O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 16
Terreno Inimigo




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Connor POV

Espere até o amanhecer, Faulkner dissera. Ela vai aparecer, capitão. Não se preocupe.

Mas, é claro, Connor andava de um lado para o outro na madeira encerada da casa. Ele simplesmente não conseguia evitar. O sol subira acima da baía, sim, mas, no entanto, ninguém que entrara pela porta da mansão Davenport era quem Connor esperava. Ele não dormira a noite toda, e seu coração palpitava a cada clique da maçaneta, ou a cada galope que ecoava do lado de fora. Mas Emma não retornava.

A culpa apenas o consumia a cada segundo; não deveria tê-la deixado ir atrás do mercenário. Os piores pensamentos começaram a assombrar sua mente. Ela poderia ter se perdido no caminho de volta, ou ter sido pega por uma matilha de lobos.

Não. Connor sacudiu a cabeça, desferindo um soco na madeira que compunha o portal da porta do quarto de Emma. Não iria se permitir pensar daquela forma. Virou-se novamente para o interior do cômodo e seus olhos encontraram o apanhador de sonhos que ela havia pendurado sobre sua cama como ele próprio instruíra. As penas se balançavam suavemente com a brisa da manhã que entrava pela pequena fresta aberta da janela junto com alguns solitários flocos de neve.

Connor bufou. Ela estava lá fora, em algum lugar. O som do relógio de cuco batendo oito horas da manhã subiu da sala até os ouvidos do assassino, e ele não precisou pensar duas vezes. Desceu os degraus em um passo apressado e pegou sua aljava e seu arco na sala de estar, pendurou a machadinha no cinto, recarregou as armas. Kenra:ken estava do lado de fora da mansão, e enquanto Connor o selava rápida e habilidosamente, ouviu alguém se aproximando atrás dele com passos cansados e pacientes.

— Não precisa nem tentar, velho – antecipou-se Connor, puxando uma fivela com mais força do que seria necessário.

— Não vim tentar lhe impedir – respondeu Achilles em um tom irritante, como se houvesse previsto a reação de Connor. – Quero lhe fazer uma pergunta.

Connor parou as mãos que amarravam as fitas de couro, suspirando e encarando o chão.

— Vá em frente.

— Você não aprendeu?

O assassino virou-se para seu mentor, que o encarou de volta com olhos sábios e semicerrados.

— Não acho que compreendo – murmurou Connor.

— Você é um assassino, garoto – Achilles mexeu sua bengala, firme em seu tom. – Pessoas vêm e vão em um piscar de olhos. Não há espaço para criar laços. Talvez deva se acostumar com a ideia de que Emma talvez esteja morta na floresta, e poupar um pouco de sofrimento de seu coração que já carrega tanto pesar.

Connor tentou não se irritar, e em fazendo isso, seus músculos se contraíram e ele segurou a sela de seu cavalo com mais força.

— Ela não está morta – afirmou, montando no animal com destreza.

— Como você sabe disso?

Connor olhou para baixo, para os olhos escuros e velhos de Achilles.

— Porque ela não desiste – respondeu, simplesmente. – E eu também não.

Dito isso, esporou Kenra:ken e cruzou a propriedade em um galope rápido, visando a Fronteira, deixando um Achilles sem palavras para trás.

Foi difícil para Connor encontrar qualquer rastro. Nevara durante a noite e qualquer traço evidente da perseguição de Emma fora encoberto, tornando complicado detectar qualquer coisa que seja. Mas não impossível.

A visão aquilina de Connor conseguiu enxergar algo que mesmo os rastreadores mais experientes não conseguiriam. Embaixo de uma árvore morta, próximo a um abismo, haviam gotas de sangue seco. Connor saltou para fora de sua montaria e andou até sua primeira pista, examinando-a minuciosamente. De fato, era recente. Sua teimosia o impediu de acreditar que aquilo poderia ser de Emma.

