O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 12
O Velho Marujo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/533470/chapter/12

Emma POV

O som que serviu de despertador para Emma no começo da manhã foi o de cavalos relinchando na rua. Não fora muito alto, mas ela não dormira bem, e tinha o sono leve como o de um pássaro. Ela se levantou e se assustou quando viu Connor sentado no chão, encostado à parede próximo à janela, com a cabeça tombada para o lado. Dormia silenciosamente, e seu peito oscilava enquanto respirava, imerso em sonhos. Ele ficara ali a noite inteira?

Emma se levantou, sentindo o ar agora frio do quarto, devido à lareira que agora possuía apenas cinzas. Sua pele reagiu à mudança de temperatura com alguns arrepios. Começou a ponderar se deveria acordar Connor ou não. Mas antes que pudesse chegar a uma conclusão, uma voz grossa ecoou da rua, abafada pelas janelas fechadas do quarto:

— Rufus Mason está morto!

Intrigada, a assassina deu dois passos cautelosos até a janela e esticou o corpo para olhar a rua lá fora. Um homem com vestes comuns de couro e algodão erguia o primeiro jornal da manhã, no meio da rua repleta de poças de barro.

Poucas pessoas timidamente saíram de suas casas para checar a causa do pequeno alvoroço que começava ali. Os comerciantes que haviam acabado de abrir suas lojas para a população também olhavam em choque para o humilde vendedor de jornais e, logo, uma pequena multidão estava cercando o cidadão com as informações impressas, em polvorosa, desejando saber mais.

Emma, cedendo à sua curiosidade crescente, virou-se para Connor, como se pedisse desculpas, e então vestiu-se novamente e abriu a janela, pulando para as telhas cobertas de musgo, ainda molhadas pela tempestade da noite anterior.

Fez tudo em silencio, com ambas as intenções de não acordar Connor e ouvir mais da comoção, o que foi um sucesso, e Emma andou silenciosamente até um cordame esticado e firme que atravessava a rua por cima e levava até os telhados do lado oposto.

Fora do quarto, o frio era ainda mais intenso. Não havia vento, mas o ar estava úmido e carregado. Emma agachou-se no meio do cordame úmido, mantendo-se equilibrada segurando-o com as mãos e observando abaixo de si, como uma águia vigilante.

— O corpo de Mason foi pego pelos cidadãos! – exclamou o vendedor, erguendo um segundo jornal, que foi rapidamente tirado de sua mão e substituído por algumas libras.

— Diz aqui que vai ser pendurado pelo pescoço sobre a Igreja no centro – Emma ouviu uma mulher dizer, em choque, mas claramente satisfeita com a notícia que estava lendo. – Ele não vai nos incomodar novamente.

Emma estreitou os olhos. Está aí algo que ela gostaria de ver. Um lado dela sabia que talvez não deveria sair sozinha, não com guardas procurando por assassinos. Se ela fosse pega, Connor não conseguiria encontrá-la dessa vez. Mas o outro lado apenas a impulsionou com uma veemência terrível a seguir para o centro da cidade. Ela não sabia como chegar até tal ponto, então colocou os pensamentos para trabalhar.

Emma passou os olhos rapidamente por seus arredores, pelos telhados iluminados pela luz fraca do sol, e percebeu que havia uma torre do outro lado da rua, então atravessou o cordame e correu até lá, tomando o cuidado de manter-se abaixada o suficiente para que os guardas nos telhados não a detectassem. Quando o caminho estava seguro, Emma começou a subir pela lateral da torre.

Conforme ela encaixava a ponta das botas nas saliências da construção e se puxava para cima o vento finalmente apareceu, soprando forte e gelado, mas, do topo, Emma poderia se localizar. A torre era parecida com um campanário, mas não havia nenhum sino, e quando chegou ao pico, se equilibrou sobre a construção, observando a cidade que despertava para um novo dia de final de outono.

Uma névoa fina cobria as casas, como uma nuvem baixa demais, mas Emma conseguia ver o topo das moradias e várias torres. Nova York era construída em uma península, que apontava para o sudeste. O sol havia acabado de subir sobre o mar, a leste, e não pareciam estar tão longe do centro, ela só precisaria seguir para noroeste, onde ela conseguia ver uma das torres mais altas que se projetava da névoa em direção ao céu. Deduziu ser a igreja, mas estava demasiado longe e cercado de névoa para que ela pudesse enxergar muita coisa.

