O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 21
O Resgate




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Emma avisara a Connor que poderia ser arriscado navegar no Aquila enquanto o velho navio ainda estava sendo reconstruído, mas é claro que ele não lhe deu ouvidos. Então ela se encontrava sentada na lateral do navio, perto dos canhões que haviam sobrevivido ao ataque, devorando uma maçã. O navio deixava um rastro de ondas e espuma atrás de si, e Emma observava enquanto a costa começava a desaparecer. O casco ainda possuía marcas de queimado, e uma parte do lado esquerdo era feita de madeiras mais claras, novas, que cobriam um buraco que foi provavelmente causado por uma explosão. Apesar do frio, o céu estava limpo até onde a visão alcançava, e Akwe limpava suas penas, pousada ao lado de Emma.

Emma ergueu os olhos para o capitão, acima dela, no deque superior. Connor manejava o timão habilidosamente, como sempre, com os olhos no horizonte. Usava suas vestes de capitão, e sem fugir do habitual, seu rosto era uma máscara; as sobrancelhas levemente franzidas, olhos silenciosos. Provavelmente notou que Emma o observava, e cruzou olhares com ela. Mas ela apenas deu uma mordida na maçã suculenta, e voltou-se para o mar outra vez. Sentia que ele ainda a olhava.

Eles seguiam instruções do único marujo que fora capaz de seguir viagem com eles, um rapaz esguio e magro de olhos escuros e feições caribenhas chamado Jonas. Seu cabelo escuro estava bagunçado. Estava ao lado de Connor, com um braço enfaixado apoiado em uma tipoia improvisada. Seguiam para Nordeste já fazia uma hora talvez, e o ar ficava mais frio e denso conforme iam em frente.

— Nesta direção mesmo, capitão – murmurou em um tom levemente trêmulo, chamando a atenção de Emma novamente. – Logo avistaremos os navios.

Connor assentiu uma vez, e suas mãos apertaram o timão com mais força. Emma gostaria de saber o que se passava pela cabeça dele. Um lado dela não sabia se ele seria sincero se ela perguntasse. Ela sabia que ele era altruísta demais para importunar os outros com seus pensamentos provavelmente inquietos. Mas o outro lado queria que ele abrisse uma exceção, e compartilhasse suas preocupações com ela.

Emma bufou para si mesma, finalizando sua maçã. Estendeu o resto para Akwe, mas a ave apenas farejou a maçã, e continuou a limpar suas penas rajadas. Ela claramente preferiria um pedaço suculento de carne. Emma então jogou a fruta ao mar. Os peixes dariam um jeito nela.

Um vento mais forte começou a soprar, e Emma teve de se apoiar à balaustrada para não cair.

— Vela cheia, aproveitem o vento – ordenou Connor, e assim foi feito. As velas foram soltas e o navio impulsionou-se com mais força para frente.

Emma acariciou a cabeça penosa de Akwe, e viu Jonas descer as escadas, mancando de leve, e sentiu que deveria dizer algo.

— Você é muito corajoso, rapaz – murmurou quando ele passou ao lado dela. – Por vir conosco neste estado. Acredito que será uma batalha intensa. Tenho certeza que Connor aprecia sua ajuda.

O comentário fez Jonas parar e fitar Emma por alguns segundos. Então, suspirou e mancou até ela.

— Quero salvar meus amigos – disse, como se essas quatro palavras explicassem tudo. – Você não faria qualquer coisa para ajudar os seus?

Emma sorriu internamente para a ironia oculta daquela pergunta.

— É claro.

Ele assentiu, aparentemente dando um fim à conversa, e andou desajeitado até um grupo de marinheiros que conversavam e dividiam uma garrafa de rum. O receberam com alegria e palavras de encorajamento.

Emma levantou-se, e Akwe voou para seu ombro. Subiu para o convés superior para ocupar o lugar de Jonas à direita de Connor. Faulkner, que se mantivera silencioso, observava Emma com certa inquietude, como se apenas a presença dela pudesse fazer o navio entrar em combustão espontaneamente. Ela aprendera a ignorar suas superstições bobas.

Emma abriu a boca para falar com Connor, mas um dos marujos foi mais rápido.

— Navios à vista!

Todos os olhos no navio viraram-se para onde o marujo nos cordames apontava, e a tensão subiu no convés como névoa na superfície de um lago. Logo à frente, ancorados no meio do oceano, dois enormes navios de guerra se destacavam da linha do horizonte, e portavam bandeiras britânicas juntamente com seus aliados, três brigues ingleses. Os nomes dos navios maiores podiam ser lidos na traseira: Peacemaker e Queen’s Honor. No meio, sendo vigiados pelo inimigo, as duas fragatas que haviam sido sequestradas, fumegantes e quase completamente destruídas.