Logo então, sua audição captou sons de lobos rasgando carne vorazmente, não muito longe. Andou pela neve em silêncio, apenas para confirmar suas suspeitas. Ali, em meio à neve, abutres e lobos distraídos em uma refeição farta, encontrava-se um corpo. Boa parte já havia sido devorada, mas pelo resto das vestimentas era possível saber que aquele era um dos ladrões da noite passada, muito provavelmente o que Emma perseguia. Ela conseguira mata-lo, então.

O grasnado áspero e agudo de uma águia desviou a atenção de Connor para a direção do penhasco de que ele estava ciente de haver ali, para onde ele foi em seguida. Das rochas crescia um galho grosso e morto de algo que um dia fora uma árvore. Pousada nela, observando Connor com grandes olhos atentos, estava Akwe, a águia-real de Emma.

Connor se aproximou dela, equilibrando-se no galho, mas, não sabe se a assustou ou algo assim, Akwe alçou voo com suas longas asas rajadas, e mergulhou em direção ao penhasco, pousando em uma rocha abaixo. Então, olhou para Connor novamente e voou para longe mas, desta vez, sumiu de vista.

Connor deduziu que a ave estivera tentando dizer algo, e descobriu que não estava errado. Lá embaixo, onde Akwe pousara, encontrava-se algo misturado ao pouco de folhagem que não estava coberta por neve. Um colar Mohawk. Ele pulou para recolher o objeto. Sem duvida era o que Emma estivera usando quando estavam no penhasco na noite anterior. Apertou-o nas mãos, e o guardou com carinho em um de seus alforjes. Parecia muito o que sua mãe um dia mantivera em seu pescoço.

Subiu novamente o paredão rochoso e andou pela estrada de terra, que era visível graças às carroças que diariamente ali passavam, em busca de algo que poderia ter passado despercebido. Então, notou novamente algo familiar. Uma velha bolsa de couro, largada na neve, tão esquecida quanto o corpo do ladrão anteriormente.

Era, de fato, a bolsa onde mantiveram o imã roubado na última semana. Mas estava vazia, e nem sinal de Emma, ou até mesmo da égua Sombra. Pensou, tentando colocar seus pensamentos, que zuniam, em ordem. Por que Emma pegaria o imã e deixaria a bolsa? Mas não fora o que aconteceu. Ela não teria se dado o trabalho de remover o imã de sua proteção? E se ali era o lugar onde a batalha acontecera, não era longe da entrada da Fazenda. Emma não era tão burra assim; não teria problemas em seguir suas próprias marcas para voltar. A não ser que...

Connor deixou uma quantidade de ar escapar por seus lábios em forma de vapor, aliviando a tensão após deduzir o que poderia ter acontecido. Novamente, sentiu como se correntes estivessem queimando seu peito por dentro.

Connor socou a árvore mais próxima, fazendo neve cair, e então correu de volta para Kenra:ken. Perguntaria por toda a fronteira, usaria toda a luz do dia disponível se necessário. Ele não teria pessoas sendo tiradas dele. Não desta vez.

Emma POV

Algumas horas antes...

Emma tentou se mover, desconfortável aos limites da compreensão, mas não conseguia. Ela não sabia o que acontecera, não com certeza, pelo menos. Ela caíra do penhasco, sim. Mas não atingira as ondas que quebravam nas pedras lá embaixo, isso poderia ser dito como um fato. Se ela não morresse da queda, a temperatura extremamente baixa do mar a mataria em pouquíssimos minutos, antes que tivesse a chance de se afogar pela falta de habilidade na água.

Emma abriu os olhos devagar, e mesmo um movimento tão simples pareceu causar mais desconforto. Percebeu que estava deitada no chão e coberta neve, o que revelou a fonte da terrível dor muscular e frio intenso que sentia. O gelo havia se grudado em suas roupas e atravessado qualquer tecido fino, entrando em contato com sua pele sensível, e mal conseguia reproduzir qualquer expressão facial. Ela poderia não estar morta, mas sem dúvida alguma, era como se sentia. Como um cadáver congelado largado ao relento.