Emma decidiu não tomar o risco de perambular pelas ruas, e seguiu pelos telhados, de onde poderia manter sua rota em vista. Havia guardas rondando em pontos de vigilância estratégicos para manter longe qualquer um que se aventurasse ali em cima, mas nada que ela não pudesse tomar conta sozinha e em silêncio. Vezes pulava do telhado, e com um assassinato aéreo eliminava um guarda, vezes simplesmente chegava por trás e os presenteava com um golpe certeiro de sua adaga. Quando deu-se conta, já estava a apenas um quarteirão da torre da igreja.

A multidão ali era mil vezes maior, e o som de protestos era muito mais alto. Os guardas lá embaixo nem tentavam conter os cidadãos, uma vez que seriam superados por seu grande número; apenas observavam de longe, lentamente se afastando para fingir não ver nada daquilo, como muitas vezes faziam. Então, Emma viu alguns homens no topo da torre, em uma pequena sacada, jogando um corpo despido e cheio de ferimentos abertos, mas que já não sangravam. Mason ficou pendurado pelo pescoço por uma grossa corda de sisal, observando com olhos mortos as pessoas que gritavam e erguiam os punhos para o ar, aplaudindo.

Talvez a outros olhos, aquilo fosse um pouco doentio, mas Emma não se importava. Ele merecera esse destino obscuro; a morte talvez até mesmo fosse uma punição misericordiosa para alguém como aquele homem. Mas Emma não pode deixar de se sentir um pouco arrependida.

Ela agira por impulso, e as informações de que precisavam agora estavam ao vento. Informações que apenas Mason poderia dar. Ela duvidava que ele dissesse alguma coisa, já que sua natureza era a de uma víbora mentirosa, mas de qualquer forma, ela precisava ter tentado mais.

Mas agora ele estava morto, e Connor e ela precisariam formular uma nova solução. Os cidadãos agora se afastavam, deixando o corpo ali, na igreja, e murmuravam sobre ir comemorar em tavernas, com uma boa caneca de cerveja. Quem olhasse para cima, apenas veria uma silhueta encapuzada, que observava tudo com atenção, mas ninguém olharia naquela direção. A cidade estava em festa.

Quando Emma retornou à estalagem, tentando deixar Mason e seu passado para trás, o sol já havia se levantado um pouco mais. Havia removido alguns cartazes de procurado no caminho de volta, e com o tempo, os guardas parariam de procurar. Ou pelo menos assim ela esperava. Mas quando entrou pela janela, Connor estava acordado, sentado na cama e lendo um pequeno pedaço de papel.

Ele ergueu os olhos marrons para Emma.

— Onde você estava?

Emma abriu a boca para dizer algo estúpido, como “precisava de ar fresco”, mas não desejava mentir para Connor, mesmo em algo tão insignificante como aquilo. Ele não merecia.

— Ouvi dizer que Rufus ia ser pendurado pelo pescoço em uma igreja, e eu senti que precisava ver isso.

— Você está bem?

— Sim. Melhor do que imaginava.

Connor assentiu.

Emma suspirou, e olhou-o nos olhos enquanto ele se levantava. Era bem mais alto que ela, e não parecia estar sentindo tanto frio quanto ela.

— Me desculpe por não ter esperado para interroga-lo – disse Emma, brincando com o cabo de sua espada aleatoriamente. – Eu deveria ter me acalmado.

— Na verdade – murmurou ele, passando sua aljava e arco pelos ombros, em tom de discordância. – Eu acredito que você talvez tenha feito a coisa certa.

Emma franziu o cenho, e observou quando Connor estendeu o papel que estava lendo, e o pegou com cuidado. Tinha alguns rabiscos nele, como um endereço.

— O que é isso?

— É o endereço da casa de Mason – Connor deu de ombros. – Não é bem uma casa. Pelo que li, é como um pequeno quartel. Duvido que, se fizéssemos perguntas, ele nos daria informações tão boas quanto as que podemos encontrar nesse lugar. Se estivesse vivo, não poderíamos nem chegar perto. Também duvido que qualquer outra pessoa saiba da existência desse lugar.

Emma assentiu, satisfeita, mas hesitante.

— Não acha que ainda podem haver templários lá? – Emma suspirou, decidindo contar a Connor o que acontecera na noite passada. – Eu vi seu pai ontem, estava me esperando quando entrei pela sacada. Ele pode estar lá, não sei.

Connor ergueu os olhos para Emma, e eles brilharam momentaneamente de raiva, mas não dela.

— O quê?

— Lutei com ele, mas não foi tão difícil – disse Emma, tentando não se arrepender de ter contado. – Ele parecia... cansado. Depois de alguns golpes, eu o tranquei no armário. Quebrei um vaso chinês, uma pena.

Desta vez, Connor franziu as sobrancelhas, levemente confuso.

— Você... o trancou em um armário?