Emma observou os navios de longe, sentindo de repente um embrulho no estomago. Emma varreu o navio com os olhos, os homens não pareciam ansiosos ou assustados. Então, ela entendeu esta expressão. Ela não estava com medo; mas sim sentia-se impulsionada, com um desejo por justiça que subia por sua espinha. Percebeu que tal sentimento era bem típico de Connor, e ela ficava mais parecida com ele conforme o tempo passava.

Emma refletiu no curto tempo que restava. Não havia duvida alguma que aqueles homens trabalhavam para os templários. Naqueles tempos, era difícil encontrar algum soldado cujos bolsos não estavam sendo molhados por eles. Por que outra razão interceptariam navios que saíra da fazenda Davenport e navegava pela costa leste com um objetivo desconhecido a eles? E isto também significava que eles não poderiam vencer.

— Capitão, talvez devêssemos voltar com ajuda – Faulkner murmurou, aconselhando Connor como deveria fazer. – Olhe aqueles navios, e olhe o Aquila. Seremos massacrados.

Emma sentiu também uma mudança de opinião; não se importava se Eberus ou Haytham ou qualquer templário descobrisse que ela continuava ali. Mas sim, ela mandaria uma mensagem para eles: ela estava chegando.

Contrariando o que Faulkner dissera – o que ela sabia que Connor ignoraria, pois ele nunca deixaria seus homens para trás –, Emma subiu no gradil atrás do leme que Connor segurava, erguendo sua espada e apontando-a para as nuvens lá em cima.

— Aos canhões, homens! – gritou ela. – Vamos apresenta-los ao caminho mais rápido para o inferno!

Os homens ergueram seus mosquetes e espadas em resposta, urrando de volta em concordância. Emma sentiu a adrenalina começar a correr mais forte por seu corpo, e pulou de volta para o convés, indo até Akwe. Tomou-a no braço, e jogou-a para o ar para que alçasse voo. Seria perigoso demais para ela ficar naquele navio.

É claro que as intenções dos tripulantes do Aquila não passou despercebida. Conforme iam se aproximando, os navios de guerra começaram a dar a volta, posicionando-se na frente das fragatas reféns, bloqueando o caminho até elas, detectando a ameaça que o Aquila representava.

— Preparem-se! – Connor gritou.

A concentração da tripulação era quase palpável. A assassina atravessou o convés superior e segurou-se na balaustrada de madeira, enquanto Connor manejava o timão para que o Aquila ficasse paralelo ao primeiro navio que vinha em sua direção, o Peacemaker. As portinholas do Man O’ War abriram-se, revelando a quantidade enorme de canhões à disposição de seus marujos. Emma engoliu em seco.

— Firme – Connor disse. – E fogo!

A explosão foi quase ensurdecedora, e todo o navio tremeu, mas foi um tiro certeiro. O casco do navio inimigo encheu-se de buracos causados pelas balas de canhão flamejantes. Mas o navio era resistente e, obviamente, eles não demoraram muito a revidar.

— Preparar para o impacto! – Connor gritou, e todos se abaixaram.

Uma onda de dois disparos sacudiu o Aquila, e Emma desequilibrou-se, quase caindo sentada. Viu Connor segurar-se mais firme ao timão.

— Homens aos morteiros! – gritou Faulkner, correndo para o convés inferior para assistir os marujos lá embaixo, deixando apenas os dois assassinos no superior.

— Fogo! – gritou Connor em resposta.

Emma olhou sobre a balaustrada, lentamente se levantando outra vez. Uma saraivada de balas acorrentadas acertou as velas do Man O’ War, quebrando o gigante mastro principal, que caiu como uma árvore recém cortada, e provavelmente matou alguns homens a bordo. Connor guiava o Aquila pelas águas que ondulavam, tentando atrair o inimigo para longe das fragatas. Os brigues tentavam alcançar a briga que se desenrolava, enquanto o outro navio de guerra, o Queen’s Honor, mantinha defesa.

Emma apoiou-se contra a amurada, colocando os olhos na enorme lateral do navio de guerra que estava prestes a atirar novamente. Um buraco enorme se abrira na lateral, revelando o depósito de pólvora. Uma ideia surgiu em sua mente, e olhou o canhão giratório do Aquila, na lateral, desocupado.