Emma ouviu um grasnado reverberar até seus ouvidos. Descendo em um rasante belo e majestoso, Akwe surgiu em meio ao céu escuro e pousou ao lado de Emma. A assassina quis sorrir à visão de alguém amigo, mas era impossível. Estava frio demais.

— A-Akwe – Ela tentou sussurrar, os lábios azuis tremendo e os dentes batendo.

A ave apenas observou Emma, e se aconchegou mais na grama congelada, como se desejasse fazer companhia até que Emma morresse de frio mas, aparentemente, aqueles não eram os planos para hoje.

Algo caiu nas pedras atrás de Emma, fazendo um som abafado da neve sendo esmagadas embaixo de botas. Akwe voou para longe mais uma vez. O coração de Emma se aqueceu, imaginando ser Connor. Ela estava salva. Quase pôde sentir o calor dos braços dele. Seus olhos se fecharam com o pensamento.

Mas quando ela abriu-os novamente e viu quem se abaixara ao lado dela para ver seu rosto, não foi raiva que a preencheu, ou qualquer outra coisa; foi medo, um medo incalculável.

Phillips sorriu, os dentes amarelados brilhando para Emma. Ele ergueu as mãos grandes e cobertas por luvas e tirou a neve que cobria a cabeça da assassina.

— Quem diria – zombou. – A filha de Ahberon tão disposta a morrer sozinha, no frio.

A adrenalina que começou a correr pelas veias de Emma ajudou a se mexer, mas não o suficiente para que ela conseguisse se levantar. Ela apenas se afastou com as mãos dois pequenos passos. Seus músculos que antes eram capazes de subir penhascos agora não faziam nada a não doer como se estivessem sendo atingidos por pancadas constantes.

Phillips a segurou pelo ombro, a impedindo de se distanciar mais.

— Cuidado – avisou. – É uma queda feia. E Eberus mudou de ideia, para sua infelicidade. Ele a quer viva. Conseguimos o imã de volta, mas ele não está muito feliz.

— F-Fique longe de m-mim – Emma murmurou, mas ela soava assustada.

Phillips apenas riu. Ele sabia que, naquele estado, Emma estava longe de representar uma ameaça.

— E seu rosto pintado de azul... Decidiu se tornar uma das selvagens agora? Você realmente está bem longe de casa e sua mente está comprometida.

Phillips segurou o colar que Emma ganhara de presente na tribo e o puxou, largando-o na neve.

— Não se preocupe – murmurou Phillips. – Vamos cuidar bem de você.

Havia tempos em que Emma sentira tanto medo quanto sentira naquele momento; ela seria levada a Eberus, e não estava com as mínimas condições de lutar. Quando Phillips tirou a neve de cima de Emma e passou os braços por baixo dela e a ergueu, ela não tentou escapar. Ela aprendera internamente que sabia parar quando estava perdendo, e sua desvantagem ali não era pequena.

Viu que o que a impedira de cair penhasco abaixo fora uma saliência na lateral da rocha, um espaço rochoso e liso que se projetava da montanha e aparara sua queda. Phillips passou o pé por uma corda amarrada na ponta que o esperava ali e jogou Emma para cima de seu ombro, dando um puxão. Então, começaram a subir.

Emma observava, desfalecida no ombro de Phillips, enquanto ela se aproximava da pequena caravana que a esperava na estrada, a alguns metros de onde ela desviara para perseguir o ladrão. Uma jaula sobre rodas, seu cocheiro, e mais alguns soldados para escoltar Phillips. Notou também que o capitão possuía a bolsa com o imã em mãos. Ela o perdera tão rapidamente quanto o conseguira.

Num movimento bruto e inesperado, Emma foi jogada para dentro da gaiola em cima de uma carroça, como a que foi presa em Boston, uma eternidade atrás. Seus músculos reclamaram e ela gritou por dentro. Se manteve deitada na madeira podre, respirando com dificuldades e tremendo de leve enquanto Phillips trancava a porta da jaula com um cadeado enferrujado.