— Sim.

— Por que não o matou?

Emma suspirou.

— Ele me fez a mesma pergunta – respondeu ela, guardando o papel em um de seus bolsos. – Eu disse que não era tão generosa e que... não cabia a mim tirar sua vida.

Connor se silenciou, aparentemente não sabendo se deveria agradecê-la ou algo assim, e a conversa deu-se por encerrada.

Connor e Emma encontraram o dono da pousada no primeiro andar, que estava mais vazio que no dia anterior. Apenas alguns guardas de azul estavam à vista, mas segundo Connor, eram patriotas e não ofereciam nenhuma ameaça. Mas de qualquer forma, quando saíram do estabelecimento, Emma manteve sua visão aquilina atenta.

— Talvez devêssemos ir pelos telhados – sugeriu ela, ouvindo tambores de guerra ecoando de alguma esquina próxima dali. – Ainda não parece ser seguro andar pelas ruas como se fôssemos apenas mais duas pessoas na multidão.

— Apenas tente não chamar a atenção – Connor segurou as laterais do capuz dela e o puxou mais para frente. – Talvez deva trançar seu cabelo, como você sempre faz.

Emma assentiu e começou a fazê-lo enquanto seguia Connor até um estábulo velho a alguns metros da estalagem, amarrando-a com um pedaço de couro que agora mantinha sempre consigo. A ponta da trança tocava sua cintura, mas ela a escondeu atrás do capuz.

Os assassinos não tiveram pressa, e mantiveram os cavalos em um trote satisfatório enquanto seguiam para a casa de Mason, mas Emma tinha uma sensação estranha. Uma espécie de arrepio em sua nuca, um arrepio que ela nunca subestimava. Um arrepio que indicava que alguém os estava seguindo.

No entanto, sempre que ela se virava sutilmente, não havia nada fora do lugar nas ruas além de seus usuais frequentadores. Isso a fazia se sentir um pouco paranoica, mas apenas suspirava e mantinha sua atenção em seguir Connor.

— Chegamos – anunciou ele, indicando uma casa simples e nada chamativa em meio a algumas outras.

Connor apeou de seu cavalo marrom-chocolate enquanto Emma dava uma última varrida no ambiente ao redor deles. Não havia ninguém à vista no campo. Ela sabia que só estava imaginando coisas, mas apenas o cutucão de Connor em seu braço a fez voltar ao mundo real. Emma olhou para baixo, para ele.

— Você está bem? – perguntou, franzindo as sobrancelhas. – Você está meio verde.

Emma deu uma risada e Connor deu um passo para trás, permitindo-a descer de seu cavalo.

— Muito engraçado. É esse o lugar? – ela olhou pela primeira vez a casa em frente a eles. Lembrava muito a casa onde encontraram Sam Adams em Boston.

— Sim – confirmou Connor, e ambos se aproximaram.

Connor examinou a porta por alguns segundos, colocando o ouvido contra a madeira, depois olhou em volta e colocou a mão no ombro de Emma, empurrando-a gentilmente para fora do caminho. Ela deu um passo para trás, cerrando os olhos, desconfiada. Connor, então, começou a se afastar, e Emma soube o que ele iria fazer. Soube também que era inútil sugerir uma abordagem mais branda. Então nada fez enquanto ele corria e batia seu ombro contra a porta, que cedeu com sua força.

— Muito sutil – comentou ela.

Emma entrou depois dele, observando com atenção. Não era como uma casa convencional e familiar. Possuía um único ambiente no primeiro andar, com apenas três janelas sujas e mesas cobertas de livros e papéis envelhecidos. Havia também um amontoado de mosquetes e pistolas em um canto, e também bombas de fumaça. Emma correu os dedos por alguns caixotes, sentindo a textura áspera da madeira, que diziam conter comida e munição. Um mapa de toda a costa leste do país se encontrava exposto na parede, com rotas de navios traçadas em várias direções.

— Eles pretendiam ir a algum lugar, sem dúvida – concluiu Emma, estudando alguns dos papéis e abaixando seu capuz.

— Sim, e já possuíam pessoas para os levarem, onde quer que seja – respondeu Connor. – Olhe isso.

Emma virou-se para vê-lo levantar uma fina pilha de papéis e estendê-la a ela. Emma passou os olhos. Eram como um conjunto de informações de alguns corsários que estavam dispostos a agir em segredo em troca de algumas moedas.