— Connor – chamou ela, virando-se para ele.

Quando ele olhou para ela, respondendo ao chamado, Emma apontou para o depósito de pólvora. Connor, seguindo a direção de onde ela indicava, entendeu o que a assassina quis dizer.

— Venha, pegue o timão – disse.

Emma arregalou os olhos, e sacudiu a cabeça.

— Connor, eu...

— Emma, alguém precisa controlar o navio – disse, estranhamente calmo. – A não ser que você saiba como disparar um canhão.

Emma revirou os olhos, mordendo o lábio de nervosismo, e correu até o leme. Connor ficou parado atrás dela, e quando Emma segurou o leme, ele colocou suas mãos sobre as dela, apertando-as com força.

— Não é tão difícil, eu a ensinei – disse. – Apenas mantenha o Aquila lado a lado com o Peacemaker, e não solte.

Emma assentiu, obrigando suas mãos a pararem de tremer. Connor estava confiando seu navio àquelas mãos, e ela não poderia decepcioná-lo.

Manter o navio da forma que Connor ordenara demandou muita força dos braços de Emma, o que poderia ter sido um problema maior, devido ao fato de que não estava cem por cento recuperada dos dias anteriores, mas o que realmente ajudou foi toda a adrenalina, e os tiros de canhões que os navios trocavam estranhamente a ajudava a se concentrar. Água espirrava por todo lado, e molhava o cabelo de Emma, exposto devido ao vento que empurrara seu capuz para trás.

Enquanto Connor corria até o canhão giratório, atrás do timão, o outro Man O’ War aproximava-se, vindo em socorro de seus companheiros, e apenas um dos pequenos brigues havia sobrado. Emma não sabia se Connor ordenaria, então ela mesma gritou:

— Fogo!

Os homens provavelmente estranharam a ordem vir de uma voz feminina, mas não havia tempo para olhar e checar. Uma saraivada de disparos flamejantes atingiu ambos o brigue e o Peacemaker, destruindo o primeiro, e dando a Connor uma vista limpa de seu alvo. Os ouvidos de Emma tiniam.

Emma observou enquanto Connor mirava o canhão giratório, e o tempo pareceu parar enquanto ele mirava. A assassina involuntariamente prendeu a respiração. Connor disparou um canhão, e em um tiro certeiro, a lateral do navio acendeu-se em explosões, como fogos de artifício japoneses.

Emma respirou fundo. Seus braços começavam a fraquejar no leme, que insistia em oscilar de um lado para o outro, impedido apenas pela força de seus músculos. Connor, na meia-nau do navio, soltou o canhão, e olhou para Emma.

— Se importa? – disse, nervosa, indicando o timão e seus braços magros que o seguravam.

Emma poderia jurar que o viu bufar, e Connor correu de volta para seu lugar de direito, tomando o timão em mãos e liberando Emma, que suspirou.

— Bom trabalho – disse, sem olhar para ela.

Emma estava prestes a responder, mas esta chance foi tirada dela por mais um disparo contra o Aquila, mais fortes que os anteriores. Todos no navio desequilibraram-se, alguns caíram ao convés. Fora tiro de aviso do outro navio de guerra, o Queen’s Honor, pegando todos de surpresa. Então, três ondas de disparos de morteiro acertaram as velas do navio, partindo um dos mastros ao meio como se fosse apenas um pequeno galho de cerejeira, e a grande tora veio abaixo. Por sorte, todos os homens conseguiram desviar.

Os navios restantes giravam no oceano, paralelos, em meio a disparos mortais, rodando em uma dança perigosa. Disparos eram trocados, e os ouvidos de Emma apitavam com todo aquele barulho. Emma observou o Aquila. Seu estado era lastimável. Infelizmente, os canhões que restaram do Peacemaker ainda conseguiam disparar juntamente a seu companheiro de luta, e isso condenaria todos no Aquila.

O cheiro de fumaça era incômodo, e Emma sentia que iria sentir as consequências daquilo mais tarde, mas naquele momento, não importava. Um disparo inimigo fez com que ela caísse em meio aos destroços de madeira que decoravam o piso do convés superior. Surpreendendo-a, Faulkner que corria de volta a seu posto ao lado esquerdo de Connor, foi até ela e ajudou-a a levantar.

— Connor, o que faremos? – Emma perguntou, em meio aos sons de disparos.

— Capitão, não aguentaremos por muito mais tempo – Faulkner disse, concordando com Emma pelo menos em alguma coisa. – Logo ficaremos sem munição, e o Aquila não sobreviverá a mais disparos de morteiro.