Seus olhos se mantiveram nos de Emma enquanto ele removia o imã da proteção de couro, carregando-o consigo e jogando a bolsa na neve, aparentemente considerando-a inútil.

— Vamos logo – Phillips depositou o imã em uma caixa nova de mogno polido que possuía a cruz Templária esculpida na tampa. – O selvagem sem dúvidas virá procurar por ela, e precisamos estar longe quando ele o fizer – o capitão Templário se aproximou da jaula mais uma vez, e passou a mão pelas barras sujas para segurar o rosto de Emma. – Será uma viagem longa até o acampamento. Tente ficar em silêncio – ele riu.

Emma juntou forças para um único movimento. Ergueu a cabeça e cuspiu em Phillips.

Em resposta, ele grunhiu e segurou a garganta de Emma entre seus dedos ossudos, erguendo-a do piso da jaula. Emma engasgou-se e segurou suas mãos, tentando inutilmente aliviar a pressão.

— Devo lembra-lo, senhor – disse o cocheiro, limpando a garganta com um pigarro. – Lorde Fitzgerald a quer viva.

Os olhos verdes brilharam de raiva, e se estreitaram. Tão de perto, Emma conseguia ver a cicatriz que deixara no homem, dias atrás, quando invadiu o forte. Possuía rugas e pés de galinha, e seu rosto se contorceu, mas ele a jogou de volta.

— Meretriz – murmurou enquanto andava, imponente, de volta até seu cavalo puro-sangue, limpando o rosto. – Vamos embora! – ordenou.

O cocheiro estalou a língua e a carroça começou a se mover. Emma observou enquanto via, muito longe, a fumaça que vinha da fazenda, lentamente se afastando cada vez mais. Seu estômago se revirou. Só agora percebera o quanto estava faminta.

Os olhos de Emma pesavam como balas de chumbo, e ela suspirou pesadamente. Dormir era uma ação arriscada, mas ela não tinha mais nada a perder naquele momento. E Eberus a queria viva. Apesar de estranho, aquele fato era a garantia de que Emma acordaria para ver o sol nascer.

Observou a estrada e as árvores que pareciam fantasmas da noite. Fantasiou com a imagem de Connor aparecendo ali, para ajuda-la; não havia mais nada que ela pudesse querer naquele momento. Pediu internamente que Akwe mantivesse distância. Eles a matariam se a vissem voando tão perto.

Emma adormeceu com a imagem do céu estrelado de mais cedo, mas pareceu apenas mais um sonho. Ali, agora, as estrelas haviam morrido.

Emma não viu o tempo passar, mas o cheiro de madeira queimada e carne assada que a cercava – onde quer que estivesse – fez seu estômago roncar, indicando que sua garganta ainda não havia sido cortada e seu coração ainda batia no peito, provavelmente a única parte quente de seu corpo.

Apesar do desconforto ainda estar presente firme e forte, já não estava tão frio quanto antes. A pele sensível de Emma conseguia sentir o calor que emanava de uma fogueira próxima, e Emma suspirou com aquela boa sensação, e conseguiu se mexer levemente. Abriu os olhos, encontrando diante de si uma clareira onde um acampamento estava montado. A orla que tocava a área estava mal iluminada por uma luz doentia e fraca que vinha do fogo, algumas barracas para frente mas, além de certo ponto, a mata ficava escura, misturando-se à noite que insistia em se estender sobre todos. Emma perguntou-se se o dia nunca chegaria.

— Lorde Fitzgerald chegará logo – anunciou alguém cuja voz era estranha para Emma. – Ela está acordada?

Passos esmagaram o cascalho, se aproximando cada vez mais, até que um rosto redondo apareceu na linha de visão de Emma, com olhos cinza inspecionando a prisioneira. Seu dono vestia o uniforme padrão dos soldados Britânicos.

