entrar em uma discussão relativamente insignificante e que os levaria a lugar nenhum, Diana entrou pela porta da frente com uma expressão de desapontamento e preocupação ao mesmo tempo.

— Connor, você têm de fazer algo! – disse, aparentemente não notando a presença de Emma perto do fogão, os olhos irritados e verdes diretamente em Connor. – Aqueles cabeças duras!

E então, ao mesmo tempo que Diana abriu a boca de surpresa e estava prestes a falar algo ao ver Emma, uma águia-real entrou num rasante pela porta aberta e imediatamente pousou no braço agora protegido de Emma, passando o bico amorosamente no rosto da assassina. Emma sorriu.

— Emma, querida! – Diana correu para abraçar Emma, e Akwe instintivamente alçou voo para o ombro de Connor. A águia parecia grande demais naquele ambiente fechado. – Pensei que nunca mais veria esses olhinhos grandes e brilhantes abertos.

Emma abraçou-a de volta, tocada.

— Os inimigos precisarão se esforçar mais para me tirar da batalha, Diana.

— Maria ficará feliz em vê-la bem. Ah! Vejo que já comeram os pães que Catherine preparou mais cedo!

— Do que estava falando, Diana? – Connor foi direto ao ponto. – Algum problema?

A mulher pareceu se lembrar do problema anterior, e voltou a ter preocupação em seus olhos agora aflitos. Suspirou pesadamente.

— Terry e Godfrey – Ela passou as mãos delicadas na testa, como se limpasse um suor imaginário. – Estão insistindo em cortar madeira acima da colina, onde as árvores são maiores. Com os espiões na floresta... Não é seguro, você tem de impedi-los.

Emma franziu as sobrancelhas.

— Acredito que estou em desvantagem aqui – disse ela, voltando a atenção para Connor. – Espiões?

Connor mudou o peso de uma perna para a outra, desconfortável.

— No dia em que você desapareceu, tive reclamações dos moradores, dizendo ter visto estranhos andando pela fazenda, observando de longe – revelou, andando para perto das duas e parando ao lado de Emma. – Não tive tempo de procurar mais a fundo. Estava procurando por você. Temo que sejam da mesma laia que sequestrou Ellen aquela noite, e de que ainda estejam vagando pela mata, à espreita.

— Temos de fazer algo – Emma disse imediatamente, acariciando a cabeça penosa de Akwe. – Este é um lugar pacífico, Eberus e seus subordinados não vão perturbar estas terras de pessoas trabalhadoras e decentes. Eu não permitirei. Não se preocupe, Diana, eu e Connor daremos um jeito nisso. Neste instante. Não tente me impedir, Connor, sabe que não conseguirá.

Diana comia as unhas de nervosismo, mas Connor olhava Emma com um sorriso quase imperceptível nos lábios. Então, fitou o chão de madeira, o capuz cobrindo seus olhos momentaneamente.

— Eu não ousaria – disse, e fez um gesto de cabeça para a porta. – Vamos, então.

Saíram alguns minutos depois, após os cavalos serem devidamente selados e, enquanto Emma subia – com certa dificuldade – em Sombra. Não tinha mais tanta certeza de que era sábio sair logo após acordar de uma noite horrivelmente difícil. Mas é claro que ela nunca admitiria isso em voz alta. Connor comentou:

— Não podemos voltar tarde. Os homens que saíram em busca da ilha logo retornarão ao porto, com notícias.

Emma apenas assentiu. Por algum motivo, não sentia-se muito animada em receber aquelas notícias; algo a dizia que poderiam não ser boas. Olhou para o céu. Akwe sobrevoava-os, e um céu com faixas de nuvens tingidas de rosa, amarelo e carmim pelo amanhecer a emoldurava, como uma pintura surrealista, enquanto ela planava pelo ar.

— Temos tempo – deduziu ela.

Connor os guiou pela floresta congelada, andando pela as árvores como se se lembrasse e conhecesse de cada uma delas. Emma duvidava que, algum dia, ela conseguisse um senso de direção tão bom quanto o dele. De minutos em minutos, ele freava o cavalo e observava os arredores, parecendo esquecer-se da presença dela ali e, então, voltava a andar.

Emma já conhecia sua pequena mania de reprimir informações para si mesmo enquanto andavam pela mata. Então, quando finalmente desceram dos cavalos, já se encontravam em frente a um rastro fresco de pegadas humanas, alterando o relevo suave e macio de neve que cobria o chão. Akwe pousou em uma árvore, e começou a limpar suas penas.