Connor não respondeu, e mantinha o Aquila em perseguição, girando junto com os outros dois navios. O Peacemaker não aguentaria muito, mas o Queen’s Honor estava praticamente intacto. O coração de Emma congelou em seu peito quando, de repente, o navio mudou completamente o curso anterior, começando a vir em direção ao Aquila.

Não houve tempo para Connor fazer algo, até mesmo girar o leme para desviar da investida inimiga, e o Queen’s Honor atingiu-os com uma força descomunal, causando todos no navio desequilíbrio e levando-os ao chão. Emma deslizou até a lateral, esmagando seu ombro contra a madeira, despertando de leve a dor de um antigo ferimento. Ela se apoiou na balaustrada, puxando-se para cima com dificuldades e, depois de dar uma rápida olhada pela tripulação, voltou sua atenção para o navio que os atacava. Preparavam uma outra saraivada de morteiros. O capitão, um homem desconhecido aos olhos de Emma, observou-a de cima, já que o Man O’ War era mais alto e maior que o Aquila. Seu olhar possuía desdém e vitória.

Então, um disparo mais alto do que os outros foi ouvido por todos os presentes ali. Mas o disparo não veio do Aquila, cujos canhões mantinham-se inativos, muito menos do Queen’s Honor, que, na verdade, foi o alvo do disparo, assim como o Peacemaker, que certamente não resistiu, e foi consumido por chamas, e a água do mar lentamente começou a tomar conta de tudo. Logo, o navio estaria no leito do oceano, atingido e derrubado por um dano avassalador, que Emma só vira uma vez.

Emma, completamente estupefata, levantou-se e seguiu a linha de fumaça dos morteiros, e virou-se para ver sua origem. Subiu na balaustrada para garantir uma visão melhor. Seus olhos arregalarem-se e seu coração encheu-se de alegria e surpresa quando viu, aproximando-se rapidamente, uma fragata grande e armada até as velas. Em seu casco, lia-se Mockingjay.

— Quem diabos é aquele? – Faulkner perguntou, parando ao lado de Emma e observando o navio aliado com a mesma surpresa. Seus trajes estavam com buracos fumegantes e sua barba estava cheia de cinzas.

— Aquele – Emma respondeu, segurando-se nos cordames trançados do Aquila. – é James Thatch.

A confirmação veio quando o Mockingjay se aproximou ainda mais e com apenas um tiro dos disparos pesados de seus canhões, finalizou o Peacemaker, transformando-o em nada mais que madeiras e tecidos flutuantes na espuma. Os tripulantes lutavam para se agarrar nos destroços, e não morrerem consumidos pelas ondas ou pelas chamas. O Queen’s Honor começou a recuar, e a tripulação gritou em comemoração.

James conduziu seu navio, passando ao lado do Aquila, retribuindo o sorriso de Emma do timão e erguendo uma garrafa quase vazia de rum na direção dela. Usava as mesmas roupas de quando Emma o vira pela ultima vez, mas ela tinha certeza que ele usava mais anéis de ouro em seus dedos.

— Bom dia, Emma! – gritou. – Pensei estar vendo coisas quando me deparei com uma fragata encarando dois navios de guerra, mas então a vi. É bem típico de você, assim como pular de navios com correntes nos pulsos.

Emma não conseguiu segurar uma risada, e então James afastou-se com o Mockingjay em direção ao Queen’s Honor, com o vento a seu favor. Então, viu-se apenas os canhões de James destruindo o navio de guerra, com sons ensurdecedores, mas que, estranhamente, davam esperança. O capitão inimigo tentava fugir para longe, mas comparado ao Mockingjay, era um navio lento, e os disparos apenas contribuíam para que ele reduzisse a velocidade ainda mais.

Após James dar seu comando de fogo final, três saraivadas de disparos flamejantes foram disparadas, reduzindo as velas a farrapos e destruindo todos os mastros, que caíram como árvores sendo cortadas em uma floresta. A explosão do depósito de pólvora do Queen’s Honor marcou o fim daquela batalha, e a tripulação de ambos os navios comemorou.

Emma suspirou, aliviada. O silencio tomou conta de novo, a fumaça subiu e as ondas se acalmaram. A assassina virou-se para o céu, que agora revelava-se azul como uma safira, e depois observou a tripulação. O alivio ali era palpável.

Connor e James guiaram os navios para as fragatas reféns que haviam ficado para trás, longe da batalha que ocorrera ali. Passaram por entre o que restara dos brigues, e algumas partes dos destroços ainda pegava fogo. Emma não viu nenhum sobrevivente, mas tentou não pensar muito nisso.