— Acho que sim – disse, observando-a com o que parecia pena, um olhar que Emma raramente via em soldados. – Duvido que permaneça assim por muito tempo. Talvez devêssemos dar alguma comida a ela. Está pálida como pó de arroz.

— Jogue para ela o resto de seu jantar, Edwin, se quiser – disse um terceiro homem e outros riram. Ela estava cercada de casacas-vermelhas por todos os lado. – De mim ela não receberá nada.

— Eu não chegaria muito perto rapaz – avisou outro soldado. – Ouvi falar que esses assassinos ficam invisíveis e o matam com suas próprias unhas.

— Não seja tolo, Bernard – zombou o primeiro homem que Emma ouvira. – A garota mal está conseguindo ficar em pé.

— Não quero estar aqui quando Lorde Eberus chegar – respondeu Bernard, com um tom nada seguro. – Ouvi dizer que ele não está feliz e que vai questioná-la.

Emma suspirou, não se sentindo nem um pouco animada por aquelas palavras. Edwin, o soldado com pena nos olhos, retornou com um prato de metal que continha um generoso pedaço de carne assada. O cheiro deu arrepios à Emma. Já deveria fazer horas que ela não tinha uma refeição decente.

— Não é muito, mas quem sabe um pouco de cor volte a seu rosto – disse, passando o prato pelas barras e o empurrando para Emma.

Emma apoiou-se nos cotovelos trêmulos e conseguiu se sentar sem parecer uma completa inválida. Fitou o prato fumegante por alguns segundos, e uma parte dela queria chutar o prato para fora da jaula, recusando-se a aceitar a pena de alguém. Mas a fome falava mais alto que sua teimosia, e Edwin havia separado de sua própria refeição para ela, algo que ele não era obrigado a fazer. Então, puxou o prato para perto.

— Obrigada – murmurou Emma, e sua voz era fraca e rouca.

Edwin nada disse, apenas aquiesceu em silencio e afastou-se, a mão sempre no punho da espada.

Emma comeu devagar, saboreando cada pedaço e, enquanto mexia os braços para alimentar-se, sentiu-se mais leve que o comum. Com uma checagem mais detalhada, viu que havia sido desprovida de qualquer coisa que estivesse carregando consigo antes. Sua espada se fora, assim como seus alforjes com dinheiro, e suas lâminas escondidas não ocupavam o lugar usual no antebraço. Sentia-se nua, sem qualquer modo de defesa a não ser seu conhecimento de luta corporal.

O bife acabou-se cedo demais, não satisfazendo a fome de Emma completamente, mas conseguiu enganar seu corpo, e o faria por mais uma hora ou duas. Sentindo-se levemente mais forte, Emma sentou-se na madeira molhada, mas não teve muito tempo para olhar à sua volta. O som de vários cavalos se aproximando a distraiu demais para que ela pudesse se concentrar em qualquer outra coisa.

Fazendo-a dar um pequeno pulo de susto, a porta da jaula foi repentinamente aberta e Emma foi puxada de lá com uma brutalidade desnecessária. Ela mal teve tempo de cair na neve, ou dar uma pequena olhada em quem a tirara, quando um par de grilhões se prenderam a seus pulsos e ela foi empurrada para frente, em direção ao centro do acampamento. Sem muita estabilidade, ela caiu em direção ao chão, esmagando o rosto no pedregulho molhado.

— Levante-se – ordenou o soldado que escoltava Emma, puxando-a para cima pelo capuz e continuando a empurrá-la o resto do caminho.

Logo à frente, alguns homens estavam reunidos ao redor de uma mesa simples de carvalho, e falavam baixo, mas Emma não foi levada até lá e não pôde ver nenhum rosto. Ela foi forçada a se sentar em uma caixa de madeira, e o soldado, um homem já mais velho que Edwin, tirou do bolso um pedaço comprido de pano e a amordaçou, fazendo-a mordê-lo, e amarrou-o atrás da cabeça não coberta pelo capuz.

A assassina foi puxada novamente para levantar-se e foi conduzida até os homens, parando a dois metros da mesa.