— É bem recente – concluiu ele, abaixando-se como sempre fazia para estudar as pegadas mais de perto.

Emma abraçou-se, em pé ao lado dos cavalos, para conter o frio que penetrava um pouco as vestes que a cobriam. Sua mente vagava silenciosamente como a brisa que beijava os fios de cabelo que escapavam para fora do capuz. Tudo parecia ordinariamente silencioso, até que um som à sua esquerda a fez desviar a atenção imediatamente.

Sem dar indícios de sua aproximação, uma corsa magra saltou sobre um arbusto de erva-daninha. Emma assustou-se, e caiu sentada um tanto ofegante. Sentiu a fraqueza amolecer suas pernas. A corça apenas correu para longe, passando atrás de Connor e desaparecendo na paisagem.

O assassino a observava com cautela. Levantou-se e estendeu a mão para ajuda-la a levantar. Seus olhos marrons desceram para os dedos enluvados de Emma que ele segurava, que tremiam. Ela sentiu-se ridícula. Não deveria ter se assustado tão facilmente com um inofensivo animal selvagem, e certamente não deveria estar se sentindo tão vulnerável e em pânico. Mas era o que acontecia.

— Emma, o que aconteceu naquele lugar? – perguntou, fitando-a por entre os cílios longos.

Ela ainda não havia contado de Eberus; não havia como ele saber, a não ser por ela. Mas ela sentia as paredes em volta de si subindo novamente. Paredes que haviam demorado tanto para serem demolidas. Ela apertou os dedos de Connor, soltando-os em seguida, andando para longe. Mas ele a parou, depositando a mão em seu ombro.

— Esses ferimentos em seu corpo – começou, num tom sombrio. – Eles não são consequências da jornada. Quem os infligiu, Emma?

Um arrepio deslizou pela coluna da assassina ao pensar no nome. Como ela desejava que seu dono simplesmente não estivesse respirando neste exato momento.

— Eberus os fez – murmurou, virando-se. – Ele estava mais perto do que pensávamos, mas agora duvido que conseguiremos encontra-lo novamente. Ele me interrogou sobre um cajado, que os está atrasando, mas não sei o que é. Demoraria semanas até juntarmos informações suficientes para encontrar este objeto.

Connor silenciou-se, digerindo aquelas informações que Emma soltara tão rapidamente. Seus olhos sutilmente diziam que, apesar de não conhecer Eberus pessoalmente, ele o odiava a cada segundo mais. Ele suspirou, parando em frente a Emma.

— No momento não podemos nos dar ao luxo de nos preocupar com isso – continuou. – O tempo está contra nós, e acredito que teremos de ir para o mar em breve, e temos de deixar estas terras seguras para os moradores da fazenda. Sem pontas soltas enquanto estivermos fora. Teremos de contar em nossa sorte para que os templários estejam bem longe deste... objeto.

Emma assentiu, recompondo-se. Ele estava certo; não havia muito que pudessem fazer com o que tinham naquele momento. Observou o rosto de Connor. Ela sentira falta dele, mais do que gostaria de admitir. E pensar que agora encontravam-se juntos novamente a fez sorrir. De alguma forma, algo naqueles olhos a dava esperança de que o futuro que se aproximava poderia, afinal, não ser tão escuro assim.

Ele a olhou de volta, e sorriu de leve também, como se ambos compartilhassem uma felicidade, um pensamento silencioso. Então, ele estendeu uma das mãos para tirar uma mecha de cabelo do rosto dela, sua pele acobreada tão contrastante com a dela, como se quisesse ver os ferimentos em seu rosto com mais clareza. Mas então, os olhos de Emma se arregalaram, ao mesmo tempo em que o sorriso de Connor desapareceu de seu rosto.

Havia sido uma emboscada. Aconteceu rápido demais, sem deixar espaço para qualquer outro pensamento. Um homem se aproximava rápida e sorrateiramente para acertar Connor pelas costas com um machado de lenhador. Emma instintivamente puxou a machadinha de Connor de seu cinto e a jogou pelo ar, pela esquerda dele, com força como ele faria. Acertou o mercenário bem no peito, e logo ele estava ao chão, manchando a neve com seu sangue.

Mas algo acontecia atrás de Emma também. Connor passou a mão por sua cintura, empurrando-a para trás de si, e bloqueando com suas lâminas um golpe que poderia ter tirado sua vida. Aparou o golpe da espada inimiga com uma de suas lâminas, e matou o agressor com a outra.