Quando aproximaram-se, Emma esperou encontrar resistência dos guardas que ali estavam, tendo certeza de que os prisioneiros não escapariam. Mas assim que ambos os navios ficaram lado a lado com as fragatas, toda a tripulação apontava os mosquetes e pistolas para os guardas ingleses, que, em um ato inteligente, apenas ergueram as mãos em rendição.

Assim que os guardas que haviam se tornado prisioneiros estavam encarcerados nos níveis inferiores do Mockingjay, Emma ajudou a prender cordames grossos nas fragatas, uma vez que os homens não estavam em condições de guia-las. Quando terminou, James, que estava apoiado em um pé na balaustrada de seu navio, estendeu a mão para ela, puxando-a para dentro.

— Quantas vezes terei de salvá-la? – questionou retoricamente, com uma mão no bolso, e Emma bufou, mas antes que ela pudesse dizer algo, ele continuou, erguendo o dedo indicador: – E não ouse me dizer que tinham tudo sob controle.

Emma revirou os olhos e empurrou a mão cheia de anéis para o lado.

— Como algum dia poderei retribuir, ó brilhante Sr. Thatch? – respondeu, cheia de sarcasmo.

James sorriu de leve, como se pudesse se acostumar com aquele novo apelido, e virou-se para voltar ao seu timão, e Emma seguiu-o.

— Foi para isso que vim lhe encontrar, parece que cheguei na hora certa – James voltou os olhos verde-esmeralda para o Aquila, que agora deslizava alguns metros à frente, mostrando o caminho de volta para a Fazenda. Connor estava virado, observando-a, e logo voltou os olhos para o horizonte novamente. – Seu amigo não parece muito feliz por eu ter aparecido.

— Ele é assim, não é nada pessoal – Emma garantiu, apesar de não ter muita certeza. – Como nos encontrou?

— Não foi tão difícil encontrar a baía que me mostrou no mapa, e certamente não foi difícil avistá-los. A fumaça dos canhões ajudou.

— E o que exatamente você quer, Thatch? – Emma sorriu, cruzando os braços e andou até a lateral, apoiando-se e observando o mar, como fizera antes, no Aquila. – Agora lhe devo minha vida duas vezes, se é que isso é possível.

Emma ouviu-o rir.

— Preciso de sua ajuda para roubar um depósito – começou ele. – O povo de Nova York e Boston estão passando fome, e o que tenho em mente é uma mina de ouro para os necessitados. Não precisa preocupar-se com sua consciência, são mantimentos roubados dos próprios cidadãos, e eu apenas quero roubá-los de volta. Fica em uma ilha não-mapeada, a algumas horas daqui.

Emma arrepiou-se da cabeça aos pés, e seu estomago contraiu-se. Em um piscar, ela virou-se para James, com uma expressão mais do que séria no rosto fino.

— O que você disse?

James virou-se para ela também rapidamente, com uma sobrancelha escura erguida, intrigado com a repentina mudança de tom na voz dela, depois voltou a guiar o timão com os olhos para frente.

— Sobre o depósito? – perguntou, sem olhá-la. – É escondido em uma ilha que poucas pessoas sabem a localização. Eu sei pois a mesma foi uma vez um esconderijo de contrabandistas onde guardavam muitos tesouros. Meu pai contou-me sobre ela quando eu era um garoto. Mas quando fui lá alguns meses atrás, estava infestada por ingleses. É uma fortaleza enorme, no meio do oceano.

Emma ainda o encarava, atônita. Sua satisfação era tanta que ela nem mesmo sabia o que dizer.

— Emma? – James tirou uma mão do timão para coloca-la no ombro de Emma. – Você esta bem? Esta meio pálida.

— James, esta ilha – começou ela. – Estamos procurando-a faz uma semana. Estas duas fragatas que resgatamos estavam em busca dela – Emma suspirou e colocou a mão na testa. – James Thatch, você é uma benção divina.

James sorriu, convencido. Emma socou seu o braço.

— Já vi que temos muito a conversar sob uma garrafa de rum além de sua história trágica, Srta. Pierce – disse, continuando a guiar seu precioso navio.

Emma apenas deu um sorriso cansado em resposta, e fechou os olhos, agradecendo em silencio. Ouviu então Akwe, e olhou para cima. Sua águia flutuava majestosa, acompanhando os navios que deslizavam calmamente pela água, voltando para casa.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



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