— Senhores – anunciou o soldado, limpando a garganta.

O primeiro a erguer o rosto cansado da mesa foi Haytham Kenway, o pai de Connor, usando sua capa e vestes azuis escuras, junto com o chapéu tricorne, o mesmo que usava na noite em que Emma matara Rufus.

Emma não ficou surpresa ao vê-lo se afastar da mesa e parar perto de uma das barracas, com os braços para trás e os olhos cheio de julgamento constante enquanto encarava a inimiga, ou quando Phillips revelou-se e parou ao lado do resto, cruzando os braços. Não tinha medo deles.

Também não deveria se surpreender no próximo momento, sabia o que viria, mas o arrepio que subiu por sua espinha foi completamente involuntário quando os olhos de gelo de Eberus Fitzgerald apareceram sobre as cabeças curvadas, encarando Emma com nada além de uma satisfação inumana. Todas as suas peças, o colete, as calças, luvas, eram de um tom negro como nanquim, apenas a capa que trazia a cruz templária era vermelho sangue com detalhes em dourado. O cabelo grisalho ondulava com o vento.

— Emma Pierce – disse, e sua voz era grave, um pouco rouca e cheia de veneno. Era a voz que costumava assombrá-la em seus pesadelos. Emma sabia que, se sobrevivesse àquilo, voltaria a tê-los todas as noites. – Como é bom vê-la novamente depois de tanto tempo.

A respiração de Emma estava acelerada, mas ela se manteve parada como uma estátua grega. O gosto amargo do pano na boca a incomodava.

— Sei que sonhou com o dia em que nos encontraríamos de novo – Eberus ajustou as luvas. – Não esperou que fossem nestas circunstâncias, não? Ronald me disse que foi extremamente fácil captura-la. Você realmente não melhorou suas habilidades desde que nos vimos pela última vez?

Emma grunhiu, rosnando como um lobo, e suas mãos – presas, atrás de suas costas e seguradas pelo guarda – coçavam para dar-lhe um belo soco no maxilar e ouvi-lo quebrando. Ela queria vê-lo arder no fogo das profundezas do Tártaro. Mas reclamar era tudo o que ela podia fazer.

Phillips aproximou-se, arrogante, e parou em frente à Emma.

— Acho que preferia ter morrido na neve a vir nos encontrar, não? – provocou. – Você não sabe o que a espera, mulher.

— Ronald, talvez não devesse... – Haytham tentou avisar, mas foi um pouco tarde.

Agindo por instinto mais que qualquer outra coisa, Emma ergueu a perna no ar com força, acertando seu pé em cheio na bochecha esquerda de Phillips. O homem caiu ao chão, mas o guarda que segurava Emma nem teve tempo de reagir, pois Phillips se levantou em um átimo e revidou, socando Emma no nariz com uma força dolorosa, liberando a raiva dentro de si. Emma sabia que ele vinha desejando fazer aquilo fazia tempo.

Emma grunhiu, choramingando à dor do nariz quebrado, ela própria caindo ao chão úmido outra vez. A cartilagem do rosto sangrava e latejava, mas Emma não se sentia arrependida.

A risada grotesca de Eberus ecoou pelas árvores.

— Quem mandou meter-se onde não é chamado, Ronald? – disse o Templário, dando a volta na mesa, de onde Phillips se afastou, resmungando e limpando o nariz.

Eberus se ajoelhou ao lado de Emma, e seu rosto já não estava tão alegre, e seu tom de voz tornou-se sombrio.

— Mas, para sua tristeza, Emma, ele está certo – Ele correu o dedo pelo rosto de Emma, que se afastou, querendo evitar qualquer contato. – A neve e o frio parecerão tão convidativos quanto os braços de um amante. Então, minha querida assassina, para seu bem, é melhor cooperar.

Eberus se levantou, observando-a de cima, como um deus cruel e malevolente.

— Coloque-a para dentro, Truman, amarre-a na cadeira. E traga minha coleção de facas.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



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