— Não consigo encontrar nada sobre Eberus – disse Connor, frustrado, jogando alguns papéis para o lado. – Nem mesmo uma menção a seu nome. Parece que ele tomou o cuidado de manter-se o mais distante possível das atividades de seus empregados. Mas parece que Mason cuidava principalmente da parte financeira e dos mercenários, além de ser o general. Talvez só tenhamos de procurar minuciosamente por alguma coisa sobre a localização da base que eles mantêm. Pode levar um tempo.

— Talvez não tenhamos que procurar.

— O que quer dizer?

— Vê esta lista? Todos os capitães estão em atividade – Emma leu os papéis, e separou um em especial da pilha, que continha uma pequena pintura do homem a quem era referido. – Menos este. Capitão Bradley Wilburn. Diz aqui que foi demitido. Não diz o porquê. Ele mora em Nova York.

— Acha que ele possa saber de alguma coisa?

— Ele trabalhou para os Templários transportando mercadorias, e não acredito que esteja feliz em ter sido tirado dos planos. É nossa melhor pista.

— Ora, o que temos aqui?

Emma e Connor viraram-se para a porta ao mesmo tempo, seus corpos assumindo posições defensivas. Um casaca-vermelha estava parado à porta, os braços grandes cruzados, observando os assassinos com olhos satisfeitos, uma vez que os havia pegado no flagra.

— Vocês são os dois criminosos que invadiram o leilão ontem à noite, não? – deduziu ele, olhando-os da cabeça aos pés. – Decidiram acrescentar invasão domiciliar à sua lista?

Emma viu, atrás dele, mais um grupo de soldados ingleses, dez talvez, mantendo guarda enquanto o líder entrava, e mais um mercenário, que também parecia estranhamente feliz. Eles estavam sendo seguidos, afinal. Emma xingou-se internamente.

Nem Emma ou Connor falaram qualquer coisa, e Emma sutilmente tateou a mesa atrás de si em busca de algo que podia ser de ajuda, e encontrou uma pesada estátua de cobre. Emma não se importou em ver do que era a estátua, e apenas a jogou pela sala, acertando-a no peito do soldado.

Ambos correram para fora, aproveitando a distração momentânea, e empurrando os guardas que estavam no caminho lá fora, mas Emma sentiu uma dor intensa em sua cabeça, e caiu para trás, percebendo que um dos guardas a segurara por sua trança.

Ela gritou de dor e foi arrastada de volta pela grama, erguendo as mãos e tentando soltar quem quer que estivesse a segurando, mas um machado voou pelo ar e acertou no peito de seu agressor, e a dor cessou.

Emma se levantou rapidamente, puxando sua espada da bainha e bloqueando o primeiro ataque, e enfiou uma de suas lâminas no ornamento da empunhadura da espada de seu oponente, e a puxou para fora de sua mão, eliminando-o então com sua própria espada.

Quando a maioria dos guardas estava morta aos pés dos assassinos, e o mercenário delator não possuíra um destino melhor, o seu líder saiu de dentro da casa, com a mão sobre o peito, apoiando-se contra o batente, e gritou:

— Guardas! Guardas! Reforços!

Ele então pegou sua pistola e a apontou, não para um deles, mas para o céu, e disparou, causando um som intenso. Um som de aviso.

Emma e Connor olharam em volta e observaram enquanto mais guardas corriam até eles, alguns vindos do forte mais próximo.

Connor disse algo em sua língua nativa, o que Emma deduziu ser um xingamento, e correu até seu cavalo. Emma procurou pelo seu, mas ele provavelmente se assustara com todo aquele alvoroço. Connor estendeu a mão, e a assassina correu até ele, e o cavalo já disparava quando ela segurou seu braço e foi puxada para a parte de trás da sela.

Emma, sem apoio nos pés, segurou-se na cintura de Connor com força, tentando não ser deixada para trás devido à velocidade do animal. Ela viu os guardas correndo atrás deles, e mais se juntavam à perseguição conforme se aproximavam novamente da cidade. Logo, um batalhão os perseguia pelas ruelas, e o coração de Emma se acelerava, e suor brotava de sua testa.

Graças a um movimento evasivo de Connor, entrando de repente em um beco, eles tiveram uma brecha, ficando fora de vista. Então, Connor pulou do cavalo, puxando Emma consigo e segurou sua mão, levando-a em disparada para a rua de cima, e ambos explodiram para dentro de um bar velho e cheirando a mofo.

Quase todos os presentes na taverna olharam quando Connor fechou a porta, ambos ofegantes, mas rapidamente desviaram suas cabeças, provavelmente desejando ficar fora de confusão. Emma escondeu o rosto atrás de seu capuz e olhou para a palma de sua mão enquanto seguia Connor para o fundo do bar. Havia amassado alguns dos papeis no punho e levado junto consigo.