Emma estava ofegante de surpresa atrás de Connor. Suas têmporas latejavam. Ela olhava para todos os cantos rapidamente, procurando por mais alguém. Seus olhos detectaram um movimento em outra moita, mas desta vez não era uma corça.

Um homem tropeçou para fora das folhagens que de alguma forma haviam sobrevivido ao frio, gemendo assustado, e correu para o pé da colina, desengonçado como um boneco de palha. Connor correu atrás dele, e Emma deduziu que o homem não iria muito longe.

A assassina suspirou para recuperar o folego e começou a correr atrás de ambos, mas pisou onde Connor teve a fortuna de não fazê-lo.

Com um gritinho agudo de susto por parte de Emma, uma armadilha prendeu seu pé e puxou-a para cima, fazendo-a pender de cabeça para baixo na árvore, os cabelos longos soltos a cinco palmos do chão.

— Sinceramente – reclamou ela para si mesma. Viu Akwe lá em cima, tentando ajudar com seu bico afiado, mas a corda era grossa. Emma curvou-se para cima para tentar soltar seu tornozelo, que ficava mais dormente a cada segundo.

Acionou uma de suas adagas, e começou a cortar a corda, e isso levaria alguns minutos que, aparentemente, não tinha.

— Parece que uma não conseguiu escapar – disse alguém.

Emma parou o que fazia, deixando-se pendurar novamente para ver quem se aproximava. Desembainhou sua espada, e apontou-a para um terceiro mercenário, que andava com passos vitoriosos até ela. Sem duvidas, ela parecia ridícula.

Emma cortou o ar com a espada algumas vezes, para mantê-lo longe. Sentia-se zonza, com todo o sangue indo para sua cabeça, a pressão aumentando a cada segundo.

— Afaste-se! – ordenou ela.

O homem, é claro, não parou, mas Akwe encarregou-se dele, mergulhando em sua direção e atacando-a com garras e bico. O homem gritava, abanando as mãos em desespero à ave de três metros que o atacava. Usando a distração de Akwe, Emma curvou-se para continuar a cortar, ainda mais rápido, mas alguém adiantou-se; uma bala de chumbo atravessou o ar e acertou a corda num tiro perfeito, libertando-a.

Emma, para aparar a queda, deu uma cambalhota, pronta para eliminar seu alvo e, parando ao lado dele, rapidamente atravessou seu joelho com uma das lâminas. Ele gritou ainda mais e caiu ao chão, onde Emma finalizou com uma espada em suas costas.

A floresta entrou em absoluto silêncio novamente, e Emma virou-se para ver seu salvador, com Akwe já em seu ombro, equilibrando-se com as asas enormes abertas. Para sua surpresa, eram Terry e Godfrey, os lenhadores que encontravam-se presentes. A pistola fumegante estava nas mãos de Godfrey, e atrás de ambos, uma carroça cheia de madeira, puxada por dois cavalos.

— Parece que chegamos bem na hora, Emma – brincou Terry em seu sotaque irlandês.

— Agradeço, verdadeiramente – Emma deu um sorriso, e sentou-se em alívio no chão para recuperar-se, sentindo-se, de repente, cansada outra vez. – Mas é perigoso andar por aqui sozinhos. Diana está preocupada, com os dois.

— Alguém precisa cortar a lenha para consertar o navio, e alimentar o fogo – Godfrey apontou para a carroça atrás de si, parecendo culpado e não culpado ao mesmo tempo. – E os pinheiros são as melhores opções.

— De qualquer forma, venham em grupos, não sabemos se...

— Não acho que voltarão – Emma foi interrompida, e virou-se para ver Connor se aproximando.

— Não? – Emma questionou, em um tom de desafio. – Você o matou?

— Não, o usei como mensageiro. Mandei-o passar um recado a seus superiores, que devem ficar longe destas terras. Estão protegidas.

— Connor, ele me viu – Emma cruzou os braços, parando em frente a ele e o encarando de baixo. – Dirá aos templários que estou o mais longe de Londres que se pode estar!

— Não se preocupe, eu o questionei se ele a reconhecia. Jurou por sua família que não, e ele chorava de medo. Acho que disse a verdade.

Emma revirou os olhos, justamente porque sabia que ele odiava quando ela o fazia. Ele estreitou os seus, e cruzou os braços também.

— Talvez devam voltar – sugeriu ele para os lenhadores. – Vou espalhar patrulhas pela propriedade, apenas por garantia. Avisem o povo da vila que não devem mais andar sozinhos. São tempos de conflito, e apesar dos esforços para manter inimigos longe, todos somos alvos. Todo cuidado é pouco.

Os lenhadores assentiram, e montaram novamente em sua carroça e assim que Connor e Emma também estavam de volta à suas montarias, escoltaram os dois trabalhadores em segurança de volta para vila, onde foram recebidos por duas esposas irritadas e preocupadas. Emma sentiu a necessidade de parar na casa de Ellen, para cumprimentar sua pequena amiga, Maria. Connor acompanhou-a, guiando os cavalos.

A garota se encontrava sentada em uma varanda vazia e empoeirada, brincando com uma pequena boneca enquanto um cachorro vira-lata dormia despreocupadamente ao seu lado, ignorante aos problemas que cercavam todo aquele lugar. Quando os olhinhos de Maria ergueram-se para a presença que viera visita-la, ela sorriu com o toque de inocência infantil, e correu para Emma, que se abaixara para receber um abraço.

— Emma! – exclamou com alegria. – Você não morreu!

— Claro que não – Emma sorriu, e apontou para Akwe que pousara na cerca da varanda. – Na verdade, vim como está o filhote de nossa amiga.

Maria nem mesmo conseguia falar, sem conseguir conter sua alegria. Apenas assentiu rapidamente com um sorriso, e correu para dentro da casa, voltando com uma pequena caixa de vime. Emma ajoelhou-se na terra para ficar da altura dela, e observou o projeto de águia que se encontrava quente e seguro em meio a penas e um pouco de palha.

Akwe voltou voando para o ombro de Emma, para observar sua cria de perto. Maria ergueu os dedinhos minúsculos para acariciar o pássaro com carinho.

— Não se preocupe – tentou encorajar Akwe. – Ele está em boas mãos.

Emma sorriu, para a pureza do coração de uma criança. Sentiu-se um pouco nauseada. Queria poupar Maria, e todos ali de toda aquela confusão, e ela iria fazê-lo. Estava prestes a dizer a Connor, que mantinha-se em silencio atrás dela, que deveriam ir recrutar as patrulhas, quando um sino badalou ao longe, vindo do porto. Ambos os assassinos viraram em direção ao som, sabendo seu significado. Navio havia retornado ao cais. E o som parecia urgente, o que deixou Emma levemente inquieta.

— Maria, eu tenho de ir – disse Emma, acariciando os cabelos da garota com um cafuné. – Connor e eu temos de partir em uma pequena jornada. Preciso que cuide desse pequenino por Akwe, e tome conta de sua mãe, certo? E não vá sozinha à floresta. Está mais perigosa do que nunca.

Maria pareceu levemente mais triste, e baixou os olhos para a caixa.

— Você vai voltar, não é?

Infelizmente, Emma hesitou. Procurou rapidamente por uma resposta, mas não possuía uma. No entanto, Connor adiantou-se e estendeu a mão para a assassina. Emma olhou para ela, e então para ele. Então, pegou-a, levantando-se.

— Ela vai – Connor disse para Maria, como se tentasse confortá-la. — Não se preocupe.

Maria sorriu novamente, assentindo. Emma agradeceu silenciosamente, e ela e Connor montaram novamente em seus cavalos, e a garotinha acenou enquanto galopavam até o porto da fazenda.

Emma esperava ver escunas ancoradas perto do Aquila, que ainda estava em processo de reconstrução – apesar de estar em melhores condições. Felizmente, o fogo conseguiu ser controlado antes que o navio se tornasse uma causa perdida. Mas apenas um pequeno barco civil, quase completamente destruído, era socorrido pela tripulação do Aquila.

Emma e Connor correram para ajudar, e ela aproximou-se de um dos homens que era carregado para longe, com um feio ferimento na perna que parecia muito ruim. Ele estivera presente na reunião de Connor, onde ele explicara o curso que deveriam tomar. Como era seu nome...? Jonas.

— Jonas, o que aconteceu? – Emma andou ao seu lado até que ele fosse colocado em uma mesa improvisada, levado por três homens.

— Os ingleses – disse, em um grunhido de dor. – Tomaram estes mares... Fomos poucos sobreviventes. As outras escunas... foram sequestradas, e os homens estão como reféns. Não sei por quanto tempo serão mantidos vivos.

Emma olhou para Connor enquanto Jonas era assistido. Ele não parecia feliz.

— A bordo do Aquila, todos! – gritou para seus homens disponíveis, indo em direção ao seu navio. – Levantar as âncoras, içar as velas, desfazer as amarras! Partiremos para o mar, marujos. Imediatamente.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



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