— Foi por pouco – disse ela, suspirando e tentando mandar uma quantidade decente de ar para seus pulmões. – Muito pouco.

— Sim – concordou ele, encostando-se à parede, e correndo os olhos pelo bar, mas algo chamou sua atenção. Emma viu seu olhar parar em algum lugar no ambiente, e ele descruzou os braços. – Emma, olhe.

Ela o fez e, a princípio, não viu nada interessante. Mas, quando observou com mais atenção, ela entendeu a surpresa nos olhos marrom-café de Connor.

Ela não acreditou quando viu, sabendo que não tinha aquele tipo de sorte. Mas lá estava ele, desafiando a teoria dela, bebendo um grande copo de cerveja e sujando suas barbas brancas de espuma. Bradley Wilburn. Ele claramente não os vira entrando, estando interessado em um jogo de damas com seu companheiro de mesa.

Emma rapidamente abriu os papéis que esmagara entre seus dedos e procurou pela foto que vira do velho capitão. Seus olhos alternaram entre a visão real dele e o desenho, várias vezes, para ter certeza de que era mesmo verdade. Connor olhou também, por cima da cabeça de Emma.

— É ele – confirmou, puxando o papel dos dedos dela.

— Como vamos fazer isso? – perguntou ela, cruzando os braços e mantendo os olhos atentos em Wilburn, como se temesse que ele de repente desaparecesse.

— Eu vou por trás, seguro-o pelo pescoço e você aponta uma de suas lâminas para ele – respondeu ele em um fôlego só.

Emma o encarou, incrédula.

— Não acha que isso é um pouco agressivo demais?

— Prefere que nos sentemos e tenhamos uma boa conversa amigável? Ele é um Templário e, além do mais, ninguém vai se importar aqui. É um bar.

Emma estava prestes a dar uma resposta tão sarcástica quanto a dele, mas, mais uma vez, eles foram impedidos, e a porta da taverna se escancarou violentamente, chamando a atenção de todos. Lá estavam os guardas, e algumas das pessoas ali provavelmente deduziram quem eles procuravam.

Emma sentiu a adrenalina correr pura por suas veias mais uma vez quando ela se escondeu atrás de um dos pilares de madeira, e uma gota de suor desceu pela sua têmpora. Connor se abaixou aos pés dela, encoberto pelo balcão do bar.

Emma espiou por trás da coluna, mantendo o alvo à vista mas, claramente, aquilo foi um erro. Enquanto o velho observava os guardas entrando e passando por ele, seus olhos cinza e cansados encontraram os dela, e ele entrou em pânico.

— Ali! – gritou em uma voz rouca, e apontou para ela, levantando-se abruptamente, derrubando sua cerveja. – Assassina!

Emma sentiu como se um holofote de repente estivesse sobre ela, e os rostos se viraram mais uma vez, inclusive o dos guardas. De repente, todos se levantaram, alguns assustados, outros prontos para assistir a briga. Mas não haveria uma. Emma estava focada em Wilburn. Não deixaria aquela oportunidade passar de forma alguma.

Enquanto os guardas lutavam para chegar até ela, Wilburn preferiu a saída mais fácil, e correu para a janela. Emma pulou por sobre as mesas, pisando em tabuleiros de xadrez e gamão, e chutando várias canecas. Ela nem mesmo olhou para trás quando Wilburn se jogou pela janela, e Connor chamou:

— Emma!

Mas ela já estava pulando pelo batente da vidraça quebrada.

Os olhos de Emma, rápidos como os de uma corça, correram pela rua, procurando por seu alvo e encontrando olhares chocados e mulheres puxando seus filhos para longe dali, mas Wilburn subia por uma escada, correndo para os telhados e quando chegou lá, derrubou a escada.

— Fique longe de mim! – gritou, erguendo o punho no ar.

Mas Emma já escalava as paredes em direção a ele. Seus dedos estavam trêmulos, mas em alguns segundos ela já corria pelas telhas atrás de Wilburn.

Para um homem da idade de Faulkner, talvez, ele era bem rápido, e Emma estava começando a se cansar de todo aquele dia de perseguições.

— Wilburn! – chamou ela. – Eu só quero conversar!

— Mentiras! – gritou ele de volta. – Não me envolvo com Templários ou Assassinos, não mais! Vocês são todos malucos!

Emma grunhiu e acelerou suas pernas, utilizando o que restava de sua energia, e quando Wilburn olhou para trás em desespero, ela se jogou em sua direção, prendendo-o com os braços, e ambos caíram do telhado, despencando em direção a uma tenda de... melancias? Ótimo, pensou Emma. Era tudo o que eu precisava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Preço da Honra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.